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Este trabalho abordou a temática da Responsabilidade Social no contexto do setor siderúrgico brasileiro, analisando as ações sociais desenvolvidas pela Usina Presidente Vargas, da CSN, bem como suas externalidades negativas na saúde da população da cidade Volta Redonda.

Ao analisar a relação entre as externalidades negativas provocadas pela CSN as ações sociais por ela desenvolvidas, não foi identificada nenhuma iniciativa voltada para a área da saúde em Volta Redonda. Logo, pode-se dizer que existe uma

desproporcionalidade entre os impactos negativos, que realmente contribuem para a degradação da vida humana, e a ações desenvolvidas pela Fundação CSN de Volta Redonda.

A partir da análise dos Relatórios Anuais da CSN de 2008 a 2012, pode-se afirmar que os projetos desenvolvidos pela Fundação CSN focam em ações voltadas para esporte, cultura, educação, não que estas áreas não tenham sua relevância, pois é nítido que sim, porém o que se tenta discutir aqui é que estes projetos não suprem a lacuna deixada pela empresa, ou seja, não atendem à reversão do quadro de degradação provocado por sua atividade industrial.

Os dados divulgados pela CSN sobre suas ações sociais demonstram a preocupação da usina em projetar uma imagem positiva de sua atividade para seus

stakeholders. No entanto, no que diz respeito à divulgação dos projetos para a sociedade, o que se percebe é que não existe uma ampla divulgação dos mesmos. A empresa deve levar em consideração que nem todas as partes afetadas pertencem a grupos organizados que têm o propósito de representar seus interesses perante organizações específicas. Muitas delas podem não estar organizadas de forma alguma, o que pode acabar por perpetuar a situação desfavorável de grupos vulneráveis. Todavia, a divulgação dos impactos de suas decisões e atividades é muito importante, pois facilita a identificação, por parte da sociedade, de possíveis danos causados pela empresa. Vale mencionar, ainda, que ao analisar os relatórios nota-se que a empresa divulga informações contraditórias com relação aos projetos sociais.

Devido a toda sua história, mesmo embora tendo sido privatizada, a empresa é responsável pelo impacto que gera na sociedade e em seu território. Como já mostrado neste trabalho, o setor siderúrgico emite no seu processo produtivo muitos poluentes que são prejudiciais à saúde da população. Mesmo com as medidas ambientais

realizadas pela CSN, ainda sim ela contribui significativamente para a situação degradante da qualidade do ar em Volta Redonda.

A fim de corroborar a ideia de que a empresa contribui significativamente para o aumento da poluição atmosférica na cidade, foi realizada uma breve comparação com uma outra cidade do estado do Rio de Janeiro, que não possui uma indústria, tal como Volta Redonda. A cidade escolhida para a comparação foi Petrópolis, considerando para a escolha desse município a população e a frota de veículos, que embora sejam um pouco maior que a de Volta Redonda, podem ser consideradas de mesma ordem de grandeza. Foi considerado também o número de internações por doenças respiratórias, circulatória e neoplasias. Não se pode considerar essa conclusão de forma categórica, mas há uma forte evidência de que a CSN contribui para o aumento de doenças respiratórias na cidade de Volta Redonda, sobretudo, quando comparado com a realidade do município de Petrópolis, que, apesar do clima, apresenta um total de internações decorrentes de doenças respiratórias 30% inferior ao de Volta Redonda no período de 2008 a 2012.

Hoje a realidade no município é outra, diferente da época antes da privatização. A CSN não presta mais serviços básicos à população, pois quem o faz é o poder público local, que acaba por ficar com todo o ônus provocado pelas externalidades da empresa, e esta fica com os bônus de sua atividade. Pretende-se aqui incitar que é necessário haver uma sinergia entre esses atores (sociedade, CSN, prefeitura) a fim de que todos ganhem em longo prazo, como propõe a perspectiva mais atual da Responsabilidade Social Empresarial. Desta forma, uma vez que as doenças citadas nesse trabalho são em grande medida causadas pela CSN, ela deve responder pelos seus impactos perante a sociedade. A relação entre eles pode ser explorada sob a forma de parceria. Parceiras? Sim, parceria por que não? Estamos no mesmo lugar embora com interesses diferentes, devemos nos exercitar a fim de dirimir conflitos sociais para então se chegar a um resultado bom para todos (maioria). Que resultado é esse? O desenvolvimento social. Muitos vão dizer que isso é utópico por serem céticos ao extremo com relação à sinergia entre esses atores, mas o exercício da responsabilidade social implica necessariamente em proporcionar tal sinergia, com o propósito de se assumir uma orientação mais sustentável para todos.

A empresa possui muitos processos (Relatório Anual da CSN), e recebe muitas multas seja por dano direto ao meio ambiente (vazamentos de poluentes) ou por descumprir acordos ambientais, que visam prevenir danos. Essas multas são aplicadas,

em sua maioria, pela Superintendência Regional do Médio Paraíba do Sul, do Instituto Estadual do Ambiente – INEA, em Volta Redonda, que tem por missão “proteger, conservar e recuperar o meio ambiente para promover o desenvolvimento sustentável”, possuindo atuação descentralizada, e sendo responsável, dentre outras funções, por fiscalizar práticas, atividades de empresas de grande porte que contribuam para degradação ambiental, aplicando multas quando não houver enquadramento de atividades produtivas e emissão de poluentes. Conforme entrevista ao instituto, mesmo aplicando multas à CSN, a empresa possui um corpo jurídico muito grande e “qualificado” para defender os interesses da organização, bem como baixar o valor das multas ou até tentar extingui-las.

Todos os membros da sociedade têm direitos econômicos, sociais e culturais que são fundamentais para seu desenvolvimento pessoal, entre os quais estão: direito a educação; trabalho em condições dignas; liberdade de associação; um padrão adequado de saúde. Convém que as empresas, considerem a adoção e/ou manutenção de políticas específicas para assegurar a distribuição de bens e serviços essenciais onde essa distribuição estiver ameaçada por ela (ISO 26.000, disponívelmem:<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquiv os/[field_generico_imagens-filefield-description]_65.pdf>).

Percebe-se hoje que o território de Volta Redonda enfrenta consequências socioambientais derivadas da atuação da CSN e que a mesma possui um “braço social” para realizar sua “Responsabilidade Social”, que é a Fundação CSN. Sabe-se que a RSE propõe que haja um retorno efetivo à sociedade, demostrando os esforços por minimizar os impactos gerados pela empresa, mas esse retorno não pode ser meramente uma forma de autopromoção da empresa via discurso da RSE, mas deve ser de fato algo que demonstre sua preocupação para com a sociedade.

Será que o “descaso” em desenvolver projetos na área de saúde esta associada à ideia da empresa não querer associar sua marca, seu nome com doenças, mesmo estas sendo causadas por ela? Ou será que não dão a devida importância a essas ações por ser uma empresa de comodities, onde não seria tão relevante desenvolver projetos realmente necessários, pois o produto dela não chega diretamente até o consumidor final, sendo seus clientes outras empresas?

Esse trabalho apresentou algumas limitações, como: o acesso a dados referente ao nível de poluição emitida da CSN. Também foi programado nesta pesquisa que seriam feitas outras entrevistas além das citadas na introdução, uma com um

representante da área ambiental da CSN e outra com um representante da Fundação CSN, foram várias tentativas frustadas em entrevistar essas pessoas, embora houvesse resposta por parte de ambos, as entrevistas não foram realizadas. No caso da Fundação CSN, em um primeiro momento, foi feita uma visita ao local, a fim de marcar a entrevista, porém pediram que fosse feito o contato via e-mail para pedir “permissão” à outra pessoa. O contato foi feito, e foi solicitado que se enviasse um roteiro da pesquisa, sendo que o mesmo foi enviado, e após algum tempo de espera veio a resposta que poderia ir até a Fundação CSN para dar prosseguimento à pesquisa. Novamente foi feita outra visita à Fundação CSN, nessa foi procurada uma pessoa específica citada no e- mail, mas quando comecei a fazer as perguntas ela disse que não saberia responder a maioria, pois era responsável por um projeto especifico. Novamente me encaminharam para outra pessoa que saberia responder os questionamentos, porém até o presente momento não houve resposta alguma. A burocratização tanto para coletar dados quanto para realização de entrevistas foi uma limitação desse trabalho.

Este trabalho não visa restringir o debate em torno desta temática, mas sim contribuir para a reflexão ampliada sobre um processo complexo e abrangente, que é a RSE. Acredita-se que outros estudos possam ser desenvolvidos, na tentativa de responder outros questionamentos e complementar a análise acerca dessa prática. Pode- se, por exemplo, buscar entender mais a dinâmica da CSN, o motivo de não investir na área de saúde em Volta Redonda, bem como também entender se há alguma relação com a incidência de determinadas internações com os bairros periféricos.

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