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O princípio da não-cumulatividade, conforme a melhor interpretação do art. 153, §3º, II, da Constituição Federal, é de aplicação obrigatória à regular incidência do imposto sobre produtos industrializados, qualquer que seja o fato gerador, dentre as hipóteses dispostas no art. 46 do Código Tributário Nacional, praticado pelo sujeito passivo; “compensando-se o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores”.

Em sua forma clássica, nos moldes em que aplicado ao IPI, o supracitado princípio possui como características indissociáveis à sua plena eficácia a plurifasia, a transferibilidade

do ônus tributário ao contribuinte de fato, a neutralidade fiscal e o acesso ao sistema de abatimento.

Atuando a não-cumulatividade em cadeias produtivas plurifásicas, há de existir no mínimo duas operações vinculadas e encadeadas nas quais incida o imposto, permitindo-se, sempre, a transferência do ônus tributário ao contribuinte de fato, ou seja, ao adquirente do produto no final da cadeia, e a desoneração do contribuinte de direito.

Considerando-se o repasse do ônus e os prejuízos da cumulação de tributo, à cada contribuinte do IPI deve ser concedido crédito sobre o valor recolhido na operação anterior, o qual deverá ser abatido em operação futura, daí a necessidade de existirem duas ou mais operações vinculadas ao mesmo produto, viabilizando o acesso ao sistema constitucional de abatimento e à neutralidade fiscal.

O princípio da não-cumulatividade, pois, depende da existência de cada uma das supracitadas propriedades; indispensáveis que são à operacionalização da técnica e à inexistência de cumulação de tributo.

Quando da importação promovida por não industrial, no entanto, vale frisar desde logo, haverá séria violação à não-cumulatividade, uma vez que restarão, inevitavelmente, mitigadas suas características indissociáveis.

Concretizando-se o importador como não contribuinte do IPI, seja este pessoa física ou jurídica, não ocorrerão, no futuro, por certo, operações com produtos industrializados, vez que tal importador não detém os meios de produção necessários a alterar a finalidade ou modificar a natureza do produto.

Tal situação, inexistindo trato sucessivo de operações com produtos industrializados face à condição do importador, concretiza-se como o cerne da violação à não-cumulatividade, promovendo a oneração do contribuinte de direito e impedindo o acesso ao sistema de abatimento.

A importação é situação ímpar, porquanto nesta confundem-se contribuinte de direito e contribuinte de fato na mesma pessoa. O importador, verdadeiro substituto do exportador internacional, vez que não há como obrigar este último ao pagamento do tributo, recolherá o IPI quando do desembaraço aduaneiro do produto, concretizando-se como contribuinte de direito. Uma vez inexistentes novas operações com produtos industrializados a viabilizar o repasse, assumirá, ainda, o importador o ônus total do imposto, em imposição flagrantemente incompatível com a não-cumulatividade.

O princípio da não-cumulatividade, em sua essência, exige que a toda pessoa que pratique o fato gerador do IPI seja disponibilizado meio de abater futuramente os créditos oriundos da operação anterior. É de se frisar, porém, que, ausente a plurifasia, nos termos em que acima delineado, ao importador não contribuinte do IPI restará impossibilitado o acesso ao sistema de abatimentos constitucionalmente estabelecido, inexistindo forma de cumprir o comando de compensar o que devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores. Tal situação, por certo, promoverá uma acumulação de créditos que jamais serão utilizados.

No caso de importação promovida por não contribuinte do IPI, ou seja, não industrial, há clara violação ao princípio da não-cumulatividade, em notória afronta ao comando oriundo do art. 153, §3º, II, da Constituição Federal. Não há como cogitar da incidência do IPI neste específico caso de importação, porquanto não é preenchida verdadeira condição de validade para tanto.

Com base em tais premissas, pois, já pacificou o entendimento o Supremo Tribunal Federal (RE 255.682/RS AgR, RE 615.595/DF AgR, etc.) no sentido da não incidência do IPI nos casos de importação realizada por não contribuinte.

Há que se asseverar, por fim, a existência de posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais em sentido contrário.

Estes, no entanto, não sobrevivem a um estudo mais aprofundado, permanecendo a conclusão no sentido da ocorrência dos vícios já expostos e debatidos, os quais, reitere-se,

atestam a clara violação do princípio da não-cumulatividade no caso de importação promovida por não contribuinte.

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