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Conclusões sobre os conceitos: a definição utilizada no estudo

Capítulo III: Estudo teórico

4. O paradigma da utilização da tecnologia na mediação da aprendizagem

4.1. Clarificação de conceitos

4.1.5. Conclusões sobre os conceitos: a definição utilizada no estudo

Era importante esclarecer o que é referido pela literatura sobre as terminologias relacionadas com a utilização da tecnologia como mediadora do processo de aprendizagem. Na realidade, como foi constatável, existem diversas formas de definir e-Learning, b-Learning e aprendizagem à distância e, muitas vezes, podem mesmo

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depender dos contextos e da natureza e objeto dos estudos. Todos estes conceitos podem ser alterados se se considerar a existência de conceitos de aprendizagem informal ou não formal. Tendo em conta o objeto, este estudo remete-se a contextos de aprendizagem formais no ES que tenham como objetivo promover competências dirigidas para o mercado de trabalho.

Como se depreendeu do estudo de Hasan et al. (2009) a forma como se percebe um conceito deriva da experiência que se teve anteriormente mas, também, do contexto (país) que é referido. Aprendizagem à distância terá, forçosamente, um significado diferente quando comparado no Reino Unido e em Portugal, no ES e no Ensino Básico, na Universidade Aberta e na Universidade de Coimbra.

Paralelamente, embora diversos autores considerem como quase inevitável falar-se de e-Learning para um contexto em que docente e o estudante não estão no mesmo espaço (Gomes, 2005a), na realidade, e vendo-o de uma forma rigorosa, pode-se também o discutir para contextos presenciais. Por exemplo, quando se utiliza o PowerPoint para promover experiências diferentes nos estudantes (Bartsch & Cobern, 2003; Frey & Birnbaum, 2002) ou quando se utilizam ferramentas de simulação na área da saúde (Aebersold, Tschannen, & Bathish, 2012; Issenberg, McGaghie, Petrusa, Gordon, & Scalese, 2005). Surgiu, portanto, a necessidade de se ser rigoroso na clarificação destes conceitos pois eles serão, mais adiante, citados por outros autores e, nem sempre, terão o significado semelhante ao valor que está a ser dado no decurso da investigação.

Para o âmbito deste estudo e-Learning será entendido como a atividade de aprendizagem formal, mediada pela tecnologia, tendencialmente baseada na Web, e que tem, como objetivo final, desenvolver um conjunto de objetivos de aprendizagem, podendo ser realizada em regime presencial ou à distância.

Embora o conceito de b-Learning não seja explorado durante esta investigação, julga-se ser importante referir a importância do papel do estudante e da aprendizagem para a definição do conceito. É importante compreender de que forma a aprendizagem está alinhada com as tipologias mistas desenhadas pelo docente e de que forma os objetivos de aprendizagem são atingidos. Numa definição de b-Learning considera-se imprescindível que os momentos de ensino, aprendizagem e avaliação estejam implícitos em todas as estratégias, sejam presencial ou à distância, expositivas ou ativas.

A aprendizagem à distância sugere um distanciamento entre docente e estudante no qual ambos se recorrem a meios diferenciados para facilitar a disponibilização, a interação e a aprendizagem. Hoje-em-dia é difícil perceber a aprendizagem à distância sem esta ser mediada pela utilização das TIC e, consequentemente, sem a utilização da Internet. Assim sendo, para este estudo consideramos, por aprendizagem à distância, toda a

atividade de aprendizagem formal em que o estudante e o docente não estão em contato presencial um com o outro.

No que diz respeito ao conceito de aprendizagem potenciada pela tecnologia (APT) considera-se fundamental procurar entender primeiramente como transparecer, numa definição, o fato da aprendizagem ser potenciada. Assim procura-se definir um conjunto de diretrizes associadas ao conceito que permitam avaliar o potenciar da aprendizagem:

• estar assente num processo de aprendizagem centrada no estudante em que este seja o sujeito ativo na aquisição da aprendizagem permitindo ao estudante formar a sua conceção do conhecimento (Mayes & Freitas, 2007; Tavangarian, et al., 2004);

• estar assente em atividades e ambientes de aprendizagem em que a utilização da tecnologia traga, para a experiência pedagógica, uma dimensão diferente do que sucede em contexto presencial; • estar alinhada em pressupostos subjacentes ao alinhamento construtivista (Biggs & Tang, 2011) o

que pressupõe o desenho assente num alinhamento entre as competências, os resultados de aprendizagem, as atividades e a avaliação;

• promover a formulação de hipóteses, a interpretação, a manipulação, a resolução de problemas e a tomada de decisões (Kim & Hannafin, 2011);

• estar implícita a flexibilização da aprendizagem, flexibilização relacionada com os estilos e perfis do aprendente, com o espaço e com o tempo de aprendizagem (Moore, et al., 2011; Oliver & Trigwell, 2005; Wang & Hannafin, 2005);

• estar implícita a colaboração, a partilha e a comunicação entre os diversos atores (Conole, 2007; Shea, et al., 2003);

• estar implícita uma utilização correta do feedback, nomeadamente se ele é atempado, construtivo e promotor de maior envolvimento dos estudantes (Shea, et al., 2003);

• estarem implícitas atividades alinhadas com a realidade, com o mercado de trabalho e, portanto, serem motivadoras para os estudantes (Bradwell, 2009).

Procurar-se-á apresentar no capítulo de resultados uma definição que responda cabalmente a estas diretrizes e que tenha, como pressuposto, responder à questão de investigação formulada no capítulo introdutório deste estudo.

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4.2. Vantagens da utilização da tecnologia no suporte à aprendizagem

A utilização das tecnologias no Ensino e na Aprendizagem pode trazer vantagens económicas para as iES (Almeida, et al., 1999; Gomes, 2008) mas também traz vantagens noutros pontos que nem sempre são amplamente explorados na literatura.

O e-Learning permite, como refere Gold (2001), criar uma potencial alteração na educação, maior flexibilização no processo de ensinar e aprender e retirando muito do peso que era dado a quem, tradicionalmente, era detentor da informação, o professor. Sobretudo no que se refere ao ES, o e-Learning permite uma flexibilização do EA sobre diversos fatores podendo, dessa forma, aproximar-se de outros públicos menos presentes. Com a utilização do e-Learning existe uma mudança conceptual marcada pela flexibilidade dos processos de aprendizagem, pela decisão individual sobre que materiais a utilizar, pela identificação dos objetivos a atingir e pela definição de estratégias pessoais e colaborativas para a construção e experimentação do conhecimento. Como refere Yeung This shift is one from knowledge being fixed to a certain time and place to knowledge that is

accessible anytime, anyplace, and at any pace (2002, p. 2). Os estudantes têm maior facilidade de acesso aos

conteúdos, às atividades e às interações com o docente e com outros colegas e esta acessibilidade pode ser exercida a qualquer hora do dia e em qualquer lugar, o que traz vantagens evidentes no sentido em que o estudante participa quando se sente mais disponível para fazê-lo (Cação & Dias, 2003). O e-Learning permite flexibilizar a componente temporal, permitindo desenvolver cenários em que quer os estudantes quer o professor estejam ausentes . Face às características do universo de estudantes do ES, compostos, muitas vezes, por estudantes que residem fora da cidade onde fica o estabelecimento de ensino, trabalhadores-estudantes e até estudantes de fora do país, a utilização de ferramentas que permitem dar flexibilidade temporal às sessões letivas é bastante relevante. Para além desta realidade um docente do ES é, por norma, alguém que se ausenta em conferências e reuniões de projetos. Assim sendo, a utilização das TIC permite maior facilidade na gestão do tempo por parte de todos os intervenientes (Gomes, 2006; McKenzie, Mims, Bennett, & Waugh, 2000).

O facto do e-Learning poder não implicar, na generalidade das situações, uma presença simultânea de professores e estudantes, permite um elevado grau de flexibilidade no acesso e na utilização dos ambientes de aprendizagem (Ally, 2005). Arbaugh (2002) sugere que a gestão das variáveis espaço e tempo de aprendizagem, utilizando as tecnologias, aumentam a satisfação e motivação dos estudantes. É possível aceder a conteúdos em qualquer local, seja utilizando um dispositivo fixo, seja utilizando um dispositivo móvel. É possível aceder a estes conteúdos a partir da universidade, de casa, da rua ou até mesmo no transporte público. Esta valência do

A utilização das tecnologias para mediar a aprendizagem permite, por exemplo, que um aluno tenha acesso à informação a partir de um país diferente e essa funcionalidade pode, por exemplo, aproximar os estudantes de países subdesenvolvidos das universidades com melhores condições (Hylén, 2006; Johnstone, 2005), algo menos possível em contextos presenciais. Por outro lado, esta valência permite também promover a mobilidade virtual (Daukšienė, Teresevičienė, & Volungevičienė, 2010; Teresevičienė, Volungevičienė, & Daukšienė, 2011)17, promover o intercâmbio entre estudantes de países europeus e mundiais sem estes estarem, de facto, no país da instituição que ministra o curso. Mas a flexibilidade não se resume apenas ao fator temporal ou de espaço da aprendizagem. Collis & Moonen (2002) referem que o estudante pode assumir a responsabilidade de optar por escolher quais os recursos, as atividades e as ferramentas para conduzir o seu processo de aprendizagem.

Por outro lado, com a utilização do e-Learning permite-se a reutilização de recursos de aprendizagem de outros contextos educativos ou até mesmo de outros autores. Esta reutilização pode permitir maior disponibilização e variedade dos materiais educativos levando a maior qualidade e complementaridade e, provavelmente, a menor tempo despendido do próprio produtor dos materiais educativos. Os recursos de aprendizagem são desenhados em segmentos pequenos e coerentes para permitirem serem redesenhados e aplicados a diferentes aprendentes e contextos (Ally, 2005). Outra das vantagens da utilização do e-Learning na educação é a possibilidade que este permite de adaptar conteúdos e materiais educativos ao próprio utilizador e ao conhecimento que este tem das tecnologias (Arbaugh, 2002). Esta possibilidade facilita a existência de ambientes de aprendizagem individualizados e personalizáveis de acordo com a especificação de cada aprendente (Aresta, Pedro, Santos, & Moreira, 2012) sem que, para isso, o docente sinta uma alteração profunda na carga de trabalho diário que tem em acompanhar o estudante (Casanova, 2009; Casanova, Holmes, & Huet, 2008). O próprio currículo poderá sofrer novas conceções e orientações sendo possível promover, com maior facilidade, ambientes de aprendizagem informais e/ou processos de aprendizagem marcadamente ativos orientados ao sujeito aprendente. O estudante cria a sua própria identidade (Aresta, et al., 2012) e o seu próprio percurso (Cação & Dias, 2003) no processo de aprendizagem.

A utilização da tecnologia permite fazer alterações significativas na forma como o docente e os estudantes comunicam, por exemplo, através da introdução da comunicação assíncrona que facilita a comunicação entre o docente e os estudantes, resolvendo as limitações de tempo e promovendo a conveniência de ambas as partes. A comunicação assíncrona permite um discurso mais sustentado e mais refletido o que leva a contributos com

17 Veja-se o exemplo o projeto europeu TeaCamp que promove a criação de um curso totalmente virtual frequentado por alunos de

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mais qualidade por parte do estudante e a um feedback mais ponderado por parte do docente. Permite ao docente individualizar a instrução e concomitantemente personalizar a aprendizagem, por exemplo, através de contextos compreendidos apenas pelo estudante e relacionados com a sua natureza, dando um feedback individual e relacionado com o problema específico encontrado pelo estudante (Ally, 2005). Por outro lado facilita o desenvolvimento de comunidades de prática com estudantes do mesmo curso, de diferentes cursos e até com docentes de outros cursos e atores de outros contextos (por exemplo entidades empresariais ou antigos alunos), o que permite elevar a qualidade da discussão e promover a diversidade de opiniões, a criação de relações e afinidades e o intercâmbio de experiências (Cação & Dias, 2003).

A utilização da tecnologia permite escalabilidade no sentido em que é mais fácil ajustar o curso e o desenho das atividades a mais estudantes sem ter constrangimentos relacionados com a performance, o espaço e a logística (Ally, 2005). Esta característica permite maior eficiência económica do processo de EA e, consequentemente, maiores proveitos para as iES.

Facilita ainda a autoavaliação das práticas do docente pois permite a existência de recursos que promovem a reflexão e a autoavaliação do processo de EA. Visto que a informação e as interações são gravadas e arquivadas o docente pode, mais tarde, fazer uma avaliação refletida das suas práticas melhorando as deficiências e corrigindo as falhas (Ally, 2005).

Por fim, aumenta a motivação dos atores, docente e estudantes, embora a perspetiva da utilização da tecnologia e a forma como ambos a percecionam seja diferente. Enquanto que a generalidade dos docentes percebem a tecnologia como um add-on e/ou como um suporte ao ensino mais tradicional (Liaw, Huang, & Chen, 2007) os estudantes olham para ela como um meio de interação, de partilha, de relacionamento, mas nem sempre de aprendizagem (Selwin, 2008).