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Capítulo III: Estudo teórico

4. O paradigma da utilização da tecnologia na mediação da aprendizagem

4.4. Perceções e expectativas dos diversos agentes

4.4.1. Perceções dos estudantes

Um estudo de Selwyn (2008) chega à conclusão de que a utilização da Internet para fins de aprendizagem formal pelo estudante tende a ser mais limitada quanto mais exigente é o tempo da sua utilização e menor é a relevância para o curso e para a consequente avaliação. Assim sendo, o estudante filtra a utilização de acordo com a relevância que esta tem para o processo de EA. Se ela não é relevante o estudante tendencialmente não lhe dá importância excepto se forem contextos mais ativos e motivadores. Esta aparente utilização da tecnologia de uma forma madura vai ao encontro de outra investigação (Liaw, et al., 2007) na qual é referido que os ambientes de aprendizagem devem ser autónomos e preferencialmente recorrer à multimédia de forma a serem mais eficazes e motivadores. A flexibilidade, a utilidade e a usabilidade são também fatores apontados como relevantes por Sun, et al. (2008). A qualidade do interface é outro fator considerado relevante pelos estudantes e aqui destacam-se vetores como a estética e a organização de informação (Shee & Wang, 2008). Procurando compreender as perceções dos estudantes, Paechter & Maier (2010) procuraram perceber quais os fatores que levam aqueles a preferir o ensino online ao ensino presencial. Para o efeito desenvolveram um questionário que passaram a 2196 estudantes de 29 universidades austríacas. Os fatores considerados mais relevantes para escolher um ensino online, face a um ensino presencial, estão relacionados com o desenho do curso, a interação do tutor/docente, a interação com os pares e a aquisição de competências diferentes (Tabela 6).

Course design Clarity and explicit structuring of the course and learning contents. Favorable cost–benefit ratio of effort and learning outcomes.

Interaction with the tutor Fast feedback from the tutor.

Interaction with peer

students Easy and fast exchange of information and knowledge with other course participants.

Individual learning processes Flexibility of learning with regard to time and place.

Flexibility with regard to about learning strategies and pace of learning. Opportunities for exercising and applying one's knowledge.

Opportunities for monitoring one's learning outcomes.

Learning outcomes Acquisition of skills inself-regulated learning

Tabela 6 - Fatores considerados mais relevantes para escolher um ensino online. Tabela adaptada de Paechter & Maier (2010)

Segundo o estudo os estudantes esperam que num curso online:

• exista maior clareza e organização dos conteúdos, pois, à-priori, esperam que todas as unidades, atividades e recursos sejam disponibilizados no início do curso;

Capítulo III: Estudo teórico - 4. O paradigma da utilização da tecnologia na mediação da aprendizagem

• o grau de exigência seja menor quando comparado com o benefício relativo aos resultados de aprendizagem adquiridos;

• exista um feedback mais personalizado e atempado;

• exista flexibilidade relacionada com o período de aprendizagem e com o espaço onde esta decorre e onde se acede aos recursos;

• haja oportunidade de se individualizar os percursos do aprendente, nomeadamente, no que diz respeito à realização de atividades que permitam exercitar o conhecimento específico e de monitorizar a aquisição dos resultados de aprendizagem;

• permita a aquisição de novas competências.

Palmer & Holt (2010) procuraram avaliar os elementos do LMS aos quais os estudantes dão maior relevância e que se apresentam como efetivamente potenciadores da aprendizagem. O estudo baseia-se num questionário passado durante os anos de 2004 e 2005 a 5400 estudantes da Universidade de Deakin, na Austrália, apresentando a evolução de 2004 para 2005 no que diz respeito aos elementos considerados mais importantes pelos estudantes. Decidiu-se utilizar os resultados do estudo para 2005 (por serem os mais recentes) destacando os elementos considerados mais relevantes e ordenando-os pela sua ordem de relevância:

1. Poder aceder às notas das aulas/das sessões tutoriais / das sessões de laboratório; 2. Ter acesso à minha avaliação;

3. Permitir receber feedback sobre as tarefas;

4. Permitir aceder ao guia de cada unidade de aprendizagem; 5. Permitir submeter tarefas;

6. Permitir monitorizar o meu progresso;

7. Permitir contactar com o docente através de um sistema de mensagens individuais; 8. Permitir interargir (editar, introduzir ou apagar) com os recursos de aprendizagem; 9. Permitir ler as contribuições e interações de outros colegas na discussão.

Outro estudo relevante foi desenvolvido por Conole et al. (2006). Os autores procuraram conhecer as experiências dos estudantes relacionadas com a utilização da tecnologia na mediação da aprendizagem. Uma das conclusões mais interessantes deste estudo é que a perceção e as expetativas dos estudantes variam de acordo com as áreas disciplinares e com o contexto de cada um. Por exemplo, estudantes que trabalhem em part-time, que tenham filhos, que vivam longe do campus, tendem a dar maior utilidade aos LMS ou a funcionalidades online (Conole, et al., 2006). Estes estudantes consideram ser relevante poder fazer downloads de documentos ou dos PowerPoint das aulas. Existe, no entanto, uma conclusão interessante deste estudo que

refere que embora os estudantes entrevistados se refiram à utilização do e-Learning como algo relevante eles consideram imprescindível a existência de horas presenciais com o docente e/ou com os tutores (Conole, et al., 2006).

Ainda relativamente às diferentes perceções dos estudantes de acordo com o seu perfil, uma conclusão interessante surge do resultado do trabalho de Heaton-Shrestha et al. (2007) que chegaram à conclusão que aspetos como a flexibilidade não eram aspetos considerados tão relevantes, nomeadamente nos casos de estudantes matriculados em cursos tradicionais. A utilização do VLE para estes estudantes cinge-se mais a aspetos de suporte, laterais à aprendizagem, como sejam, por exemplo, a disponibilização de avisos ou de calendários.

Relacionado com a forma como os estudantes trabalham com os LMS, Weaver, et al. (2008) apontam para que 50,9% dos estudantes aprendem a trabalhar sozinhos com a aplicação, sendo que apenas 23,1% aprendem a trabalhar com a plataforma através de explicações dos tutores e docentes e apenas 8,5% através da ajuda de outros colegas.