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A adoção é uma modalidade de filiação que atribui iguais direitos e deveres ao adotando. Tal modalidade de constituição familiar tem proteção da legislação brasileira, especialmente na Lei 8069/90 (ECA).

A Constituição Federal de 1988 assegura como às crianças e adolescentes no país, o direito à convivência familiar e comunitária, que exerce salutar influência na formação desses jovens. Desta maneira, vislumbra-se a importância da adoção para quem não obteve sucesso em sua família de origem.

A Nova Lei de Adoção (Lei 12010/2009) trouxe em seu bojo a importância da convivência familiar principalmente no seio da família natural. A colocação em família substituta representa uma exceção, somente havida diante do insucesso da presença do jovem em sua família biológica. Houve a preocupação do legislador em implementar medidas que assegurem a inserção da criança em sua família de origem, quando muito em sua família extensa, sendo representada esta pelos parentes próximos com quem a criança ou o adolescente tem vínculos de afinidade e afetividade.

Neste âmbito da colocação em família substituta está a modalidade da adoção internacional. Esta alternativa foi prevista constitucionalmente, somente sendo levada em consideração quando restar impossibilitada a presença do infante com sua família original. Prevê a Constituição Federal que a adoção entre países será assistida pelo Poder Público e que a lei estabelecerá as condições de sua efetivação por parte de estrangeiros (inteligência retirada do art. 227, §5º, CF).

A história da adoção transnacional é eivada de mitos e preconceitos, porém, infelizmente, alguns fatos são inegáveis. Diversos organismos abalizados já levantaram a questão da adoção transfronteiriça como meio usado para o tráfico de jovens e para a venda de órgãos. Nos seus primórdios, era permitido que tal adoção se realizasse sem a presença dos postulantes, apenas por meio de procuração. Tal método facilitava as adoções escusas, sendo enviadas para o exterior, inclusive, crianças que nem ao menos tiveram a autorização dos pais para viajar.

Diversos tratados internacionais mencionaram em seu conteúdo medidas para abolir essas práticas escabrosas, evidenciando que a adoção entre países só deve ocorrer em caráter excepcional. Assim também pensa o legislador brasileiro, pois este, no art. 30 do ECA,

só permitiu a utilização da adoção transnacional como última alternativa de inserir a criança em um ambiente familiar.

Com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, pôs-se fim à adoção por procuração, sendo necessária a vinda do requerente estrangeiro para que cumprisse o chamado estágio de convivência. O antigo texto do Estatuto não apresentava tantos detalhes relacionados à adoção internacional, prevendo o procedimento a ser adotado em curto texto nos arts. 51 e 52.

A Lei 12010/2009, refletindo as disposições da Convenção de Haia, trouxe diversas modificações no que tange ao procedimento da adoção internacional. Houve uma pormenorização dos critérios a serem atendidos pelos estrangeiros e brasileiros residentes fora do Brasil para que estes consigam adotar jovens brasileiros. Salutar a posição do legislador em proteger nossas crianças das más intenções de alguns, porém esse detalhamento da legislação trouxe diversos percalços para aqueles interessados em adotar crianças nacionais, como o estabelecimento do prazo de trinta dias de estágio de convivência, tempo considerado excessivamente duradouro para que o estrangeiro deixe de cumprir suas obrigações pessoais em seu país de origem.

É inegável que o ideal seria a convivência com a família biológica. Mas quando esta não se afigurar possível, imperioso é dar uma chance para aqueles que possam proporcionar à criança um tratamento adequado. No caso em questão, existem duas grandes questões a serem observadas: o longo tempo que as crianças podem ficar abrigadas à espera de um adotando que a queira e o perfil buscado especialmente pelos adotantes nacionais.

O primeiro ponto traduz-se na preocupação que deve ter não só o magistrado, mas também toda a equipe responsável pelos processos adotivos em resolver a situação da criança institucionalizada o mais breve possível. Para isso, necessário se faz que haja um incremento na infraestrutura dos Juizados da Infância e Juventude, a fim de que se possa aferir se tal criança tem possibilidade de ser adotada por brasileiro, e não somente prever um tempo máximo para encaixar a criança em uma família. Quanto mais célere for essa análise, melhor para o jovem, que poderá ter a chance de ser acolhido por um estrangeiro. Se não se resolve a base da questão, medidas paliativas não terão a eficiência esperada. Assim, a criança pode estar condenada à eterna institucionalização.

Já o segundo ponto diz respeito ao padrão escolhido pelos brasileiros para adotar, que é o de criança branca, com a menor idade possível e que não tenha irmãos. O problema (ou a solução) é que o legislador priorizou a colocação de irmãos na mesma família. No entanto, essa não é a vontade da maioria daqueles que procuram a adoção como forma de

parentesco civil. Neste ponto, a adoção por estrangeiros representa vantagem, já que estes não são tão exigentes quanto ao sexo, à raça ou à idade da criança. Além do mais, aceitam adotar grupo de irmãos com mais facilidade do que os brasileiros aqui residentes.

Por todo o exposto, afirma-se que a adoção internacional não deve ser considerada medida inutilizável. Enfatiza-se a importância da manutenção do jovem em sua família original e a previsão da adoção entre países em caráter excepcional. Mas pugna-se pela melhor avaliação do problema, tendo em vista que a Nova Lei da Adoção regularizou exaustivamente o instituto, surtindo na considerável diminuição da prática no País, fato que pode representar o fim da esperança de muitos jovens que não se encaixam nas preferências nacionais em ter uma família.

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