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6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1 CONCLUSÕES DA PESQUISA

A ONU conduziu um estudo, que envolveu 1.360 especialistas de 95 países do mundo, e chegou à conclusão de que, nos últimos 50 anos, a expansão da população humana poluiu ou explorou em excesso dois terços dos sistemas ecológicos que fornecem ar limpo e água potável às pessoas.

De fato, as atividades humanas exercem pressões tão grandes sobre as funções naturais da Terra, que a desejada capacidade do planeta de sustentar as gerações futuras já pode estar em cheque.

Na busca do desenvolvimento sustentável, tem-se a percepção de que há muito discurso, muitos encontros políticos, porém de resultados pouco efetivos e em baixa escala. Não se escuta falar de subsídios governamentais para atividades menos poluidoras ou para processos de melhorias ambientais nas empresas, nem de políticas claras de educação ambiental, por exemplo. Mas há diversas formas de subsídio e financiamentos para a indústria bélica, aeronáutica, nuclear e para a agricultura e pecuária intensivas.

No Brasil, a legislação ambiental é bastante completa, mas, no campo da gestão ambiental, pública e privada, ela ainda não encontra receptividade. Em

especial no Estado - em esferas municipais, estaduais e federal - que é o responsável constitucional pela defesa do meio ambiente, as ações são parcas, e a omissão existe, ainda que passível de sanções.

O modelo de administração pública burocrático, em voga nas ‘repartições’ não auxilia em nada. Com foco auto-referente, a burocracia é aliada da degradação social e ambiental corrente. Burocratas trabalham disfuncionalmente para satisfazer a própria estrutura, não se importando muito com a missão de suas instituições, não dando a atenção devida ao seu público.

Na esfera do direito ambiental, a burocracia é ainda mais perversa do que nos órgãos ligados ao Poder Executivo, pois ela é aliada ao rito processual, que, na maior parte dos casos de conflitos ambientais, impossibilita, com a judicialização dos procedimentos, a recuperação do dano ambiental, em face do longo tempo que toma.

Baseando-se em práticas privadas de gestão, o modelo de administração pública gerencial surge, com o esgotamento do modelo burocrático, com um foco voltado ao resultado e pode se tornar um contraponto ao modelo vigente nos órgãos ambientais nas diversas esferas do Estado.

Uma das ferramentas que a administração pública gerencial propõe é a gestão por programas, iniciada a partir de 2000 no Brasil, e que, se colocada realmente em prática, pode gerar resultados úteis à sociedade, ao abandonar o binômio ‘comando e controle’ e adotar parcerias estratégicas para a consecução de resultados.

O Ministério Público catarinense, ao adotar a gestão por programas após o Planejamento Estratégico de 1999, vem buscando reduzir a burocratização de seus procedimentos, evitar, sempre que possível, a judicialização dos processos e otimizar a utilização de recursos públicos.

É importante relembrar que, segundo a Constituição Federal, coube ao Ministério Público a tutela do meio ambiente, logo, quanto maior for a agilidade da instituição, melhor, visto que tem de fiscalizar e propor ações corretivas, nos procedimentos da sociedade e do Estado, responsáveis por zelar pelo patrimônio ambiental.

Os três poderes do Estado, as instituições ligadas a eles e o Ministério Público precisam atentar para um aspecto, talvez o mais relevante, a ser

considerado, que é a necessidade premente de planejamento e coordenação dos esforços da administração pública na busca da promoção do desenvolvimento sustentável.

6.1.1 Quanto aos Objetivos Propostos

Quanto aos objetivos propostos, o trabalho os alcançou na totalidade. A gestão por programa na administração pública brasileira ainda pode ser considerada uma inovação, assim como a adoção do modelo de administração pública gerencial, ainda que já esteja em uso em diversos países a cerca de três décadas.

No caso específico do Ministério Público, avaliou-se a experiência dos anos compreendidos entre 1999 e 2004, com a adoção de diversos programas na área ambiental. Essa avaliação, que partiu da estrutura e dos procedimentos do Ministério Público catarinense, buscou utilizar linguagens confrontantes - a burocrática e a gerencial - para contextualizar o parquet e sua atuação na área ambiental.

Descritos sucintamente, os programas ativos no período, na área ambiental do Ministério Público, analisou-se, com maior profundidade, a gestão do programa Lixo Nosso de Cada Dia, que buscou adequar a destinação final dos resíduos sólidos urbanos nos municípios catarinenses.

Foi apresentado um levantamento da situação inicial (2001, para esse programa), que pode ser considerada bastante crítica, com mais de 85% dos municípios encontrados em situação irregular. Avaliou-se a atuação ministerial, que ocorreu por meio de parcerias e instrumentos administrativos, sobretudo, e apresentou-se a situação atual (2004), após a intervenção do Ministério Público de Santa Catarina.

6.1.2 Quanto à Hipótese Levantada

Esta pesquisa foi norteada por uma hipótese básica suscitada há praticamente três anos, que deveria ser confirmada ou então refutada. Essa hipótese, uma resposta não-confirmada, ou uma desconfiança gerada pelas pesquisas iniciais, por empirismo e pelas informações aleatoriamente divulgadas,

afirmava o seguinte: “Ao adotar práticas de gestão alternativas ao modelo

burocrático puro e à atuação judicial não-coordenada dos agentes ministeriais

envolvidos no processo, como a Gestão por Programas, o Ministério Público do Estado de Santa Catarina consegue, ao mesmo tempo, imprimir maior celeridade na solução efetiva de questões ambientais ainda no âmbito administrativo, em detrimento do judicial, apoiado em uma atuação que o aproxima muito mais da mediação e da gestão participativa do que da acusação unilateral”.

Pode-se chegar à conclusão de que a hipótese formulada foi confirmada em todos os seus aspectos, a saber:

i. encontrou-se a adoção de alternativas ao modelo burocrático no Ministério Público, ainda que não em todas as áreas;

ii. na área ambiental, o modelo gerencial de administração pública se faz presente por meio da gestão por programas;

iii. a atuação judicial era, e em outros casos ainda é, não-coordenada, diante de uma interpretação limitada do preceito constitucional da independência dos Promotores de Justiça;

iv. na gestão por programas, a atuação é coordenada centralmente, mas descentralizada na atuação, que ocorre junto ao problema; v. a ênfase é dada à solução de problemas no âmbito administrativo,

evitando-se a judicialização, ganhando-se assim uma maior celeridade na resolução de problemas e nas questões ambientais, tempo significa ecossistema protegido ou reparado;

vi. é sabido que o Ministério Público assumiu outras funções sociais, além de a de acusador, desde a promulgação da Constituição em 1988, porém cabe a cada instituição estabelecer as estratégias para evitar a atuação judicial, com acusação unilateral, sempre que possível;

vii. na área ambiental, o programa Lixo Nosso de Cada Dia comprovou, que, com uma atuação diferenciada, é possível gerar resultados efetivos e úteis à sociedade.

viii. o problema do lixo existe há décadas, assim como a presença do Promotor de Justiça nas comarcas, além de outros órgãos ambientais, sem que, contudo, fosse solucionado.

ix. com a adoção da gestão por programas, o problema foi equacionado em quase sua totalidade, 95,22% (solução efetiva) e em apenas três anos (celeridade);

x. a forma de atuação (liderança, coordenação e parcerias) e os instrumentos utilizados, como as recomendações e o termo de ajustamento de conduta, em especial, são instrumentos característicos de gestão, logo, o papel do Ministério Público passa também a ser o de gestor ambiental, mais do que o de acusador; e xi. nesse ínterim, cabe ressaltar que, decorridos apenas 18 meses do

início do programa, o processo de regularização dos municípios quanto à destinação do lixo somava 131 municípios em processo de regularização negociada (por meio do TAC) e mais dois em regularização espontânea, em detrimento de apenas 28 em processo de regularização judicial (por meio de Ação Civil Pública).

Importante é lembrar daquilo que MILARÉ (2000, p. 63-64) coloca, citando o jurista José Néri da Silveira, dizendo que “o ponto de partida da defesa e proteção jurisdicionais do meio ambiente, não é jurídico, provém da realidade, é amplo, multidisciplinar e resulta da conscientização”.