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A Elisão de /o/ e Seus Condicionamentos

4 A VARIAÇÃO E A ELISÃO NO PORTUGUÊS

4.2 A ELISÃO À LUZ DA TEORIA DA VARIAÇÃO

4.2.3 A Elisão de /o/ e Seus Condicionamentos

A elisão da vogal /o/ a partir de dados do Varsul para as três capitais da região Sul foi investigada à luz da Teoria da Variação em dois momentos distintos: Vargas (2006), com amostra representativa de Florianópolis – SC, e Alencastro (2008), com amostras representativas de Porto Alegre – RS e Curitiba – PR. Assim como os demais estudos (BARBOSA, 2005; LUDWIG-GAYER, 2008 e VIANNA, 2009), as principais variáveis propostas pelas duas pesquisas foram construídas a partir dos estudos de Bisol (1996, 2002). Enquanto o resultado de Vargas (2006) revelou aplicação de 21% para a regra de elisão da vogal /o/ em Florianópolis, Alencastro (2008) obteve a frequência global de 18% para Porto Alegre e 21% para Curitiba. Tais resultados confirmam o comportamento semelhante dos falantes da região Sul do Brasil com relação à regra.

A seleção de variáveis apontou semelhança entre os estudos também no que diz respeito aos condicionamentos, já que apresentaram relevância, em ambos os estudos, as variáveis Classificação Morfossintática da Posição 1 e 2, Tipo de Item Lexical na Posição 1 e 2, Número de sílabas na posição 1 Qualidade da Vogal em Segunda Posição. Em Alencastro (2008) foi selecionada ainda a variável Constituintes Prosódicos, que não foi considerada por Vargas (2006).

Com relação às variáveis Classificação Morfossintática da Posição 1 e 2, não é possível realizar uma comparação adequada entre os resultados de Vargas (2006) e Alencastro (2008), porquanto foram constatadas divergências entre as duas metodologias para a classificação. Os resultados de ambos os estudos apontam, entretanto, que o favorecimento está totalmente relacionado ao Tipo de Item Lexical recorrente nas duas posições, cujos resultados obtidos em ambos os estudos atribuíram favorecimento aos itens como e quando na

primeira posição e ele, ela, é e era na segunda posição. Assim, há favorecimento significativo à aplicação de elisão da vogal /o/ em contextos como quando era criança, como é feito e

como ela diria.

Ainda que não tenha sido selecionada como variável de relevância estatística ao processo de elisão da vogal /o/, a discussão referente à variável Qualidade da Vogal Seguinte foi instigada, em Alencastro (2008), a partir dos resultados obtidos para Tipo de Item Lexical na Posição 2, que revelaram como principais favorecedores os itens lexicais cuja vogal inicial é uma coronal. A verificação da rodada de análise estatística da qual a variável fez parte, junto aos resultados mencionados para a variável Tipo de Item Lexical na Posição 2, encaminharam para a conclusão de que a vogal coronal é mais favorecedora ao processo de elisão da vogal /o/. A não seleção da variável durante a análise foi relacionada, em Alencastro (2008), à iteração com a variável Tipo de Item lexical na Posição 1, em que os fatores não coocorrem livremente. Corroborando os resultados obtidos por Vargas (2006), a elisão de /o/ em Porto Alegre e Curitiba é, também, favorecida quando a segunda posição é ocupada pela vogal coronal.

Bem como ocorreu na pesquisa de Barbosa (2005), o favorecimento da vogal coronal ε] ɲo fenômeno em estudo ocɲsionɲ o fɲvorecimento de contextos em que ɲ vogɲl em segunda posição é portadora de acento. É relevante ressaltar, porém, que se tratam de casos em que a vogal não é portadora do acento principal, mas de sequências em que há reestruturação da frase fonológica e o acento principal passa a incidir sobre o vocábulo mais à direita da frase. Assim, tem-se elisão em casos como “não sei como era → não sei como era

feito”. Associado ao fato de não se tratarem de ocorrências em que a vogal é portadora do

acento principal, está a exceção apontada por Bisol (1992) sobre a perda do acento em vogais coronais que iniciam palavras funcionais ou formas do verbo ser.

A variável Constituintes Prosódicos, não considerada na investigação de Vargas (2006), foi selecionada como relevante para o estudo de Alencastro (2008) e apontou, de encontro às considerações de Bisol (2002), como favorecedores os contextos formados sob o domínio do grupo clítico, resultado também encontrado por Vianna (2009) sobre a elisão da vogal /a/ em Florianópolis.

Após a revisão de ambos os estudos, cabe ressaltar novamente a relevância dos condicionamentos que dizem respeito à qualidade da vogal em segunda posição, do acento da vogal em segunda posição e dos constituintes prosódicos, visto que exerceram papel sobre o fenômeno em todos os estudos nos quais foram considerados. Corroborando o caráter

linguístico do fenômeno em estudo, as pesquisas sobre a elisão da vogal /o/ não apresentaram relevância com relação às variáveis extralinguísticas.

Sumariando, após a revisão dos pressupostos da Teoria da Variação Linguística e a discussão sobre estudos que contemplam a regra variável da elisão, pressupõe-se que a análise do fenômeno em estudo e a comparação dos resultados para as duas variedades aqui tratadas necessitam da realização de uma pesquisa à luz da Teoria da Variação, com a adoção dos mesmos procedimentos. Assim, além de preencher a lacuna ocasionada pela falta de um estudo nesses moldes sobre a elisão no Porto, licenciar-se-á a comparação dos resultados com a consideração de contextos idênticos e mesmas variáveis.

Cabe ainda destacar o caráter principalmente linguístico esperado para os condicionamentos ao processo, visto que as variáveis sociais não revelaram, até o presente momento, importância para a aplicação do fenômeno. Não obstante, como estão sendo consideradas duas variedades distintas da língua, em uma amostra inédita, é importante verificar a relevância de variáveis sociais para a presente pesquisa.

5 METODOLOGIA

Como explicitado na Introdução do estudo, pretende-se aqui comparar o processo de apagamento da vogal átona final em encontros vocálicos realizados em fronteira de vocábulos em duas variedades do português, de Porto Alegre – RS, no Brasil, e do Porto, em Portugal, a partir de uma amostra tratada à luz dos pressupostos teóricos e metodológicos da Teoria da Variação (LABOV, 1972, 1994, 2001). Na impossibilidade de uma abordagem completa das variedades de PB e PE, foram escolhidas as duas regiões para a constituição da amostra, uma representativa da variedade brasileira e outra da variedade europeia da língua portuguesa.

Conforme pôde ser constatado nos Capítulos 2, 3 e 4 deste estudo, o processo de apagamento de vogais em fronteira de vocábulos foi bastante estudado na variedade brasileira da língua, sobretudo a partir dos pressupostos teóricos da Teoria da Variação (LABOV, 1972). Os resultados apontam comportamento semelhante da regra variável nas variedades do português brasileiro cujas pesquisas foram relatadas na Seção 4.2. Conforme os pesquisadores, o apagamento em questão é um fenômeno de motivação linguística, cujo principal condicionamento está, até o momento, relacionado à restrição acentual e ao domínio prosódico.

A escolha de Porto Alegre para a coleta de uma amostra que possa representar a variedade brasileira da língua em estudo considerou, além da constatação de ser o processo um fenômeno de aplicação semelhante nas variedades do PB estudadas, o fato de ser a cidade em que está situada a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, instituição que abriga o Programa de Pós-Graduação para o qual foi proposta a presente tese. Com relação à escolha do Porto, justifica-se pelo convênio7 estabelecido entre Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Universidade do Porto, através do qual foi realizado pela pesquisadora o estágio em caráter de Doutorado sanduíche, no período de setembro de 2010 a fevereiro de 2011, quando se deu a realização das entrevistas de experiência pessoal que constituem a amostra do Porto. Ainda que os estudos anteriores forneçam evidências para conclusões de que o fenômeno ocorre de maneira regular entre as variedades do PB, é importante ressaltar que os resultados aqui obtidos não deverão ser generalizados e que, apesar de falar-se em uma comparação entre PB e PE, trata-se de uma comparação entre as variedades de Porto Alegre e do Porto, que poderá oferecer argumentos para a discussão sobre as divergências e similaridades entre a variedade brasileira e europeia da língua portuguesa.

7 2º Termo aditivo celebrado entre Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Universidade do

Na seção 5.1, a seguir, as duas regiões consideradas são apresentadas a partir de aspectos como história, população e economia. A seção 5.2 revela os detalhes da constituição da amostra a partir da qual foram coletadas as ocorrências para a realização da pesquisa, enquanto 5.3 contempla as variáveis dependentes e independentes consideradas. Em 5.4 são apresentados os instrumentos utilizados para a realização da análise estatística e para a verificação acústica das ocorrências, o GOLDVARB e o PRAAT versão 5.3.56, respectivamente.