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Capítulo I – A sistemática do Código de Processo Civil para solução dos problemas

I. 2.3.2.4 Proposta de aproximação

I.4. Identidade total e parcial de ações

I.4.3. Conexão

Decorre do artigo 103 do CPC que duas ações são conexas “quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir”. A identidade ou a semelhança deve recair, pois, sobre os elementos objetivos das demandas.

Embora CHIOVENDA tenha dito que “a simples circunstância de haverem duas causas em comum o mesmo elemento subjetivo, ou, por outra, correrem entre as mesmas

pessoas, não basta a fazerem-se considerar como conexas em sentido próprio”93, BARBOSA MOREIRA, ao tratar do artigo 103 do CPC, explica que a teoria dos três elementos não recebeu, quando da edição do Código, “consagração na sua forma pura”, de acordo com a qual seria necessária e suficiente, para configurar a conexão, a coincidência das causas em qualquer um dos elementos (pernonae, res, causa petendi). Aduz o autor

92

Nesse sentido, GABBAY, Daniela. Processo coletivo..., op. cit., p. 45, citando DINAMARCO. Capítulos de sentença. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 59.

93

que “o Projeto e o Código passaram a contentar-se com a coincidência ou no objeto, ou na causa de pedir, silenciando quanto às partes”94.

MONIZ DE ARAGÃO, citado por CRUZ E TUCCI, afirma que para caracterizar- se a conexão, é indiferente que os elementos ‘comuns’, exigidos pela lei, sejam, ou não,

idênticos. Tanto poderá ocorrer identidade entre um, ou dois, deles, como poderá dar-se de

serem ‘comuns’, isto é, semelhantes. “A comunhão ou semelhança, pode levar a identidade parcial. Assim é que são ‘comuns’ as ‘ações’ se em uma delas a causa petendi imediata for a mesma, embora seja diversa a causa petendi imediata”95.

Uma vez constatada a ocorrência de conexão, o artigo 105 do CPC dispõe que “o juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunião de ações propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente”. Referido dispositivo segue a regra básica segundo a qual todas as causas que se poderiam propor unidas podem, a fortiori, unir-se, se propostas em separado96. A reunião das causas visa, em síntese, à decisão delas com uma única sentença (simultaneus processus), tendo em vista que “os nexos existentes entre elas aconselham solução harmônica, o que equivale a dizer contemporânea”97.

A reunião das demandas conexas para julgamento simultâneo justifica-se tanto pela economia processual que representa, quanto pelo efeito de evitar a prolação de decisões contraditórias, que pode gerar a ineficácia das decisões judiciais. Com efeito,

A possibilidade de que duas questões conexas venham a ser objeto de decisões distintas acarreta situação de extremo desconforto para o Poder Judiciário, ao expor um de seus maiores problemas, que é justamente o de controlar a existência de demandas conexas e a possibilidade de que venham a ser objeto de decisões que possam ocasionar conflitos ou contradições 98.

94

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A conexão de causas como pressuposto da reconvenção. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 124.

95

MONIZ DE ARAGÃO. Conexão e ‘tríplice identidade’. Revista de Processo, 29 (1983):55. Apud TUCCI, José Rogério Cruz e. A causa petendi..., op. cit., p. 214 (g.n.).

96

CHIOVENDA, Giuseppe. Principii di diritto processualie civile. Nápoles: Jovene, 1928, p. 556.

97

CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições..., op. cit., v.II, p. 303.

98

Quanto à obrigatoriedade da reunião para julgamento conjunto, a doutrina diverge, especialmente em razão da expressão “pode” empregada no artigo 105 do CPC. NERY & NERY entendem que se trata de matéria de ordem pública, de forma que “o juiz é

obrigado a determinar a reunião de ações conexas para julgamento, nada obstante esteja

consignado na norma ora comentada que o juiz ‘pode ordenar’”99. Para os autores, o comando emergente do CPC 105 é cogente, tanto que o artigo 253, I, do CPC, determina a distribuição por dependência quando os feitos se relacionarem por conexão ou continência.

No mesmo sentido, THEODORO JR. confirma ser de ordem pública o princípio que recomenda o julgamento comum das ações conexas, para impedir decisões contraditórias e evitar perda de tempo da Justiça e das partes com exame de questões em processos diferentes. Segundo o autor, “não pode, por isso, o juiz deixar de acolher o pedido de reunião de ações”100, advertindo que poderá haver “nulidade da sentença que julgar separadamente apenas uma das ações, se se verificar, de fato, o risco de julgamentos conflitantes”101.

A posição, contudo, não é unânime, como se verá mais adiante no Capítulo IV.

É preciso mencionar, ainda, os efeitos da conexão sobre a competência, pois, embora ela não constitua, em si, um critério de competência, ela se revela um critério de deslocamento da competência. De fato, quando as causas a serem unidas couberem a juízos distintos, o simultaneus processus influirá nas regras de competência, tendo em vista que, nesta hipótese, um dentre os diferentes juízes deverá julgar as causas unidas e, assim, passará a ter competência em causas para as quais não era (relativamente) competente. “Constitui-se, então, o fórum connexitatis materialis (fórum continentiae causarum ex

identitate fundamenti agendi personali em caso de litisconsórcio)”102.

99

NERY JR., Nelson, NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, nota 7ª ao art. 105 do CPC.

100

THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 167.

101

Idem, ibidem.

102

CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições..., op. cit., v.II, p. 303. No mesmo sentido, CRUZ E TUCCI salienta que “A causa de pedir assume papel fundamental para a fixação da competência ratione materiae. E, em inúmeras hipóteses, a conexão pela causa petendi é motivo suficiente para a prorrogação da competência tácita ou legal, ensejando que o juiz, em princípio relativamente incompetente, transforme-se em competente” (In A causa petendi..., op. cit., p. 220 – g.n.).