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Conclusões decorrentes do estudo realizado: evolução da Interlíngua dos alunos

II- Análise experimental: Os erros decorrentes do uso incorrecto dos determinantes

5. Conclusões decorrentes do estudo realizado: evolução da Interlíngua dos alunos

Após a realização desta primeira fase de análise experimental, torna-se importante mencionar algumas conclusões, respondendo às questões inicialmente colocadas. Antes de mais, realça-se que, de acordo com os dados estatísticos e os erros analisados, os determinantes constituem um ponto crítico da língua espanhola para os

10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

alunos lusófonos, sendo que os mais problemáticos são os artigos. Ao longo da segunda parte deste trabalho, foram identificados, classificados e analisados os erros mais frequentes, tendo-se chegado à conclusão de que a maioria das produções erróneas incide nas zonas de interferência com a língua materna, dado serem erros maioritariamente interlinguísticos. Estas transferências negativas constituem a principal causa da produção de erros, causa esta que consideramos interna e específica à aprendizagem do espanhol a alunos lusófonos. Neste sentido, afirma-se que, quanto menor distancia interlinguística existir entre a L1 e a L2, maior é a possibilidade de ocorrerem erros por interferência. A esta dificuldade interna se junta outra externa, estando, esta última, relacionada com o papel dos alunos no processo de ensino- aprendizagem.

Tendo consciência da proximidade da sua língua materna com a língua espanhola, os discentes iniciam, frequentemente, a aprendizagem com uma atitude algo leviana, devido à suposta facilidade do processo no qual se encontram envolvidos. Dado não terem dificuldades ao nível da compreensão, tanto oral como escrita, os alunos transpõem esta facilidade ao domínio da expressão. Assim, as suas produções acabam por ser pouco reflectidas, caindo, frequentemente, no simples calco da língua materna auxiliado de alguns elementos espanholizados. Os erros que daí advêm acabam por ser interiorizados pelos discentes e, por isso, mantêm-se fossilizados na sua Interlíngua ao longo do processo de ensino-aprendizagem. No seguimento desta ideia e tendo em consideração o corpus geral, notou-se que os erros registados no 7ºano se repetem nos níveis seguintes. Os alunos cometem, então, o mesmo tipo de erros no início e no fim da aprendizagem da língua espanhola no ciclo do Ensino Básico, à excepção de alguns casos pontuais que foram apontados aquando da análise pormenorizada. Assim, considerando os tipos de erros identificados, bem como os resultados inequívocos da análise estatística, podemos afirmar que os alunos dos três níveis encontram-se no mesmo estado da Interlíngua no que concerne o domínio dos determinantes. Os erros detectados tornam-se persistentes e cada vez mais difíceis de eliminar à medida que os alunos avançam no processo de aprendizagem. Pois, a Interlíngua por eles construída acaba por transformar-se num sistema gramatical sistémico, coerente e regido pelas suas próprias regras, o que leva os alunos a permanecer no mesmo estado da Interlíngua de maneira inconsciente. Assim sendo, não chegam a alcançar uma competência comunicativa plena, dada a estagnação da sua aprendizagem.

A primeira parte deste trabalho pretendeu assinalar as zonas problemáticas na aquisição da língua espanhola a estudantes lusófonos, a fim de dar mais informações sobre os aspectos em que o professor deve pôr mais ênfase no processo de ensino- aprendizagem. De facto, Lado (1957) explicou que, para conseguir um ensino linguístico eficaz, torna-se indispensável que o professor conheça as principais características da língua materna dos alunos, assim como as zonas de interferências com a língua estrangeira, no sentido de proporcionar explicações e justificações mais adequadas ao público a quem lecciona. Salientamos que, para além do conhecimento da língua materna, o professor também deve ter em conta a Interlíngua dos alunos, a fim de facilitar a sua evolução. Nas primeiras fases de aquisição, os alunos lusófonos tiram proveito das transferências positivas, pelo que o docente deve aproveitar o tempo disponível para dar mais atenção às negativas. Cabe então ao professor reflectir, a partir dos objectivos e dos conteúdos seleccionados, sobre a melhor forma de os trabalhar para facilitar a sua aquisição. Refere-se, neste sentido, que as dificuldades anteriormente descritas poderão ser ultrapassadas com uma actuação reflectida por parte dos docentes e com o recurso a materiais adaptados ao público lusófono.

No capítulo que segue, iremos analisar os manuais adaptados aos alunos lusófonos a fim de verificar se estes dão uma atenção e um tratamento particular às zonas de interferência identificadas. Tentaremos igualmente perceber se os materiais didácticos existentes estão realmente adaptados às necessidades e especificidades dos discentes lusófonos e se adoptam ou não uma perspectiva contrastiva.

III- Análise de alguns métodos e manuais de ELE dirigidos ao

público lusófono

1. A importância da adopção da perspectiva contrastiva nos manuais de ELE para alunos lusófonos

A maioria dos manuais de espanhol, propostos para serem adoptados nas escolas do Ensino Básico e Secundário em Portugal, está concebida para um público de estrangeiros em geral, apesar das enormes diferenças existentes entre dar uma aula de ELE a um aluno alemão e a um aluno português. De acordo com Matte Bom (1988: 2), a sensibilidade pela comunicação tem-se manifestado na preocupação pelo destinatário, isto é pelo aluno, sendo que notou a necessidade de distinguir e diferenciar os manuais, e outros materiais didácticos, de acordo com as especificidades do público-alvo. A partir desta constatação, criaram-se inúmeros materiais para o ensino-aprendizagem da língua espanhola direccionados para falantes do português do Brasil. De facto, a tradição do ensino do espanhol no Brasil está mais enraizada do que em Portugal e o público-alvo é bastante mais abrangente, pelo que surgiu a necessidade de criar materiais adaptados aos estudantes brasileiros. Abio, G. e Brandela, A. M. (2003)3 disponibilizaram, on-line, uma lista de trabalhos e propostas didácticas dirigidos aos professores de espanhol do Brasil e realizaram um levantamento dos materiais disponíveis para o ensino- aprendizagem do espanhol a estudantes brasileiros, perfazendo um total de 192 publicações. Desde a realização desta listagem, as editoras continuaram apostar na elaboração de material especializado, tal como comprova a publicação da Gramática

contrastiva del español para brasileños de Moreno, C. e Eres Fernández, G. (2007).

Em Portugal, a situação é muito distinta já que existe, ainda, uma escassa oferta de material direccionada ao público de alunos lusófonos. Contudo, com a emergência generalizada do ensino do espanhol nas escolas portuguesas, têm vindo a ser publicados manuais concebidos para este público de estudantes. Entre eles, encontram-se alguns manuais da Porto Editora, tais como Paso a paso de Vigón Artos,       

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 Abio, G. e Brandela, A. M. (2003).“Lista de material didáctico producido para la enseñanza de E/LE a brasileños”. Glosas Didácticas, nº10, 2003. Disponível em:

S. (2003); Espanhol I, II, III (2008), ES-PA-ÑOL Tres pasos (2009) e Abrapalabra (2010) de Del Pino Morgádez, M. et ali. A editora espanhola SGEL também editou recentemente o manual En línea 1 de Elias, Neide et ali. (2010) e a editora Edinumen irá brevemente editar uma versão adaptada do manual Prisma Fusión A1+A2. Existem, igualmente, alguns materiais de apoio como gramáticas e dicionários, embora a oferta seja ainda muito reduzida, comparativamente com a brasileira.

Perante os erros interlinguísticos diagnosticados no segundo capítulo deste trabalho, torna-se indispensável a criação de materiais que surjam das necessidades específicas dos docentes e dos alunos lusófonos e que respondam às dificuldades próprias do contraste entre línguas próximas. Os manuais devem então ser ferramentas esclarecedoras que permitam chamar a atenção sobre as zonas de interferência linguística, identificando as semelhanças e as diferenças existentes entre o espanhol e o português, de forma clara e explícita. Assim, os aspectos gramaticais mais problemáticos deverão ser explorados de forma mais aprofundada e detalhada, ao passo que aqueles que não oferecem dificuldades não serão alvo de uma análise tão particularizada, isto porque os manuais devem surgir das necessidades próprias a este grupo de estudantes. Neste sentido, os materiais didácticos devem estimular as transferências positivas e minorar as transferências negativas. Para além de os manuais terem de oferecerem explicações metalinguísticas adaptadas às especificidades dos alunos lusófonos, recorrendo ao contraste entre as duas línguas, também devem propor exercícios e actividades especificamente direccionadas para a prática dos aspectos linguísticos problemáticos. Estes exercícios devem levar o aluno a reflectir efectivamente no funcionamento da língua espanhola, sem cair na tentação de recorrer a estratégias compensatórias influenciadas pela sua língua materna. Para além disso, no processo de elaboração dos exercícios, não deixamos de notar a necessidade de usar os elementos constituintes da língua de forma contextualizada e integrada aos restantes aspectos trabalhados nas aulas. Pois, os conteúdos gramaticais não devem ser abordados de forma isolada e descontextualizada, dado que cada aspecto deve ser considerado parte integrante do sistema complexo que é a língua na sua totalidade. As actividades propostas nos manuais devem conduzir os alunos de uma prática mais controlada na fase inicial a uma prática mais criativa e livre no final do processo de aprendizagem. No que concerne este ponto, consideramos interessante, nas primeiras fases, a possibilidade de trabalhar, de forma esporádica, a tradução de enunciados do português para o

espanhol, a fim de tornar mais claras as diferenças entre as duas línguas. Concluindo, os manuais devem oferecer caminhos metodológicos adequados às necessidades do público-alvo, apresentando conceptualizações claras que levem a uma tomada de consciência, por parte dos alunos, das zonas problemáticas da língua espanhola, evitando, assim, a fossilização de erros ao longo do processo de ensino-aprendizagem.

Iremos, seguidamente, analisar cinco manuais de três editoras distintas, utilizados no Ensino Básico, a fim de comprovar se, de facto, seguem uma abordagem contrastiva, tendo em especial atenção as zonas de interferências assinaladas no capítulo anterior.

2. Análise de alguns métodos e manuais de ELE adaptados ao público