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4. ORIGEM E ESTRUTURA DA CARTA AFRICANA DOS DIREITOS

4.3 A ADOÇÃO DA CARTA NA CONFERÊNCIA DOS CHEFES DE

4.3.3 Condições Econômicas e sociais

Partindo da ideia de desenvolvimento econômico e social, que se caracteriza pela elevação do nível de vida das populações, a importância das infraestruturas e o desenvolvimento tecnológico têm como fator básico a cultura, caraterizada como modo vivendi de cada povo. Segundo os dados estatísticos ofíciais dos relatórios129

Recuando-se um pouco no tempo e espaço para situar as causas da pobreza e miséria das populações africanas, pode-se atribuí-las a dois fatores determinantes que são o comércio de escravos e a colonização. Esses são os dois marcos principais de desaceleração do desenvolvimento africano, como explica Ki-Zerbo

das Nações Unidas sobre os índices da pobreza, o continente africano figura-se no plano primário do atraso econômico e social. A extrema pobreza, a miséria, o analfabetismo, entre outras situações que caracterizam o modo de vida do dia-a-dia das populações africanas, demonstram a falência de políticas públicas eficazes de proteção às camadas sociais mais desfavorecidas da população, visualizadas pela má gestão da coisa pública. Tudo isso espelha, ainda, a ausência da proteção não só dos direitos cívis e políticos, como também dos direitos econômicos, sociais e culturais.

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Apesar de atribuir-se o atraso da África a esses dois fatores externos, como sustenta o autor citado acima, a África contribuiu também para o seu próprio declínio. Alguns grupos sociais africanos ajudaram a explorar a África. Tal é o caso dos líderes políticos africanos que assumiram o poder após a independência e apenas se comprometeram a satisfazer os seus

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[…], até o século XVI, houve equilíbrios viáves para a África com o exterior. Esse continente desempenhou um papel importante, sobretudo no nível econômico, em especial com o ouro do Sudão. Mas tudo ruiu a partir do século XVI, começando a estagnação, o declinio e a deterioração.

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WIKIPÉDIA. A inciclopédia livre. Relatório de desenvolvimento Humano 2009 do Programa das Nações

Unidas(PNUD)para o desenvolvimento.Disponível em http//pt.wikipédia.org/wiki/Programa_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Unidas para o Desenvolvimento. Acesso

em 19 de outubro de 2009- 130

interesses pessoais através da cumplicidade com as empresas multinacionais exploradoras dos seusrecursos naturais.

O Estado neocolonial africano foi substituído pelo setor privado, devido à pressão de instituições internacionais, como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) que exigiam cada vez mais uma estrutura estatal menor, sua descentralização. No entanto, o setor privado africano não estava solidamente implantado, por isso essa supressão do Estado deixou grande vazio.

O Estado não deve ser substituído por nada, pois ele tem grande papel a desempenhar na condução do desenvolvimento e progresso do país através das suas políticas públicas. Os atuais dirigentes africanos perderam a noção ou o hábito do Estado tradicional africano e também não se apropriaram do Estado moderno do tipo colonial, que apesar da sua barbárie tinha um modelo administrativo voltado para a população. Este fato conduziu à fragilidade ou deficiência no Estado Africano, o que na realidade abriu caminhos para uma espécie de caos que não se vive em qualquer parte do mundo.

A ausência de um Estado ideal na África criou espaços para os mais ricos e para aqueles que se apoiaram nos militares ascenderem ao poder e fazerem dele uma espécie de propriedade privada, apoderando-se de todos os bens. Nesta situação, o Estado nacional não tem significado para nenhum africano; ele é uma sequela do sistema colonial com a máxima barbárie sobre a população, sem respeito aos direitos civis e políticos, bem como econômicos, sociais e culturais.

A incapacidade do Estado em garantir os direitos civis e políticos impede a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais, pois que, do ponto de vista jurídico, a falta de um dificulta a realização de outros, tendo em conta que existe uma interdependência de um em relação ao outro, como ensina Rosa Có131

Este fato é mais notório durante os processos eleitorais em que se verifica a compra de votos por simples bens perecíveis de consumo imediato (comida, vinho, camisetas, entre outros). A alienação de consciência e a “fabricação” do voto étnico favorecem a eleição de dirigentes

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“O homem faminto não consegue ter mais que pensamentos básicos”, adapta-se ao caso dos direitos humanos, no sentido de que ele não consegue pensar em reclamar os direitos cívis e políticos, se lhe oferecerem um prato de comida em troca desses direitos.

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corruptos de um lado, e a cristalização de tensões sociais que acabam desembocando em conflitos étnicos sem precedentes por outro.

O acesso à justiça, dessa população pobre, por outro lado, torna-se restrito ou quase impossível, visto que não dispõem de meios de sustento diário e, muito menos, de arcar com as custas processuais. O pior é que o Estado não dispõem de meios de assistência judiciária gratuita a toda essa população.

A incapacidade do Estado de poder resolver os problemas econômicos, sociais e culturais cria situações de exclusão social da maior parte da população, gerando banditismo, prostituição, tráfico de drogas, assassinatos, dentre outros crimes. A fragilidade de estruturas de poder impedem que o Estado exerça sua autoridade por todo o território, favorecendo deste modo a criação de guetos, ou favelas, governados por suas regras próprias, fora do quadro juridíco estatal e internacional e pelas suas autoridades próprias, sustentadas pelas atividades ilícitas, às vezes, com meios disponíveis superiores aos estatais, impondo limitação a atuação do Estado nessas localidades.

A Guiné-Bissau é um país que, no quadro dos países ditos do terceiro mundo, não escapou do fenômeno da pobreza, da miséria e do analfabetismo. Segundo o documento do governo guineense adotado como estratégia para redução da pobreza no país (DENARP)132

Convencidos de que, de futuro, é essencial dedicar uma particular atenção ao direito ao desenvolvimento; que os direitos cívis e políticos são indissociáveis dos direitos

, 88% da população vive no limiar da pobreza (situação ainda mais alarmante e crítica para as populações das zonas rurais, onde a percentagem sobe para os 90%) e a taxa de analfabetismo é de 85%.

Este diagnóstico da Guiné-Bissau é extensivo a muitos países africanos. Portanto, se os direitos econômicos, sociais e culturais não constituem preocupações dos governos africanos e condições para o exercício dos direitos civis e políticos, também não deixam de constituir entrave para o seu próprio exercício haja vista que a Carta Africana dá uma atenção particular ao se referir no parágrafo 8º do preâmbulo à expressão ao direito ao desenvolvimento nos seguintes termos:

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Documento de autoridades guineense, na luta e redução da pobreza. 2008

Nove em cada dez guineense vivem no limiar da pobreza, dispondo de um dólar ou menos por dia (0,83 euros), revela o Documento Estratégico para a Redução da Pobreza na Guiné-Bissau (DENARP). Segundo o documento, elaborado pelas autoridades guineenses, 88 por cento dos guineenses vivem no limiar da pobreza, situação considerada "alarmante" e que mais critica nas zonas rurais, afetando mais de 90 por cento da população, cuja taxa de analfabetismo atinge os 85 por cento (Governo da Guiné-Bissau.A http://www.stat-

econômicos, sociais e culturais, tanto na sua concepção como na sua universalidade, e que a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais garante o gozo dos direitos cívis e políticos.

Portanto a precariedade de condições em que vivem as populações africanas - a miséria, fome, doenças, entre outras situações críticas - vislumbram a falta de boas políticas públicas e a má governação realizada pelos dirigentes africanos, condenando ao insucesso o sistema de promoção e proteção dos Direitos Humanos previsto na Carta e sonhado pelos Estados Africanos.

Pelo exposto, fica demonstrado que houve perda de consciência do Estado, após a independência, pelos dirigentes africanos, fato evidenciado pela instauração de regimes ditatoriais na África após esse período, que não contribuíram em nada para a efetivação dos Direitos Humanos. No entanto, o ocidente poderia ajudar a África através de políticas comprometidas com o desenvolvimento, de modo a facilitar o gozo efetivo dos Direitos Humanos neste continente.