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5 PROGRAMA “LIXO NOSSO DE CADA DIA” ESTUDO DE CASO

5.1 O PROBLEMA DO LIXO

A produção de lixo urbano é um dos maiores problemas sanitários e ambientais enfrentados pelas cidades em todo o mundo. A gestão inadequada dos resíduos sólidos degrada o solo, compromete lençóis freáticos e outros mananciais de água, polui o ar, compromete a saúde pública e gera problemas sociais.

Denomina-se lixo, segundo D’ALMEIDA E VILHENA (2000, p. 29), os restos das atividades humanas considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis. Normalmente apresentam-se sob estado sólido, semi- sólido ou semilíquido (com conteúdo líquido insuficiente para que este possa fluir livremente).

LERIPIO e LERIPIO (2002, p. 21) colocam que, no país, segundo dados de 1989 do IBGE, cada brasileiro produz em média 600g de lixo diário ou 219kg por ano. Os índices de desperdício são assustadores, chegando a 35% da produção de hortifrutigranjeiros e 33% na construção civil. A cada três prédios construídos, poder- se-ia fazer um novo edifício com o entulho jogado fora. Da parcela do lixo que é coletada, apenas 28% recebe alguma forma de tratamento ou disposição final (23% depositado em aterros sanitários, 3% compostado e 2% reciclado). O restante (72%) vai para despejo a céu aberto nos lixões, favorecendo a proliferação de vetores biológicos, como roedores e insetos, responsáveis por inúmeras doenças, como diarréias infecciosas, helmintoses, leptospirose etc.

De fato, segundo MACHADO (2000, p. 507), os resíduos sólidos têm sido negligenciados tanto pelo poder público como pelos legisladores e administradores, devido provavelmente à ausência de divulgação de seus efeitos poluidores. Como poluente, o resíduo sólido tem sido menos irritante que os resíduos líquidos e gasosos, porque colocado na terra não se dispersa amplamente, como os poluentes do ar e da água.

Porém, os problemas não são poucos. Para LERIPIO e LERIPIO (op. cit., p. 21), dentre os problemas gerados pelo lixo, pode-se destacar:

i. poluição visual;

ii. problemas de saneamento e saúde; iii. poluição sonora;

iv. contaminação dos recursos hídricos; v. persistência dos resíduos no ambiente;

vi. degradação ambiental de áreas urbanas e rurais;

vii. aumento da demanda de áreas para destinação final de resíduos; viii. aumento do consumo de energia no tratamento/ disposição de

ix. desvalorização imobiliária; e x. discriminação social.

De maneira esquematizada, os problemas relacionados com o lixo disposto inadequadamente foram demonstrados por DONHA (2002, p. 51), como pode ser visto na figura a seguir.

Figura 11: Problemas relacionados ao lixo

Fonte: DONHA (2002, p, 51)

Há ainda a questão do tratamento do lixo, anterior à disposição final. Triagens para separar o lixo orgânico do inorgânico e a aplicação dos 3 R’s -

reutilização, reaproveitamento e reciclagem - poderiam ser mais bem exploradas. MONTIBELLER-FILHO (2001) acredita que a atual sociedade de consumo produz muito mais lixo do que a capacidade de reciclagem, que encontraria em muito breve um limite. ROBERTS (2004), por outro lado, encontra, na reciclagem, uma forma de, ao mesmo tempo, dar melhor solução à questão do lixo (ambientalmente falando) e criar desenvolvimento econômico e social nas comunidades, através da riqueza existente no lixo.

A Agenda 21 Nacional também aborda esta questão:

O desafio da sustentabilidade nas cidades brasileiras impõe ainda mudanças profundas nos sistemas de limpeza urbana. (...) a adoção de políticas que induzam à redução do lixo, a começar por uma legislação que, abrangendo todo o ciclo do produto, leve os produtores a receber de volta embalagens e sucatas e contribua para baixar o consumo de recursos naturais. Políticas que punam a produção e destinação inadequada de resíduos tóxicos e resíduos industriais. A adequação das políticas de destinação de resíduos industriais, inclusive resíduos tóxicos, desafia administradores públicos e privados, mas exige soluções urgentes, ao lado de políticas que acelerem o processo de adequação e certificação ambiental nas indústrias.

A responsabilidade final sobre o lixo urbano é do Estado, como já foi abordado antes, na esfera municipal. São as prefeituras que têm de dar a devida e adequada solução para o lixo, sendo vedada a disposição do lixo em “lixões” sem projeto aprovado que garanta a proteção ao meio ambiente.

MILARÉ (2000, p. 242) coloca que:

As pessoas jurídicas de direito público [...] podem ser

responsabilizadas pelas lesões que, por ação ou omissão, causarem ao meio ambiente. De fato, não é só como agente poluidor que o ente público se expõe ao controle do Poder Judiciário (p. ex., em construção de estradas, ou de usinas hidrelétricas, sem a realização de estudo de impacto ambiental), mas também quando se omite no dever constitucional de proteger o meio ambiente (inércia da municipalidade quanto à instalação de sistemas de disposição de lixo e tratamento de esgotos, p. ex.).

A questão da responsabilidade jurídica dos municípios quanto à disposição final adequada do lixo produzido em seu território também foi vista em BOUCAULT (1998) e STEIGLEDER (2003). Esta última aponta para o fato de que nem mesmo questões financeiras podem servir de desculpa para que o município

não dê solução às suas demandas ambientais, citando um trecho de uma sentença proferida pela 7ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça paulista:

[...] inviável a suscitada impossibilidade financeira, já que o problema (lixo urbano) deve ser tratado como uma das prioridades sociais da Administração Pública, sendo pertinente ressaltar que em matéria de meio ambiente, verificado o dano e seu agente, a ninguém é permitido se eximir do dever de repará-lo ou indenizá-lo, assim como abster-se de provocá-lo. Aliás, como bem posto na r. sentença, do contrário todo aquele que causasse o dano poderia escusar-se da obrigação reparatória ou de dever (sic) de não provocá-lo, invocando dificuldades financeiras, o que à evidência, é

inadmissível. A ordem jurídica estaria irremediavelmente

comprometida.