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Embora, em razão dos fatores ambientais preponderantes, seja difícil

demonstrar a influência da flutuação turística no comportamento de parâmetros de

qualidade de água utilizados nessa pesquisa, observa-se elevação de indicadores de

poluição no Rio Betarí ao perpassar os arredores do Bairro da Serra. Sobretudo, é

claro o aporte de esgotos domésticos desse aglomerado populacional em razão dos

níveis de poluição nos córregos que drenam para o Rio Betarí. Dessa forma, o

crescente ecoturismo no PETAR e a oferta de respectivos serviços no Bairro da Serra

evidenciam riscos de aumento de poluição nos corpos d’água estudados,

principalmente em eventos de intensa visitação como em feriados prolongados.

Frente a precariedade do saneamento básico local, fica evidente que a

tendência de massificação do turismo favorece o comprometimento da qualidade ou

mesmo inviabiliza o Rio Betarí em sua notável característica de atrativo turístico.

Verifica-se, em virtude das condições preponderantes, que existem grandes

facilidades da perpetuação de ciclos de transmissão de doenças parasitárias

intestinais e demais moléstias de veiculação hídrica. Essa situação de risco,

demonstrada por vasta bibliografia, coloca os moradores locais, sobretudo as

crianças, em risco de contrair doenças infecciosas, havendo tendência para elevadas

prevalências entre a população do Bairro da Serra. Essa questão de saúde pública é

de difícil equacionamento sem que ocorram melhorias no saneamento e em educação

sanitária. O atendimento clínico e a medicação não são suficientes, pois o ambiente

contaminado e os hábitos dos moradores tendem a incrementar a ocorrência de novas

e sistemáticas infecções.

As atuais condições em que os resíduos sólidos do Núcleo Santana e

do Bairro da Serra são manejados indicam a quase solução desta problemática em

esfera local. Todavia, as condenáveis práticas de disposição final desses rejeitos, com

o envio para localidades distantes das rotas turísticas, denotam a externalização dos

impactos ambientais e possibilitam o “esquecimento” do problema.

A crescente visitação no interior da unidade de conservação e nas

áreas de entorno gera sérios riscos aos atrativos naturais, principalmente em feriados

prolongados com a massificação turística e na ocorrência de visitação desregrada,

sem acompanhamento de monitor ambiental devidamente capacitado. Por outro lado,

o significativo fluxo de visitação em dias de semana realizado por escolas em

atividades de “estudo do meio” apresenta aspecto positivo no sentido de distribuir

melhor o fluxo de visitantes em decorrência de tempo.

A elevada visitação no Núcleo Santana do PETAR, que acarreta

concentração de população flutuante passível de agravar os problemas ambientais

locais, ocorre enquanto demais núcleos da unidade de conservação recebem visitação

relativamente baixa. Assim, observa-se possibilidade de melhor distribuição espacial

de fluxo turístico.

Observa-se ainda, que a massificação turística pode se intensificar

diante de facilitadores como melhorias viárias, tendência crescente de ecoturismo e

proximidade de significativos mercados emissores de turistas como São Paulo e

Curitiba.

Na iminência da massificação turística e com o atual estado de

conhecimento sobre capacidade de carga e possibilidade de limitação,

regulamentação e fiscalização da visitação no interior da unidade de conservação,

sobretudo no Núcleo Santana, é possível inferir sobre a fragilidade do patrimônio

natural no entorno deste parque estadual. Assim, os atrativos naturais localizados em

áreas externas podem sofrer sérios riscos de degradação, da mesma maneira, as

problemáticas identificadas de destinação de esgotos e de lixo tendem a se agravar.

Tendo por base o histórico e tradições de ocupação humana e

utilização de recursos naturais na região, se por um lado o ecoturismo consiste de

opção mais adequada à conservação do que atividades extrativistas outrora

praticadas, por outro lado, demais problemas como a poluição por esgotos

domésticos, a geração de resíduos sólidos e os impactos de visitação aos atrativos

naturais constituem elementos negativos do desenvolvimento dessa nova alternativa

econômica.

Diante dessa realidade constata-se uma contradição no sentido de que

a busca de contato com a natureza no crescente ecoturismo é capaz de acarretar a

degradação do patrimônio natural na carência de adequada gestão e planejamento

para o desenvolvimento de atividades turísticas.

Apesar de haver louváveis definições, o emprego do termo ecoturismo

não garante o exercício de atividades plenamente sustentáveis. Certamente, diante da

problemática verificada nesse estudo, o termo ecoturismo acaba por contribuir para

“ocultar” impactos ambientais relevantes.

O grandioso valor biológico característico da região, o relevo, o clima,

as peculiaridades das cavernas e as particularidades da ocupação humana e pressão

por uso do solo e dos recursos naturais, são fatores que requerem condições

específicas de manejo e conservação dos recursos naturais, com pertinente

consideração das atividades que podem ser praticadas em áreas de entorno e devida

inserção em políticas mais abrangentes, em concordância com as demais unidades de

conservação que integram o expressivo fragmento do bioma Mata Atlântica do Vale

do Ribeira.

Outro aspecto relevante a ser integrado no manejo deste valioso

patrimônio natural consiste da necessidade de adequar o uso do solo nas bacias

hidrográficas locais com as diretrizes conservacionistas preponderantes. Ressalta-se

o risco de desequilíbrio ecológico nos ambientes aquáticos no interior da unidade de

conservação em razão do uso de agrotóxicos em áreas externas ao parque.

Sendo possível a consideração sobre o interesse de conservar o

patrimônio natural deste parque estadual por meio de adequados critérios de visitação

e apropriadas condutas por parte de visitantes, temos que problemas como dos

esgotos e do lixo, também inerentes ao desenvolvimento turístico, tornam-se

questões marginais que muitas vezes não despertam o interesse público da mesma

maneira que a suposta degradação dos atrativos no interior da unidade de

conservação. Nesse sentido, é compreensível que a conscientização e

comprometimento de gestores, de moradores locais, de monitores ambientais, de

demais pessoas envolvidas profissionalmente com o ecoturismo e dos próprios

ecoturistas, seja fundamental para reverter essa situação de degradação ambiental e

de risco à saúde pública.