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5.2 MODELO REPRODUTIVO DA ESQUISTOSSOMOSE NO SUL SERGIPANO

Padrão IV: Áreas destinadas ao veraneio, turismo rural, ecoturismo, práticas

5.2 MODELO REPRODUTIVO DA ESQUISTOSSOMOSE NO SUL SERGIPANO

A esquistossomose mansônica se configura num problema de saúde historicamente relevante no Sul Sergipano. Neste território, os determinantes epidemiológicos de transmissão da doença enquadram-se, sobretudo, na situação II34 apontada por este estudo e, estão relacionados, sobretudo, à conduta comportamental dos indivíduos, expostos por atividades do cotidiano, frente às coleções hídricas naturais infectadas, principalmente, em populações da área rural com péssimas condições socioeconômicas.

Por estarem inseridos em duas grandes bacias hidrográficas, bacia do Rio Real e bacia do Rio Piauí, os municípios do Sul Sergipano possuem uma ampla disponibilidade hídrica com possibilidade de formação de criadouros e manutenção da espécie dos

34 Comunidades não estáveis situadas em áreas rurais não associadas a projetos de desenvolvimento.

Nestes espaços, as condições potenciais de disseminação da doença estão associadas, sobretudo, a conduta comportamental dos indivíduos frente às coleções hídricas naturais infectadas para a realização atividades domésticas (abastecimento das residências, lavagem de roupas e utensílios, cuidado com os animais, dentre outros), hábitos de higiene pessoal e de lazer, em contato diário com os focos de transmissão da doença. Nestas áreas, o principal fator da frequência de contato da população com as águas naturais contaminadas é o precário, ou ausente, sistema de abastecimento de água. Situação também de intensa transmissão e gravidade da doença, sendo difícil o controle.

moluscos transmissores. Nestes espaços, o deficiente ou inexistente sistema de esgotamento sanitário35 constitui o principal veículo de contaminação, tendo em vista que os esgotos são lançados diretamente nas coleções hídricas cujas águas abastecem a população.

Nas comunidades visitadas, a precariedade ou ausência do sistema de abastecimento de água é citada como fator determinante do contato da população com as coleções naturais. A necessidade hídrica diária para realizar atividades domésticas e hábitos de higiene pessoal leva os indivíduos - entre eles uma grande quantidade de portadores do S.mansoni, tendo em vista à alta endemicidade da área - ao contato recorrente com as coleções em locais onde também foi observada a presença do hospedeiro intermediário (Figura 32).

Figura 32 - Hábitos comportamentais da população propícios a disseminação da esquistossomose, Estância -SE, 2017.

Fonte: Trabalho de campo, 2017. Acervo fotográfico de Silva, Marília M. B. L. Legenda: A) Doméstica lavando utensílios em coleção hídrica localizada em ambiente peridomiciliar. B) presença do hospedeiro

35O território do Sul Sergipano possuí o pior índice de adequabilidade ambiental do estado, 11,19%,

existindo localidades que não são assistidas por serviços de rede geral de água e esgoto e não dispõem de coleta de lixo regular.

A B C A ) B ) C )

intermediário e potencial foco de transmissão da doença. C) rede de esgoto lançada diretamente na coleção hídrica.

Somado a isso, outro fator motivador da frequência de contato da população com os focos de transmissão da doença é a proximidade dos núcleos residenciais as coleções hídricas que os abastecem. Nas áreas investigadas, os domicílios, geralmente, estão localizados nas proximidades de lagoas, tanques, córregos, dentre outros. Espaços geralmente utilizados pelas crianças como área de recreação (Figura 33).

Figura 33 - Domicílio em área rural sem nenhum tipo de infraestrutura habitacional localizado na proximidade de tanque com caramujo positivo para S. mansoni, Itabaianinha-SE, 2017.

Fonte: Trabalho de campo, 2017. Acervo fotográfico de Silva, Marília M. B. L.

Nestas localidades, a drenagem das águas servidas e dos dejetos é feita diretamente por canais abertos ao redor do peridomicílio, onde os caramujos se criam e se infectam, criando condições potenciais para o estabelecimento de focos de transmissão da doença.

No Sul Sergipano os hábitos de lazer se somam aos fatores de disseminação da esquistossomose. Em virtude da grande disponibilidade hídrica os municípios deste território, comumente possuem balneários naturais. A utilização destes espaços,

principalmente nos finais de semana, constitui um importante foco de transmissão da doença (Figura 34).

Figura 34 - Hábitos comportamentais da população favoráveis a transmissão da esquistossomose, Balneário Fonte dos Caboclos, Cristinápolis-SE, 2017.

Fonte: Trabalho de campo, 2017. Acervo Fotográfico de Silva, Marília M. B. L. Legenda (A): crianças banhando-se em momento de lazer. (B): criança consumindo água não tratada em área de potencial transmissão. (C): presença do hospedeiro intermediário na proximidade das águas represadas.

Em adendo, além dos espaços destinados ao lazer por balneários, no território foram observados também focos de transmissão da doença em áreas de veraneio com saneamento básico precário, a saber: a Lagoa Grande do Abais e as Lagoas da área do Maçadisso e Ribuleirinha em Estância, utilizadas para prática de desportos náuticos e atividades de recreação, situação identificada no padrão IV apontado por este estudo (Figura 35).

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b A

Figura 35 - Lagoa Grande do Abaís, Estância-SE, 2016.

Fonte: Acervo fotográfico Silvio de Oliveira , 2016

A área é reconhecida por muitos habitantes como foco de contaminação da esquistossomose, mesmo assim as pessoas tendem a frequentá-la. Os entrevistados relataram constância de ida a região das lagoas, no mínimo, uma vez ao mês e mais, a área representa um dos destinos turísticos mais procurados do litoral Sul, atraindo visitantes de diversos locais do estado.

Segundo informações da Secretaria de Saúde do município de Estância, a região apresentou surtos de casos agudos da doença no período entre 1998 e 2002. Diante deste cenário, os gestores adotaram como medida de controle biológico a utilização de duas espécies de peixes predadores do caramujo: Tambaqui (Colossoma macropomum Serrasalmidae) da Amazônia e a Tilápia (Tilapia aurea Cichlidae) Africana.

O Ministério da Saúde classifica a área como historicamente endêmica e preconiza notificação compulsória, sendo necessárias ações contínuas de investigação epidemiológica mediante inquérito coproscópico censitário e levantamento malacológico, a fim de que sejam deflagradas ações dirigidas para a interrupção da transmissão (BRASIL, 2014).