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Quadro 2 Localização dos pontos controle para elaboração do zoneamento*.

4.3 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO

O cenário aqui apresentado para o estado de Sergipe reflete negativamente o quadro das políticas públicas voltadas para o controle e prevenção da saúde coletiva no país. De maneira geral as doenças negligenciadas não despertam o interesse da indústria farmacêutica para desenvolvimento de vacinas, medicamentos e testes, bem como, não fazem parte da pauta do interesse público, vez que se trata de uma enfermidade que acomete, sobretudo, as classes mais baixas da sociedade (CARVALHO & MENDONÇA, 2017).

A lógica clássica, intervencionista e medicalizada das ações programadas está centrada no ataque sistêmico do parasita num total descompromisso social para com as comunidades assistidas (BARBOSA, 1996; SILVA, 2017).

Em Sergipe, as atividades de vigilância e controle da doença existem desde 1976 com a implementação do Programa Especial de Controle da Esquistossomose – PECE. Esse programa reduziu o número de portadores, formas graves da doença e a taxa de mortalidade. Contudo, a situação epidemiológica no estado ainda é de moderada a alta. De 1980 a 2013, a esquistossomose causou em Sergipe 654 mortes correspondendo a 54,3% das óbitos por doenças negligenciáveis no estado (BRASIL, 2015; SCHOLTER et al., 2016).

A baixa adesão dos municípios sergipanos ao programa de controle da endemia, pós o período de descentralização, constitui o principal entrave na vigilância e controle da doença no estado. Somado a isso, outra limitação à erradicação da parasitose é a deficiência em recursos matérias e humanos. Recentemente, em virtude dos surtos de outras endemias, como a dengue, por exemplo, os agentes da busca ativa foram desviados para as campanhas emergenciais, comprometendo assim a acurácia do programa.

Os resultados da pesquisa revelaram que o PCE apresenta cobertura insatisfatória no estado. Os baixos índices observados em relação à população trabalhada e a cobertura de tratamento revela indicadores envolvidos na conformação e manutenção da estrutura endêmica no estado.

Barbosa et al. (1996), ressalta que os programas de controle da endemia não têm conseguido eficiência nas suas ações porque são pensados a partir de uma lógica centralizada, intervencionista, medicalizada e padronizada para todas as áreas

endêmicas.

No período estudado o programa não alcançou os 80% de exames preconizados pelo Ministério da Saúde, evidenciando o subregistros das informações e a necessidade de medidas de controle e vigilância mais efetivas no estado. De acordo com Carvalho & Mendonça (2017) este indicador é importante nos sucessos das ações de controle da endemia, na medida em que, o não tratamento do indivíduo além de ampliar a morbidade do infectado, torna-se um risco para a comunidade, pois em condições adequadas, o portador da esquistossomose é potencial disseminador da doença.

Conforme os dados analisados na série histórica, fundamentalmente, não foram evidenciadas mudanças no perfil epidemiológico do estado. Os resultados obtidos apontaram para o decréscimo da prevalência geral. As hipóteses relativas decorrem, especialmente, da melhoria no abastecimento de água e do esgotamento sanitário nas áreas endêmicas do estado, seguindo a tendência nacional de adequabilidade dos domicílios verificada nas últimas décadas.

Não obstante, os resultados revelem municípios com positividades altas e constantes para quase todos os anos da série histórica. Percentuais bem acima do proposto pelo programa de controle da doença, o qual objetiva a redução do número de casos a níveis menores que 5% (BRASIL, 2014), apontando a necessidade de intervenção prioritária nestas áreas.

Na distribuição dos municípios por índice de positividade, a proporção de áreas com prevalência alta (>15%) foi significante: na Grande Aracaju, principalmente, na região do Vale do Cotinguiba; no Baixo São Francisco Sergipano, nordeste do território; e Sul Sergipano, áreas historicamente endêmicas e que apresentam grupos populacionais com alto risco de infecção.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (2016) nestas regiões a situação é de alerta, tendo em vista que, após queda inicial no período de implementação do programa, as prevalências vêm retomando níveis alarmantes. Sendo notórios os altos índices de positividade anualmente registrados em: São Cristóvão, Santa Rosa de Lima, Pacatuba, Ilha Das Flores, Itabaianinha e Cristinápolis, evidenciando o endemismo da doença no estado.

Os referidos municípios integram o programa de ação estratégica para eliminação da esquistossomose instituído pelo ministério da saúde. Este programa visa promover o desenvolvimento e a efetivação de políticas públicas integradas para a

redução da carga parasitária em municípios brasileiros com positividade superior a 25%. Segundo o Ministério da Saúde (2014), áreas com prevalência acima desse percentil são espaços reconhecidos como geradores de formas graves da doença em que todos os indivíduos da localidade devem ser tratados. Nas áreas endêmicas do estado essas diretrizes não são executadas.

Os menores adensamentos para esquistossomose foram registrados no Agreste Central do estado. No entanto, isso não minimiza a importância dos dados porque indivíduos infectados contaminam reservatórios de água devido à falta de infraestrutura ambiental e de saúde local perpetuando o ciclo. Neste território, foram registradas prevalências de moderada a alta nos municípios de Malhador e São Domingos.

Infere-se que as altas prevalências registradas na região do Vale do Cotinguiba tenham relação histórica com as áreas insalubres de plantio da cana de açúcar. Nestes espaços, o agente etiológico encontrou hospedeiros suscetíveis e um ecossistema adequados para a transmissão da parasitose (SILVA, 1985), isto explica, em parte, a prevalência aumentada e áreas de hot spots na região, tradicionalmente conhecida pelo cultivo de cana e presença de comunidades quilombolas em Sergipe.

Sucessivos inquéritos coproscópicos realizados pelo PCE têm mostrado altos índices de infecção humana para S. mansoni nesta região. As elevadas prevalências registradas nos municípios de Riachuelo, Rosário do Catete, Santo Amaro das Brotas e Maruim, no Baixo Cotinguiba e, as crescidas taxas de prevalência registradas nos municípios de Capela e Santa Rosa de Lima, no Alto Cotinguiba, refletem o cenário de endemização da doença.

Os reduzidos percentuais de positividade observados no município de Aracaju podem ser explicados pela subnotificação e pelo fato da população dessas localidades, não costumarem ter contato obrigatório com os focos de transmissão da doença, uma vez que é servida por sistema público de abastecimento de água.

Em estudo recente, Carvalho & Mendonça (2017) analisando o modelo reprodutivo da esquistossomose em Aracaju concluíram que as baixas prevalências registradas no município estão associadas: ao baixo número de agentes de endemias trabalhando na busca ativa; limitações no monitoramento bianual; baixa cobertura por bairro; dentre outras atividades ligadas à vigilância e controle da doença.

Ademais, estudos de tendência também revelaram decréscimo de incidência em Sergipe e outras localidades próximas como a Bahia (CARMO, 1994; SANTOS, 2016),

onde os casos de infecção aguda são decorrentes de exposições acidentais causadas por distúrbios ambientais de ordens diversas (BARBOSA et al., 2001).

Apesar de ser historicamente endêmico, o Baixo São Francisco apresentou o menor quantitativo de dados para série histórica, apontando a baixa cobertura do PCE na região. As dificuldades que os municípios deste território têm em exercer as atividades de rotina do programa devido o reduzido quadro operacional favorece a manutenção da doença.

O prognóstico para os cenários futuros a ocorrência da esquistossomose no estado, baseada na avaliação das tendências atuais por territórios de planejamento, deduz que mediante a continuidade tanto dos padrões de controle e vigilância da endemia quanto das condições socioambientais, há propensão evidente do agravamento da situação epidemiológica do estado.

CAPÍTULO V