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4 O Projeto de Requalificação da Avenida Beira-Mar

4 O PROJETO DE REQUALIFICAÇÃO DA AVENIDA BEIRA-MAR 4.1 Avenida Beira-Mar: antecedentes

4.2 O Projeto da Avenida Beira-Mar: premissas, objetivos e estratégias

4.2.1 O Concurso de Ideias

Em 09/10/2009, a Prefeitura Municipal de Fortaleza, em parceria com o Departamento do Ceará do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-CE), instituiu o Concurso Público Nacional de Ideias para o Reordenamento Geral e Projetos Arquitetônicos, Urbanísticos e Paisagísticos da Avenida Beira-Mar em Fortaleza, Ceará, conforme regulamento próprio.16

Houve 78 pré-inscrições e 22 projetos entregues. Em suas deliberações, o

16 Lei nº 8.666/93 e Lei nº 5.194/66, que regulamenta a profissão de arquiteto; Normas do IAB para a

Organização de Concursos Públicos de Arquitetura e Urbanismo; Plano Diretor Participativo do Município de Fortaleza (Lei Complementar nº 062/09); Lei de Uso e Ocupação do Solo do Município de Fortaleza (Lei nº 7987/96); e o Código de Obras e Posturas do Município de Fortaleza (Lei nº 5530/81).

júri17 considerou a integridade das propostas, a coerência indispensável entre o discurso e o projeto, a identificação das principais áreas de intervenção e suas relações com as áreas adjacentes e o conjunto paisagístico no seu todo, notadamente da relação com o tecido urbano, a salvaguarda e o tratamento conferido às visuais, a conveniência da disposição e o tratamento dos diferentes equipamentos.

Em dezembro de 2009, o júri escolheu, por unanimidade, o trabalho do arquiteto Ricardo Muratori e equipe. Esse projeto, segundo os jurados, evidencia um claro domínio sobre as questões e as articulações das soluções encontradas com a área circunvizinha, tratadas com sensibilidade e inteligência. As principais considerações sobre o primeiro classificado foram:

a) A solução proposta para a feira, desde que considerada permanente – como recomenda o edital – em sua configuração consolida a ocupação atual, enriquecida pelas aberturas das visuais, graças aos espaços intersticiais e a escala. A arquitetura singela contempla a proteção indispensável aos boxes;

b) No caso da solução preconizada para a comercialização do peixe, embora não comprometa a qualidade da intervenção, o júri entendeu que o impacto provocado pela edificação poderia ser minimizado subordinando a arquitetura à paisagem e ao caráter informal das atividades;

c) O júri recomendou à conveniência da desobstrução das visuais relocando as áreas de estacionamentos e a supressão dos depósitos da feira, desnecessários, uma vez sendo a feira fixa;

d) A recomendação acima acerca das áreas de estacionamento apoia-se inclusive na proposição do transporte pendular existente no projeto, evidenciando a inconveniência de estimular o fluxo de veículos;

e) O júri observou a oportunidade de preservar a bela vista do anfiteatro comprometida pelo passeio proposto junto à praia.

17 A comissão julgadora era formada com os seguintes membros: Arq. Débora Sales (Secretária), Arq.

Rosa Grena Kliass (Presidente da Comissão Julgadora), Arq. Fábio Penteado, Arq. Lia Parente, Arq. Matheus Gorovitz, Arq. Roberto Castelo e Arq. Rommel Ramalho.

Figura 2 – Feira de Artesanato. Cada balcão é um pequeno contêiner, que é guardado em um depósito no final das atividades da feira. Sobre os pavilhões serão

instaladas células fotovoltaicas.

Fonte: Projeto vencedor para a Requalificação da Avenida Beira-Mar. Arq. Ricardo Henrique Muratori de Menezes e equipe – CE.

Destaca-se que, ao longo do tempo, projeto e obra receberam diversas denominações. De “reordenamento” a “requalificação”, os documentos oficiais não chegam a um termo padrão. O quadro 9 relaciona as denominações encontradas pelo autor em inúmeros documentos oficiais; não há unificação no nome do projeto, onde em cada órgão – e muitas vezes dentro do mesmo órgão – o projeto é cognominado de várias formas.

Figura 3 – Pavilhões de múltiplos usos

Fonte: Projeto vencedor para a Requalificação da Avenida Beira-Mar. Arq. Ricardo Henrique Muratori de Menezes e equipe – CE.

Assim, a área da Av. Beira-Mar, em estudo, foi analisada tendo como indicadores os aspectos relacionados ao reordenamento de vias e passeios. Para tanto, foi necessária uma análise do uso e ocupação do solo e, consequentemente, a identificação dos impactos com o sistema de trânsito e transportes. Nesse contexto, os coordenadores procuraram estudar a mobilidade e acessibilidade das pessoas e da carga urbana na Av. Beira-Mar, além de sua área de influência, para identificar quais as melhores ações a serem implantadas para tornar a área mais humanizada.

Desta forma, foram realizadas entrevistas e pesquisas de opinião com os diferentes usuários, e posteriormente realizada análise do diagnóstico elaborado. Assim, tomando por base os dados/informações levantados nas visitas ao local e nas experiências dos coordenadores do projeto na Setur, foram identificados os principais conflitos existentes na área que afetam a mobilidade e acessibilidade das pessoas, veículos e a carga urbana:

a) Quanto aos pedestres: ocupação dos passeios por pessoas com interesses diferenciados (pedestres, vendedores, prestadores de serviços, comerciantes, atletas, visitantes, outros).

b) Quanto aos ciclistas: (i) ciclistas e veículos circulam, conjuntamente, na pista de rolamento da avenida; e (ii) inexistência de bicicletário ao longo da via.

c) Quanto às atividades comerciais e de serviços: (i) ocupação desordenada e estrutura inadequada dos boxes de artesanato, os quais são montados sobre os passeios no período noturno e removidos ao final da feira, produzindo conflitos entre os pedestres e tráfego geral; (ii) frequência predominante de turistas e jovens nas barracas de comidas e bebidas instaladas ao longo do passeio; (iii) espaço destinado à venda de peixes, com boxes ambientalmente inadequados; e (iv) equipamentos urbanos de apoio à comunidade local, com diferentes estruturas e dimensões, inadequados ao uso.

d) Quanto à circulação dos veículos: (i) grande fluxo de veículos de passagem pela avenida; (ii) elevado número de veículos individuais circulando pela área; (iii) insegurança no trajeto dos veículos destinados aos passeios de crianças, os quais circulam por toda a avenida (sentido oeste/leste), retornando pela Av. da Abolição, corredor arterial com grande fluxo de veículos (sentido leste/oeste); (iv) não observância da sinalização viária pelos motoristas (velocidade; área de

estacionamento; passagens de pedestres; e outros); (v) estacionamentos inadequados para os ônibus de turistas e táxis em frente aos hotéis.

e) Quanto aos idosos e pessoas com deficiências: (i) escassez de rampas nos passeios; (ii) pavimento inadequado para caminhada; (iii) deficiência e inadequação da sinalização viária e iluminação; e (iv) áreas de estacionamento em locais de difícil acesso.

f) Quanto ao ambiente: (i) pouca área arborizada; (ii) falta de manutenção das áreas verdes; (iii) poluição visual e sonora; (iv) ocupação dos passeios por vendedores ambulantes; e (v) faixa de praia não visível pelos transeuntes que caminham pelo passeio.

Com base na análise da área em estudo, da experiência da equipe técnica e nas premissas do edital para a promoção da acessibilidade e mobilidade das pessoas, optou-se, neste trabalho, por priorizar os modos de transporte não motorizado, por se tratar de uma área de grande concentração de pedestres e ciclistas. Assim, no desenvolvimento das ações, a principal atenção foi focada na equidade dos usos dos espaços públicos.

O novo desenho da Beira-Mar irá priorizar a reforma dos espaços dedicados à circulação de pessoas e, com isso, beneficiar turistas e usuários, que poderão passear livremente no local. O projeto contempla pavilhões de múltiplo uso,

playgrounds, quiosques de serviços, áreas dedicadas para esporte, skate park,

passarelas de pesca, implantação de ciclovias, construção de passeios e tratamento paisagístico e urbanístico em geral com instalação de um bonde elétrico.

Quadro 9 – Relação das denominações do projeto da Avenida Beira-Mar

Fonte: Levantamento do autor, 2013.

O novo desenho da Beira-Mar prioriza a reforma dos espaços dedicados à circulação de pessoas e veículos. Para isso, projeta-se inserir 1.600 espécies de plantas no local para amenizar o clima; hoje existem 1.200. O número de vagas de estacionamento aumentará em 20%. Atualmente, a região tem capacidade para 450

vagas e ganhará mais 90.