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CONDUTAS COMUNICACIONAIS DO MUNÍCIPE

Meio/canal pelo qual se comunicou com o poder público telefone

CONDUTAS COMUNICACIONAIS DO MUNÍCIPE

Quadros 4, 5 e 6 – Condutas comunicacionais – grau de importância atribuído pelo morador

O conjunto de respostas mostra que os três grupos ordenaram os itens da mesma forma: 1º) observar e comunicar ao poder público; 2º) ser informado diretamente pelo poder público e 3º) esperar que os meios de comunicação divulguem o fato. A sequência indicada pelos grupos azul, laranja e verde, individualmente e em sua totalidade, aponta para valorização maior da postura proativa do cidadão quando este se depara com problemas ambientais no bairro.

Tal resultado não condiz com a postura pessoal declarada nas questões sobre ‘se e quantas vezes cada um havia contatado o poder público’, nas quais as respostas deixam claro que a proatividade não é tão valorizada assim, pois não se incorpora aos hábitos dos cidadãos. Coimbra (2004, p. 546) lembra que o brasileiro costuma agir (e as pesquisas confirmam) “seguindo a conjunção de ideias, sentimentos e ações, nem sempre em equilíbrio”, o que dificulta a percepção objetiva dos problemas ambientais e suas soluções. Matos (2011, p. 45) recorda-nos que a comunicação pública requer “a participação da sociedade e de seus segmentos: não apenas como receptores da comunicação do governo, mas principalmente como produtores ativos no processo comunicacional”, o que por enquanto não estamos encontrando, segundo nossos dados de campo.

Silvana, servidora pública, vê a necessidade de atitudes proativas tanto do cidadão comum quanto dos empresários e dos agentes do poder público:

“Sabe, a subprefeitura não pode ‘tá preocupada só em melhorias pra rua que tem comércio. Tem que ‘tá preocupada com os locais que são de moradia – e aí ‘cê me fala: ‘E o morador?’ O morador tem que se posicionar ali, não pode ficar falando ‘Ahhh...’. Ou o comerciante ou o agente de saúde: ‘Eu vou ficar aqui, quem quiser vir que venha.’ Que é isso? Não é assim.” (Silvana)

Em segundo lugar para os respondentes está a postura menos proativa – ou mais reativa − do cidadão que aguarda que o poder público venha ao seu encontro para fornecer informações. Esse aguardo pode ocorrer, pensamos, não somente por falta de proatividade, mas também por convicção sociopolítica de que é obrigação dos governos fornecer a seus cidadãos informações claras e de qualidade sobre os assuntos que dizem respeito à coletividade. Berna considera informação ambiental de qualidade aquela que mostra os fatos geradores da crise ambiental, promove a tomada de consciência por parte dos indivíduos e os leva a agir sobre as causas, e não apenas sobre os efeitos. “Um tipo de informação que mostre

as raízes de nossos problemas ambientais, e que não apenas reforce uma visão romântica do quanto a natureza é linda ou vítima de nossa ganância” (BERNA, 2010, p. 20).

Em última posição nas escolhas dos munícipes está a ideia de passividade, representada pela espera da comunicação do tipo ‘o que vier’ e ‘se vier’ a respeito dos problemas ambientais com os quais convive cotidianamente. Uma espécie de desejo da “proação terceirizada”, diríamos, parece estar por trás dessa escolha, como a justificar de algum modo a inação revelada há pouco. Talvez derive, como disse Goothuzem (2009, p.1), do contato com alguns dogmas ambientais (por exemplo, ‘é importante cuidar da natureza, mas eu não tenho tempo ou disposição para me envolver’).

Tal derivação contribuiria para formar representações da relação homem-ambiente menos personalizadas e mais contaminadas pelos meios massivos. Esse autor registra também uma crítica à crença em que as inovações tecnológicas por si só poderão resolver as mazelas ambientais (outro dogma), porque representa o “alívio de saber que alguém está fazendo algo. [...], o que traz conforto e dispensa a ação”. Em nossa pesquisa, incluímos, inicialmente, perguntas a respeito dessa possível crença majoritária no poder de a tecnologia ‘tudo resolver’ – inclusive as mazelas ambientais; no entanto, em nome da centralidade pretendida em torno dos fluxos de comunicação que pretendíamos analisar, preferimos deixar essa vertente para uma próxima investigação.

Retornando à nossa linha analítica, da observação desses resultados fazemos ponte com Higuchi e Kuhnen (2008, p . 182): existe um desafio em entender as mediações humanas no que tange a seu modo de pensar sobre o meio, com o objetivo de “ultrapassar valores que vêm levando à degradação humano-ambiental, dando lugar a formas de cuidado ambiental e participação social”. Percebemos que a questão da proatividade no campo ambiental, para além de ser uma simples decisão sobre tomar a iniciativa de contatar um órgão público, liga- se de maneira indiscutível ao tipo de informação a que os cidadãos têm acesso sobre o meio. Primeiramente, então, é necessário conhecermos quais os meios pelos quais os cidadãos do distrito pesquisado costumam receber informações ambientais locais.

Observando-se as respostas da totalidade dos moradores no gráfico da página 165, nota-se que os meios massivos não impressos representados pela internet e pela televisão ocupam os dois primeiros lugares na ordem de escolha. Em terceiro lugar, vemos a menção a um meio individualizado: as conversas com conhecidos e vizinhos.

“As nossas conversas e discussões com amigos e colegas”, afirma Duveen (2011, p. 8), tanto quanto aquilo que circula na mídia escrita (e, acrescentamos, na mídia televisiva, radiofônica ou de internet, com seus inúmeros dispositivos), fazem parte do processo no qual podemos observar como “as representações ilustram o papel e a influência da comunicação em nossas vidas”. Sendo “o principal meio para estabelecer as associações com as quais nos ligamos uns aos outros”, bem como para percebermos e analisarmos nossa realidade cotidiana, as representações são “sustentadas pelas influências sociais da comunicação”.

A escola, que aqui incluiremos na categoria meios coletivos mediadores80 aparece em quarto lugar, seguida dos jornais de bairro, que chamaremos meios impressos locais (em quinto lugar), e do item ‘não costumo receber informações desse tipo’, ocupando a sexta posição. Os demais meios vão-se organizando na ordem decrescente apresentada no gráfico. Dois dos resultados relatados do primeiro ao sexto lugar chamaram-nos atenção: primeiramente, o índice de indivíduos que declararam não receber informação ambiental aparece bem antes de outras quatorze possibilidades de obtenção de informação ambiental; em segundo lugar, como há um grande número de estudantes entre os respondentes (102 do ensino médio e fundamental, mais outros tantos da Educação de Jovens e Adultos), esperávamos que a escola estivesse mais bem posicionada no ranking – ao menos em terceiro lugar, já que os dois primeiros não surpreendem: são ocupados por meios de comunicação de massa.

No intuito de aclarar as mediações preponderantes, montamos um quadro com os tipos verificados nos dados recolhidos, acompanhados de numeral ordinal indicativo da posição de cada forma de comunicação no ranking:

80 Consideramos ‘coletivos mediadores’ os meios nos quais a disseminação e o processamento de informações se dão a partir de uma matriz coletiva de distribuição/apropriação, representada por instituições de diferentes naturezas – tais como parques, igrejas, clubes, ONGs, associações culturais, esportivas (e outras), postos de saúde, conselhos, escolas. Até mesmo estabelecimentos comerciais/industriais podem se transformar em coletivos mediadores.