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Quanto às informações sobre meio ambiente local a que tem acesso

não

responderam

10,53 35,09 50,88 3,51 19,35 41,94 37,1 1,61 33,33 30 33,33 3,33 21,23 35,75 40,22 2,79

Quanto às informações sobre meio ambiente local a que

tem acesso...

ADULTOS JOVENS EM JOVENS EF TOTAL

Nos três grupos pesquisados, a maioria declara não receber/não ter acesso a esse tipo de informação, somando 40,22% do total de respondentes, com destaque para o grupo dos adultos, para o qual esse percentual alcança 50,88%. Quanto aos que consideram insuficientes as informações recebidas, também é bastante alto o percentual dos grupos adultos e jovens do ensino médio em relação ao daqueles participantes que consideram suficientes os conteúdos que lhes chegam, com destaque para o percentual dos alunos do ensino médio: 41,94% declaram insuficientes as informações recebidas. O grupo dos jovens de ensino fundamental apresenta igual percentual de respostas nas opções ‘suficientes’ e ‘não tem acesso’ (33,33) e uma porcentagem parecida na opção ‘insuficientes’ (30%), mostrando- se, talvez, o grupo mais dividido nessa reflexão.

Se pensarmos na suficiência como uma espécie de satisfação com relação à qualidade da informação recebida, veremos que os dados confirmam a visão de Berna (2010, p. 19): para ele, “a quantidade de informação ambiental de qualidade ainda é bastante limitada” e “enquanto uma pequena parcela da população recebe esta informação de qualidade, a grande maioria permanece na ignorância sobre os perigos e as alternativas ambientais”. Esse estado de coisas ocorre, segundo o ambientalista, porque estamos longe de acessar 5% da população brasileira com a somatória de todas as tiragens dos veículos de mídia ambiental e mais os acessos a sites e portais de meio ambiente.

Ou seja, embora inúmeros canais – inclusive os não-especializados, citados amiúde nos resultados de nossa pesquisa – contribuam para disseminar informações de cunho ambiental, o alcance geral não é representativo, sobretudo se observarmos as insistentes degradações do ambiente em nosso país, em nossas cidades, ou, ainda, em regiões específicas da malha urbana metropolitana – como a que mantemos em mira neste momento. Berna (2010) também assinala que as lideranças da sociedade civil já dão mostras de sua preocupação com a falta de informação ambiental, incluindo-a entre os três principais problemas brasileiros com relação ao meio ambiente82.

No distrito de Vila Medeiros, observamos algum movimento no sentido de busca e repasse de informações por parte de representantes de algumas entidades locais, todavia não contemplaremos a discussão pormenorizada dessa vertente no presente estudo. Ainda assim, julgamos coerente aproveitar essa ponte para trazer à análise o grau de participação dos moradores em atividades ambientais proativas. Essa análise nos permitirá entender com mais

precisão a construção de sentidos ambientais urbanos no locus de pesquisa, a partir dos desdobramentos educomunicativos que aí se materializam. Um grande número de respostas negativas emergiu da pergunta: ‘Você já participou de algum projeto para melhoria do meio ambiente local?’, conforme visualizamos abaixo:

Gráfico 16 – Participação em projeto público ou privado para melhoria do meio ambiente local

A predominância do ‘não’ evoca uma lacuna no processo de participação popular na tomada de decisões no campo ambiental urbano, comprometendo a construção de uma comunicação pública genuína, que exige, conforme visto em Matos (2011, p. 45), “a participação da sociedade e de seus segmentos: não apenas como receptores da comunicação do governo, mas principalmente como produtores ativos no processo comunicacional”. E existem canais, de acordo com os servidores entrevistados, pelos quais é possível participar:

“A gente tem projetos na região [...] tem um projeto de participação da comunidade, cursos, palestras, oficinas, várias outras atividades.[...]ou a gente já leva pro público um projeto que a gente já tem ou então o público solicita um projeto da gente”. (Odair)

“É uma rede. Por exemplo, tem atividades feitas no parque, em algum parque, que manda pra gente, a gente pega e dispara e encaminha pros nossos contatos, então cada um vai encaminhando um pro outro. Tanto é que tem programas e projetos que a gente faz aqui no

nosso território [Zona Norte] que vem gente da Zona Leste participar. Como que o pessoal da Zona Leste ficou sabendo? De alguma forma, ou o amigo passou pra ele, ou alguém encaminhou o e-mail pra ele, então de alguma forma ele teve esse contato” (Odair).

“[...] Quando são muito pequeninhas [as crianças, em projetos ambientais desenvolvidos nas escolas] aí tem teatro, tem contação de histórias” (Adeliana)

“[...] gerente de posto de saúde gosta muito de fazer trabalho com a comunidade; liga pra gente e se informa das nossas ações, o que a gente tem planejado, quais palestras a gente pode aplicar. Então também tem esse canal”. (Odair)

“Aqui no CADES Santana83

também tem uma pessoa, o nome dela é Fernanda, ela tem... não tem uma ONG, mas ela tem um projeto − não tem uma ONG porque não é...não tá instituída, mas é como se fosse. Tem um projeto que chama Juventude Ecológica, que ela busca trabalhar com os moradores, com as crianças, os moradores do Singapura Zaki Narchi84, do lado do parque da Juventude. Então a gente tem um trabalho muito legal com eles que é fazer educação ambiental dentro do parque com essa comunidade. Então a gente vai lá, oferece oficinas de cultivo de recipientes, faz percurso com eles no parque, conversa sobre cidadania, conversa sobre a arborização. E a gente conheceu a Fernanda no conselho e a Fernanda convidou a gente através do conselho.” (Odair)

“Então, tem escolas que até ligam pra gente, pra gente oferecer palestras e fazer atividades com as crianças [...]...nós tínhamos um teatro que infelizmente agora com alterações de serviço esse teatro se desfez, e... mas a gente tá tentando ver se resgata, porque era uma forma de comunicação muito bacana, pra surtir efeito na criançada. Era um teatrinho que a gente falava “da dengue” mas às vezes a gente começou a colocar outros pontos também de saúde ambiental no meio, né? E criança adora, adoravam lá o dia que o pessoal ia pra lá – e os agentes também, sentindo que tinham essa atenção toda da criançada se animavam, tal.” (João)

João também aponta um óbice a ser vencido no caso da participação via escola:

“Agora... tem escola que...não sei se por conta de cada direção também - tem escola que a gente tenta ver se faz alguma atividade que é em prol do coletivo, tal, e eles fecham as portas. [...] nós tivemos inclusive recentemente um levantamento, um inquérito que foi nacional de...

83 Distrito vizinho.

84 Conjunto habitacional popular construído no local da antiga Favela Zaki Narchi, localizada entre os bairros de Vila Guilherme e Santana.

levantamento de verminoses e foram sorteadas − isso pelo ministério, isso no Brasil inteiro − foram sorteadas algumas escolas e dentro dessas escolas algumas salas de aula. E o agente antes vinha e explicava da importância, falava sobre, [...] conversava com os pais, os professores também, sobre as verminoses, tal, e a adesão foi muito baixa; as escolas particulares, a gente - aqui da nossa região - a gente teve que fazer outro sorteio porque elas não aceitaram trabalhar e nas públicas a gente esperava uma adesão bem maior e...não foi muito legal não.” (João)

As observações de João conectam-se a um impedimento preocupante, mencionado por Loureiro, Layrargues e Castro (2008, p. 31), do qual voltaremos a falar ao longo dessa discussão: a “desvinculação com os problemas da vida fora das escolas”.

Adeliana, em outro viés, argumenta sobre um cuidado a tomar quando se trata de participação via ONGs e instituições congêneres. Para ela, quando a instituição é do bairro ou da região, a taxa de sucesso dos projetos é muito maior. Do contrário, isso não ocorre:

“Houve uma experiência, há dois anos, três ou mais, chamou-se ‘chamamento’. Então a secretaria ela elencava alguns distritos; os critérios desses distritos foram estabelecidos pelo pessoal da educação ambiental [...] e aqui na zona norte foi escolhido [...] o distrito Anhanguera, pra se fazer uma arborização, porque sempre − isso desde a época do projeto um milhão de árvores, do programa dois milhões de eucaliptos, com todos os seus...as suas características negativas, né, − o grande problema foi a comunicação com a população. Foi o chegar e arborizar e ter sucesso nessa arborização com a participação da população, então contratou-se algumas organizações não governamentais pra desenvolver esse processo de educação ambiental. Contudo, no nosso caso, da região norte, foi escolhida uma organização − e eu não vou saber dizer quais foram os critérios dessa escolha,− que não tinha um histórico na área. Ela chegou pra desenvolver esse projeto, então ela não tinha essa forma de comunicação com a população de lá. E aí...não teve essa mobilização, né? Ia nas escolas, as escolas não ‘tavam interessadas, as unidades básicas de saúde...[...] hoje os agentes comunitários de saúde são fatores muito importantes nessa comunicação e a gente tem um programa, Ambientes Verdes e Saudáveis, que faz essa interface aí. Eles também não tinham, naquela época, essa vivência, esse conhecimento e... foi um... não foi um programa de sucesso, não foi um projeto de sucesso esse ‘Chamamento’, porque a organização não ‘tava preparada, não tinha orientação de como desenvolver, talvez. E no fim foi um plantio normal, como se não tivesse educação ambiental junto”. (Adeliana)

Constatamos nesse excerto a presença de uma análise da mediação das instituições que nos parece fundamental e que guarda relação com a observação de Orozco Gómez. As audiências, que antes pertenciam às diversas instituições sociais e se subordinavam naturalmente a suas mediações, não o fazem mais com tanta facilidade. Orozco (2006, p. 89) escreve: “ [...] muito importantes na definição e orientação das produções de sentido, como a escola ou o Estado, por exemplo, agora essas instituições típicas da modernidade e do século passado perderam força”. E a dificuldade se torna ainda maior, como depreendemos da fala de Adeliana, se as instituições mediadoras locais (nas quais estaria a esperança de transformação urbana) não se interessarem por participar ou se, por não participarem de seu cotidiano, não forem significativas para uma determinada comunidade. De todo modo, é preciso insistir em formas de fazer a sociedade civil participar, para o que Silvana chama a atenção:

“[...] quando você tem alguma coisa pra mexer no distrito de V. Medeiros você diz assim: ‘Ah, vamos chamar sociedade organizada em si”, porque você sabe que não adianta querer fazer sozinho, ahn, primeiro porque esse não é o princípio hoje de diretriz da gestão pública.”

Há, porém, um aspecto fulcral levantado pela servidora Silvana: embora a gestão pública tenha exercitado uma abertura cada vez maior à participação popular, persiste uma lacuna relacionada à postura de alguns servidores públicos diante dessa possibilidade de abertura:

“A gestão pública ela já tem o sentido da descentralização e a participação popular já inserida há muitos anos. ‘Cê vai me dizer por que que isso não acontece? Na minha humilde concepção por duas razões: a primeira eu acho que tá vinculado ao servidor público. Ainda nós temos muitos servidores públicos que têm esta enorme dificuldade de entender que o serviço no qual ele trabalha existe para e por causa do cidadão e aí ele fica com uma dificuldade muito grande de trabalhar com a população junto de si. Então acho que ainda nós temos que fazer um trabalho ainda muito grande em cima desse prestador de serviço.”

Tal aspecto remete a Jaffray (1981, citado por FURRIELA, 2002), que inclui entre os obstáculos para se chegar a uma participação de qualidade o excesso de procedimentos burocráticos, alguns extremamente restritivos, implicando o não entendimento do público sobre eles, bem como a falta de cooperação de administradores públicos que não apreciam a

participação popular – veem-na como suspeita. Configura-se, pois, entre os fluxos comunicacionais que são nosso objeto de investigação, a necessidade de uma intervenção na forma de o servidor enxergar o contato amiudado com o munícipe.

“Quem faz [a ponte com o cidadão] são essas as... são essas as pessoas que precisam ser sensibilizadas [funcionários do serviço público resistentes a...], eu vejo por alguns colegas que trabalham em unidade básica de saúde. ‘Ai, mas é um saco, a população enche o saco!’ Mas ela tem que encher! É isso que eu digo: esse serviço existe por causa dela e pra ela, então [...] ela tem que estar totalmente inserida e ocupando o espaço que é dela. Então, eu acredito muito no conselho gestor. O conselho gestor é um mecanismo que a gestão pública descobriu pra trazer junto de si o usuário de todo e qualquer serviço...o cidadão” (Silvana)

Sem enveredar ainda mais pela discussão (instigadora, diga-se de passagem) sobre a dificuldade de alguns servidores em trabalhar ‘junto com’ a população, dirigimos o olhar para o que os excertos apontam em termos de abertura crescente do poder público à participação cidadã. Jacobi (2008, p. 18) pontua sobre o aspecto positivo representado pelos “esforços de fortalecimento do espaço público e de abertura da gestão pública à participação da sociedade civil”, como forma de vencer “barreiras que precisam ser superadas para multiplicar iniciativas de gestão que articulem eficazmente a democracia com a crescente complexidade dos temas objeto de políticas públicas”. No distrito Vila Medeiros, entretanto, a deduzir de visões dos moradores que ora analisamos, aparece como mais comum a postura de afastamento do cidadão em relação ao poder público.

Silvana sugere um encaminhamento importante:

“pra mim o grande nó é... não é nem que tá só do lado da gestão, nem do lado do cidadão; eu acho que tá no meio do caminho atravancando, ah, como se fosse uma pedreira que tem que ser removida de ambos os lados, tanto do lado da gestão quanto do lado do cidadão; não dá pra você ter essa pedreira no meio e eu acredito que só... a gente só remove essa pedreira, o serviço público, né, a gestão, através da implementação de políticas públicas, no sentido de estratégia política enquanto estratégia pra tentar diminuir essas diferenças, mas precisa que o cidadão cave o seu lado da pedreira pra remover” (Silvana)

O cidadão, ao que tudo indica, ainda não se animou a pegar a pá para cavar o seu lado da pedreira. Isso pode estar acontecendo porque a divulgação da possibilidade de demanda por serviços públicos ambientais permanece restrita – nesse caso, urge ampliar ações educomunicativas governamentais que não só informem o cidadão sobre a possibilidade de solicitar serviços mas também o estimulem nessa direção. Sem solicitações da população, o processo de encontro com o poder público com vistas a resolver problemas ambientais praticamente não se opera, dado inclusive o fato de que a estrutura interna dos serviços públicos que oferecem, por exemplo, educação ambiental, ainda é bastante restrita em comparação às necessidades do município. Não existe, por enquanto, a possibilidade de trabalhar por distritos, pois a equipe de educação ambiental, composta por cinco profissionais efetivos, no caso do núcleo de gestão ao qual pertence o distrito Vila Medeiros, tem de atender a quatro subprefeituras, cada qual com seus vários distritos.

“Se cada núcleo descentralizado - nós somos dez núcleos descentralizados – cada núcleo atua em quatro subprefeituras. Se talvez fosse um núcleo por subprefeitura, talvez o trabalho fosse...desse mais pra gente ramificar aí. Então nós somos cinco técnicos efetivos, efetivos não, é...faz parte do quadro de funcionários da prefeitura pra atuar num território amplo de quatro subprefeituras”. (Odair)

Uma demanda intensiva, fruto do interesse despertado do cidadão por qualidade de vida (mecanismos educomunicativos guardam potencial amplo para despertar esse interesse), poderia gerar um projeto de ampliação de equipes de educação ambiental. Isso contribuiria tanto do ponto de vista do trabalho dos servidores para servir a tantas regiões com uma pequena equipe, quanto do ponto de vista do retorno desse trabalho em forma de chamado ao envolvimento da população e em ampliação da qualidade de vida para o munícipe.

“A Vila Medeiros ela faz parte deste conglomerado; muito pontualmente a gente ainda não tem nenhuma ação feita, porque ainda a gente não teve nenhuma solicitação, mas quando a gente tem, a gente quer que esse grupo se envolva na política pública da subprefeitura, que é uma forma de administrar, isso é administração pública. É uma forma de administrar o território a partir da subprefeitura. Então a gente tem que ver como um todo, e não como pontos isolados, então a gente evita ver como pontos isolados, mesmo porque a nossa

estrutura não é muito eficaz para atender essas demandas, mas a gente atende, da melhor forma possível”. (Odair)

Vemos manifestada no excerto a ideia do envolvimento do cidadão na política pública da prefeitura (TERRITÓRIO CIDADÃO, 2011) . A operacionalização desse processo passa por diversas frentes, todas vinculadas, a nosso ver, a fluxos comunicacionais: para haver demanda de serviços, é preciso que os munícipes os conheçam e os solicitem por meio de um canal de comunicação; para que a demanda seja atendida, é preciso haver múltiplas equipes, capazes de estabelecer as pontes necessárias entre poder público e cidadãos. Outras duas frentes essenciais incluem, como mencionou Silvana, a mudança de mentalidade de alguns servidores não afeitos ao trabalho conjunto com os munícipes, bem como a tomada de providências mais diretas no que tange à não interveniência cidadã nos assuntos socioambientais por conta da passividade dos moradores.

Os resultados que estamos verificando em nossa investigação, quanto à passividade, aproximam-se daqueles alcançados por Jacobi (2008), em pesquisa realizada no ano de 1995: a maioria dos habitantes dos domicílios paulistanos está ciente das soluções e possibilidades existentes para minimizar os impactos negativos advindos da degradação ambiental. Não obstante essa percepção exista, nota-se que, em termos gerais, os moradores aceitam a convivência com agravos e, ademais, assumem uma atitude passiva diante do problema (JACOBI, 2008). Novicki (2007) ressalta os desafios para que a educação ambiental logre construir preocupação com o meio sob um ponto de vista crítico. No encalço de uma práxis social transformadora, reflexão (consciência ambiental) e ação (participação na esfera pública) precisam constituir-se uma única frente.

Imaginamos nós o elo faltante entre reflexão e ação: uma comunicação ambiental que leve o morador a ‘querer intervir’ em favor da qualidade do meio onde habita. Para isso, é preciso que ele sinta que essa comunicação existe e gera efeitos proativos replicantes, o que parece ainda não ocorrer, conforme comprova o gráfico na página a seguir:

Gráfico 17 – Opinião do munícipe quanto à comunicação ambiental que chega hoje à sua região

Os dados do gráfico 17 deixam clara a reflexão associada a ‘teoria e práxis’ feita pelo