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3. VOLTA REDONDA E A COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL

3.2. Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda

3.2.2. Externalidades negativas causadas pela CSN

É sabido que as ações das pessoas tem a capacidade de atingir direta ou indiretamente, positivamente ou negativamente a vida de outros indivíduos. Um exemplo simples e notório que pode ser descrito aqui é o caso de pessoas fumantes que fumam em locais inapropriados, que por sua vez afeta negativamente muitos não fumantes. Uma organização também impacta outrem, porém nesse caso a abrangência do dano é maior, pois afeta a comunidade local como um todo. Para Knight e Young (2006):

As ações de alguns agentes interferem no bem-estar dos demais, sem que haja a devida incorporação dos benefícios ou custos criados por parte dos responsáveis por essas ações. No primeiro caso, a externalidade é dita positiva e no segundo é negativa. (KNIGHT; YOUNG, 2006, p.3).

Vale ressaltar que em uma empresa siderúrgica a externalidade positiva mais “visível” é a geração de emprego, numa perspectiva de que contribui para o desenvolvimento do país; porém, se for analisado o âmago da indústria, impregnada por práticas individualistas veremos que sua lógica é e sempre será aumentar seu lucro,

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Receita Líquida da CSN

buscando aumentar a produtividade da empresa. Esse aumento da produtividade esta quase sempre relacionado ao uso de novas tecnologias em processos produtivos, o que por sua vez contribui significativamente para o desemprego no país. A pergunta que se deve fazer é até que ponto essa externalidade positiva específica atende os anseios da sociedade? E até que ponto pode ser sustentado uma vez que visa mais e mais produtividade?

No caso da CSN não poderia ser diferente. Desde sua privatização a empresa busca sempre reduzir seu quadro de funcionários, o que acaba gerando mais um impacto negativo na comunidade local. O quadro 6 evidencia alguns impactos desfavoráveis à população de Volta Redonda.

Quadro 6: Impactos negativos da CSN no território de Volta Redonda SÓCIOAMBIENTAIS

A privatização da CSN gerou um grande excedente de mão de obra (desemprego). Poluição atmosférica e visual: a Usina está localizada no centro da cidade.

Aumento da temperatura no centro da cidade, onde está localizada a indústria, causando pela elevada temperatura dos fornos da Usina.

Despejo de 540 mil toneladas de resíduos perigosos em aterro na entrada da cidade de Volta Redonda, realizada nos anos setenta e oitenta. Resíduos descobertos somente em 2010 pelo Ministério Público.

Vazamento de material oleoso de material carboquímico e benzeno que atinge o Rio Paraíba do Sul.

Emissão de poeira (pó de ferro) causada pela escória, que gera sérios problemas respiratórios.

Grande emissão de gás carbônico na cidade, gerado pela Usina e pela grande circulação de veículos.

Emissão de resíduos (chumbo e cádmio) no solo, que provoca toxidade à agricultura. Forte odor: liberação de fumaça (gás sulfrídico e sulfeto de nitrogênio).

Propriedade de áreas/solos/espaços na cidade, que não são utilizados. Ocupação do solo de maneira desorganizada.

Utilização excessiva de energia, principalmente de água.

Geração de altos riscos ocupacionais e de saúde nos trabalhadores, onde a maioria vive em Volta Redonda.

Fonte: COSTA et al (2013).

Para Milanez (2008), o setor siderúrgico gera muitos impactos no território onde se insere, bem como na saúde da população local. As atividades desenvolvidas em

uma empresa siderúrgica pode ser considerada bastante poluente, sendo os principais tipos de poluição: atmosférica, sonora, visual, hídrica, e do solo.

Segundo Milanez (2008), a emissão de poluentes como gás sulfídrico (H2S), óxidos de enxofre (SOx), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), etano (C2H6), óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), diferentes hidrocarbonetos orgânicos (principalmente o benzeno) e material particulado (poeira, fuligem, finos de minério, entre outros) é característico do processo de produção do aço realizado em indústrias siderúrgicas, contribuindo para a poluição atmosférica, e consequentemente doenças respiratórias. A figura 5 revela alguns poluentes advindos do processo de fabricação do aço. Já o quadro 7 mostra os efeitos da poluição do ar na saúde humana.

Figura 5: Poluentes advindos do processo de fabricação do aço Fonte: BONEZZI et al (2004) adaptada de SAMPAIO (1999).

Quadro 7: Efeitos da poluição do ar na saúde humana.

Monóxido de Carbono (CO)

A exposição ao CO resulta numa redução do suprimento do oxigênio para os tecidos do corpo devido a menor quantidade de oxigênio transportado dos pulmões para os tecidos. Os danos são causados pela intoxicação por CO devido à diminuição da liberação de oxigênio para os tecidos e células. Assim, o cérebro e outras partes do sistema nervoso são afetados rapidamente pela intoxicação por CO. Atua no sangue reduzindo a sua oxigenação.

Dióxido de Carbono (CO2)

A exposição ao CO2 torna a respiração rápida e profunda, transpiração e dor de cabeça. Pode ocasionar perda de

consciência ou até mesmo morte.

Ozônio (O3)

A exposição ao O3 danifica os tecidos pulmonares diminuindo a resistência às doenças infecciosas. Estima-se que a exposição crônica a altos níveis de Ozônio pode levar ao envelhecimento prematuro dos tecidos pulmonares. Provoca irritação nos olhos e nas vias respiratórias e diminuição da capacidade pulmonar. Associam-se exposições ao O3 com o aumento de admissões hospitalares.

Óxidos de Nitrogênio (NOx)

NO2 é um intenso irritante dos brônquios e alvéolos. Podem aparecer conjuntivites, tosse, asma e bronquite. Dependendo do nível de exposição pode resultar em edema pulmonar e morte prematura. É o responsável pela formação do “smog” fotoquímico.

Óxidos de Enxofre (SOx)

Em altas concentrações causa inflamações graves nas mucosas e das vias respiratórias, podendo ser fatal em alguns casos. Especula-se que a exposição ao SO2 diminua a resistência ao câncer.

Material Particulado (MP)

As partículas grossas são filtradas pelo organismo e não chegam a atingir o pulmão. As partículas Inaláveis, pelo contrário, chegam até os pulmões e podem ser absorvidas na superfície das células agravando os quadros alérgicos e de bronquite. Geram mal-estar, asma, irritação nos olhos, pele, dor de cabeça e câncer pulmonar

Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)

Provocam irritação nos olhos, nariz, pele e aparelho respiratório. Alguns desses compostos podem provocar danos celulares, sendo alguns cancerígenos. Dentre os mais críticos estão o Benzeno e alguns aldeídos

Fonte: Knight e Young (2006).

Percebe-se a partir da análise do quadro 7 que os poluentes que mais afetam a saúde, e que são advindos do processo siderúrgico, são: Óxidos de Enxofre (SOx), Óxidos de Nitrogênio (NOx), Monóxido de Carbono (CO), Ozônio (O3), Material Particulado (MP), Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4) e os hidrocarbonetos orgânicos (KNIGHT e YOUNG, 2006). Nota-se que o setor siderúrgico é bastante nocivo à saúde da população, logo uma das maiores siderúrgicas do Brasil, a CSN não podia ficar de fora dessa questão, pois gera externalidades negativas para a comunidade

local. Sabe-se que a empresa impacta de diversas formas a população, porém esse trabalho concentra seu olhar na poluição atmosférica gerada por ela.

Segundo Peiter e Tobar (1998) “a cidade vem enfrentando, desde sua fundação, inúmeros problemas ambientais decorrentes de seu grande polo siderúrgico, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional – CSN”. Os autores apontam alguns desses problemas, são eles: poluição do ar por gases e partículas emitidas no processo produtivo da empresa, a poluição das águas originada do não tratamento dos efluentes, como também aquela que advém dos esgotos domiciliares despejados no rio Paraíba do Sul, e por último a contaminação ambiental advinda da disposição incorreta dos resíduos sólidos, tanto do lixo industrial quanto do domiciliar. Para Peiter e Tobar (1998) esses problemas afetam de maneira desigual o espaço da cidade de Volta Redonda, ocasionando áreas críticas com diferentes intensidades.

Percebe-se que há uma relação entre a segregação espacial originada no início da construção da CSN com os lugares mais poluídos do município de Volta Redonda. Segundo Moreira (2004) os bairros construídos para os funcionários reproduziam a hierarquização existente na fábrica. Sobre esse fato, Peiter e Tobar (1998) afirmam que a população de baixa renda foi, no que se refere à ocupação do território da cidade, prejudicada em dobro, cenário este que “seguramente se reflete na sua situação de saúde”. Na cidade a população de baixa renda se localiza em diferentes espaços, sendo estes a “periferia recém-formada” (formada por bairros do extremo leste e extremo norte do município) e a “periferia antiga” (formada por bairros do noroeste) (PEITER e TOBAR, 1998).

Na periferia recente os impactos da poluição atmosférica são menos sentidos em razão da maior distância da principal fonte emissora. Já na periferia antiga (Retiro, Belo Horizonte, Vila Brasília e Açude) o cenário é outro, a população esta mais vulnerável aos efeitos da poluição atmosférica, e o que a torna mais vulnerável é a proximidade com a Companhia Siderúrgica Nacional, bem como sua posição não favorável com relação à dispersão de poluentes (PEITER e TOBAR, 1998). A figura 6 ilustra esse cenário.

Figura 6: Dispersão de poluentes em Volta Redonda Fonte: PEITER e TOBAR, 1998.

A partir de 1984 em Volta Redonda, foi verificado um aumento de pessoas com os mesmos sintomas: naúseas, vômitos, fraquezas e cânceres. Foi identificado que se tratava de uma “doença” chamada Leucopenia, que é a diminuição na quantidade de leucócitos circulantes no sangue, essa diminuição coloca a pessoa sob risco mais elevado a doenças infecciosas. A doença é o primeiro estágio da contaminação por benzeno, gás produzido no processo de queima de coque, e é em sua maioria irreversível, podendo avançar para a leucemia (AARÃO, 2010). A CSN tudo fazia para negar sua participação nesse cenário, como faz até hoje, não só com a leucopenia mais com outras doenças associadas aos poluentes produzidos por ela.

Conforme entrevista realizada no Instituto Estadual do Ambiente - INEA de Volta Redonda, percebe-se hoje, que mesmo com os investimentos da CSN para controlar a emissão de poluentes, ainda sim ela gera poluentes atmosféricos prejudiciais à saúde do ser humano. As “práticas ruins” na área do meio ambiente têm ligação direta

com as externalidades negativas na saúde, pois tudo começa no ambiente, ou seja, a forma como ele é tratado influenciará na qualidade de vida da população.

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