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1. PROCEDIMENTOS PRÉ-CONTRATUAIS GERAIS

1.1. CONCURSO PÚBLICO

248 Embora pareça ser esta finalmente a intenção do legislador, afigura-se-nos que o concurso público em duas fases é um no tipo de procedimento no ordenamento jurídico cabo-verdiano.

MARGARIDA CABRAL249 define concurso público como um procedimento administrativo formal e transparente de escolha do co-contratante e de escolha de uma proposta mediante o qual a Administração torna pública a intenção de contratar e as condições em que pretende fazer, auto-vinculando-se àquilo que anunciou e dispondo-se a aceitar, num regime de concorrência, a proposta do concorrente que considere mais vantajosa, no respeito pela igualdade entre todos os proponentes.

Apesar de se falar na escolha dos concorrentes (aqueles que reúnem os requisitos de admissibilidade – art. 37° do RJAP e art. 52° do RRJAP) e da proposta, o que está em causa afinal é o conteúdo da proposta em si e não as qualidades250 de quem a ofereceu, já que o critério de adjudicação é o da proposta economicamente mais vantajosa (art. 61°,n.°1 do RJAP e art. 99°,n.°1 do RRJAP). As qualidades relativas aos concorrentes, como a sua

experiência ou o volume de negócios, nada têm a ver com a proposta251.

É neste sentido que o art. 21°, n.º 2 do RJAP e o art. 69°, n.º 2 do RRJAP, definem concurso público, como o tipo de procedimento em que qualquer interessado que reúne os requisitos legais e regulamentares pode apresentar uma proposta.

O concurso público pode realizar-se em uma fase ou em duas fases252 (arts.22°, n.º 2 e

24° do RJAP, art. 84° do RRJAP e art. 47°, n.º 2 do RJEOP).

O concurso público é (independentemente do valor estimado do contrato) obrigatoriamente realizado em duas fases, nos seguintes casos : a) aquisições ―chave-na-

mão‖253 ou aquisições para grandes e complexos estabelecimentos ou obras, incluindo

complexa tecnologia de informática e comunicação; b) outras aquisições em que, pela sua complexidade técnica, não seja aconselhável ou razoável preparar, antecipadamente, a totalidade das especificações técnicas254; c) concessões de serviços públicos (arts.22°, n.º 2 e 24° do RJAP, art. 84° do RRJAP e art. 47°, n.º 2 do RJEOP).

249 CABRAL, Margarida Olazabal, O concurso público nos contratos administrativos, cit., p.17

250 Estas características, regra geral, são relevantes no concurso limitado por prévia qualificação (ver art. 70° do RRJAP). Entretanto os arts 55°,70°,72° e 96° do RJEOP exigem essas características, ou seja, a capacidade técnica (aptidão do concorrente, em termos de equipamento e pessoal - MARTINS, Ana Gouveia, «Concurso limitado por prévia qualificação», Estudos de Contratação Pública - I,Coimbra, 2008, p.240), e financeira do concorrente, pelas razões indicadas adiante nos procedimentos pré-contratuais especiais.

251 CABRAL, Margarida Olazabal, O concurso público nos contratos administrativos, cit., pp.76-77.

252 Contrariamente ao concurso público internacional que é um concurso público a titulo especial, porque o seu destinatário vai além dos interessados nacionais, parece-nos que o concurso público em duas fases, merecia autonomia e ser considerado um novo tipo de procedimento embora o legislador não o diga expressamente.

253 Aquisições Chave-na-mão, de acordo com o art. 1°, b) do RRJAP, são aquisições de obras públicas nas quais o contratado se obriga desde o desenho da obra, a construção, a provisão de materiais e equipamentos, a colocação em estado operacional e a garantia da qualidade, até ao seu completo acabamento, incluindo a transferência de tecnologia, se couber.

254

Cabe dizer que este requisito em nada se difere do previsto para o concurso limitado por prévia qualificação, que prescreve quando o objecto do contrato revista ―carácter especialmente complexo ou exija uma técnica particular‖ (art.71° e a respectiva remissão para o art.80° do RRJAP)

O concurso público pode ser nacional ou internacional255. O concurso público é nacional quando nele podem participar pessoas singulares ou colectivas256 domiciliadas no país e que reúnam os requisitos legais para a prática dos actos a que respeita o concurso. O concurso público é internacional quando nele podem participar tanto pessoas singulares como colectivas domiciliadas no país como as domiciliadas no estrangeiro e que reúnam os requisitos legais para o efeito (art. 79°,n.°s1 e 2 do RRJAP).

Se não se impuserem razões legais para um ajuste directo, podem ser realizados

concursos públicos internacionais, nos seguintes casos : a) quando seja obrigatório,

conforme o estabelecido em tratados internacionais de que a República de Cabo Verde seja parte; b) quando assim se houver estipulado em acordos de empréstimo subscritos com organismos internacionais multilaterais, ou acordos de cooperação bilateral; c)quando, segundo prévia investigação de mercado realizada pela UGA relevante, não exista oferta de interessados nacionais em contratar em relação aos bens, serviços ou obras, em quantidade ou

qualidade requeridas, ou seja conveniente em termos de preço; ou d) quando, realizando

um concurso público nacional, não se apresente proposta alguma ou nenhuma cumpra os requisitos estabelecidos (art. 79°,n.°3 do RRJAP).

A escolha do concurso público em função do valor estimado do contrato (art. 22°, n.°2 do RJAP, arts. 72° e 118° do RRJAP e art. 48° do RJEOP), obedece à seguinte regra : nos contratos de empreitada de obras públicas, o valor estimado do contrato tem de ser superior a 25.000.000$00 (vinte e cinco milhões de escudos)257 - arts. 2°, n.°1 e 48°, n.°2, b)

do RJEOP258-259; nos contratos de aquisição de bens e serviços o valor estimado do contrato

tem de ser superior a 5.000.000$00 (cinco milhões de escudos)260- art. 72°, a), ii) do RRJAP.

255 O concurso público internacional não é um novo tipo de procedimento, mas apenas um concurso público que a título especial está aberto a concorrentes estrangeiros (OLIVEIRA, Mário Esteves de, e OLIVEIRA, Rodrigo Esteves de, Concursos e Outros Procedimentos de Adjudicação Administrativa, Almedina, 2005, p.5)

256 Aqui a lei faz referência à pessoa física ou jurídica em vez de pessoa singular ou colectiva, o que parece ser uma distracção do legislador, porque uma pessoa física não deixa de ser uma pessoa jurídica (Ver MENDES, João Castro, Introdução ao Estudo do Direito, Lisboa, 1994, p.139).

257 Corresponde a 226.726 €.

258 Corresponde a 226.726 €. Aqui deve - se chamar a atenção que o art. 48° do RJEOP revogou tacitamente o limiar fixado em 10.000.000$00 (90.690€.) para o concurso público previsto no art. 72°, a), i) do RRJAP.

259 O art. 72°, a), i) do RRJAP, prevê nos contratos de concessão serviços públicos que o valor estimado do contrato tem que de ser a partir de 10.000.000$00 (dez milhões de escudos). Esta norma contradiz o previsto na alínea c) do art. 84º do RRJAP, que estabelece o critério material (independentemente do valor estimado do contrato) para a escolha do procedimento de concurso público em duas fases, neste tipo de contrato. Entendemos assim que dada a natureza do contrato de concessão de serviço público, a alínea c) do art. 84º do RRJAP, deve preferir-se em relação ao art. 72°, a), i) do RRJAP enquanto este não for revisto, fazendo uma interpretação correctiva em função do elemento sistemático (v. MARQUES, José Dias, Introdução ao Estudo do Direito, 2 ª Edição, Lisboa 1994, p.148. O mesmo se pode dizer em relação ao contrato de concessão de obras públicas previsto no art. 72°, a), i) do RRJAP e que contradiz a alínea c) do art. 84º do RRJAP. Sobre este mesmo tipo de contrato, o art. 47º,n.º 2 do RJEOP diz que ele deve seguir obrigatoriamente o concurso público de duas fases. Significa que, no contrato de concessão de obras públicas, o critério para a escolha do procedimento de concurso público em duas fases, é também o material e não o quantitativo.

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