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O novo procedimento da adoção internacional de acordo com a Lei nº

4 DA ADOÇÃO INTERNACIONAL

4.5 O novo procedimento da adoção internacional de acordo com a Lei nº

A Lei nº 12010/2009 trouxe em seu bojo modificações relativas ao procedimento a ser adotado pelos estrangeiros e brasileiros residentes fora do Brasil que estejam interessados em adotar criança ou adolescente nacional.

Para que se inicie o procedimento da habilitação do casal ou da pessoa interessada, deverá esta formular pedido de adoção na Autoridade Central em seu país de acolhida (art. 52, I, ECA). Entende-se como país de acolhida como aquele em que os requerentes mantêm a sua residência habitual.

As Autoridades Centrais são previstas no artigo 6, inciso 1, da Convenção de Haia, que diz: “Cada Estado contratante designará uma Autoridade Central encarregada de dar cumprimento às obrigações impostas pela presente Convenção”. Tal órgão é responsável pelo cadastramento de crianças adotáveis, bem como daqueles que tem interesse em adotar. Nos casos em que se trata de país federativo, por exemplo, a Convenção de Haia prevê a existência de diversas Autoridades Centrais Estaduais e uma Autoridade Central Federal, in verbis:

Art. 6: [...]

2. Um Estado federal, um Estado no qual vigoram diversos sistemas jurídicos ou um Estado com unidades territoriais autônomas poderá designar mais de uma Autoridade Central e especificar o âmbito territorial ou pessoal de suas funções. O Estado que fizer uso dessa faculdade designará a Autoridade Central à qual poderá ser dirigida toda a comunicação para sua transmissão à Autoridade Central competente dentro desse Estado.

A Autoridade Central Federal no Brasil, designada pelo Decreto nº 3174/99, é a Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça. Já as Comissões Estaduais Judiciárias de Adoção (CEJA’s e em alguns locais do Brasil, CEJAI’s) representam as Autoridades Centrais Estaduais.

A Autoridade Central do país no qual o postulante reside analisará se aquele interessado está apto para a adoção e, se concordar, habilitará o requerente, enviando toda a documentação necessária à continuação do procedimento da adoção no Brasil, bem como um relatório no qual conste “[...] informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional (art. 52, II, ECA)”. Tal relatório deverá ser enviado à Autoridade Central Estadual, com cópia à Autoridade Central Federal, instruído inclusive por “[...] estudo psicossocial elaborado por equipe interprofissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de vigência (art. 52, IV, ECA)”. Em relação à obrigatoriedade da juntada da cópia da legislação relativa à adoção internacional do país do requerente, assevera Madaleno (2011, p. 635):

A apresentação da legislação estrangeira do país de origem do candidato tem por escopo fazer conhecer os meandros legais da adoção de seu país, sendo importante para buscar maiores informações acerca das leis vigentes no local de provável destino do adotado, com vistas a conhecer os direitos que irão incidir sobre a adoção no exterior, e destinados a proteger a pessoa do adotando.

Vale ressaltar o conteúdo do art. 52, V, do Estatuto, que exige que “os documentos em língua estrangeira serão devidamente autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público juramentado”.

A CEJA analisará a documentação acostada, bem como o relatório enviado pela Autoridade Central do país de acolhida. Se todos os documentos forem idôneos, os postulantes preencherem todas as exigências estabelecidas em Lei, inclusive aferindo se o país no qual o adotando reside ratificou ou não a Convenção de Haia, e houver compatibilidade entre as legislações do país de acolhida e o país de origem, será expedido o laudo de habilitação, que terá validade de um ano, podendo ser renovada, como preconiza o art. 52, §13, do ECA.

Após deferimento da habilitação do estrangeiro ou brasileiro residente no exterior, será expedido laudo que possibilitará a formalização do pedido de adoção perante o Juízo da Infância e da Juventude no local em que se encontra a criança ou o adolescente, que será indicado pela Autoridade Central Estadual. Tal inteligência foi retirada do art. 52, VIII, do ECA.

Em relação ao estágio de convivência a ser exercido pelo interessado com o jovem adotável, estabelece o art. 46, §3º, do ECA, que “em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de, no mínimo, 30 (trinta) dias”. De acordo com Ribeiro (2010, p.129),

O estágio de convivência é o período no qual a conveniência da adoção será avaliada pelo juiz e seus auxiliares, com base nas relações desenvolvidas cotidianamente entre adotante e adotado. Considerando a seriedade da medida e, ainda, que a adoção é irrevogável, o estágio de convivência visa à possibilidade de análise da adaptação da criança ou adolescente em seu novo lar.

Importante frisar que a criança ou o adolescente a ser adotado só poderá sair do país após o trânsito em julgado da sentença que deferiu a adoção internacional. Depois da ocorrência deste fato, segundo o art. 52, §9º, do ECA,

[...] a autoridade judiciária determinará a expedição de alvará com autorização de viagem, bem como para a obtenção de passaporte, constando, obrigatoriamente, as características da criança ou do adolescente adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão digital do seu polegar direito, instruindo o documento com cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em julgado.

A Convenção de Haia prevê, em seu artigo 22, a possibilidade de a intermediação da adoção internacional ser realizada por pessoas ou organismos credenciados. Diz o art. 22 mencionado:

Art. 22:

1. As funções conferidas à Autoridade Central pelo presente capítulo poderão ser exercidas por autoridades públicas ou por organismos credenciados de conformidade com o capítulo III, e sempre na forma prevista pela lei de seu Estado.

2. Um Estado Contratante poderá declarar ante o depositário da Convenção que as Funções conferidas à Autoridade Central pelos artigos 15 a 21 poderão também ser exercidas nesse Estado, dentro dos limites permitidos pela lei e sob o controle das autoridades competentes desse Estado, por organismos e pessoas que:

a) Satisfizerem as condições de integridade moral, de competência profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelo mencionado Estado;

b) Forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para atuar na área de adoção internacional.

No Brasil, a Lei 12010/2009 traz em seu bojo a previsão dos organismos mencionados, preconizando que é de responsabilidade da Autoridade Central Federal Brasileira o credenciamento desses organismos. A Secretaria de Estado de Recursos Humanos deve, de acordo com o previsto no art. 52, §2º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, comunicar a realização do credenciamento desses organismos às Autoridades Centrais Estaduais e publicar tal fato “[...] nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio próprio da internet”.

Dentre as obrigações a serem cumpridas pelos organismos credenciados para intermediar adoções internacionais, pode-se citar, segundo o art. 52, §4º, in verbis:

Art. 52: [...]

§4º: Os organismos credenciados deverão ainda:

I – perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país aonde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade Central Federal Brasileira;

II – ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal competente;

III – estar submetidos à supervisão das autoridades competentes do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira;

IV – apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relatório de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia Federal;

V - enviar relatório pós –adotivo semestral para a Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado;

VI – tomar as medidas necessárias para garantir que os adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos.

Impende destacar a proibição de os organismos credenciados auferirem lucro por mediarem adoções internacionais. È salutar a medida, pois evita que ocorram corrupções ou desvio de interesses no momento das adoções. Sobre a previsão trazida pelo art. 52, §4º do ECA, aduz Bochnia (2010, p. 253):

Presente aqui o medo de que a adoção internacional pode representar apenas um negócio, um meio de exploração, pois se assim não fosse o tráfico de crianças indefesas, com finalidade diversa de constituir família não ocorreria. Quiçá, como já

foi dito, o ideal seria que nenhuma pessoa envolvida no processo de adoção internacional – os pais naturais, as agências, psicólogos, assistentes sociais, advogados e os pais adotivos pudessem tirar vantagem financeira, direta ou indireta por ter contribuído para a colocação em família substituta.

Também pode-se aferir a busca do legislador em moralizar a adoção internacional realizada com o apoio de organismos credenciados, pois proíbe que eventuais recursos advindos destes intermediadores possam ser repassados a organismos nacionais ou a pessoas físicas. Conforme diz o art. 52-A, em seu parágrafo único, “eventuais repasses somente poderão ser efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente”. Além disto, veda também a legislação o contato entre representantes de organismos de adoção com dirigentes de programas de acolhimento institucional ou familiar, assim como com crianças aptas à adoção, quando não tenham autorização judicial (art. 52, §14, ECA).

A validade do credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro durará por dois anos, podendo ser renovado perante a Autoridade Central Federal Brasileira através de requerimento protocolado, a ser feito sessenta dias antes do prazo de validade da credencial. É possível que ocorra o descredenciamento do organismo, caso este cobre valores considerados abusivos e não explicados pela Autoridade Central Federal Brasileira para efetuar os acordos entre adotante e adotado.

Já em relação à adoção pleiteada por brasileiro residente no exterior, tal situação também se caracteriza como adoção internacional; o ponto principal é que sempre será dada preferência a brasileiros residentes fora do Brasil em detrimento dos pleitos dos estrangeiros. Diz o Estatuto da Criança e do Adolescente, com modificações trazidas pela Lei 12010/2009, que a adoção realizada por brasileiro residente no exterior em país signatário da Convenção de Haia, obedecendo ao fato de as Autoridades Centrais de ambos os países acordarem no prosseguimento da adoção e que o processo de adoção tenha se desenvolvido em consonância com os procedimentos legais do país de residência, a adoção será automaticamente recepcionada pelo Brasil (art. 52-B, ECA). Já se a adoção estiver sido processada em país que não ratificou a Convenção de Haia ou no qual a Autoridade Central não concordou com o seguimento da adoção, deve a sentença que concedeu a adoção ser homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ)10.

10 A Constituição Federal de 1988 prevê, em seu art. 105, inc. I, alínea “i”, que compete ao STJ processar e julgar, originariamente, “a homologação de sentenças estrangeiras [...]”.

O Estatuto também traz a possibilidade de adoção de criança estrangeira por brasileiro residente no País, sendo este o local de acolhida. O art. 52-C do ECA trata exatamente deste fato, ao dizer que:

Art. 52-C: Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e determinará as providências necessárias à expedição do Certificado de Naturalização Provisório.

§1º: A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela decisão se restar demonstrado que a adoção é manifestamente contrária à ordem pública ou não atende ao interesse superior da criança ou do adolescente.

§2º: Na hipótese de não-reconhecimento da adoção, prevista no §1º deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente requerer o que for de direito para resguardar os interesses da criança ou do adolescente, comunicando-se as providências à Autoridade Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira e à Autoridade Central do país de origem.

Algumas considerações afiguram-se necessárias no que diz respeito ao procedimento da adoção internacional com as inovações trazidas pela Lei nº 12010/2009.

O primeiro comentário a ser feito diz respeito ao estágio de convivência. A Nova Lei de Adoção estipulou o prazo de trinta dias, independentemente da idade da criança apta à adoção, a ser cumprido no Brasil pelo estrangeiro. Tal prazo pode representar um empecilho nas adoções internacionais, pois é bastante complicado para aquele que reside fora do país cumprir esse período tão longo, tendo que se afastar de seu trabalho e suas obrigações.

Uma preocupação recorrente diz respeito ao tempo de permanência das crianças nos abrigos. A legislação estatutária prevê que a institucionalização deve ser situação transitória, não devendo perdurar por mais de dois anos, salvo necessidade que atenda o seu superior interesse e depois de autorização judiciária (art. 19, §2º, ECA). Assim, impende-se buscar a inserção da criança em família substituta quando restarem frustradas as tentativas de permanência do jovem em sua família natural. O problema é que nem sempre existe uma compatibilização dos padrões buscados pelos adotantes e aqueles existentes nas instituições. Além disso, a Nova Lei da Adoção trouxe a prioridade da adoção de irmãos (art. 28, §4º, ECA), o que pode representar um entrave nas adoções. Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a maioria das pessoas deseja adotar apenas uma criança (85,72%), enquanto somente 13,49% dos pretendentes desejam adotar mais de uma criança. Porém, dessas crianças adotáveis, 71,89% possuem irmãos, muitos deles não cadastrados no Cadastro

Nacional de Adoção. Desta forma, a falta de vontade em adotar grupos de irmãos afigura-se como um impasse nos procedimentos de adoção. Válido lembrar que a preferência por crianças brancas e de pouca idade dificulta a escolha por jovens de idade mais avançada.

Já em relação à adoção internacional, os estrangeiros são mais generosos no que diz respeito à idade, à cor da pele ou ao fato de as crianças serem adotadas em grupo de irmãos.

Tive a oportunidade de visitar a Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional do Ceará (CEJAI-CE) e conversar com a secretária executiva da Comissão, Adriana do Vale Farias Saldanha, que me apresentou alguns dados, os quais passo a descrever em seguida.

Durante o ano de 2009, houve perante a CEJAI-CE três pedidos de habilitação, e os três foram deferidos, ou seja, os postulantes foram considerados aptos à postular ao Juizado da Infância e da Juventude a adoção de crianças brasileira. Os países de origem dos requerentes à habilitação referente ao ano de 2009 foram da Alemanha, França e Itália. Já em relação às adoções concluídas, neste ano foram totalizadas sete adoções, sendo duas para a França e cinco para a Itália, todas estas de grupos de irmãos.

Já no ano de 2010, não houve habilitações nem adoções concluídas, nem mesmo em relação a pedidos feitos em anos anteriores. Tal número pode representar o reflexo da Lei 12010/2009, que acercou de mais exigências o procedimento da adoção internacional.

Em 2011, quatro habilitações foram deferidas, sendo uma proveniente da Alemanha, uma da Bélgica e duas da Espanha. Já em relação às adoções, neste ano duas já foram concluídas, referente também a grupo de irmãos. Tal adoção adveio da França e é relativa à habilitação postulada no ano de 2007.

Segundo o relato fornecido, o impasse não é tão ligado à demora no procedimento de habilitação. Mencionou a Secretária que, após a análise minuciosa da documentação vinda do país de origem do requerente, a habilitação fica pronta, no máximo em quatro meses. A questão é haver uma adequação do perfil buscado pelo adotante e a criança apta à adoção. Enfatizou Adriana que os estrangeiros não obstaculizam a adoção pela imposição da Lei na adoção de grupo de irmãos. Muito ao contrário. As estatísticas encontradas na CEJAI-CE demonstram a aceitação do dispositivo legal, já que mostram a boa frequência da adoção de irmãos por estrangeiros, em contraponto com os números mencionados anteriormente relativos à escolha do brasileiro. Além disso, os estrangeiros não veem problema em adotar crianças com uma idade mais avançada, até porque tal fato vislumbra-se pela excepcionalidade da lei, podendo a criança ser adotada por estrangeiro somente depois das

tentativas de colocação na família natural, na família extensa, na família substituta em seu município, em seu Estado, em seu País de origem, somente ficando disponível para a adoção transnacional quando restarem impossibilitadas todas as alternativas anteriores. No entanto, esse período na busca de inserir a criança e o adolescente em qualquer família que não seja a estrangeira pode acarretar um tempo excessivo de institucionalização do jovem, e a ofensa ao direito à convivência familiar constitucionalmente estabelecido. Em relação à excessiva demora na inserção dos jovens no seio familiar assevera Bochnia (2010, p. 242):

A ressalva que se faz é que o tempo é cruel e na prática muitas vezes o fato de existir família biológica e ausência de equipe interprofissional capaz de diagnosticar a impossibilidade de retorno ou não ao convívio familiar, condena nossas crianças à eterna institucionalização.

A problemática funda-se na falta de estrutura do Poder Judiciário em aferir se aquela criança tem a real possibilidade de ser adotada por família brasileira. De acordo com Bochnia (2010, p. 140),

Inconteste que os Juizados de Infância e Juventude não contam com recursos materiais nem humanos para o perfeito atendimento dos casos que ali aportam diariamente. Infelizmente esta é a realidade das comarcas do interior, onde não há quadro completo de profissionais técnicos, essenciais à realização dos serviços, visto já ser crônico o quadro deficitário de equipe multidisciplinar.

A excepcionalidade da adoção internacional deve ser analisada caso a caso, sendo imperioso que os jovens tenham direito a ter uma família, nem que seja fora do Brasil. É inútil estabelecer a previsão máxima de dois anos de institucionalização (sendo uma posição claramente desesperada em esvaziar os abrigos) sem implementar políticas públicas que resultem na melhoria das condições de vida das famílias, que pode surtir até mesmo na diminuição do número de crianças abrigadas.

A nova previsão do procedimento a ser realizado por aqueles que residam fora do Brasil e desejem adotar brasileiros foi excessivamente regulamentada. Na verdade, a meu ver, houve por parte do legislador uma busca pela “aniquilação” da adoção internacional, prevendo inúmeras vezes a manutenção na família natural. Assim também pensa Dias (2009,

online), afirmando que,

A adoção internacional, de fato, carecia de regulamentação. Mas está tão exaustivamente disciplinada, há tantos entraves e exigências que, dificilmente, conseguirá alguém obtê-la. Até porque, o laudo de habilitação tem validade de, no máximo, um ano (ECA 52, VII) e só se dará a adoção internacional depois de esgotadas todas as possibilidades de colocação em família substituta brasileira, após

consulta aos cadastros nacionais (ECA 51, II). Depois a preferência é de brasileiros residentes no exterior (ECA 51, § 2º). Assim, os labirintos que foram impostos transformaram-se em barreira intransponível para que desafortunados brasileirinhos tenham a chance de encontrarem um futuro melhor fora do país.

Corroborando com o pensamento, aduz Oliveira e Chagas (2010, p. 9290):

Natural a primazia estabelecida pela Lei para que a criança não saia do âmbito de proteção de seu país e preserve sua cultura. Entretanto, a adoção internacional restou praticamente inviabilizada diante das exigências impostas.

Há um preconceito advindo de tempos passados, especialmente relacionados ao tráfico de menores e ao excessivo envio de crianças para o exterior. Mas não é cabível aprisionar-se a fatos do passado e impedir que inúmeras crianças tenham uma família. Esses preconceitos em relação a casais estrangeiros deve tem um fim. De acordo com Nazo (2000, p. 256),

[...] devemos enfrentar as adoções transnacionais com mais tranquilidade, sem nacionalismos exagerados, especialmente quando, atendendo sempre ao interesse da criança, o Juízo da Infância e da Adolescência vê frustrada a viabilidade de uma adoção nacional. Prudência e cautela devem inspirar não só o Julgador, mas todos os