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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CONCEITOS NORTEADORES DA PESQUISA

2.1.1 Meio Ambiente

A despeito do fato que o meio ambiente e as questões ambientais têm sido discutidos há muitos séculos, por várias civilizações, e, com alguma propriedade, a partir do século 19, foi justo no século mais industrializante, o século 20, que o assunto virou tema corrente em distintas rodas científicas e laicas. Segundo ARAUJO (2004), em 1909, a palavra umwelt (meio ambiente, em alemão) foi utilizada pela primeira vez pelo biólogo e ecologista pioneiro da região báltica, Jakob Von Uexküll.

MILARÉ (2000, p. 52) aponta que há referência anterior, já em 1835, quando o naturalista francês Geoffrey de Saint-Hilaire cunhou a expressão milieu ambience (meio ambiente, em francês) na obra Études progressives d’un naturaliste.

Há alguma dúvida semântica, mas que apresenta pouca importância segundo ARAUJO (2004)

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) considera-se o meio ambiente como algo que abrange o social, econômico, natural e antrópico. Outros autores utilizam unicamente o termo ambiente e defendem a não utilização do meio. Segundo Valenti, no Las distintas visiones geográficas de las relaciones entre natureza y hombre (Barcelona, 1984), o termo meio ambiente provém da tradução do francês milieu ambience, utilizado inicialmente por naturalistas e geógrafos. Milieu (ou meio) designa o lugar onde está ou onde se movimenta um ser vivo qualquer e ambience (ou ambiente) refere-se ao que rodeia o ser.

E o autor prossegue:

Particularmente, prefiro concordar com os demais autores, pois esta explicação de Valenti parece não convencer, afinal de contas, ambiente também é o lugar onde está ou se movimenta o ser. Se analisarmos, uma palavra complementa a outra, mas qualquer uma pode ser utilizada de forma isolada sem perder o sentido, por isso também é possível falar em meio sem precisar se falar a palavra ambiente.

SACHS (2000, p. 117) coloca que quase todos os relatórios sobre o futuro do planeta trazem em sua capa as fotos da Terra registradas por Neil Armstrong, na primeira viagem tripulada à Lua. Foi justo naquela viagem que o homem pode ver, de forma inteira, o planeta em que vive, com sua beleza e fragilidade, que suscitava cuidado.

A expressão meio ambiente surgiu de maneira definitiva na agenda internacional a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, ocorrida em Estocolmo em 1972, proposta justamente pela Suécia, preocupada com a chuva ácida e a poluição no Báltico (SACHS, 2002, p. 118).

LIMA-E-SILVA et al. (1999, p.11) em seu Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais, definem meio ambiente como

1. Conjunto de fatores naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage, influenciando e sendo influenciado por eles. 2. As circunvizinhanças de um organismo, no qual ele está imerso, incluindo as plantas, os animais e os microorganismos com os quais ele interage. [...] De modo mais geral, qualquer elemento externo ao objeto de interesse (um gene, um organismo, uma população, etc.) que pode influenciar sua função ou atividade. 3. O conjunto total do sistema físico e biológico, no qual vivem o homem e os outros organismos.

O Dicionário Ilustrado de Ecologia (1997, p. 111), publicado pelos editores da Revista Terra, corrobora, definindo e comentando o meio ambiente:

[O meio ambiente] É a realidade física e orgânica de um determinado espaço, que pode compreender tanto um ecossistema como toda a biosfera. Preocupações com o meio ambiente quase não tinham lugar há vinte anos, seja na imprensa, seja nas decisões políticas governamentais. Hoje não há governo ou ser humano que não as leve em consideração [...]. No Brasil, mudaram muito os conceitos em relação à problemática ambiental. As conclusões de uma pesquisa recente realizada pelo Ministério do Meio Ambiente revelaram um cidadão brasileiro mais ecologicamente consciente e disposto a colaborar com programas que tenham a qualidade ambiental como prioridade. A coleta seletiva e reciclagem do lixo nas grandes cidades seria um bom começo.

Em linguagem técnica, meio ambiente é “a combinação de todas as coisas e fatores externos ao indivíduo ou população de indivíduos em questão” (NEBEL apud MILARÉ, 2000, p. 52). Há, contudo, a necessidade da inserção do próprio indivíduo, ou da população em questão, que não deve ser dissociado do meio ambiente em que está inserido, sob pena de um retrocesso secular.

MILARÉ (2000, p.53) coloca que, o conceito jurídico de meio ambiente precisa ser mais amplo. Se a visão estrita do meio ambiente trata do patrimônio natural e das suas relações com e entre os seres vivos, desprezando-se tudo aquilo que não seja diretamente relacionado com recursos naturais, em uma concepção mais ampla, o meio ambiente vai além dos limites estreitos fixados tradicionalmente, ao passo que inclui toda a natureza original (natural) e artificial (criada pelo homem), assim como os bens culturais.

Nesse sentido, como meio ambiente pode ser caracterizado tanto uma cidade quanto uma montanha, pois, segundo MILARÉ (2000, p. 53):

Temos aqui, então, um detalhamento do tema, de um lado como meio ambiente natural, ou físico, constituído pelo solo, pela água, pelo ar, pela energia, pela fauna e pela flora, e, do outro, com o meio ambiente artificial (ou humano), formado pelas edificações, equipamentos e alterações produzidas pelo homem, enfim, os assentamentos de natureza urbanística e demais construções. Em outras palavras, quer-se dizer que nem todos os ecossistemas são naturais, havendo mesmo quem se refira a ‘ecossistemas naturais’ e ‘ecossistemas sociais’.

Essa compreensão é essencial para a leitura deste trabalho, visto que, caso contrário, poder-se-ia ter a impressão de que bastaria ocorrer a gestão e a

defesa das questões ambientais que tomassem parte no meio ambiente natural, tornando-se desnecessária essa atuação quanto às questões ocorridas em locais já modificados pelo homem, em especial nas cidades, principal meio ambiente artificial, onde vivem, no caso brasileiro, mais de 80% da população.