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4.3 ANÁLISE TEXTUAL

4.3.4 Verbo auxiliar modal

4.6.4.1 Condições de práticas discursivas

A fim de compreender as condições de práticas discursivas, é necessário perceber que os textos são produzidos de maneira particular e em contextos sociais particulares. Reforçando esse posicionamento com os trabalhos de Goffman (1998), verificamos que o produtor pode ocupar um conjunto de posições: de animador (a pessoa que realiza os sons ou a escrita), de autor (o responsável pelo texto por ter reunido as palavras), de principal (aquele cuja posição é representada pelas palavras).

Semelhantemente à produção, os textos são consumidos diferentemente em variados contextos sociais. A produção e o consumo podem ser individuais ou coletivos. Os textos podem ser caracterizados por distribuição simples (conversa casual) ou complexa. Eles podem apresentar resultados variáveis, de natureza extradiscursiva e, ainda, discursiva (os atos de fala).

O consumidor também pode ocupar um conjunto de posições, e cada uma dessas posições pode também ser ocupada de forma múltipla: receptores (aqueles para quem os textos se dirigem), ouvintes ou leitores (aqueles para quem o texto não está dirigido diretamente, mas são incluídos) e destinatários (aqueles que não são considerados leitores ou ouvintes legítimos, contudo, são reconhecidos como consumidores de fato).

Para entender o contexto de Hilda Hilst faz-se necessário caminhar pela literatura no século XX, que investiu na relação do autor com o contexto social, que permeia a relação com o tempo e espaço. A característica fundamental nesse processo tinha como tarefa analisar o texto pelo texto, sem levar em consideração a possibilidade de uma intervenção subjetiva.

Outro fato importante era que o texto em si era entendido como verdade absoluta, uma palavra após a outra, numa composição de forma e conteúdo. O contexto pouco ou nada significava diante do objetivo textual.

A ideia de texto feito para o leitor aparece com a Estética da Recepção, que pode ser entendida como uma teoria que propõe uma reformulação da historiografia literária e da interpretação textual, procurando romper com o exclusivismo da teoria de produção e representação da estética tradicional, pois considera a Literatura enquanto “produção, recepção e comunicação”, ou seja, uma relação dinâmica entre autor,obra e leitor. Essa ideia foi difundida na Alemanha do final dos anos 60, que trazia a ideia de que o texto se realiza apenas na abertura ao leitor, não sendo, portanto e de forma alguma, algo fechado em si mesmo.

Outra vertente que aparece nesse período são os chamados Estudos Culturais, que aparecem na metade do século XX, e é nesse período que começa a surgir ou ressurgir a subjetividade. Na verdade, a missão de separar a produção literária de seu contexto espaço- temporal foi apenas um movimento academicista que representava as ideias das classes dominantes.

Os Estudos Culturais apareceram em Birmingham, na Inglaterra, com a tríade de livros

The uses of literacy (1957), de Richard Hoggart, em que questões sobre cultura popular e alta

cultura é que trás de volta o que havia se perdido com o realismo que era o retrato objetivo da realidade sem ter a preocupação com condições internas ou subjetivas do sujeito com o mundo exterior (HOGGART, 1998). A reconstrução da sociedade britânica aparece por meio do olhar dos oprimidos; surgem conceitos como “cultura degradada”. As obras literárias publicadas tinham como objetivo avaliar a origem dos operários e a relação social com o partido comunista. A ótica dos oprimidos estava na moda.

A subversão do cânone literário coloca no poder quem era dominado, traz a produção literária das minorias étnicas, sexuais ou econômicas. Esse novo paradigma possibilitou mudar o que parecia imutável: a noção de verdade absoluta, a ideia de que um conceito sempre é algo fechado em si.

Os grupos que estavam à margem, entre eles os negros, as mulheres e os homossexuais, começaram a aparecer e ter voz; o gênero feminino ganha um espaço crescente na literatura, trazendo legitimação para uma escrita proibida no decurso histórico, com o anúncio de uma nova visão de mundo no meio patriarcal.

A legitimação da escrita feminina no Brasil acontece com Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles etc. Hilda Hilst aparece com algo que se abebera na literatura barroca no contexto da modernidade, para, com facetas multiculturais, se contrapor à escrita elitista. Seu primeiro livro – “Presságio” – surge nos anos 50. O mundo vivia uma euforia com o surgimento da televisão e do cinema, as revoluções comportamentais e tecnológicas; o Brasil ganha a Copa do Mundo.

No ano seguinte (1951), Hilda lança o livro “Balada de Alzira”. Em 1952 conclui o curso Bacharel em Direito e, três anos depois, publica “Balada do festival”. No ano de 1959 publica o livro de poesia “Roteiro do silêncio e Trovas de muito amor para um amado senhor”. Os compositores Adoniran Barbosa (Quando te achei) e Gilberto Mendes (Trovas), entre outros, também se inspiraram em textos da autora. José Antônio de Almeida Prado, primo da escritora, inspira-se em poemas do último livro e compõe Canção para soprano e piano. Em outras oportunidades voltou a basear-se em textos de Hilda para compor alguns de seus trabalhos mais significativos.

Hilda Hilst mudou-se para a Fazenda São José, a onze quilômetros de Campinas (SP). Esse isolamento acontece pela influência da leitura da “Carta a El Greco”, do escritor grego

Nikos Kazantzakis. Entre outras teses, o escritor defende a necessidade do isolamento do

mundo para tornar possível o conhecimento do ser humano.

A escrita ligada ao feminino passava por períodos de oscilações, uma espécie de jogo entre aparecer e esconder, ou seja, aparecer significa a concretização de um discurso real em favor das minorias. Hilda aparece com sua escrita em vários momentos desse percurso histórico com uma literatura considerada por alguns críticos como algo difícil de entender. As décadas de 1830, 1870, 1920 e 1970 foram ocupadas por movimento feminino com a intenção de romper as barreiras da intolerância e abrir novos espaços para a escrita. Entre eles temos alguns momentos que são considerados relevantes:

Quando começa o século XIX, as mulheres brasileiras, em sua grande maioria, viviam enclausuradas em antigos preconceitos e imersas numa rígida indigência cultural.

1870 é a década que se considera do aparecimento espantoso de vários jornais e revistas de feição nitidamente feminista editados no Rio de Janeiro e em outros pontos do país, por isso pode ser considerado um período menos literário e mais jornalístico. Nos anos 60 a questão do feminismo supera a do feminino com a contribuição de Simone de Beauvoir e do movimento feminista, que emerge de forma consistente.

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