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4 A VARIAÇÃO E A ELISÃO NO PORTUGUÊS

6.7 CONDICIONAMENTOS: ANÁLISE FINAL

Após a apresentação dos resultados referentes à análise estatística das ocorrências de elisão das vogais /a/, /e/ e /o/ em Porto Alegre e no Porto, foi possível confirmar a relevância dos aspectos prosódicos para o funcionamento das regras variáveis em estudo. Tem-se, pois, além da sacramentada importância do papel do acento – aqui discutida a partir do cruzamento entre a variável Qualidade Fonética da Vogal em Segunda Posição e a Incidência de Acento sobre a Vogal em Segunda Posição –, a comprovação sobre a influência das variáveis linguísticas Distância entre os Acentos e Fronteira Prosódica, ambas selecionadas como estatisticamente relevantes para a elisão das três vogais em estudo nas duas amostras consideradas. O resultado supracitado, acrescido da seleção da variável Tipo de Sequência – em que se tem como unanimidade o papel do tipo de vocábulo em primeira posição – confirma a hipótese inicial deste estudo, em que se considerou encontrar os mesmos condicionamentos linguísticos para os processos nas duas regiões, ainda que fosse esperada a diferença de frequência da regra, o que de fato ocorreu.

O comportamento, sob o ponto de vista estatístico, do processo de elisão das vogais /a/, /e/ e /o/ em Porto Alegre e no Porto, ao revelar os mesmos condicionamentos para as regras nas duas regiões em análise, ofereceu mais uma evidência linguística concreta para a posição de que PB e PE ainda sejam variedades de uma mesma língua. Além dos condicionamentos, a similaridade entre os contextos preferenciais para a aplicação, isto é, entre os fatores de maior favorecimento, reforça a hipótese de que não há argumentos para afirmar sobre um novo sistema em PB, seja condicionado por crioulização, seja por influência de outras línguas em contato (Seção 1.1)

Para a análise dos resultados encontrados, cabe privilegiar a discussão da atuação das variáveis Distância entre os Acentos, Fronteira Prosódica e, com relação à amostra do Porto, Faixa Etária. Serão apresentados, ainda, os resultados da verificação acústica, a partir da qual foi medida a Taxa de Elocução e confrontada a marcação prevista da fronteira prosódica com a pausa, pista acústica principalmente relacionada à fronteira de frase entonacional, a fim de associá-los aos resultados já apresentados. Para tanto, em 6.7.1 a seguir, serão descritos e discutidos os resultados encontrados a partir da análise da variável Taxa de Elocução, à qual, além do ritmo das duas variedades, pretende-se associar o resultado obtido para a variável Faixa Etária na amostra do Porto (PE). Já em 6.7.2, serão relatados os resultados referentes à incidência de pausa em fronteiras prosódicas previstas e construída a discussão em comparação aos resultados obtidos a partir da análise estatística da variável, que considerou a Fronteira Prosódica com base na Fonologia Prosódica (NESPOR e VOGEL, 1986) (cf. Seção 3.4). A comparação entre as duas amostras estará sempre presente, visto que constitui um dos principais objetivos deste estudo.

6.7.1 Taxa de Elocução

A amostra utilizada para a análise da Taxa de Elocução foi obtida a partir de verificação acústica da produção de sílabas por segundo em, aproximadamente, 2 minutos de fala de cada informante, conforme previsto na Seção 5.3. Diferente da amostra utilizada para a análise obtida a partir de registros de oitiva, a amostra da qual resultou a medida da Taxa de Elocução é resultante de material de dois informantes por sexo e por faixa etária de cada uma das variedades em estudo, conforme apresentado no Quadro 3 (Seção 5.3.1). A decisão por considerar uma amostra mais restrita foi baseada no comportamento regular apresentado pelo grupo quando realizada a análise da variável Faixa Etária no Porto e no fato de não haver relevância com relação à faixa etária em Porto Alegre. Cabe ressaltar que os informantes com comportamento diferente da sua faixa etária (Seções 6.4, 6.5 e 6.6) também tiveram a taxa de

elocução analisada, a fim de se verificar a hipótese de que haja uma relação com o papel social desempenhado pelos referidos informantes, que, por sua vez, estaria associado ao condicionamento linguístico suprassegmental, ou seja, influência da taxa de elocução dependente do papel social desempenhado pela faixa etária com a qual o informante se identifica.

A Tabela 34, a seguir, apresenta os resultados referentes à análise da taxa de elocução dos 12 informantes de Porto Alegre (PB).

Tabela 34 – Taxa de Elocução dos Informantes de Porto Alegre – RS (PB)

Informante Faixa Etária Gênero Duração Sílabas TE

PA 1 Jovem Feminino 121,18 565 4,66

PA 2 Jovem Feminino 120,47 574 4,76

PA 3 Jovem Masculino 124,60 576 4,62

PA 4 Jovem Masculino 117,50 535 4,47

PA 5 Adulto Jovem Feminino 123,29 591 4,79

PA 6 Adulto Jovem Feminino 126,30 603 4,77

PA 7 Adulto Jovem Masculino 129,12 613 4,74

PA 8 Adulto Jovem Masculino 122,34 571 4,66

PA 9 Adulto Feminino 127,40 607 4,76 PA 10 Adulto Feminino 124,41 597 4,79 PA 11 Adulto Masculino 126,67 589 4,65 PA 12 Adulto Masculino 122,01 567 4,64 Média Geral 4,69 Fonte: A autora (2013)

Como pode ser verificado nos resultados apresentados na Tabela 34, não há um comportamento que evidencie a relação da taxa de elocução com o papel social representado pelo informante, pelo menos no que diz respeito à faixa etária e ao gênero que o caracterizam. Espera-se, ao apresentar os resultados referentes à amostra do Porto (PE), identificar um comportamento característico da faixa etária que justifique as diferenças de aplicação entre os jovens, além de uma média geral mais elevada da amostra, confirmando a hipótese de que a maior produção de elisão no Porto (PE) está associada à taxa de elocução, visto que não foram encontradas diferenças com relação aos condicionamentos durante a análise estatística. A Tabela 35 a seguir apresenta os resultados referentes aos 12 informantes do Porto (PE).