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2.4 VIGILÂNCIA E CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE

Quadro 2 Localização dos pontos controle para elaboração do zoneamento*.

2.4 VIGILÂNCIA E CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE

A Vigilância Epidemiológica da esquistossomose objetiva identificar previamente as condições que favorecem a ocorrência de casos e a instalação de focos de transmissão da doença. Dentre essas condições, destacam-se: a grande área geográfica de distribuição dos hospedeiros intermediários; os movimentos migratórios, de caráter transitório ou permanente, de pessoas oriundas das áreas endêmicas; deficiência de saneamento domiciliar e ambiental; deficiência de educação em saúde das populações sob risco de transmissão da esquistossomose, dentre outros (BRASIL, 1998; 2014).

Nas áreas endêmicas, onde a transmissão da doença está estabelecida, as condições que favorecem a sua ocorrência já são conhecidas, mas, como são dinâmicas, precisam também ser monitoradas para adequar, quando necessário, as estratégias para o controle e ou eliminação. Nessas condições, a Vigilância Epidemiológica objetiva também: reduzir a ocorrência de formas graves e óbitos; reduzir a prevalência da infecção; e indicar medidas para reduzir a expansão da endemia (BRASIL, 2014).

Nesta perspectiva, tem-se que o controle da esquistossomose envolve muito mais que apenas tratar os infectados, necessita de envolvimento articulado em ações de conscientização e educação ambiental da população, controle malacológico e investimentos no saneamento básico, além de planejamento que busque uma melhor condição de saúde das populações (SILVA et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2013a).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a participação da população como tática funcional no controle da esquistossomose, entretanto, no Brasil são poucos os projetos nos quais a população tenha participado de forma ativa neste processo (COURA-FILHO et al., 1992).

A dificuldade em romper o ciclo da esquistossomose é histórica em todo o país. De maneira geral as doenças negligenciadas não despertam o interesse da indústria farmacêutica para desenvolvimento de vacinas, medicamentos e testes, bem como, não fazem parte da pauta do interesse público, vez que se trata de uma enfermidade que acomete, sobretudo, as classes mais baixas da sociedade (CARVALHO & MENDONÇA, 2017).

De forma mais crítica e contundente, Barbosa et al. (1996) afirma que, os programas de controle de endemias também fazem parte do cenário político como perpetuadores da situação endêmica. Posto que, estão condicionados a pressões externas de multinacionais que delimitam as medidas oficiais de intervenção, seguindo com condutas que se situam nas bordas do processo, ações comprovadamente paliativas e nunca questionando suas causas estruturais que são o cerne do problema.

2.4.1 - Programa de Controle da esquistossomose – PCE

Na década de 70, o ministério da saúde criou o Programa Especial de Controle da Esquistossomose (PCE) um programa extremamente ambicioso que visava o controle da doença em todo território. Sendo realizado mais de 12 milhões de tratamentos em todo o país, principalmente na região Nordeste. Na época, o programa foi criticado por diversos pesquisadores com conhecimento na área, principalmente, por ter sido aprovado contendo erros conceituais e de objetivos. Todavia, obteve excelentes resultados, sendo possível reduzir o número de portadores as formas graves da doença e a taxa de mortalidade (KATZ e PEIXOTO, 2000).

Em 1980, o PECE foi extinto sendo substituído por ações reguladoras da Superintendência de Campanhas da saúde Pública (SUCAM). Neste mesmo ano, o

ministério da saúde, reinstituído o Programa de Controle da Esquistossomose (PCE), o qual passou por duas fases de estruturação: sendo uma a descentralização das atividades do programa para as secretárias estaduais de saúde com restrições ao tratamento em massa; e a outra, a organização do programa por áreas classificadas de acordo com as prevalências e transmissão da doença (MELO, 2014)

Inicialmente, o PCE foi instituído com o propósito de realizar as seguintes práticas operacionais: delimitação epidemiológica, inquéritos coproscópico censitários, tratamento dos infectados, controle de planorbídeos, medidas de saneamento ambiental, educação em saúde, vigilância epidemiológica e alimentação anual no Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose (SISPCE) (BARCELLOS et al., 2002; BRASIL, 2009; MELO, 2014).

Entretanto, atualmente, as atividades desenvolvidas pelo programa têm se limitado a efetuar o diagnóstico e fornecer tratamento aos infectados, negligenciando ações de saneamento e as ações de informação, educação, comunicação e mobilização comunitária, medidas que efetivamente atuam no controle da doença, sendo a perspectiva de erradicação ainda um imenso desafio (KATZ e PEIXOTO, 2000).

Nesta perspectiva, mesmo com a continuidade do PCE, as medidas de controle até então empregadas não têm conseguido eficiência nas suas ações porque são pensadas a partir de uma lógica centralizada, intervencionista, medicalizada e padronizada para todas as áreas endêmicas, centrada no ataque sistemático ao caramujo vetor e ao parasito, num total descompromisso social para com as comunidades assistidas (BARBOSA et al., 1996).

Atualmente, os registros das atividades desenvolvidas na rotina do PCE são realizados por localidade, consolidados nos municípios (Secretaria Municipal de Saúde) e repassados para as Secretarias Estaduais de Saúde. Do nível estadual os dados consolidados são enviados para a Secretaria de Vigilância em Saúde. A análise e divulgação dos dados devem ser realizadas em todas as instâncias (BRASIL, 2014) (Figura 15).

Figura 15 - Fluxograma da remessa dos dados do Sistema de Informação do PCE nas três esferas: municipal, estadual e federal.

Fonte: BRASIL, 2014.

2.4.2 - Vigilância e Controle da esquistossomose em Sergipe

Em Sergipe, as atividades de vigilância e controle da doença existem desde 1976 com a implementação do Programa Especial de Controle da Esquistossomose – PECE. Uma década após o início das ações do programa o percentual de positividade estadual reduziu para 8,4% (COURA-FILHO, 1997). Não obstante, ainda apresente taxas de infecção humana crescentes, com situações de prevalências muito alta.

A baixa adesão dos municípios sergipanos ao programa de controle da endemia, pós o período de descentralização em 1999, constitui o principal problema enfrentado na busca efetiva de erradicação da doença. Somado a isso, outro agravador a vigilância da doença no estado é a deficiência em recursos matérias e humanos. Recentemente, em virtude dos surtos de dengue, os agentes da busca ativa do PCE foram desviados para as campanhas emergenciais desta endemia, comprometendo assim a acurácia do programa.

De maneira geral, os municípios que aderem ao programa de controle da esquistossomose direcionam suas atividades ao tratamento dos indivíduos acometidos, negligenciando condutas como: controle do hospedeiro, ações de saneamento ambiental e educação em saúde, medidas duradouras de efetivo controle da doença. Nestas localidades, as práticas desenvolvidas pelo PCE têm sido suficientes para manter níveis de positividade baixos. Entretanto, cessada a intervenção, estes índices tenderão a voltar rapidamente aos níveis anteriores (BARBOSA et al. 1996).

CAPÍTULO III

CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DAS ÁREAS ENDÊMICAS DO