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5. O INSTITUTO DA REMIÇÃO DA PENA

5.4. MODALIDADES DE REMIÇÃO

5.4.1. Remição pelo trabalho

A remição pelo trabalho é um benefício previsto no artigo 126, da Lei de Execução Penal, esse artigo traz expressamente que é possível a remição pelo trabalho aos condenados que estão cumprindo a pena nos regimes fechado e semiaberto, porém há uma divergência doutrinária acerca do trabalho no regime aberto ou que estejam em livramento condicional.

Os doutrinadores que defendem a impossibilidade utilizam-se do artigo 114, inciso I e artigo 132, §1º, a, da LEP, esses artigos estabelecem que o trabalho é uma condição para que o preso consiga o livramento condicional e se mantenha no regime aberto.

Apesar do entendimento acima, Rodrigo Roig afirma que seria ilógica essa posição, e traz uma série de motivos para justificar sua posição.

Inicialmente argumenta que o artigo 126 é omisso em relação ao regime aberto quando se trata do trabalho, e que esta omissão não poderia ser interpretada de forma restritiva, mas sim ampliativa devido ao princípio da legalidade. Depois traz o artigo

28 da LEP que determina que o trabalho é condição de dignidade humana, portanto deve prevalecer o princípio da Dignidade da Pessoa Humana, que está previsto na Constituição Federal.

Em terceiro lugar, traz que a lei não diferencia a natureza do trabalho, então todos os presos que exercem atividade laborativa devem receber o mesmo tratamento, devido ao princípio da isonomia, também previsto na Constituição Federal e “soma-se a isso o fato de que a remição é instituto que visa à própria “harmônica integração social” do condenado (um dos objetivos atribuídos pela LEP à execução penal), razão pela qual não deve sofrer interpretação estreita”.

Continua argumentando que:

[...] se a LEP considera o trabalho um dever do apenado, em contrapartida, acaba por atribuir o dever do Estado de auferir todas as condições para o cidadão condenado trabalhar. Logo, não pode esse mesmo Estado se furtar de conferir ao labor do apenado, seja em que regime for, a possibilidade de remição da pena.

Concluindo seu pensamento traz os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, argumentando que:

Se é possível a remição por estudo, não subsistem motivos para a vedação da remição por trabalho, porquanto ambos são institutos vetorialmente apontados para o estado de liberdade e voltados ao acolhimento social do condenado. E mais: se é possível a remição por trabalho nos regimes mais rigorosos (fechado e semiaberto), maior razão ainda terá sua admissão, por analogia, também no regime menos rigoroso (aberto).

Rodrigo Roig traz excelentes justificativas para que seja admitida a remição pelo trabalho por aqueles que cumprem a pena no regime aberto, porém o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça possuem uma jurisprudência pacífica de que o condenado que cumpre a pena no regime aberto não faz jus a remição de pena pelo trabalho. Nesse sentido:

EMENTA: HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO CRIMINAL. CUMPRIMENTO DA PENA EM REGIME ABERTO. REMIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que o réu condenado ao regime prisional aberto não pode se beneficiar da remição da pena pelo trabalho. É que “a realização de atividade laboral nesse regime de cumprimento de pena não é, como nos demais, estímulo para que o condenado, trabalhando, tenha direito à remição da pena” (HC 98.261, da relatoria do ministro Cezar Peluso). Interpretação do art. 126 da Lei de Execuções Penais, combinado com o art. 36 do Código Penal. Precedente: HC 77.496, da relatoria do ministro Nelson Jobim. 2.

Ordem denegada. (HC 101368, Relator(a): AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 01/02/2011, DJe-081 DIVULG 02-05-2011 PUBLIC 03-05-2011 EMENT VOL-02513-01 PP-00050)

O trabalho poderá ser realizado dentro e fora do estabelecimento penal, já que o artigo não faz nenhuma distinção em relação ao local, nesse sentido Rodrigo Roig22 argumenta.

Inexistindo vedação legal, aplica-se o disposto no art. 3º (consectário do princípio da legalidade ou “princípio de reserva”), segundo o qual serão assegurados ao condenado todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei.

Sobre este assunto o autor ainda traz o entendimento da 6ª Turma do STJ, que considera ilegal o entendimento de que não é aplicável a remição ao trabalho fora do estabelecimento prisional, uma vez que a lei apenas exige o cumprimento da pena em regime fechado ou aberto (STJ, HC 219772/RJ, 6ª T., j. 15-8-2013).

A questão somente foi pacificada com a Súmula 562 do STJ com a seguinte disposição: “É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa, ainda que extramuros”.

A contabilização da remição é de 1 (um) dia de pena para 3 (três) dias trabalhados.

Em relação a forma de realizar o trabalho há divergências doutrinárias.

Roig argumenta que a LEP não traz restrições em relação a forma, a natureza ou a duração, portanto deverá ser admitida a remição mesmo quando a prestação de trabalho é esporádica ou ocasional, ainda que voluntário e não remunerado, e argumenta que o artigo 3º traz que “são assegurados ao condenado todos os direitos não atingidos pela lei”

Por outro lado, Renato Marcão23 discorda e argumenta que:

Todo trabalho pressupõe responsabilidade, organização e disciplina. Para fins de remição não é diferente, já que é preciso incutir tais valores na mente e na rotina do executado, como forma de readaptá-lo à vida ordeira, dentro dos conceitos de uma sociedade produtiva.

22 ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução Penal: teoria crítica. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. P. 415.

23 MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. P. 165

Ainda traz o artigo 33, da LEP, que determina que a jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) horas e nem superior a 8 (oito) horas e que haverá descanso nos domingos e feriados.

Sobre a questão do tempo há divergências doutrinárias. Há autores que defendem que caso o preso labore menos de 6 (seis) horas em um dia não terá o direito de remir a pena, e que laborando mais de 8 (oito) horas, o horário excedente não poderá ser compensado. Por outro lado, há quem defenda que ultrapassando 8 (oito) horas o excedente será computado, porém realizando menos de 6 (seis) horas não será considerado como tempo remido.

Por fim, tem uma terceira teoria que defende que mesmo não realizando o mínimo imposto na lei e realizando o máximo estabelecido, ambos deverão ser computados para o fim da remição da pena. Sobre o assunto Alexis Couto disse que

“o importante é que haja a efetiva comprovação da atividade e o acompanhamento da autoridade administrativa”.

Em relação aos domingos e feriados a 5ª Turma do STJ, admitiu que houvesse a remição pelos trabalhos realizados nesses dias (STJ, HC 346948/RS, 5ª T., j. 21-6-2016).

Ainda Marcão traz que é possível atribuir horário especial de trabalho aos presos designados a realizar trabalhos de conservação e manutenção do estabelecimento penal. “Dada a especialidade da prestação, o dia trabalhado pelos sentenciados que se encontram em horário especial de trabalho, em jornada que atinja doze horas diárias, por exemplo, há que levar em conta a carga horária efetivamente trabalhada e não somente o dia trabalhado”

A lei também não exige um bom comportamento carcerário, portanto, uma conduta carcerária desfavorável não impede a concessão da remição, porém o artigo 127 admite que em caso de falta grave, o juiz pode revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, começando a contagem a partir da data da infração disciplinar, antes havia a possibilidade da revogação integral dos dias já remidos.

Essa perda dos dias remidos era considerada como inconstitucional, pois haveria violação do direito adquirido e seria contrário ao disposto no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, que dispõe que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

Também poderia ter violação do princípio da individualização da pena, caso não houvesse a análise das circunstâncias do caso concreto e histórico disciplinar do preso.

Portanto, para Roig24.

Na essência, perda da remição significa maior tempo de pena privativa de liberdade. E toda imposição de pena privativa de liberdade somente pode advir da prática de uma infração penal, assegurado o devido processo, pelas vias judiciais. Em última análise, a perda da remição implica a transmutação material (não formal) da falta grave em infração de efeitos penais, em clara ofensa aos princípios da proporcionalidade, legalidade e devido processo legal.

O trabalho é um direito e um dever do Estado, o trabalho é inerente à personalidade humana, deverá sempre obedecer ao princípio da dignidade humana.

Sempre deverá ser mantida a integridade física e moral do preso, respeitando a individualidade.

O condenado não deve se sentir excluído enquanto está recluso, o artigo 28, da LEP, estabelece que o trabalho, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva.

Sobre o trabalho do preso Alexis Couto25 preceitua:

A partir de suas qualidades, o trabalho deverá ser obrigatoriamente oferecido pelo Estado, de natureza produtiva e deverá perdurar pelo prazo comum de uma jornada regular de trabalho, mantendo-se, o máximo possível, em semelhança ao regime e condição dos que são oferecidos no mercado.

Ainda, sobre os dias perdidos por cometimento de falta grave, Alexis traz que

“se a falta grave for verificada após a decisão judicial de concessão da remição, cremos não ser lícita a perda dos dias trabalhados, nem na fração de 1/3 proposta pela Lei”. Para defender esta tese traz o artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal, que preceitua que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada''.

24 ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução Penal: teoria crítica. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. P. 429

25 BRITO, Alexis Couto de. Execução Penal. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. P. 170

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