• Nenhum resultado encontrado

II- Análise experimental: Os erros decorrentes do uso incorrecto dos determinantes

2. Análise de alguns métodos e manuais de ELE adaptados ao público lusófono

2.1. Paso a paso 1 e Espanhol I da Porto Editora

a) Paso a paso 1 de Vigón Artos, S.

Este método publicado em 2003 foi concebido para alunos lusófonos que iniciam a aprendizagem da língua espanhola e visa trabalhar as várias competências linguísticas de forma integrada, seguindo o método comunicativo. Este método apresenta uma estrutura quadripartida, sendo que cada parte aborda aspectos linguísticos distintos.

A parte introdutória intitulada “Echar un vistazo”, tem como objectivo activar o vocabulário através de uma actividade de preparação para o tema. A segunda parte “Leyendo” apresenta uma variedade de tipologias textuais que pretende trabalhar a compreensão escrita, assim como o vocabulário em situação. Nesta segunda parte, aparece ainda uma sub-rúbrica intitulada “¡Adiós portuñol!” e na qual nos iremos debruçar por constituir um aspecto relevante para o presente trabalho. Nesta sub- rúbrica, analisam-se aspectos linguísticos por comparação com a língua materna, daí o título escolhido pelo autor. Estes aspectos estão relacionados com elementos presentes no texto e pretendem abordar zonas de interferências a nível fonético, ortográfico, lexical e/ou gramatical. Basear-nos-emos na unidade 2 do manual “En la escuela”como referência para a presente análise, por abordar o conteúdo gramatical relativo aos determinantes definidos e indefinidos. Nesta unidade, a sub-rúbrica “¡Adiós portuñol!”

(ver anexo nº6, pp.105) aborda o problema da falta de correspondência de género entre as palavras portuguesas e espanholas, o que leva os alunos a cometerem erros aquando da selecção dos determinantes, como referimos anteriormente. A partir de um corpus de palavras, o autor pretende levar os alunos a reflectir sobre a língua e inferir a existência de aspectos problemáticos, através do contraste explícito com a língua materna dos alunos. Esta conceitualização é conseguida, na maioria dos casos, através de um exercício de tradução. Após esta actividade, aparece a parte seguinte intitulada “Profundizando” que pretende trabalhar conteúdos morfossintácticos (ver anexo nº7, pp.106-107). Nesta parte, os conteúdos são apresentados sob a forma de quadros gramaticais que sintetizam a matéria. Notamos, no exemplo em anexo, que a ênfase é dada nas formas dos determinantes e não nos usos que lhes são associados, sendo, estes, factores de interferências redundantes, tal como comprovamos no capítulo anterior. Para além disso, os exercícios propostos para a prática dos determinantes são exclusivamente estruturais e consistem em completar grupos nominais lacunares ou transformar grupos singulares em formas do plural. Contudo, no que concerne a abordagem das formas contractas “al” e “del”, aparecem duas actividades de prática mais livre que permitem reutilizar os conteúdos morfossintácticos trabalhados, a partir de uma tarefa que coloca o aluno num contexto comunicativo real.

A partir de uma análise mais abrangente do manual, notamos que, exceptuando as sub-rúbricas “¡Adiós portuñol!” poucas são as referências contrastivas que permitiriam evitar a ocorrência de alguns erros decorrentes das transferências negativas. No que concerne a contextualização e sistematização das regras e das formas dos determinantes, constata-se que os conteúdos são apresentados de forma muito simplificada e não aparecem explicações relativas aos usos e casos particulares que diferem da língua portuguesa. Contudo, nos exercícios, nota-se o intento de levar os alunos à reflexão, tal como ocorre nos exercícios que visam a correcção de erros frequentes (ver anexo nº8, pp.108) provocados pela influência da língua materna.

Em conclusão, é de salientar que este manual reflecte os primeiros intentos de apresentar um manual próprio para alunos lusófonos do ensino básico. Assim, são de notar algumas limitações do ponto de vista da abordagem contrastiva, principalmente no que concerne a conceitualização/ sistematização dos conteúdos e as propostas de exercícios estruturais. No entanto, salienta-se que se trata de um livro pioneiro que

serviu de referência e ponto de partida para a criação de materiais especializados para as aulas de ELE em Portugal.

b) Espanhol I de Del Pino Morgádez, M. et ali.

Actualmente, Espanhol I é um dos manuais mais utilizados no ensino do

espanhol no 3º ciclo. Desde a primeira página de apresentação do manual, os autores afirmam que “El alumno português parte de un nível de falso principiante” e que o manual foi então pensado especificamente para estes alunos, dado ter em conta as características essenciais das duas línguas. Este manual apresenta seis partes distintas que visam, tal como no manual Paso a paso 1, o desenvolvimento das quatro competências (compreensão e expressão oral e escrita) de forma integrada.

A primeira parte intitulada “Para empezar” assemelha-se à parte introdutória do manual anterior, dado activar o vocabulário e os actos de fala, no sentido de abordar o tema da unidade de forma lúdica. Na segunda parte denominada “Consultorio gramatical”, apresentam-se, de forma totalmente descontextualizada, alguns conteúdos gramaticais seleccionados (ver anexo nº9, pp.109-110). A gramática é aqui apresentada como um conteúdo isolado e não integrado às restantes actividades do livro, pelo que não promove um trabalho significativo para o aluno. Sendo que o objectivo de uma aula de língua é o desenvolvimento da competência comunicativa, o manual deveria apresentar a gramática como uma ferramenta indispensável para a realização de tarefas significativas. Na configuração geral da parte dedicada à gramática, não existe nenhuma actividade de conceitualização que permita ao aluno reflectir sobre o funcionamento da língua, estabelecendo uma distinção clara e explícita entre a sua língua materna e a língua espanhola. Assim, notamos que os conteúdos gramaticais que levam os alunos a cometerem erros interlinguísticos frequentes são tratados da mesma forma que aqueles que não oferecem dificuldades por resultarem do processo de transferência positiva. Para além de a gramática se encontrar descontextualizada de acordo com o resto da unidade, parecendo mais um aparte isolado relativamente aos restantes conteúdos, o manual não apresenta adaptações claras que tomem em consideração as características do público-alvo. A partir da observação da abordagem que é feita dos determinantes possessivos, notamos, ainda, que a ênfase é novamente dada às formas e não aos usos, dado não haver nenhuma referência neste sentido. Pois, tal como podemos constatar, as rubricas gramaticais limitam-se a

apresentar quadros gramaticais de carácter formal. Relativamente às actividades propostas, notamos a igualmente algumas limitações, dado aparecerem apenas exercícios estruturais que não levam os alunos a praticarem de forma menos controlada os vários conteúdos gramaticais. Pois, como já tínhamos salientado, os alunos cometem muitos erros sobretudo aquando da produção escrita e oral espontânea. Assim, concluímos que as rubricas gramaticais são muito limitadas e não apresentam adaptações específicas para alunos lusófonos.

No que concerne a introdução da perspectiva contrastiva no manual, os autores optaram por acrescentar pequenos apartes assinalados numa tabela intitulada “¡OJO!” (ver anexo nº10, pp.111), em que aparecem algumas notas que distinguem o funcionamento da língua espanhola com a portuguesa ou que levam o aluno a ter em atenção algum aspecto próprio ao funcionamento da língua espanhola e que costuma provocar erros intralinguísticos. Estas notas aparecem muito esporadicamente e podem ser de carácter lexical, ortográfico ou gramatical.

Após análise deste manual, concluímos que não existe uma verdadeira abordagem contrastiva dos conteúdos gramaticais e que a forma como o funcionamento da língua é abordado não segue nenhuma metodologia clara. Observamos que existe uma preocupação relativamente ao público no que toca à parte cultural, dado que, em vários exercícios, ou se solicita uma comparação entre a cultura portuguesa e espanhola, ou se apresentam situações (nos documentos escritos ou orais) em que os dois países são postos em contacto. Assim, a utilização deste manual não permite trabalhar de forma satisfatória as zonas de interferências linguísticas que dão origem à fossilização de erros por parte dos alunos.