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e internacionalização – UNESCO (2003)

Jorge Werthein, representante da UNESCO no Brasil, na apresentação dos Anais do Encontro Parceiros do Ensino Superior, intitulado Educação superior: reforma, mudança e internacionalização (UNESCO, 2003a), salienta que considerou importante colocar à disposição da comunidade universitária brasileira esses Anais como forma de contribuir com a realização do Seminário Internacional Universidade XXI aqui no Brasil. Para Werthein (UNESCO, 2003a), a chegada de Cristovam Buarque ao Ministério da Educação no Brasil trouxe para a agenda política a temática da reforma da universidade.

O objetivo do Encontro dos Parceiros do Ensino Superior, em Paris, em 2003, foi avaliar os impactos da Declaração Mundial sobre o Ensino Superior para o século XXI no mundo. Para Werthein (2003a), a Declaração foi um marco para os processos de mudança que precisam acontecer nas universidades. Para dar um seguimento histórico para o documento faz-se necessário abrir espaços políticos para o debate, pois a reforma da universidade exige consensos

para delinear os caminhos da instituição, mas a declaração traz pistas e alternativas para esse processo. No momento atual vivenciamos uma intensa e rápida produção e aplicação do conhecimento, em um mundo globalizado e que proliferam as injustiças. Nesse contexto, a universidade precisa se repensar, deixar de ser elitista e isolada e pensar-se de forma regional e global. Werthein (2003a, p. 9) destaca “que uma das conclusões mais importantes do Relatório Geral do Encontro de junho já referido, afirma que o próprio conceito de universidade precisa ser alterado”. Outro aspecto importante destacado por Werthein (2003a, p. 8) a partir de M. Castells é que “pela primeira vez na história, a mente humana é uma força direta da produção e não apenas um elemento decisivo do sistema produtivo”, isto será um grande desafio para as universidades.

Em seu discurso, o senhor Koichiro Matsuura (2003), Diretor-Geral da UNESCO, no segundo encontro dos parceiros da Educação Superior, Conferência Mundial sobre Educação Superior, em 23 de junho de 2003, destaca que esse é o evento mais importante da UNESCO sobre educação superior desde a Conferência Mundial de 1998. A Conferência já tinha sinalizado o movimento de mudanças na educação superior e, nesse momento, isso se intensifica, então é necessário analisar os cinco anos após a Conferência, mas avançar para o futuro, com mais cinco anos.

Para Matsuura (2003), o desafio desse encontro é debater aspectos como ampliação do acesso, mas levando em consideração o mérito; a modernização de sistemas e instituições; o fortalecimento da relevância social e a criação de melhores vínculos entre a educação superior e o mundo do trabalho.

Matsuura (2003) vê algumas temáticas como fundamentais e que precisam ser discutidas ao longo do encontro: continuidade e mudança na educação superior, relação da educação superior com outros tipos e níveis de educação e relação entre educação superior e desenvolvimento. Destaca que o processo de continuidade e/ou mudança nas instituições de ensino superior devem ter em mente os aspectos de qualidade. Nesse processo de repensar a educação superior, é preciso “cuidar de não induzir descontinuidades indesejáveis ou provocar sacrifícios desnecessários” (MATSUURA, 2003, p. 14). A educação superior em seu repensar precisa estar atenta aos aspectos de integração com os demais níveis de educação e a formação e aperfeiçoamento dos professores é um dos aspectos fundamentais desse processo. A UNESCO pretende ainda que todos os níveis de ensino estejam organizados em relação ao Programa Educação para Todos. Nos aspectos concernentes à relação entre desenvolvimento e educação superior, Matsuura (2003, p. 19) destaca:

Na UNESCO, temos cada vez mais a sensação de que todo o problema do desenvolvimento e cooperação na educação superior, considerado à luz das necessidades dos países em desenvolvimento e transição, pode exigir alguma forma de quadro de integração ou uma nova síntese programática.

“A Universidade na Encruzilhada” foi o tema da Conferência do então ministro da Educação do Brasil, Cristovam Buarque, no Segundo Encontro dos Parceiros da Educação Superior. Buarque inicia sua conferência abordando as transformações no processo de elaboração e aquisição do conhecimento. Anteriormente, o aluno adquiria, com seu curso superior, um estoque de conhecimentos capaz de orientá-lo por toda sua vida profissional; atualmente, com o conhecimento em constante fluxo, o ex-aluno precisa ter capacidade de atualizar-se constantemente em sua profissão. O conhecimento antes era disseminado em salas de aulas ou bibliotecas e transmitidos por professores ou livros; atualmente, o conhecimento está no ar e é possível acessá-lo por internet, televisão educativa, revistas especializadas, empresas, laboratórios e instituições privadas. Anteriormente, o conhecimento adquirido na universidade garantia o sucesso do aluno formado; hoje, a aceleração da produção do conhecimento e suas aplicações tecnológicas demanda constante atualização dos ex-alunos das universidades.

Para Cristovam Buarque (2003), a universidade, pelo seu patrimônio intelectual, independência política e crítica social, é uma instituição capaz de trazer esperanças como norteadora das mudanças necessárias na sociedade. Para ele, as últimas décadas causaram grande desorientação: a economia, grande orgulho do século XX, entrou em desaceleração e trouxe aumento das desigualdades; os partidos políticos de direita ou esquerda deixaram de ser esperança; a democracia tornou-se incompetente diante de decisões unilaterais de presidentes; as religiões não foram capazes de conter o individualismo; as empresas destroem os empregos; a ciência e a tecnologia, orgulho da humanidade por 300 anos, trazem imoralidade ao se mostrarem capazes de manipular a vida e de destruir o planeta; e as ideologias enfraqueceram, o socialismo não foi capaz de construir utopias e o capitalismo “exibe a desumanidade que lhe é inerente diante das exigências de equilíbrio ecológico e de respeito pelo bem comum de todos os seres humanos” (BUARQUE, 2003, p. 23). Buarque afirma que, para que a universidade seja instrumento de esperança, é necessário que recupere a esperança nela própria e, para tanto, precisa formular uma nova proposta, novas estruturas e novos métodos de trabalho. Para Cristovam Buarque, a hora certa para as mudanças na universidade é agora, pois temos no Brasil um governo comprometido com a educação, mas com poucos recursos para atender a demanda. A crise da universidade brasileira coincide com a crise global da instituição universitária.

A humanidade e a universidade como instituição estão diante de uma encruzilhada e precisam escolher entre uma modernidade técnica excludente e uma modernidade ética que possa utilizar o desenvolvimento científico e tecnológico a favor da diminuição das desigualdades sociais. A universidade precisa escolher entre um conhecimento constantemente renovado ou um conhecimento ultrapassado; escolher entre um conhecimento transmitido através do ensino na relação professor-aluno ou reconhecer outros métodos de ensino e reconhecer que a formação que oferece antes representava uma base firme na luta pelo sucesso, e hoje é, no máximo, “um colete salva-vidas a ser usado no conturbado mar em que se chocam as ondas do neoliberalismo, da revolução científico-tecnológica e da globalização” (BUARQUE, 2003, p. 26).

Segundo Buarque (2003), muito se fala da crise financeira das universidades públicas não somente no Brasil, mas também em outros países. É fato que, nas últimas décadas, o neoliberalismo vem maltratando as universidades públicas, que tiveram um crescimento muito pequeno se comparado ao crescimento das universidades particulares financiadas por recursos do setor privado e por recursos públicos indiretos. Mesmo diante dos aspectos de crise financeira, a universidade precisa compreender os demais elementos de sua crise institucional, que é muito mais ampla do que simplesmente aspectos financeiros. Para Cristovam Buarque (2003), a universidade deixou de ser vanguarda de conhecimento, deixou de oferecer um futuro para seus alunos e, por fim, deixou de ser centro de disseminação de conhecimento. As universidades precisam entender que a mudança precisa acontecer em cinco grandes eixos:

a) voltar a ser vanguarda crítica da produção do conhecimento; b) firmar-se, novamente, como capazes de assegurar o futuro de seus alunos; c) recuperar o papel de principal centro de distribuição do conhecimento; d) assumir compromisso e responsabilidade ética para com o futuro de uma humanidade sem exclusão; e e) reconhecer que a universidade não é uma instituição isolada, mas que ela faz parte de uma rede mundial (BUARQUE, 2003, p. 28-29).

Quando os mosteiros medievais perderam a sintonia com o mundo exterior nasceu a universidade, como uma instituição que se dedicava às atividades do espírito diferente da espiritualidade religiosa. Então, a universidade surgiu como uma instituição responsável por gerar alto conhecimento e, para tanto, precisou adaptar-se ao longo de sua história. Em finais do século XIX, eram desenvolvidos, fora das universidades, centros de pesquisa para inventores e a universidade desprezava esse conhecimento. “Ford, Bell e Edison não foram universitários” (BUARQUE, 2003, p. 29). No início do século XX, a universidade percebeu que estava se transformando nos mosteiros medievais, dedicada somente às disciplinas clássicas tradicionais

e ao saber bacharelesco; então, trouxe para dentro da instituição áreas de conhecimento técnico, como a engenharia e as ciências aplicadas. Em meados do século XX, a universidade estava tão transformada que os campos tecnológicos predominavam em relação aos campos tradicionais da filosofia, das artes e da literatura. No começo do século XXI, a primazia dos conhecimentos tecnológicos dentro da universidade mostra a necessidade de uma reforma, tendo em vista a perda de sintonia das universidades com diversos elementos da realidade. Os governos deixaram de financiar as universidades, e isso se deve, em parte, à perda de sintonia das universidades com a realidade. Com o avanço no conhecimento, a universidade precisa considerar que os conhecimentos transmitidos para seus alunos estão desatualizados em cinco anos e, em muitos casos, ao longo dos próprios cursos. Os campos do conhecimento são renovados constantemente e novos campos surgem. Quanto ao desenvolvimento de ciência e tecnologia, décadas atrás era impossível pensar nesse processo fora das universidades e sem o acompanhamento de um professor universitário, mas “a estrutura dos cursos, a duração dos doutorados e as limitações dos departamentos vêm impedindo que o conhecimento, dentro da universidade, avance tão rapidamente quanto fora” (BUARQUE, 2003, p. 31). Muitos centros de pesquisas públicos ou ligados a empresas, assim como as chamadas universidades corporativas, também ligadas a empresas, preferem não ter ligações com as universidades públicas.

Outra perda de sintonia da universidade é com a disseminação do conhecimento. Atualmente, não são necessários um professor e uma sala de aula na universidade para se ter acesso ao conhecimento. Para Buarque (2003, p. 32), “O jovem atento que navega na internet, assiste a programas especiais na televisão e freqüenta grupos de chat especializados pode tomar conhecimento de certo tipo de informações antes mesmo que seus professores”. A sala de aula “tem uma dimensão einsteiniana: seu tempo e seu espaço se misturam, o aluno podendo estar em qualquer lugar e o professor, em qualquer outro, sintonizados simultaneamente ou em tempos diferentes” (BUARQUE, 2003, p. 33). O conhecimento é urgente e simultâneo; urgente devido à velocidade de criação e simultâneo pela rapidez de divulgação. As universidades precisam derrubar seus muros para, em tempo real, conectar-se on-line para transmitir conhecimento para o mundo inteiro.

O diploma universitário é útil, mas não é mais passaporte seguro para o futuro. Muitos profissionais formados estão desempregados, seja pelo excesso de profissionais ou por seus diplomas estarem obsoletos. A universidade critica o mercado, mas não percebe que está vivendo a mesma crise do início do século XX, quando precisava formar nas áreas tecnológicas e não abria mão da formação bacharelesca.

A universidade, contudo, não assumiu de forma plena essa realidade: ela critica o mercado, em vez de entender que ele é decorrência da realidade e exige novos campos de conhecimento e novos conhecimentos dentro dos campos antigos e, sobretudo, requer rapidez na formação e reciclagem dos alunos [...] Hoje, a universidade se comporta diante da pobreza de forma tão alienada quanto o fez, no século XIX, com relação à escravatura (BUARQUE, 2003, p. 34).

A universidade precisa recuperar uma sintonia ética com os verdadeiros interesses da população. Quando pensamos nos cursos oferecidos pelas universidades, temos uma visão do descompromisso da universidade com os reais problemas dos excluídos da sociedade.

Os cursos oferecidos nas universidades pouco têm a ver com os interesses das grandes massas. Os cursos de Economia buscam maneiras de aumentar a riqueza e, em raros casos, estudam a superação da pobreza. Os cursos de Medicina estão mais interessados em não deixar que os ricos morram ou envelheçam do que em evitar a mortalidade infantil. Os arquitetos se preocupam em construir mansões e edifícios para os ricos, e quase nunca pensam em soluções para os problemas habitacionais dos pobres. Os cursos de Nutrição dão mais ênfase a emagrecer os ricos do que a engordar os pobres (BUARQUE, 2003, p. 36).

A universidade precisa entrar em sintonia com a realidade do país como um todo, pensando soluções para minimizar as desigualdades sociais. A universidade do século XXI precisará ser integrada em bases universais, mas ainda não compreendeu como ser global sem perder a própria nacionalidade.

Para Cristovam Buarque, é necessário refundar a universidade para que tenhamos uma universidade para o século XXI. Diante de uma revolução tecnológica e de um mundo dividido entre incluídos e excluídos, será necessária uma revolução na instituição universitária baseada em sete vetores.

Primeiro, a universidade precisa ser dinâmica e, para tal, o diploma deve ter prazo de validade, pois, com a aceleração na produção do conhecimento, não é possível emitir um diploma que tenha validade ao longo da vida; a universidade deve ser permanente e, nesse sentido, é preciso extinguir o conceito de ex-alunos, os alunos precisam estar conectados on- line nas universidades e recebendo um processo de formação ao longo da vida; os doutorados devem ser atualizados: assim como um diploma de graduação não serve para a vida toda, um certificado de conclusão de doutorado também não. Um título de doutor representa que um trabalho de mérito foi realizado, mas com a aceleração do conhecimento, não significa que sirva para a vida toda. Os professores devem ser submetidos a concursos periódicos, para avaliar o grau de atualização em suas áreas de atuação, para que a universidade possa estar sintonizada com os avanços no conhecimento científico e tecnológico. Flexibilidade no tempo de duração dos cursos; a universidade precisa adotar novos métodos de ensino e pesquisa e com

os avanços nos métodos pedagógicos que utilizam equipamentos de comunicação e de informática, os alunos não precisam do tempo que seus pais precisaram para obter uma graduação. Assim como é necessário flexibilizar a formação na graduação, isso se estende à pós-graduação, em que muitos doutorados se tornam obsoletos ao longo da pesquisa e, por fim, as referências bibliográficas devem ser indicadas on-line, com a própria elaboração do livro pelos autores, isso porque uma universidade que esteja baseada em livro impresso estará desatualizada, pois o tempo de impressão de um livro pode torná-lo desatualizado. É importante ter acesso aos clássicos de cada área, mas a nova produção de conhecimento deve acontecer de forma mais dinâmica, colocando os alunos em contato com os autores ao longo da construção do livro e, para tanto, é preciso que o processo aconteça on-line.

O segundo vetor da revolução necessária na universidade é a necessidade de ser unificada. Nesse sentido, as universidades não trocarão apenas alunos e professores, mas terão acesso a todos os professores e todos os alunos. As barreiras linguísticas serão superadas com os mecanismos de tradução automática já existentes na internet. Diante desse contexto, limitar o aluno a um curso de uma única universidade é uma ideia obsoleta; os alunos serão alunos de uma universidade global e poderão montar seus currículos com disciplinas oferecidas em escala global.

O terceiro vetor é a Universidade para Todos. Nessa perspectiva, perdem o sentido os exames de ingresso e o diploma de segundo grau. O exame de seleção está baseado na dificuldade de espaço disponível e investimentos para que todos tenham acesso à universidade, mas, com os novos métodos de ensino à distância, os alunos serão eliminados pela sua incapacidade de acompanhar o curso e não pela incapacidade de ingressar. Mesmo para os cursos presenciais, a forma de seleção precisa estar baseada na capacidade de mensurar a condição do aluno em buscar e elaborar conhecimento e não na “capacidade de assimilar conhecimentos prontos e de responder perguntas com respostas decoradas” (BUARQUE, 2003, p. 42).

O quarto vetor é a necessidade da Universidade Aberta, sem muros e sem campus fisicamente definidos. “As aulas serão transmitidas pela televisão, pelo rádio e na internet”, então não é necessário que os alunos estejam presentes na mesma cidade do professor e os professores poderão manter contato com seus alunos de todo o mundo (BUARQUE, 2003, p. 42).

O quinto vetor é a Universidade Tridimensional. A universidade por disciplinas baseadas em categorias do conhecimento não responde às necessidades do mundo atual, onde alguns campi surgem e outros desaparecem. A universidade precisa de Centros de Pesquisa

sobre temas atuais. Outra proposta seria a criação de Núcleos Temáticos multidisciplinares “para o estudo da fome, da pobreza, da energia, da juventude, do emprego e do meio ambiente” (BUARQUE, 2003, p. 42). A criação de Núcleos Culturais também permitiria que os alunos estivessem envolvidos com atividades estéticas e o debate ético dos temas da atualidade. Dessa forma, de acordo com Buarque (2003, p. 43),

Com seus departamentos disciplinares, seus Núcleos Temáticos e seus Núcleos Culturais, a universidade será tridimensional e formará profissionais tridimensionais, especializados numa área do conhecimento, mas, também, comprometidos com o entendimento de um tema da realidade e praticantes de uma ou mais atividades ligadas à dimensão humanista, nas artes ou na reflexão filosófica.

O sexto vetor da revolução para constituição da Universidade do Século XXI é a Universidade Sistemática. Para termos uma Universidade Sistemática é preciso que ela esteja vinculada a todas as demais universidades, incorpore as instituições de pesquisa públicas e privadas e todas as organizações não governamentais voltadas para a produção de pesquisa. Com essa estrutura, o sistema universitário terá condições de responder aos desafios do século XXI.

O sétimo e último vetor é a Universidade Sustentável. É uma instituição pública, não importando ser propriedade pública ou privada. As universidades não podem perecer por falta de investimentos públicos e por não aceitar os investimentos privados de quem queira investir. A universidade pública precisa receber os investimentos para garantir os interesses sociais, principalmente em áreas “que não geram retornos econômicos, como a formação de professores de ensino fundamental e o campo das artes e da filosofia” (BUARQUE, 2003, p. 44). As instituições precisam servir aos interesses públicos, evitando os interesses corporativos de alunos, professores e funcionários. As instituições privadas precisam atender os interesses da comunidade acadêmica e não de suas mantenedoras.

Colocados os desafios para que a instituição universitária possa atender como um todo as exigências do século XXI, Cristovam Buarque (2003) voltou-se para a Universidade Brasileira, que integra o sistema universitário como um todo, mas apresenta especificidades, inclusive históricas.

Destaca Buarque (2003) que, entre 1922 e 1934, além da Universidade do Brasil, tínhamos diversos cursos de ensino superior espalhados pelo país. Em 1934, com a criação da Universidade de São Paulo (USP), tivemos um projeto de universidade que “resultou da vontade de intelectuais brasileiros aliados a intelectuais franceses” (BUARQUE, 2003, p. 45). De 1935 a 1964, a universidade brasileira cresceu, mas faltava-lhe o vigor para alavancar o processo de

desenvolvimento do país. Em inícios da década de 1960, Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira pensaram um novo modelo de universidade, que seria implantado em Brasília, na UnB, projeto que foi interrompido pelo golpe militar de 1964, ano em que a universidade brasileira foi paradoxalmente destruída e fundada. Destruída porque seus professores foram exilados ou expulsos e muitos de seus alunos foram mortos pela ditadura. Por outro lado, foi fundada por uma estrutura mais moderna e, pela primeira vez, pensou-se em um sistema universitário nacionalmente integrado. Essas transformações foram consolidadas a partir da Reforma Universitária de 1968, empreendida pelos militares com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Conforme Buarque (2003, p. 46),

A moderna universidade brasileira é filha do regime militar e da tecnocracia norte- americana. Sob esse patrocínio e essa tutela, a universidade brasileira, entre 1964 e 1985, conseguiu dar um enorme salto quantitativo e qualitativo, talvez o maior salto já ocorrido em qualquer país do mundo, na área da educação superior.

Nesse período, ocorreu um aumento no número de alunos e de professores, inclusive na pós-graduação.

A partir de 1985, tivemos um retorno à liberdade, inclusive para a escolha dos reitores, mas, por outro lado, uma diminuição dos recursos financeiros, chegando ao ponto de abandono das universidades públicas pelo poder público. A universidade federal, em 2003, estava praticamente falida. Conforme Buarque (2003, p. 47),

Nestes quase vinte anos, cada avanço, cada conquista, cada melhoria e crescimento