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6. SAÚDE NO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA

6.2. A Saúde no município de Volta Redonda

Volta Redonda está situada no Sul do Estado do Rio de Janeiro, no trecho inferior do médio vale do Rio Paraíba do Sul, entre as serras da Mantiqueira e do Mar (PORTAL de VOLTA REDONDA, 2013). A origem da prestação de serviços de saúde no município se deu com a vinda da CSN para o então Povoado de Santo Antônio de Volta Redonda.

Sendo peça principal do projeto de industrialização do país, a CSN começa suas atividades moldando não só os aspectos econômicos do local, mais também contribuindo para uma “nova cultura”. Pode-se dizer que a saúde nesse período (bem como outros serviços básicos) teve uma clara e profunda divisão (MOREIRA, 2004). Os bairros escolhidos para abrigar funcionários com mais status, ficavam (ficam) fora da zona afetada diretamente pela poluição, uma vez que a direção do vento “jogava” e ainda “joga” a poluição para os bairros mais periféricos de Volta Redonda, sobretudo aqueles localizados na margem esquerda do Paraíba do Sul (PEITER e TOBAR, 1998).

Hoje a gestão dos serviços públicos fica a cargo do poder público local. Conforme o discurso do poder executivo local à saúde da cidade foi apontada como sendo umas das melhores do estado do Rio de Janeiro. O município foi criado por causa da CSN e por ela é impactado negativamente, porém em um mundo totalmente capitalista em que se vive hoje, a divisão existente entre o poder público e o empresariado se torna comum. Nesse contexto atual, o poder público arca com todo o “ônus” (ambiental e social) da atividade produtiva da empresa, enquanto a mesma fica com os “bônus” de sua atividade. Essa relação é complicada, a cidade deve levar em conta a influência de uma grande indústria no local, e cobrar ações mais responsáveis da empresa.

Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, no ano de 2009, na Região do Médio Paraíba, a média de material particulado com diâmetro aerodinâmico de 10 microns - MP10, foi de 28 µg/m³ (microgramas por metro cúbico). Porém, a recomendação da OMS é que média anual seja de 20 µg/m³. Nota-se que a região ultrapassou o valor anual recomendado, sendo que o município de Volta Redonda contribuiu significativamente para esse valor, uma vez que possui uma indústria siderúrgica de grande porte, a CSN (OMS, 2011. Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs313/es/index.html>).

O material particulado impacta mais pessoas do que qualquer outro poluente, pois consiste na mistura de várias substâncias orgânicas e inorgânicas (sulfatos, nitratos, amônia, cloreto de sódio, carbono, pó mineral, água e outros). Os materiais particulados são classificados conforme seu diâmetro aerodinâmico, o MP10 são partículas com um diâmetro aerodinâmico de 10 microns e o MP2,5 possui diâmetro aerodinâmico inferior a 2,5 microns. Este último é mais fino, logo quando inalado pode atingir os alvéolos pulmonares, e os MP10 são partículas mais grossas que ficam retidas na parte superior do sistema respiratório, o que também é prejudicial. A exposição crônica ao material particulado eleva o perigo de incidência de doenças cardiovasculares, respiratórias e câncer de pulmão (OMS, 2011. Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs313/es/index.html>).

Sabe-se que a poluição atmosférica contribui significativamente para o agravamento da qualidade do ar. Levando em conta o modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil, o “boom” industrial que seria uma solução (e realmente o foi em um dado período), hoje revela o quão essa forma de se “desenvolver” é prejudicial para a saúde da população. Arruda (2008) corrobora essa ideia dizendo que “a

revolução industrial está intimamente relacionada com a deteriorização da qualidade do ar”.

A deteriorização da qualidade do ar esta relacionada com doenças no aparelho respiratório, neoplasias e algumas doenças no aparelho circulatório. A fim de estabelecer uma relação entre deteriorização da qualidade do ar e incidência de doenças advindas desta, o quadro 10 mostra as internações hospitalares segundo causa em Volta Redonda.

Quadro 10: Internações hospitalares segundo causa em Volta Redonda. Internações hospitalares segundo causa por capítulo, Volta Redonda

2008 2009 2010 2011 2012 TOTAL %

I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 847 698 820 1049 688 4102 5,7% II. Neoplasias (tumores) 562 603 671 776 881 3493 4,8% III. Doenças sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários 195 153 230 236 197 1011

1,4%

IV. Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 473 430 501 401 312 2117 2,9% V. Transtornos mentais e comportamentais 940 910 685 606 600 3741 5,2% VI. Doenças do sistema nervoso 249 260 339 428 325 1601 2,2% VII. Doenças do olho e anexos 19 30 21 22 28 120 0,2% VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastóide 15 19 14 17 15 80 0,1% IX. Doenças do aparelho circulatório 2393 2090 2085 2116 2092 10776 14,8% X. Doenças do aparelho respiratório 1509 1556 1404 1540 1350 7359 10,2% XI. Doenças do aparelho digestivo 1659 1799 1788 1849 1584 8679 12% XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 188 231 278 189 233 1119 1,5% XIII. Doenças do sistema osteomuscular e do tecido

conjuntivo 203 220 427 578 546 1974

2,7%

XIV. Doenças do aparelho geniturinário 1017 1248 1177 1183 1181 5806 8% XV. Gravidez, parto e puerpério 1733 2077 2189 2254 2075 10328 14,3% XVI. Algumas afecções originadas no período perinatal 154 155 217 223 190 939 1,3% XVII. Malformações congênitas, deformidades e anomalias

cromossômicas 118 124 93 76 65 476

0,7%

XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais de exames

clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte 154 213 127 97 118 709

1%

XIX. Lesões, envenenamento e algumas outras

conseqüências de causas externas 1196 1151 1183 1227 1171 5928

8,2%

XX. Causas externas de morbidade e de mortalidade - 1 2 4 3 10 0,01% XXI. Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato

com os serviços de saúde 529 361 292 456 439 2077

2,9%

Total

14153 14329 14543 15327 14093 72445 100%

Fonte: SES/RJ.

O total de internações por doenças respiratórias em Volta Redonda representa um número considerável, de 7.359, no período de 2008 a 2012, ocupando a 4ª posição de maior incidência de internações no período, representando 10,2% delas. A 3ª posição fica com as doenças no aparelho digestivo, já a segunda fica com gravidez

parto e puerpério. A 1ª posição fica com as internações por doenças no aparelho circulatório, que também são influenciadas pela poluição atmosférica, esta representa 14,8% do total de internações. É relevante destacar que as internações por neoplasias são sempre crescentes nesse período.

Para César et al (1997, p. 54) “As infecções respiratórias agudas são responsáveis por um terço das mortes e metade das hospitalizações e consultas médicas entre menores de cinco anos nos países em desenvolvimento”. O público mais afetado pelas doenças respiratórias são as crianças e os idosos.

O quadro 11 mostra o número de óbitos por causa - foram separadas nessa tabela apenas as doenças possivelmente afetadas pela péssima qualidade do ar. Do total de 3.493 internações por neoplasias, 658 foram a óbito, sendo a neoplasia maligna da traqueia, brônquios e pulmões responsável por 68 deles (2% do total de internações), número considerável que fica atrás somente da categoria: restante de neoplasias malignas, responsável por 108 óbitos. Com relação às doenças no aparelho circulatório das 10.776 internações, 1.146 foram a óbito. As doenças respiratórias foram responsáveis por 383 óbitos (5% do total de internações) de um total de 7359 internações, onde destaca-se a pneumonia com 172, as doenças crônicas das vias aéreas inferiores com 123 e a categoria: restante de doenças no aparelho respiratório, com 88 dos óbitos.

Para KLIEGMAN et al (2006), citado por Machado et al (2010), a pneumonia é uma infecção do trato respiratório inferior, que compromete o parênquima e as vias aéreas.

Segundo Ferreira e Brito (2003) nos países mais pobres, 10% a 20% de todas as crianças menores de cinco anos apresentam pneumonia aguda a cada ano. De acordo com Fernandes (2004), citado por Machado et al (2010), a pneumonia no Brasil é a terceira causa da mortalidade infantil.

Quadro 11: Causa do óbito em Volta Redonda

Causa do óbito - Volta Redonda

2008 2009 2010 2011 2012 Total %

032-052 NEOPLASIAS 142 99 132 140 145 658 100%

. 032 Neoplasia maligna do lábio, cavidade oral e faringe 6 5 1 5 3 20 3% . 033 Neoplasia maligna do esôfago 7 9 12 11 8 47 7,1% . 034 Neoplasia maligna do estômago 18 9 9 7 16 59 8,9% . 035 Neoplasia maligna do cólon, reto e ânus 10 6 14 12 14 56 8,5% . 036 Neoplasia maligna do fígado e vias bil intrahepát 3 1 5 8 6 23 3,5% . 037 Neoplasia maligna do pâncreas 2 1 4 9 7 23 3,5% . 038 Neoplasia maligna da laringe 10 8 5 2 5 30 4,6% . 039 Neoplasia maligna da traquéia, brônquios e pulmões 15 9 13 15 16 68 10,3%

. 040 Neoplasia maligna da pele 1 - 1 - - 2 0,3%

. 041 Neoplasia maligna da mama 11 8 2 14 6 41 6,2%

. 042 Neoplasia maligna do colo do útero 3 2 4 3 - 12 1,8% . 043 Neoplasia maligna de corpo e partes n/esp útero 4 3 3 4 5 19 2,9%

. 044 Neoplasia maligna do ovário 1 1 3 3 3 11 1,7%

. 045 Neoplasia maligna da próstata 14 4 2 6 8 34 5,2%

. 046 Neoplasia maligna da bexiga - 2 5 6 3 16 2,4%

. 047 Neoplasia maligna meninge, encéf alo e outras partes SNC 13 8 10 9 5 45 6,8%

. 048 Linfoma não-Hodgkin 1 2 - - 1 4 0,6%

. 049 Mieloma múltiplo e neoplasia maligna de plasmócitos 3 1 1 2 4 11 1,7%

. 050 Leucemia 5 3 5 2 3 18 2,7%

. 051 Neoplasias in situ, benignas, comportamento incerto 3 - 3 1 3 10 1,5% . 052 Restante de neoplasias malignas 12 17 30 21 29 108 16,4% 066-072 DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO 200 230 252 230 234 1146 100% . 066 Febre reumática aguda e doenças reumáticas crônicas do coração - 1 - 1 1 3 0,3% . 067 Doenças hipertensivas 39 48 63 30 40 220 19,2% . 068 Doenças isquêmicas do coração 41 55 63 51 60 270 23,6% ... 068.1 Infarto agudo do miocárdio 33 44 49 40 52 218 19% . 069 Outras doenças cardíacas 29 42 44 45 36 196 17,1% . 070 Doenças cerebrovasculares 85 71 69 93 75 393 34,3%

. 071 Aterosclerose - - - -

. 072 Restante de doenças do aparelho circulatório 6 13 13 10 22 64 5,6% 073-077 DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO 66 66 71 82 98 383 100%

. 073 Influenza (gripe) - - - -

. 074 Pneumonia 30 26 30 41 45 172 44,9%

. 075 Outras infecções agudas das vias aéreas inferiores - - - -

... 075.1 Bronquiolite - - - -

. 076 Doenças crônicas das vias aéreas inferiores 20 28 22 22 31 123 32,1%

... 076.1 Asma - 3 - 1 1 5 1,3%

. 077 Restante doenças do aparelho respiratório 16 12 19 19 22 88 23% Fonte: SES/RJ

É fundamental para uma boa gestão da poluição do ar não só a definição das áreas mais impactadas, como também a identificação das fontes emissoras de poluentes atmosféricos (INEA, 2009).

Este trabalho considera a CSN como a maior fonte emissora de poluentes, pelo fato de ser responsável pela maior parte da poluição atmosférica de Volta Redonda (PEITER e TOBAR, 1998). Conforme entrevista realizada no INEA de Volta Redonda, devido ao “porte, potencial e por sua longa data”, considera-se a CSN como maior fonte emissora.

Porém, não se desconsidera aqui a poluição advinda da frota de veículos que circulam na cidade, e que possui grande participação dos muitos caminhões que fazem o transporte de mercadorias da CSN. Para dar maior credibilidade a essa afirmação, foi realizada uma breve comparação com uma outra cidade do estado do Rio de Janeiro, que não possui uma indústria tal como Volta Redonda. A cidade escolhida para a comparação foi Petrópolis, considerando para a escolha do município a quantidade de habitantes, de 295 mil, que embora seja um pouco maior que em Volta Redonda, poderá dar uma posição parcial da situação da mesma. Foi considerado também a frota de veículos de ambas cidades e o número de internações e óbitos por doenças respiratórias, circulatória e neoplasias. Os quadros 12 e 13 mostram a quantidade da frota que ambos municípios possuem.

Quadro 12: Frota de Veículos do Município de Volta Redonda

Frota de Veículos do Município de Volta Redonda

Ano Frota de veículos

2008 91.048 2009 97.025 2010 102.439 2011 110.227 2012 117.943 Fonte: Detran/RJ.

Quadro 13: Frota de Veículos do Município de Petrópolis

Frota de Veículos do Município de Petrópolis

Ano Frota de veículos

2008 108.580 2009 114.467 2010 120.568 2011 128.125 2012 135.597 Fonte: Detran/RJ.

Podemos notar que a frota de veículos em Petrópolis é crescente e maior que a de Volta Redonda, porém o número de internações referentes às mesmas categorias analisadas no município de Volta Redonda é menor (salvo em doenças circulatórias, sendo que a maioria das doenças nessa categoria podem não estar diretamente ou indiretamente relacionada com a poluição), mesmo ela possuindo uma frota maior e um quantitativo de habitantes maior. Nota-se então a clara influência de outro fator em Volta Redonda, fator esse podendo ser atribuído à CSN.

Quadro 14: Internações hospitalares segundo causa por capítulo, Petrópolis.

Internações hospitalares segundo causa por capítulo, Petrópolis.

2008 2009 2010 2011 2012 Total %

I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 759 767 791 819 631 3767 5,1% II. Neoplasias (tumores) 481 533 688 485 527 2714 3,7% III. Doenças sangue e dos órgãos hematopoéticos e alguns

transtornos imunitários 88 107 121 101 98 515

0,7%

IV. Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 335 365 379 333 292 1704 2,3% V. Transtornos mentais e comportamentais 940 895 646 409 214 3104 4,2% VI. Doenças do sistema nervoso 1388 1329 793 621 430 4561 6,1% VII. Doenças do olho e anexos 1 9 6 6 315 337 0,5% VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastóide 10 11 17 15 12 65 0,1% IX. Doenças do aparelho circulatório 2311 2423 2819 2616 1929 12098 16,3% X. Doenças do aparelho respiratório 1034 1092 1108 1074 948 5256 7,1% XI. Doenças do aparelho digestivo 1016 1270 1451 1269 1255 6261 8,4% XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 251 360 572 378 341 1902 2,6% XIII. Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo 389 433 529 454 409 2214 3% XIV. Doenças do aparelho geniturinário 746 835 851 790 746 3968 5,3% XV. Gravidez, parto e puerpério 2445 2617 2583 2115 1268 11028 14,9% XVI. Algumas afecções originadas no período perinatal 450 322 333 266 189 1560 2,1% XVII. Malformações congênitas, deformidades e anomalias

cromossômicas 74 78 57 40 35 284

0,4%

XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos

e de laboratório, não classificados em outra parte 126 273 655 689 443 2186

2,9%

XIX. Lesões, envenenamento e algumas outras conseqüências

de causas externas 1845 1852 1807 1672 1701 8877

11,9%

XX. Causas externas de morbidade e de mortalidade 10 2 3 - 2 17 0,02% XXI. Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato

com os serviços de saúde 418 138 453 373 403 1785

2,4%

Total 15117 15711 16662 14525 12188 74203 100%

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