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6. DISCUSSÃO

6.5. Manejo e conservação do patrimônio natural

Sob um ponto de vista conservacionista, o contínuo de Mata Atlântica

da Serra de Paranapiacaba constitui o mais importante fragmento desse bioma em

razão de seu amplo tamanho, o grau de conservação de suas florestas, as complexas

comunidades animais e vegetais e a ocorrência de diversas espécies de vertebrados

ameaçados de extinção (GIUX & col. 2002). Para a manutenção da biodiversidade e

continuidade dos processos ecológicos responsáveis pela manutenção do bioma Mata

Atlântica é necessário a salvaguarda de grandes áreas florestadas contínuas, evitando

assim a fragmentação que ameaça extinção de espécies e conseqüências correlatas.

Dessa maneira o manejo das unidades de conservação do Vale do Ribeira deve ser

integrado, da mesma forma, deve-se estender a política conservacionista para as

zonas de amortecimento que integram esse grande contínuo.

Com grande importância para a existência de significante contíguo

entre as unidades de conservação do Vale do Ribeira, as áreas de entorno devem

contemplar economias baseadas no uso sustentável, com participação local e manejo

que incentivem a conservação em longo prazo. Cada unidade de conservação deve

ser como um núcleo deste sistema de uso de terras (BROCKELMAN et al 2002).

Para adequar os usos e a conservação dos recursos naturais dentro de

condições específicas são elaborados planos de manejo para as unidades de

conservação.

O manejo de uma unidade de conservação corresponde a lidar de

maneira adequada com os recursos biológicos, físicos e humanos existentes nela.

Para isso, é fundamental que se tenha conhecimento dos processos ecológicos e

também das atividades humanas preponderantes no interior e entorno, as quais

interferem com a dinâmica dos ecossistemas (CEBALLOS-LASCURÁIN 1996 apud

KINKER 2002).

Um plano de manejo consistente é ferramenta indispensável para a

administração de um parque. O estado dificultoso de se realizar manejo de parques

demanda planos de manejo concisos que apliquem bom senso e experiência local,

nesse caso poucas páginas podem ser úteis e aplicáveis, contendo conselhos práticos

e recomendações, mapas de boa qualidade ou fotografias aéreas e informações sobre

atitudes e comportamentos das populações locais. Por outro lado, a doutrina que se

tem estabelecido no Brasil, como em outros paises, preconiza a elaboração de planos

de manejo em grandes documentos, com pouca utilidade como ferramenta prática,

apresentando visões externas e recomendando ações para as quais não existem

recursos suficientes. Além disso, estes planos de manejo destinados ao esquecimento

são produzidos de maneira muito dispendiosa. Em casos de destaque o custo da

elaboração de um plano de manejo chega a ser superior ao custo dos cinco primeiros

anos de prática de manejo (DOUROJEANNI 2002).

No caso do PETAR, outro elemento relevante a ser considerado no

manejo consiste das bacias hidrográficas com área no interior da unidade de

conservação. A complexidade de relações entre bacia hidrográfica e unidade de

conservação pode ser observada na bacia do Rio Betarí. Esta, tanto sofre influência

de atividades agrícolas em ponto superior, com possibilidade de interferir

negativamente no ecossistema aquático no interior do parque, como também é

passível de impactos em ponto inferior devido aos acréscimos populacionais do fluxo

turístico.

De acordo com a Lei nº 9.433 / 1997, que institui a Política Nacional

de Recursos Hídricos, em seu artigo 38: “compete aos Comitês de Bacia

Hidrográfica, no âmbito de sua área de atuação:” “promover o debate das questões

providências necessárias ao cumprimento de suas metas”. Sob essa base legal e as

condições preponderantes é possível afirmar a importância de que diretrizes de

manejo da unidade de conservação sejam consideradas no âmbito do Comitê da

Bacia Hidrográfica do Ribeira de Iguape e Litoral Sul.

Também é válido ressaltar que o manejo das unidades de conservação

deve contar com a participação da comunidade local, esse processo deve ser contínuo

por meio das reuniões do conselho consultivo. DOUROJEANNI & PÁDUA (2001)

afirmam sobre a importância de manter boas relações entre a unidade de conservação

e as comunidades locais visando o sucesso do manejo da conservação.

No contexto abordado convém discorrer enunciado do artigo 29 da Lei

nº 9.985 / 2000 (lei que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação –

SNUC): “Cada unidade de conservação do grupo de Proteção Integral disporá de

um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e

constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade

civil” ... “e, na hipótese prevista no parágrafo 2

o

do artigo 42, das populações

tradicionais residentes, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da

unidade”. Assim, diante da situação fundiária em que se encontra o PETAR,

afirma-se condição de participação da população tradicional local no conafirma-selho consultivo

uma vez que, em acordo com o citado parágrafo 2

o

do artigo 42 desta lei, “até que

seja possível efetuar o reassentamento de que trata este artigo, serão estabelecidas

normas e ações específicas destinadas a compatibilizar a presença das populações

tradicionais residentes com os objetivos da unidade, sem prejuízo dos modos de

vida, das fontes de subsistência e os locais de moradia destas populações,

assegurando-se a sua participação na elaboração das referidas normas e ações”.

Voltando a questão da elaboração do plano de manejo, sabe-se que a

realização de pesquisa e produção de conhecimento representa significativa parcela

do ônus financeiro, é necessário citar que, sobre essa unidade de conservação e

região, inúmeras pesquisas já foram realizadas gerando cerca de 250 trabalhos

bibliográficos entre teses, dissertações, monografias, publicações científicas, livros e

relatórios técnicos. Contudo, esse volume de trabalhos técnicos não foi

especificamente direcionado para a elaboração de um plano de manejo, embora, o

conhecimento produzido certamente possa servir de subsídio para a gestão desse

parque estadual.

Embora passados 46 anos de sua criação o PETAR ainda não conta

com um plano de manejo elaborado. Consta que um plano de gestão e visitação está

servindo como diretriz básica para administração desta unidade de conservação

desde 1990. No sentido da participação de distintos atores na gestão desta unidade de

conservação, um aspecto positivo que está ocorrendo consiste das reuniões de

conselho consultivo desde outubro de 2001

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