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Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012

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INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Jéssica Guerra Inácio de Oliveira

Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional

(CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do

município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012.

Volta Redonda

2013

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Jéssica Guerra Inácio de Oliveira

Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional

(CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do

município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012.

Monografia apresentada ao Curso de Administração Pública, modalidade presencial, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração Pública.

Orientador: Profº. Dr. Luis Henrique Abegão

Volta Redonda

2013

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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca do Aterrado de Volta Redonda da UFF

O48 Oliveira, Jéssica Guerra Inácio de.

Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012. – 2013.

72 f.

Orientador: Luis Henrique Abegão.

Trabalho (Conclusão de Curso) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Fluminense,Volta Redonda, RJ, 2013.

1. Responsabilidade Social. 2. Saúde. 3. Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). I. Abegão, Luis Henrique. II. Título.

CDD 658.408

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Jéssica Guerra Inácio de Oliveira

Responsabilidade Social da Companhia Siderúrgica Nacional

(CSN) e suas externalidades negativas na saúde da população do

município de Volta Redonda, no período de 2008 a 2012.

Monografia aprovada pela Banca Examinadora do Curso de Administração Pública da Universidade Federal Fluminense – UFF.

Volta Redonda, ... de ... de ...

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________ Prof. Dr. Luis Henrique Abegão

Universidade Federal Fluminense

___________________________________________________________ Prof. Dr. Virgílio Cézar da Silva e Oliveira

Universidade Federal de Juiz de Fora

____________________________________________________________ Prof. Carlos Frederico Bom Kraemer

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Dedico este trabalho a minha irmã Vanessa, que mesmo não estando mais presente fisicamente, sempre esteve em meu coração, norteando minha trajetória acadêmica.

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Agradeço primeiramente a Deus, por me abençoar e me proporcionar viver esse momento.

Aos meus preciosos pais, Sandra e Walmir que me acompanharam cada dia dessa trajetória, sempre me incentivando e apoiando com carinho e dedicação.

Ao apoio indispensável da minha amada irmã Michelen e sem deixar de mencionar minha querida irmã Vanessa, que embora tenha partido esteve sempre presente em minha memória durante toda essa etapa da minha vida.

Ao meu querido e muito amado esposo Diego, que durante todos esses anos me apoiou incondicionalmente, o que me deu força para seguir em frente.

Aos meus familiares e colegas por me ajudarem e me apoiarem.

Ao meu orientador Luis Henrique Abegão pela sua disponibilidade e pelo acompanhamento exercido durante a execução desse trabalho. Agradeço também a todos os professores que fizeram parte da minha trajetória acadêmica, me proporcionando ver o mundo de outra forma. Obrigada a todos!

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“A Terra provê o suficiente para satisfazer as necessidades de todos os homens, mas não sua ganância." Mahatma Gandhi

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Este trabalho se propõe a analisar as atividades referentes à responsabilidade social (RS) da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e seus impactos na saúde da população do município de Volta Redonda, compreendendo o período de 2008 a 2012.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que utiliza dados quantitativos para fins descritivos. Tendo como objetivo geral entender, por meio de uma análise comparativa entre as ações sociais da CSN e suas externalidades negativas se existe um papel compensatório das primeiras sob as últimas. Constatou-se que o foco das ações sociais da CSN está concentrado nas áreas educacional, cultural e áreas relacionadas ao esporte. Não foi verificada nenhuma ação voltada para área da saúde por parte da organização, mesmo considerando que a empresa contribui significativamente para o aumento da poluição, prejudicando a qualidade de vida da população local. Os resultados demonstraram a desproporcionalidade entre os impactos negativos, que realmente contribuem para a degradação da qualidade de vida, e a ações sociais desenvolvidas pela Fundação CSN de Volta Redonda.

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This study aims to analyze the activities regarding social responsibility ( SR) of the National Steel Company ( CSN ) and health impacts of the Volta Redonda population , comprising the period from 2008 to 2012 . This is a qualitative research that uses quantitative data for descriptive purposes . Having as main objective to understand , through a comparative analysis of the social actions of the CSN and its negative externalities if there is a compensatory role in the last of the first . It was found that the focus of social actions CSN is focused on educational, cultural and sport-related areas. There was no any action towards health by the organization , even considering that the company contributes significantly to the increase in pollution , damaging the quality of life of local people . The results showed the disparity between the negative impacts that actually contribute to the degradation of quality of life , and social actions undertaken by the CSN Foundation Volta Redonda .

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1. INTRODUÇÃO ... 1

2. SETOR SIDERÚRGICO NO BRASIL ... 3

2.1. Trajetória da siderurgia ... 3

2.2. Etapas da produção do aço ... 7

2.3. Poluentes advindos da produção do aço ... 9

3. VOLTA REDONDA E A COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL ... 11

3.1. Volta Redonda, a “Cidade do Aço” ... 11

3.2. Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda ... 16

3.2.1. Contexto histórico da empresa ... 16

3.2.2. Externalidades negativas causadas pela CSN ... 22

4. RESPONSABILIDADE SOCIAL ... 28

4.1. Responsabilidade Social da CSN ... 38

5. FUNDAÇÃO CSN ... 38

6. SAÚDE NO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA... 46

6.1. Breve histórico da saúde no Brasil ... 46

6.2. A Saúde no município de Volta Redonda ... 48

7. CONCLUSÃO ... 55

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1. INTRODUÇÃO

O Brasil, bem como outros países, teve seu grande “boom” com o processo de industrialização. No primeiro governo de Vargas (1930-1945) a indústria no país ganhou uma força eminente. Durante esse período buscou-se estabelecer a industrialização no país, por meio de indústrias nacionais de base, o que ajudaria o Brasil a não incorrer em dependência externa, uma vez que poderia reduzir sua importação, estimulando a produção nacional de bens de consumo.

Com a crise de 29 e a consequente Revolução de 1930, a economia passa assumir um caráter mais nacionalista e industrialista, característico do governo Vargas. Entre as empresas estatais criadas por Vargas em seu primeiro governo, pode se citar a Companhia Siderúrgica Nacional (1941), a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Fábrica Nacional de Motores (1943) e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945) (SOUSA, s/d).

A CSN, objeto de estudo do presente trabalho, foi uma das indústrias criadas na Era Vargas, a fim de promover e fortalecer a indústria nacional. Sua construção teve como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial.

A Companhia foi fundada em 1941, em Volta Redonda, enquanto ainda era distrito do município de Barra Mansa, que tinha como nome Santo Antonio de Volta Redonda. O distrito só se emancipou em 1954 devido à necessidade de ter “alguém” que realmente estivesse olhando pelo futuro do lugar e pelas pessoas que ali estavam, cuidado este que não havia quando a cidade era apenas um distrito, sem nenhum poder político e econômico.

Junto com a criação da CSN, a menina dos olhos do processo de industrialização, vieram os benefícios, mas também muitos problemas, que são vivenciados até hoje pela população local. Com a implantação da empresa, criaram-se bairros inteiros, a fim de abrigar seus funcionários, mas com a ampla divulgação para atrair mão-de-obra, o município se viu em uma situação complicada. Volta Redonda havia sofrido um inchaço populacional, uma vez que a maioria dos trabalhadores vinham com toda sua família. Mas o maior problema foi que a empresa não absorveu a quantidade de trabalhadores que vinham em busca de um bom emprego, dando origem às “favelas” da cidade, bairros desorganizados, sem planejamento, totalmente diferente dos bairros criados pela CSN. Nascia assim uma clara divisão territorial e social.

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Além de problemas sociais, a “mãe da cidade” trouxe também outros problemas de igual relevância, como: problemas ambientais, econômicos (uma vez que a empresa visa lucro, e o mesmo é obtido através do aumento da produtividade, isso acarreta em cortar gastos com mão-de-obra, gerando assim desemprego) e na saúde da população de Volta Redonda. É sobre este último problema que o presente trabalho visa discutir.

A companhia possui uma Fundação, que é seu “braço social”, é nela que são tocados vários projetos sociais. Este trabalho possui como objetivo geral entender através de uma análise comparativa entre as ações sociais da CSN e suas externalidades negativas na saúde, se existe um papel compensatório das primeiras sobre as últimas. Para isso os objetivos específicos aqui buscados foram: apresentar os projetos desenvolvidos pela Fundação CSN; apresentar dados referentes às internações e óbitos de maior incidência no município; mostrar os poluentes advindos do processo siderúrgico bem como suas consequências na saúde; e comparar Volta Redonda com Petrópolis a fim de mostrar a contribuição da CSN na saúde da população da cidade de Volta Redonda.

Pretende-se atentar aqui para o fato de que sob a lógica de uma política nacionalista e desenvolvimentista o país cresceu, porém, junto com esse crescimento veio também uma série de problemas sociais e ambientais, que se não forem analisados de forma adequada, podem se agravar cada vez mais com o passar do tempo.

A escolha desse tema é fruto da interferência positiva de uma pesquisa de iniciação científica, na qual instigou a elaboração desse trabalho. Este visa contribuir para o desenvolvimento de novos projetos sociais plausíveis frente aos malefícios específicos causados pela CSN. Novos papéis também são necessários, pois, diante de um novo cenário, marcado pela “saturação” do modelo hegemônico de desenvolvimento, deve-se pensar em um desenvolvimento mais sustentável, e a empresa nesse contexto deve se ver como corresponsável, logo este trabalho possui grande relevância social, uma vez que procura sensibilizar e incentivar a criação/adoção de novas relações institucionais entre empresa, governo e sociedade civil, onde haja um esforço de todos os atores a fim de minimizar os impactos negativos do agente econômico. A partir deste trabalho, podemos pensar uma nova maneira para continuar desenvolvendo o município de Volta Redonda, tendo em mente que pensar em/no coletivo se torna mais relevante do que perpetuar práticas individualistas, ainda mais quando tratamos de desenvolvimento e não simplesmente crescimento.

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Utiliza-se aqui uma pesquisa qualitativa que se vale de dados quantitativos para fins descritivos. Este estudo envolveu coleta de dados. Esses foram coletados através de análise documental e realização de entrevistas com atores da área do meio ambiente (um representante do INEA e um representante da SMMA). Também foi utilizado nesse trabalho à observação direta.

Além dessa introdução o trabalho está estruturado em mais seis seções: na primeira aborda-se o setor siderúrgico no Brasil, sua trajetória, etapas do processo produtivo e poluentes advindos da produção do aço; na segunda concentra-se em contar a história da “cidade do aço”, bem como o histórico da CSN, mostrando os impactos negativos da empresa; na terceira seção é abordado o conceito responsabilidade social; a quarta seção trata da RS da CSN, mediada pela Fundação CSN; na quinta é apresentado um breve histórico da saúde no Brasil, logo em seguida trata-se especificamente da saúde no município de Volta Redonda; e; por último; tem-se a conclusão do trabalho.

2. SETOR SIDERÚRGICO NO BRASIL

2.1. Trajetória da siderurgia

Antes de adentrarmos no respectivo assunto, é de extrema relevância caracterizar o conceito de siderurgia. Para Caron e Pereira (1967, p. 15), “siderurgia, palavra que deriva do grego sideros – ferro e ergon – trabalho, é a arte de fabricar o ferro”. Ainda conforme o autor, o minério de ferro é o que dá sustentação à indústria siderúrgica, pois é matéria-prima essencial no processo.

O Brasil começou sua relação com a siderurgia ainda quando colônia. Nesse período as atividades produtivas envolvendo o ferro eram restritas aos anseios da coroa. O início da trajetória da siderurgia brasileira começa pela descoberta da existência de minérios de ferro no interior da capitania de São Vicente (São Paulo), no século XVI, pelo padre jesuíta José de Anchieta, que comunica o descobrimento à Corte Portuguesa (BAER, 1970).

De acordo com Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o país teve sua primeira experiência no setor siderúrgico, no século XVI, quando Afonso Sardinha, em uma de suas buscas por pedras preciosas e ouro, descobre o minério de ferro no interior de São Paulo, em Araçoiaba da Serra. Essa descoberta passa a ter significativa relevância para os colonizadores. Mas além da existência da

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matéria-prima do ferro, outros fatores foram incisivos para que ali começasse a ser um

locus para exploração, tais como: presença abundante de água e madeira para alimentar

os fornos.

A vinda da Corte Portuguesa, em 1808, deu início a grandes mudanças no Brasil colônia, a começar pela criação da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, em 1810, em Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo. Esse feito foi precedido pelas experiências que começaram com Afonso Sardinha ainda no século XVI, com a exploração do minério de ferro e com a fabricação de ferro. Embora seja aceito que a fábrica de Ipanema iniciou a trajetória da siderurgia, e preciso salientar que já existiam atividades relacionadas à fabricação de ferro (BAER, 1970).

Somente no início do século XIX, com a vinda da Família Real, as fábricas de ferro começaram a receber relevância. Conforme Moreira (2004), a Real Fábrica de Ferro Gaspar Soares (chamada também de Real Fábrica de Ferro do Morro do Pilar); a Fábrica Patriótica de Congonhas do Campo, ambas em Minas Gerais, e a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, localizada na região de Sorocaba (São Paulo), além do alto-forno construído por João Monlevade em Caeté (Minas Gerais), são frutos do esforço despendido na época, a fim de impulsionar a siderurgia.

A Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, considerada o começo da siderurgia nacional, encontra-se, desde 2007, sob a administração do ICMBio, por estar no meio da Floresta Nacional de Ipanema, que abrange parte dos municípios de Iperó, Araçoiaba da Serra e Capela do Alto (São Paulo). A Fábrica que funcionou por mais de oitenta anos foi desativada em 1895.

Já a Real Fábrica de Ferro do Morro do Pilar, também chamada de Fábrica do Morro do Gaspar Soares, localizada em Minas Gerais, não teve uma experiência tão longa, foi inaugurada em 1814 e foi desativada em 1831.

Em 1811, foi instalada em Congonhas do Campo, Minas Gerais, a Usina Patriótica, sob os olhos do barão Wilhelm Ludwig Von Eschwege, engenheiro contratado pelo governo português para executar diversas atividades ligadas à siderurgia. Após dez anos da construção da Usina, Eschwege abandona suas atividades no Brasil, e em 1822 a Usina encerrou suas atividades.

Foi criada em 1876, a Escola de Minas de Ouro Preto, em Minas Gerais, com intuito de formar profissionais para exploração de minas e em transformação de minérios em produtos industrializados (MOREIRA, 2004), para suprir a escassez de mão-de-obra existente, em um período em que predominava a importância da lavoura,

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em seus diferentes ciclos como o do açúcar e o café. A criação dessa escola foi um avanço importante para o país, pois passaria o Brasil a qualificar sua própria mão-de-obra, e portanto o progresso da siderurgia tendia a ser alavancado.

Como pode ser observado, a implantação de siderurgicas começa bem antes da Era Vargas, ainda quando o Brasil era colônia, porém as tentativas de fundição de ferro não traziam maiores impacto para a economia colonial. Esse fato aconteceu devido às medidas tomadas pela metrópole com relação a construções de forjas, que na maior parte do tempo proibiu a produção de ferro. Apesar da criação das fábricas, o Brasil continuava muito dependente de aços importados.

Nota-se, nas primeiras décadas do século XX, outros avanços no setor, considerados muito importantes para a história da siderurgia brasileira. Em 1921, foi criada a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, em Sabará (Minas Gerais), resultado da associação da Companhia Siderúrgica Mineira com a empresa Belgo-luxemburguesa ARBED. A empresa passa a ser responsável pelo desenvolvimento de uma tecnologia própria de alto-forno convencional a carvão vegetal. Em 1939 foi inaugurada a segunda usina da Companhia, em Monlevade (Minas Gerais), para a produção e transformação de ferro metálico (BAER, 1970). De acordo com Moreira (2004) a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira “(...) nada produziu de concreto até agosto de 1939 (...)”.

O contexto brasileiro da siderurgia até 1941 revela que, apesar de o país possuir Companhias e Usinas, ainda permanecia nele uma relação de dependência para com os produtos siderúrgicos importados. Esse cenário começa a se transformar no início da década de 30, com a chegada de Getúlio Vargas no poder, pois já no seu governo provisório Vargas dava grande relevância à siderurgia, pois considerava que uma grande indústria era sinônimo de independência, soberania, liberdade nacional (MOREIRA, 2004).

Segundo Moreira (2004), a transição realizada pelo Brasil, de uma economia substancialmente agroexportadora para uma economia voltada para a substituição de importações, é sem dúvida um grande momento para a economia brasileira.

Para Vargas, o maior problema da economia brasileira era o siderúrgico, como descrito abaixo:

O problema máximo [...] da nossa economia é o siderúrgico. Para o Brasil, a idade do ferro marcará o período de sua opulência econômica. No amplo emprego desse metal [...] se expressa a equação de nosso progresso. [...] O

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ferro é fortuna, conforto, cultura e padrão [...] da vida em sociedade (GETÚLIO VARGAS, 1931, apud MOREIRA, 2004, p. 16).

Esse novo modo de pensar, novo modo de fazer, foi aos poucos fazendo com que no Brasil se desenvolvesse na sociedade como um todo um espírito industrial/operacional. Começou então a busca, apoiada incessantemente por Vargas, em industrializar o país, para que o mesmo se desenvolvesse em sua plenitude.

Com esse novo panorama, foram inauguradas muitas indústrias, entre elas: a Companhia Ferro e Aço de Vitória (COFAVI), inaugurada em 1942, em Vitória, Espírito Santo; Aços Especiais Itabira (Acesita) fundada em 1944, em Coronel Fabriciano, Minas Gerais; a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), criada em 1941, em Volta Redonda, Rio de Janeiro, sendo esta sem dúvida o grande marco para a nova fase da siderurgia no Brasil; a Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA), criada em 1953, em Cubatão, São Paulo; a Usina Siderúrgica de Minas Gerais (USIMINAS) também fundada em 1956; a Usina Siderúrgica da Bahia (USIBA), inaugurada em 1973; em 1983, foi inaugurada a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), em Vitória, Espírito Santo; a Açominas começou a funcionar em Ouro Branco, em 1986, Minas Gerais.

A partir da década de 90, todo este cenário começa a ser transformado. O Estado que antes agia como regulador de diversas atividades, e tinha a preocupação em definir um planejamento econômico global (MOREIRA, 2004), começa a ser questionado, devido o surgimento da crise econômica da década de 80.

Com a ascensão de Fernando Collor de Mello, em 1989, à presidência da República, prevaleceu a tese do Estado mínimo. Como destacado por Moreira (2004, p. 142), “em 16 de março de 1990, por meio da Medida Provisória nº155, foi criado o Programa Nacional de Desestatização (PND), sancionado com poucas modificações em 12 de abril do mesmo ano como a Lei nº 8.031”.

A ideia era que o ajuste fiscal, para frear a crise econômica, só seria palpável com a retirada da presença do Estado na economia, isso se deu através das privatizações das empresas estatais, para conseguir diminuir o déficit público, ou seja, o PND fazia parte do esforço para estabilizar a economia (MOREIRA, 2004). Muitos foram os embates, de um lado existiam os liberais, que defendiam fervorosamente as privatizações e de outro os nacionalistas estatizantes, que acreditavam que o Estado deveria manter seu perfil de importante agente econômico (MOREIRA, 2004).

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O quadro 1 mostra as empresas siderúrgicas que foram privatizadas no Brasil. Segundo Andrade et al (2001, p. 3), “a produção siderúrgica privatizada foi de 19 milhões de t, representando, à época, 65% da capacidade total de produção de aço brasileira”.

Quadro 1: Empresas Siderúrgicas Privatizadas no Brasil

Fonte: BNDES apud ANDRADE et al, 2001.

2.2. Etapas da produção do aço

As usinas siderúrgicas possuem três classificações conforme o seu processo produtivo, são elas: usinas integradas, semi-integradas e não integradas (SCHEID, 2010). Segundo Caldas (2011), as usinas integradas são aquelas onde há desde o tratamento da matéria-prima até a laminação, que é onde sai o produto final, e as usinas semi-integradas utilizam como insumo básico a sucata, diferente das integradas que utilizam o coque e o minério de ferro, seu processo produtivo começa na aciaria e não na coqueria. Por último as usinas não-integradas que apresentam apenas uma etapa da produção do aço (SCHEID, 2010).

De acordo com Baer (1970), a produção do aço em usinas integradas, envolve quatro etapas básicas, são elas: 1) a mineração e tratamento de matérias-primas; 2) redução de minério de ferro a ferro gusa; 3) transformação do ferro gusa em aço e 4) Laminação dos lingotes.

Para Scheid (2010), nas usinas integradas os insumos básicos consistem em o minério de Ferro, o carvão mineral e os fundentes. Nas primeiras etapas do processo siderúrgico as matérias-primas são preparadas para o carregamento dos altos-fornos. O carvão mineral passa por um processo chamado coqueificação, onde são retirados os

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elementos voláteis (como benzeno e alcatrão) gerando um componente poroso rico em carbono, o coque. Já o minério de ferro é peneirado e as partículas menores são separadas e passam por um processo de sinterização, onde são aglomeradas com os fundentes (principalmente o calcário) e finos de coque (BAER, 1970).

Na segunda etapa da produção do aço, o coque, o sinter (resultado do processo de sinterização) e o minério de ferro são transportados até o alto-forno e depositados em camadas alternadas. É nesta fase do processo que ocorre a redução do minério de ferro, que se dá pelas reações químicas geradas pela a introdução de ar quente soprado no interior do alto-forno. Os produtos dessas reações são: gases, poeira, escória e o ferro-gusa (CALDAS, 2001).

O gusa é um aço com alto teor de carbono e impurezas, que deve ser refinado na aciaria, a fim de ganhar características comerciais. É na aciaria onde o aço tem sua quantidade de carbono ajustada a fim de obter proporções desejadas. O refino é realizado em fornos especiais chamados conversores, onde além de diminuir a proporção de carbono, também são reduzidos a níveis aceitáveis os elementos como fósforo, enxofre e nitrogênio (BAER, 1970).

Após o aço estar com a composição química desejada ele sofre um processo de conformação mecânica onde é moldado e resfriado na forma de placas espessas, chamadas lingotes. Esses lingotes já são considerados produto final do processo siderúrgico, pois já podem ser comercializados (CALDAS, 2011). A partir dos lingotes o aço pode ser laminado, gerando produtos como: bobinas a quente, bobinas a frio, bobinas revestidas, folhas metálicas, entre outros produtos planos. A figura 1 demonstra de modo simplificado o processo de produção do aço.

Figura 1: Fluxo Simplificado de Produção Fonte: IBS, 2011 apud CALDAS, 2011, p. 25.

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2.3. Poluentes advindos da produção do aço

A siderurgia merece um lugar de destaque quando o debate permeia questões ambientais. Nesse setor as externalidades negativas ocorrem em muitas etapas do processo, e mesmo antes do início do mesmo, como o transporte de matéria-prima.

Segundo Milanez (2008), as indústrias siderúrgicas, além de gerarem grandes riscos ocupacionais, como, por exemplo, os acidentes industriais e o benzenismo – intoxicação ocupacional pelo benzeno -, elas geram também externalidades no território onde se encontra e na sociedade onde são realizadas as atividades do processo de produção do aço.

A atividade industrial siderúrgica pode ser considerada muito poluente. Dentre os tipos de poluição estão: atmosférica, sonora, visual, hídrica e do solo. Bem como o uso bastante expressivo de energia, principalmente na forma de carvão mineral (MILANEZ, 2008).

De acordo com Saar (2004), “o poluente atmosférico é qualquer substância presente no ar que pela sua concentração possa torná-lo impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente ao bem-estar público”.

Para Milanez (2008), a emissão de poluentes como gás sulfídrico (H2S), óxidos de enxofre (SOx), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), etano (C2H6), óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), diferentes hidrocarbonetos orgânicos (principalmente o benzeno) e material particulado (poeira, fuligem, finos de minério, entre outros) é característico do processo de produção do aço realizado em indústrias siderúrgicas, contribuindo para a poluição atmosférica, e consequentemente doenças respiratórias.

O aumento da emissão de gases estufa, como o dióxido de carbono (esse poluente tem origem na queima de fósseis) e o metano contribuem para a ocorrência do aquecimento global, e consequentemente a frequência de mudanças climáticas também ocorrerá (SAAR, 2004).

O óxido de enxofre e óxido de nitrogênio reagem quando se misturam com a umidade atmosférica, dando origem aos ácidos, são eles: ácido sulfúrico e ácido de

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nitrogênio, quando isso ocorre forma-se então a chuva ácida (MILANEZ, 2008). A chuva ácida contribui decisivamente para a degradação/destruição ambiental, ela prejudica plantas, lagos, rios, bem como causa estragos em construções (casas, prédios), o aumento da mortandade de peixes e outros animais pode ser em consequência do aumento da acidez em rios e lagos. Além de causar esses danos a chuva ácida também desorganiza a cadeia alimentar, uma vez que plantas, insetos e outras vidas são mortas em decorrência dela (SAAR, 2004).

O óxido de nitrogênio também é responsável pela baixa imunidade e irritações nos pulmões. Outro gás que agride o sistema respiratório é o dióxido de enxofre, os danos dele podem ser irreversíveis, ou seja, pode causar a morte em pessoas com histórico de doenças respiratórias e cardiovasculares (SAAR, 2004).

No setor siderúrgico, outro problema aparece na produção de coque, onde é produzido o hidrocarboneto cíclico aromático (produto secundário), o benzeno. Esse poluente tende a ser bem problemático, uma vez que é altamente inflamável, volátil e incolor (MILANEZ, 2008). A exposição contínua a ele pode gerar externalidades negativas, no sistema imunológico nervoso, endócrino, podendo também causar doenças como a leucemia e a leucopenia (MIRANDA et al., 1999 apud MILANEZ, 2008).

Segundo Saar (2004), o material particulado é o transportador de poluentes para o organismo humano mais eficiente. As partículas são muito pequenas (diâmetro igual ou menor a 10 µm) facilitando sua penetração nos alvéolos pulmonares, o que é um problema, pois causa uma série de danos ao indivíduo, tais como: probabilidade maior de incidência de câncer e problemas respiratórios (GIODA et al., 2004 apud MILANEZ, 2008).

O monóxido de carbono advém da queima de combustíveis, esse gás prejudica a oxigenação dos tecidos, podendo ser classificado como asfixiante sistêmico. Isso acontece por que a hemoglobina não consegue realizar a troca por oxigênio, e não consegue expulsar o CO. Se houver saturação do monóxido de carbono na hemoglobina de até 60%, podem ocorrer desde a perda da consciência até a morte (SAAR, 2004).

Podemos constatar que o processo de produção do aço em indústrias siderúrgicas geram inúmeras externalidades negativas tanto ao meio ambiente como também à sociedade. Esses impactos vão desde o consumo exorbitante de recursos hídricos até a emissão de poluentes no ar, no solo, nos rios e lagos. Apesar das empresas investirem em tecnologias para melhorar essas questões, como o reaproveitamento da

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água, reduzindo assim seu impacto neste aspecto, ela ainda sim não consegue compensar seus impactos da produção de forma que eles sejam sanados e não apenas mitigados (MILANEZ, 2008).

3. VOLTA REDONDA E A COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL 3.1. Volta Redonda, a “Cidade do Aço”

Antes de sua emancipação, em 1954, o município de Volta Redonda era chamado de povoado de Santo Antônio de Volta Redonda, sendo o 8° distrito de Barra Mansa. O município recebeu este nome devido ao desenho geográfico de uma curva no Rio Paraíba. No século XIX foi cenário da economia cafeeira, tendo naquela época considerável crescimento devido à expansão da navegação no Rio Paraíba e da malha ferroviária, que cortava as duas maiores cidades do país São Paulo e Rio de Janeiro (SOUTO, 2007).

De acordo com Souto (2007), com a crise de 1929 toda a região sentiu as consequências da decadência do café, o que gerou estagnação no crescimento, porém devido sua posição privilegiada, o povoado despertou no governo profundo interesse de construir ali a grande indústria siderúrgica do país.

A relação entre o distrito e o município era complicada, uma vez que pouco era investido no povoado. Esse contexto se agrava e sofre consequentes transformações devido ao modelo de desenvolvimento econômico adotado em 1930, com Vargas no poder, já que o povoado foi escolhido para abrigar uma grande indústria nacional, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) (MOREIRA, 2004).

Criada em 1940, pelo decreto-lei nº 2.054, a Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional, foi incumbida de organizar questões ligadas ao programa adotado pelo governo, de criar indústrias de base. Para atender questões de defesa militar, facilidade de transporte e abundância de água, a comissão chegou à conclusão de que a indústria siderúrgica deveria se instalar na região fluminense, entre Barra do Piraí e Barra Mansa, especificamente em Volta Redonda (MOTTA, 2007).

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Figura 2: Região Sul Fluminense

Fonte: www.citybrazil.com apud MOTTA, 2007.

Para Motta (2007), além das características geográficas, a escolha do lugar foi feita também por motivos simbólicos, onde a implantação de um novo modelo econômico representaria a ruptura com o antigo modelo praticado no país, o modelo agrário-exportador. A ideia de uma nova fase reinaria nesse lugar, uma vez que a região era pouco habitada, facilitando o surgimento de uma nova sociedade, a industrial.

Com a vinda da CSN, em 1941, começa a ser desenhada a história de Volta Redonda. Segundo Bedê (2004), antes da chegada da empresa não havia nada que representasse grande importância no até então povoado.

Para receber esse investimento, o lugar, que não era provido de muita (quase nenhuma) infraestrutura, sofreu adaptações. A empresa precisava de um local onde seus funcionários teriam acesso a serviços básicos, para isso, junto com a empresa foram criados bairros, hospital, escola, banda de música, hotel, clubes (dos Funcionários e Umuarama), estrutura que também garantia aos trabalhadores da usina, serviços fundamentais, como água, esgoto, limpeza, distribuição e manutenção de energia elétrica, transportes coletivos, polícia e corpo de bombeiro. Todo esse aparato contribuiu para o crescimento da estratificação social, uma vez que a empresa proporcionava aos funcionários o que o povoado não tinha, gerando grandes diferenças entre moradores de um mesmo lugar, nesse contexto surgiu uma nova cidade, chamada “nova Volta Redonda” (MOREIRA, 2004).

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Os bairros construídos serviam para acolher os funcionários da empresa, mas o que determinava quem ficaria em cada bairro era a hierarquia de funções praticada dentro da empresa (SOUTO, 2007). Para Fontes e Lamarão (1986), o que ocorreu foi à estratificação do espaço conforme sua profissão e faixa salarial. Os bairros como Vila Santa Cecília, criado em 1942, Laranjal e Bela Vista, criados em 1945 eram destinados aos funcionários com cargos superiores, já o bairro Conforto, criado em 1942 e logo depois os demais como: Jardim Paraíba, Sessenta, Nossa Senhora das Graças e Monte Castelo seriam para utilização dos operários com menor qualificação profissional (MOREIRA, 2004).

A construção da CSN era assunto Nacional, o que contribuiu para que viessem homens de vários lugares do país, estes com a esperança de que no povoado de Santo Antônio de Volta Redonda estaria o futuro do país (MOREIRA, 2004). Conforme aponta Motta (2007), a companhia empregou 13.064 pessoas em seu processo de construção, porém esse número começa a diminuir em 1948, chegando a 8.914 de funcionários.

Essa queda no número de funcionários refletiu negativamente na questão habitacional da cidade. Muitos que foram demitidos não tinham como voltar para o lugar de onde vieram, a alternativa encontrada por eles foi a de ocupar áreas distantes da empresa, fato este que contribuiu para que casas e bairros fossem construídos sem planejamento nenhum. Este problema se agravava ainda mais, pois não paravam de chegar pessoas em Volta Redonda em busca de um “bom” emprego (MOTTA, 2007).

As pessoas que chegavam tinham a expectativa de conseguir emprego e moradia além da infraestrutura proporcionada pela CSN, porém não era fácil nem para os funcionários da empresa conseguirem moradia. O quadro 2 mostra que companhia não conseguiu acolher nem mesmo todos os seus trabalhadores.

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Quadro 2: População de Volta Redonda e empregados atendidos pelas habitações da empresa

Fonte: Piquet, Roselia. Moradia Operária em Volta Redonda: de Símbolo do Populismo à lógica capitalista. Espaço & Debates, São Paulo. Ano V nº 16, 1985 apud MOTTA, 2007.

O crescimento desordenado, deu origem a uma cidade desvinculada dos interesses da companhia, a “cidade extra-CSN”, chamada de “Volta Redonda velha”. As terras que eram ocupadas pelos trabalhadores dispensados ficavam na margem esquerda do Rio Paraíba, “afastadas” da empresa (MOREIRA, 2004).

Mesmo com a instalação da siderúrgica e com o inchaço populacional em que se via o lugar, com duas cidades totalmente divididas, uma com tudo e outra com nada, Volta Redonda ainda era distrito de Barra Mansa. Esse contexto se agrava ainda mais, pois mesmo recebendo tributos advindos do povoado o município de Barra Mansa não investia o recurso no local, fazendo com que os problemas continuassem sem

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solução, já que os tributos recolhidos eram utilizados no centro de Barra Mansa (MOREIRA, 2004).

Devido a esse cenário, em 1952 foi formado um Centro Cívico Pró Emancipação Política de Volta Redonda (BEDÊ, 2004). Todavia, esse movimento não foi à primeira tentativa do povoado conseguir maior autonomia, pois, segundo Costa (2004) essa vontade surgira primeiramente em 1874, quando os habitantes do local reivindicaram que o povoado se elevasse a condição de freguesia, mas a tentativa não obteve êxito devido a decisões políticas da época.

De acordo com Moreira (2004), a emancipação política do povoado só se tornou politicamente possível mediante a inserção de Sávio Gama nas reivindicações, uma vez que ele, junto ao seu partido PSD, iria representar e reivindicar a autonomia de Volta Redonda na Assembléia Legislativa do Estado, sem ameaça da Câmara Municipal de Barra Mansa vetar. O decreto que visava estabelecer a realização de um plebiscito em Volta Redonda foi aprovado garantindo à população escolher sobre a emancipação da localidade.

O plebiscito foi realizado somente em junho de 1954, onde a emancipação de Volta Redonda foi aprovada por 2.809 votos a favor e somente 24 contra. O novo município foi criado 17 de julho, e já no dia 6 de fevereiro de 1955 já tinham um prefeito tomando posse, era Sávio Gama. O primeiro prefeito do município teve relevante contribuição com relação à emancipação política do povoado de Santo Antônio de Volta Redonda, pois mediante articulações políticas obteve êxito nas reivindicações, fato esse que refletiu no desenho da tão sonhada emancipação (MOREIRA, 2004).

O processo emancipatório sem dúvidas deu início a muitas transformações, porém apesar da criação do município a companhia detinha um poder paralelo. Essa perpetuação finda em um segundo momento quando a empresa entrega à prefeitura toda a responsabilidade que detinha antes (MOREIRA, 2004).

Segundo Souto (2007), em 1973 o município de Volta Redonda foi considerado área de segurança nacional, esse cenário se prolongou até o desfecho do regime militar.

Em 80, com o estouro da crise econômica, o Estado buscou se reinventar, ou seja, se reformular. A consequência disso é que o Estado passaria a interferir o mínimo na economia nacional. Dentro das primeiras atitudes tomadas em prol do modelo de

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Reforma do Estado encontra-se o ajuste fiscal e as privatizações de empresas estatais, dentre elas a Companhia Siderúrgica Nacional – CSN (COSTA et al, 2013).

Antes da privatização da CSN, em 1993, Volta Redonda foi palco de uma histórica greve, que ocorreu em 1988, esta demonstrava que a relação entre empresa, município e funcionários não estava satisfatória (SOUTO, 2007).

Para Souto (2007), a privatização da companhia inaugurou um novo cenário no município. As demissões consequentes do processo de desestatização teve muito impacto na cidade. O município que estava acostumado com a relação de dependência que existia entre empresa e cidade sofreu grande abalo, sendo que após este processo Volta Redonda precisou reorganizar suas estratégias em prol de seu desenvolvimento.

Com a “onda” de desemprego que se estabeleceu no município, parte das pessoas saem do local para buscar melhores alternativas de emprego e a outra parte fica e muda o foco de suas atividades, especialmente para o setor de serviços (SOUTO, 2007). A tabela 1 mostra o reflexo pós-privatização quanto ao déficit de empregos industriais.

Tabela 1: Desempregados e Admitidos na Indústria, Volta Redonda 2002-2006.

Fonte: Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro – CIDE apud SOUTO, 2007.

3.2. Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda

3.2.1. Contexto histórico da empresa

Impossível falar de Volta Redonda e não falar da CSN, e vice-versa. Afinal as histórias das duas estão conectadas em um laço que transcende tudo que possamos falar ou escrever. É verdade quando Moreira (2004) diz que a cidade e a empresa estão

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umbilicalmente ligadas, tal como mãe e filho, pois é esta a imagem que a empresa até antes de sua privatização representava/passava ao município de Volta Redonda.

Após a crise de 29, com Vargas no poder, começou a ser traçada uma nova fase para o Brasil e especificamente para Volta Redonda. A criação de indústrias de base como siderurgia e expansão da malha ferroviária eram apontadas em seu governo como indispensáveis. Para que a criação das indústrias de base se concretizasse foram realizadas pelo Estado diversas avaliações com intuito de verificar a viabilidade do investimento e os meios para sua realização, logo foram criadas várias comissões com essa finalidade, até que se chegou à criação da tão sonhada CSN (MOREIRA, 2004).

Para que esse sonho fosse concretizado, longas negociações foram travadas entre governo brasileiro e Estados Unidos. O resultado dessas negociações foi à concessão do empréstimo de 20 milhões de dólares para a obtenção de equipamentos e máquinas essenciais para a criação da indústria, pelo banco Eximbank. Mas esse empréstimo estava condicionado aos anseios de Washington, que pediu que portos, aeroportos, estradas de ferro e de rodagem e meios de comunicação do Brasil fossem colocados a sua disposição em tempos de crise. Além da condição de ser criado um comitê executivo, composto por engenheiros de ambos os países, com finalidade de coordenar os cálculos finais e a compra de equipamentos, e também um conselho consultivo para dar o parecer sobre os recursos adquiridos, este seria formado principalmente por técnicos norte-americanos. Mesmo não muito contente com as exigências Vargas concordou, e nos dias 25 e 26 de 1940, a partir de correspondências trocadas entre representantes dos dois países foi oficializado a concessão do empréstimo (MOREIRA, 2004).

Com o empréstimo as obras são iniciadas. O lugar onde a siderúrgica se instalou foi em uma área onde ficavam duas grandes fazendas, a Santa Cecília e a Retiro, ambas foram desapropriadas para esse fim, os dois terrenos juntos mediam mais de três mil metros quadrados (MOREIRA, 2004). O quadro 3 abaixo mostra a participação de cada agente na constituição do Capital da CSN.

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Quadro 3: Participação no Capital da CSN

Fonte: MOREIRA, 2003 apud MOTTA, 2007.

Em 9 de abril de 1941 foi fundada a Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN, porém a empresa só começou a operar no final de 1946. Para muitos, a CSN é considerada um marco no processo de industrialização do país. Sua criação teve grande relevância para o Brasil, pois foi à primeira usina siderúrgica integrada do país. Em 1961 a companhia foi denominada Usina Presidente Vargas e neste mesmo ano foi incorporada à companhia a mineradora de fundentes, Arcos/ MG e a mineração de minério de ferro na Casa de Pedra/MG. (CARVALHO, 2008).

O período entre 1956/1961 compreende o governo de Juscelino Kubistchek. Com seu plano de metas, Juscelino, em prol do desenvolvimento, realizou várias tomadas de empréstimos de capital externo. Esse fato só fez agravar ainda mais a dívida externa bem como a inflação no país (COSTA et al, 2013). Seu governo marcou grandes expansões na CSN como também marcou o surgimento de outras indústrias. O cenário de crises econômicas que assolavam o país bem como as políticas praticadas por Quadros (1961) e Goulart (1961/1964) fomentou condições para o golpe militar (MOREIRA, 2004).

Com o golpe militar (1964/1985), houve muitas transformações na autonomia da CSN, esta agora passa ser alvo de medidas de intervenção estatal. A posição do governo militar frente à crise instalada na siderurgia foi a de controlar os custos, reduzir quadro de funcionários, alterações na forma de gestão e arrocho salarial (MOREIRA, 2004). Nesse período boa parte do patrimônio da CSN foi vendido, como terrenos e casas. A empresa passou a financiar além da compra das casas a compra de materiais de construção, foi nessa época que a CSN transferiu à Prefeitura da Cidade de Volta Redonda a responsabilidade sobre “seu” patrimônio público (COSTA et al, 2013).

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Esses fatos deram origem ao que Costa et al (2013) aponta como “desresponsabilização social da CSN com o território da cidade de Volta Redonda”.

No início da década de 70 a crise mundial do petróleo pois fim a um período de relevante crescimento econômico, chamado “milagre econômico”. Nesse contexto o Brasil se viu na necessidade de repensar seu modo de governo, ou seja, o país começou a entrar em processo de redemocratização, devido à situação econômica e política em que se encontrava (COSTA, 2013).

Segundo Moreira (2004), as crises vividas na economia brasileira no período de 1970 até o final dos anos 1980 somou com a crise específica da CSN. A diminuição do crescimento da economia e a já instalada crise social agregou-se com a expansão do movimento grevista, que acabaria culminando na greve de 1988.

Volta Redonda foi palco da histórica greve de 1988. Antes da posse de Juarez Antunes, em 1983, a atuação do sindicato se restringia a assuntos burocráticos, não havia atitudes do sindicato em prol da mobilização do operariado. Fato que deu origem a um movimento livre do sindicato, que realmente tinha como objetivo lutar pelo e com os operários da companhia (MOREIRA, 2004).

Conforme Moreira (2004), a primeira greve aconteceu em 1984 e foi um ensaio para a que estaria por vir em 1988. Os trabalhadores reivindicavam na greve de 1984 a correção de salários, a perda de vantagens e a diferença exorbitante de salário entre CSN e Cosipa1. Entre 84 e 88 houve muitas paralisações, mas nenhuma com a relevância e proporção da ocorrida em 1988.

A greve de 88 se diferencia de todas as outras pela proporção da violência que marcou o movimento desde seu início. O sindicato, além de enfrentar a empresa, e os representantes do governo, também teve que enfrentar as tropas federais que estavam ali para garantir a reintegração de posse pedida pela empresa na justiça. Entre as reivindicações estava reajuste salarial e readmissão de funcionários demitidos por causa da greve anterior (MOREIRA, 2004).

Moreira (2004) aponta que o embate travado culminou em três mortes e deixou muitos feridos. No ano seguinte foi criado o “Memorial 9 de novembro” em homenagem aos mortos na greve. A figura 3 mostra o monumento no dia de sua inauguração, antes de sofrer o atentado à bomba.

1 A Companhia Siderúrgica Paulista – COSIPA foi fundada em 1953, porém só foi inaugurada em 1963

pelo então presidente João Goulart. Em 1966, transformou-se em uma usina siderúrgica integrada a coque.

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Figura 3: Memorial 9 de novembro

Fonte: site da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Em 1980, com a crise instalada, o Estado brasileiro não conseguia mais sustentar a função de propulsor do crescimento econômico, fato que acabou, mediante pressão internacional, por fazê-lo reformular seu modo de gestão. As privatizações e o ajuste fiscal foram às primeiras práticas visando colocar em prática o novo modelo de gestão (COSTA et al, 2013).

Com o Programa Nacional de Desestatização (PND) adotado no governo de Fernando Collor de Melo, foram iniciadas as privatizações. A CSN foi incluída somente em 1992 ao programa e no ano seguinte foi concretizada a sua venda. Esse enxugamento da máquina estatal refletiria, claro, em Volta Redonda, pois a companhia na época era considerada por muitos como a “mãe da cidade”, agindo como provedora de serviços que eram precários naquela localidade. Esse rompimento com a cidade inaugurou um novo momento.

Hoje a Companhia atua em cinco segmentos, são eles: siderurgia, mineração, logística, cimento e energia. As ações da empresa estão pautadas em sua missão e valores. Machado (2009) diz que a junção de missão, visão e valor só é útil se sua prática foi realmente efetiva. A missão de uma empresa deve poder responder ao que a instituição se oferece a executar, e para quem. De acordo com seu relatório anual a CSN possui como missão:

Destacar-se como um ícone de empreendedorismo e cidadania para o Brasil e aumentar o valor da empresa para os acionistas de forma sustentável, por meio do foco na indústria siderúrgica, mineração e infraestrutura que propicie vantagem competitiva para o crescimento da empresa, oferecendo produtos e serviços de qualidade, atuando de forma ética com empregados, fornecedores, clientes e comunidades onde opera em harmonia com o meio ambiente (RELATÓRIOS ANUAIS CSN 2008, 2009, 2010, 2011, 2012).

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Segundo Machado (2009), os valores de uma empresa são convicções, crenças que norteiam o comportamento de todas as pessoas envolvidas no esforço da busca pela concretização de seus objetivos e na prática de suas responsabilidades. O quadro 4 mostra que valores orientam as ações da CSN. No que se refere à visão da companhia, a partir da análise de seus relatórios anuais bem como pesquisa em seu site, não se encontrou de forma explícita e clara sua visão como foi encontrado sua missão e valores.

Quadro 4: Valores da CSN

Valores da CSN

• Pautamos nossas ações pela ética e pela transparência • Incentivamos o respeito às pessoas e a confiança mútua • Zelamos por um ambiente seguro e saudável

• Defendemos uma atuação social e ambiental responsável • Valorizamos a gestão integrada e o trabalho em equipe • Priorizamos o compromisso com os acionistas

• Buscamos a satisfação e o reconhecimento dos clientes • Estimamos a parceria com os fornecedores

• Consideramos a cultura da CSN o alicerce de nossa atuação Fonte: RELATÓRIOS ANUAIS DA CSN 2008, 2009, 2010, 2011, 2012.

De acordo com seus relatórios anuais a receita líquida da empresa é crescente, exceto pelo ano de 2009, onde a crise econômica refletiu negativamente nos ganhos da empresa. O quadro 5 e a figura 4 ilustram este cenário.

Quadro 5: Receita Líquida da CSN

Receita Líquida da CSN Ano (R$ Bilhões) 2008 14 2009 10,98 2010 14,5 2011 16,5 2012 16,9

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Figura 4: Receita Líquida da CSN

Fonte: Elaborado pela autora com base nos relatórios anuais – 2008 a 2012.

3.2.2. Externalidades negativas causadas pela CSN

É sabido que as ações das pessoas tem a capacidade de atingir direta ou indiretamente, positivamente ou negativamente a vida de outros indivíduos. Um exemplo simples e notório que pode ser descrito aqui é o caso de pessoas fumantes que fumam em locais inapropriados, que por sua vez afeta negativamente muitos não fumantes. Uma organização também impacta outrem, porém nesse caso a abrangência do dano é maior, pois afeta a comunidade local como um todo. Para Knight e Young (2006):

As ações de alguns agentes interferem no bem-estar dos demais, sem que haja a devida incorporação dos benefícios ou custos criados por parte dos responsáveis por essas ações. No primeiro caso, a externalidade é dita positiva e no segundo é negativa. (KNIGHT; YOUNG, 2006, p.3).

Vale ressaltar que em uma empresa siderúrgica a externalidade positiva mais “visível” é a geração de emprego, numa perspectiva de que contribui para o desenvolvimento do país; porém, se for analisado o âmago da indústria, impregnada por práticas individualistas veremos que sua lógica é e sempre será aumentar seu lucro,

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 2008 2009 2010 2011 2012 (R$ B ilh õ es)

Receita Líquida da CSN

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buscando aumentar a produtividade da empresa. Esse aumento da produtividade esta quase sempre relacionado ao uso de novas tecnologias em processos produtivos, o que por sua vez contribui significativamente para o desemprego no país. A pergunta que se deve fazer é até que ponto essa externalidade positiva específica atende os anseios da sociedade? E até que ponto pode ser sustentado uma vez que visa mais e mais produtividade?

No caso da CSN não poderia ser diferente. Desde sua privatização a empresa busca sempre reduzir seu quadro de funcionários, o que acaba gerando mais um impacto negativo na comunidade local. O quadro 6 evidencia alguns impactos desfavoráveis à população de Volta Redonda.

Quadro 6: Impactos negativos da CSN no território de Volta Redonda SÓCIOAMBIENTAIS

A privatização da CSN gerou um grande excedente de mão de obra (desemprego). Poluição atmosférica e visual: a Usina está localizada no centro da cidade.

Aumento da temperatura no centro da cidade, onde está localizada a indústria, causando pela elevada temperatura dos fornos da Usina.

Despejo de 540 mil toneladas de resíduos perigosos em aterro na entrada da cidade de Volta Redonda, realizada nos anos setenta e oitenta. Resíduos descobertos somente em 2010 pelo Ministério Público.

Vazamento de material oleoso de material carboquímico e benzeno que atinge o Rio Paraíba do Sul.

Emissão de poeira (pó de ferro) causada pela escória, que gera sérios problemas respiratórios.

Grande emissão de gás carbônico na cidade, gerado pela Usina e pela grande circulação de veículos.

Emissão de resíduos (chumbo e cádmio) no solo, que provoca toxidade à agricultura. Forte odor: liberação de fumaça (gás sulfrídico e sulfeto de nitrogênio).

Propriedade de áreas/solos/espaços na cidade, que não são utilizados. Ocupação do solo de maneira desorganizada.

Utilização excessiva de energia, principalmente de água.

Geração de altos riscos ocupacionais e de saúde nos trabalhadores, onde a maioria vive em Volta Redonda.

Fonte: COSTA et al (2013).

Para Milanez (2008), o setor siderúrgico gera muitos impactos no território onde se insere, bem como na saúde da população local. As atividades desenvolvidas em

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uma empresa siderúrgica pode ser considerada bastante poluente, sendo os principais tipos de poluição: atmosférica, sonora, visual, hídrica, e do solo.

Segundo Milanez (2008), a emissão de poluentes como gás sulfídrico (H2S), óxidos de enxofre (SOx), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), etano (C2H6), óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), diferentes hidrocarbonetos orgânicos (principalmente o benzeno) e material particulado (poeira, fuligem, finos de minério, entre outros) é característico do processo de produção do aço realizado em indústrias siderúrgicas, contribuindo para a poluição atmosférica, e consequentemente doenças respiratórias. A figura 5 revela alguns poluentes advindos do processo de fabricação do aço. Já o quadro 7 mostra os efeitos da poluição do ar na saúde humana.

Figura 5: Poluentes advindos do processo de fabricação do aço Fonte: BONEZZI et al (2004) adaptada de SAMPAIO (1999).

Quadro 7: Efeitos da poluição do ar na saúde humana.

Monóxido de Carbono (CO)

A exposição ao CO resulta numa redução do suprimento do oxigênio para os tecidos do corpo devido a menor quantidade de oxigênio transportado dos pulmões para os tecidos. Os danos são causados pela intoxicação por CO devido à diminuição da liberação de oxigênio para os tecidos e células. Assim, o cérebro e outras partes do sistema nervoso são afetados rapidamente pela intoxicação por CO. Atua no sangue reduzindo a sua oxigenação.

Dióxido de Carbono (CO2)

A exposição ao CO2 torna a respiração rápida e profunda, transpiração e dor de cabeça. Pode ocasionar perda de

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consciência ou até mesmo morte.

Ozônio (O3)

A exposição ao O3 danifica os tecidos pulmonares diminuindo a resistência às doenças infecciosas. Estima-se que a exposição crônica a altos níveis de Ozônio pode levar ao envelhecimento prematuro dos tecidos pulmonares. Provoca irritação nos olhos e nas vias respiratórias e diminuição da capacidade pulmonar. Associam-se exposições ao O3 com o aumento de admissões hospitalares.

Óxidos de Nitrogênio (NOx)

NO2 é um intenso irritante dos brônquios e alvéolos. Podem aparecer conjuntivites, tosse, asma e bronquite. Dependendo do nível de exposição pode resultar em edema pulmonar e morte prematura. É o responsável pela formação do “smog” fotoquímico.

Óxidos de Enxofre (SOx)

Em altas concentrações causa inflamações graves nas mucosas e das vias respiratórias, podendo ser fatal em alguns casos. Especula-se que a exposição ao SO2 diminua a resistência ao câncer.

Material Particulado (MP)

As partículas grossas são filtradas pelo organismo e não chegam a atingir o pulmão. As partículas Inaláveis, pelo contrário, chegam até os pulmões e podem ser absorvidas na superfície das células agravando os quadros alérgicos e de bronquite. Geram mal-estar, asma, irritação nos olhos, pele, dor de cabeça e câncer pulmonar

Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)

Provocam irritação nos olhos, nariz, pele e aparelho respiratório. Alguns desses compostos podem provocar danos celulares, sendo alguns cancerígenos. Dentre os mais críticos estão o Benzeno e alguns aldeídos

Fonte: Knight e Young (2006).

Percebe-se a partir da análise do quadro 7 que os poluentes que mais afetam a saúde, e que são advindos do processo siderúrgico, são: Óxidos de Enxofre (SOx), Óxidos de Nitrogênio (NOx), Monóxido de Carbono (CO), Ozônio (O3), Material Particulado (MP), Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4) e os hidrocarbonetos orgânicos (KNIGHT e YOUNG, 2006). Nota-se que o setor siderúrgico é bastante nocivo à saúde da população, logo uma das maiores siderúrgicas do Brasil, a CSN não podia ficar de fora dessa questão, pois gera externalidades negativas para a comunidade

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local. Sabe-se que a empresa impacta de diversas formas a população, porém esse trabalho concentra seu olhar na poluição atmosférica gerada por ela.

Segundo Peiter e Tobar (1998) “a cidade vem enfrentando, desde sua fundação, inúmeros problemas ambientais decorrentes de seu grande polo siderúrgico, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional – CSN”. Os autores apontam alguns desses problemas, são eles: poluição do ar por gases e partículas emitidas no processo produtivo da empresa, a poluição das águas originada do não tratamento dos efluentes, como também aquela que advém dos esgotos domiciliares despejados no rio Paraíba do Sul, e por último a contaminação ambiental advinda da disposição incorreta dos resíduos sólidos, tanto do lixo industrial quanto do domiciliar. Para Peiter e Tobar (1998) esses problemas afetam de maneira desigual o espaço da cidade de Volta Redonda, ocasionando áreas críticas com diferentes intensidades.

Percebe-se que há uma relação entre a segregação espacial originada no início da construção da CSN com os lugares mais poluídos do município de Volta Redonda. Segundo Moreira (2004) os bairros construídos para os funcionários reproduziam a hierarquização existente na fábrica. Sobre esse fato, Peiter e Tobar (1998) afirmam que a população de baixa renda foi, no que se refere à ocupação do território da cidade, prejudicada em dobro, cenário este que “seguramente se reflete na sua situação de saúde”. Na cidade a população de baixa renda se localiza em diferentes espaços, sendo estes a “periferia recém-formada” (formada por bairros do extremo leste e extremo norte do município) e a “periferia antiga” (formada por bairros do noroeste) (PEITER e TOBAR, 1998).

Na periferia recente os impactos da poluição atmosférica são menos sentidos em razão da maior distância da principal fonte emissora. Já na periferia antiga (Retiro, Belo Horizonte, Vila Brasília e Açude) o cenário é outro, a população esta mais vulnerável aos efeitos da poluição atmosférica, e o que a torna mais vulnerável é a proximidade com a Companhia Siderúrgica Nacional, bem como sua posição não favorável com relação à dispersão de poluentes (PEITER e TOBAR, 1998). A figura 6 ilustra esse cenário.

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Figura 6: Dispersão de poluentes em Volta Redonda Fonte: PEITER e TOBAR, 1998.

A partir de 1984 em Volta Redonda, foi verificado um aumento de pessoas com os mesmos sintomas: naúseas, vômitos, fraquezas e cânceres. Foi identificado que se tratava de uma “doença” chamada Leucopenia, que é a diminuição na quantidade de leucócitos circulantes no sangue, essa diminuição coloca a pessoa sob risco mais elevado a doenças infecciosas. A doença é o primeiro estágio da contaminação por benzeno, gás produzido no processo de queima de coque, e é em sua maioria irreversível, podendo avançar para a leucemia (AARÃO, 2010). A CSN tudo fazia para negar sua participação nesse cenário, como faz até hoje, não só com a leucopenia mais com outras doenças associadas aos poluentes produzidos por ela.

Conforme entrevista realizada no Instituto Estadual do Ambiente - INEA de Volta Redonda, percebe-se hoje, que mesmo com os investimentos da CSN para controlar a emissão de poluentes, ainda sim ela gera poluentes atmosféricos prejudiciais à saúde do ser humano. As “práticas ruins” na área do meio ambiente têm ligação direta

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com as externalidades negativas na saúde, pois tudo começa no ambiente, ou seja, a forma como ele é tratado influenciará na qualidade de vida da população.

4. RESPONSABILIDADE SOCIAL

A Responsabilidade Social Empresarial – RSE não é uma prática tão recente como muitos pensam, é tão antiga como o empreendimento empresarial (SMITH e WARD, s/d). Para Carvalho (2008) a RSE seria um caminho para melhorar a condição em que a sociedade contemporânea se encontra, já que esta possui em seu âmago desigualdades tanto econômicas e sociais como também ambientais que só tendem a crescer cada vez mais, colocando muitas pessoas em situações degradantes.

Hoje, com a globalização, há o surgimento de várias tecnologias e avanços nos meios de comunicação, logo as empresas passaram a ter mais cuidado com a imagem que transmitem ao público (sociedade, clientes, funcionários), pois seus atos passaram a ser mais divulgados, publicados, e, logo, mais sujeito ao controle da comunidade. Nesse contexto, passou-se a discutir temas como responsabilidade social e ambiental, bem como buscar inseri-los na gestão das empresas (COSTA, 2006). É relevante pontuar que a RSE ainda está em fase de amadurecimento em muitos países, inclusive no Brasil (MARSON e AMARAL, 2012).

A perspectiva adotada neste trabalho é a de que a empresa é uma instituição social, que cria espaços para além do econômico, gerando regras e valores que transcende a empresa (COSTA, 2006). Para Kirschner (1998 apud COSTA, 2006) a empresa pode ser vista como uma microsociedade, logo o relacionamento dela para com a sociedade não deve se resumir somente às questões meramente econômicas.

Corroborando a ideia de que a empresa é uma microsociedade, Philippe Bernoux (1995) e Sansaulieu (1997), citados por Costa (2006), estudaram a empresa como objeto sociológico. A partir da ideia desses autores é possível ver a empresa como um fato social, ultrapassando assim a ideia de lugar central do capitalismo, e vendo-a como uma microssociedade, onde possui autonomia e capacidade de influenciar as estruturas sociais e políticas. Devemos ver a empresa não como parte isolada, mas como parte constitutiva do território, pois ela produz relações sociais (CAPPELLIN; GIULIANI, 2002 apud COSTA, 2006).

Segundo Tenório (2004) a atuação social das empresas surgiu no início do século XX, com as práticas de filantropia. Costa (2006) diz que nessa época a atuação

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das empresas em ações de cunho social não era encorajada, limitando apenas ao filantropismo, que são ações onde predomina a caridade e assistência.

Hoje a Responsabilidade Social Empresarial diferencia-se da filantropia, pois a última limita-se à doação de recursos à comunidade, ou seja, à caridade, enquanto a RSE compartilha projetos com as partes interessadas da empresa e da sociedade. A RSE é uma estratégia da empresa, ela faz parte de seu gerenciamento, para desenvolver projetos, implementá-los e controlá-los (COSTA, 2006).

Conforme Mendonça (s/d), a responsabilidade social faz parte da gestão estratégica da empresa, e busca atingir uma gama maior de stakeholders2, já a filantropia da ênfase principalmente às ações sociais praticadas externamente pela empresa. Logo, as organizações, segundo o conceito atual de RSE, devem identificar as demandas dos agentes com os quais estabelece relações e buscar inseri-las nos seus negócios.

A empresa deve responder socialmente, ambientalmente, politicamente à sociedade, uma vez que está inserida nela. Uma organização é parte constitutiva do território de uma sociedade, sendo esse o espaço onde diversos agentes exercem poder. A corporação, ao passo que se insere no território de uma da sociedade civil, deve responder a possíveis externalidades que possam trazer algum prejuízo para o território. Cada agente da sociedade (governo, sociedade e empresa) é responsável pelo território onde se insere; a sociedade é responsável, no que concerne a seus atos, pela conservação do espaço; o governo é responsável pelo todo da sociedade, formulando e fiscalizando políticas públicas visando o Welfare State, já a empresa é responsável pelos danos por ela causados no território (COSTA, 2006). Para Reilly (1999) a ideia de responsabilidade compartilhada pode ser visualizada no âmago da reforma do Estado. A figura 7 demonstra essa relação.

2 Stakeholders diz respeito a todas as partes interessadas, todos os agentes envolvidos direta ou

Referências

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