• Nenhum resultado encontrado

A partir das deliberações da 27ª Sessão da Conferência Geral, em 1993, a UNESCO preparou o presente documento como forma de identificar as principais tendências do ensino superior e propor possibilidades de reforma na educação superior que possam atender as transformações sociais da sociedade contemporânea. O objetivo da UNESCO não é propor modelos, mas pensar em linhas mestras de ação que possam colaborar com a reflexão dos diferentes Estados membros no processo de reestruturação do ensino superior. A UNESCO destaca que cada sistema de ensino superior precisa pensar a reforma dentro do seu contexto local, mas sempre incorporando a ideia de que, em um mundo globalizado, as tendências globais precisam ser consideradas na reforma da educação superior.

No Prefácio do documento, Federico Mayor (1999, p. 7), Diretor-Geral da UNESCO, destaca que o ensino superior vive um período de crise; então, é necessário identificar novos caminhos e estabelecer as prioridades para o desenvolvimento futuro.

O documento da UNESCO (1999) identifica três principais tendências no ensino superior: a expansão quantitativa, a diversificação de estruturas institucionais e as dificuldades financeiras. Entre os desafios do ensino superior temos processos concorrentes e até mesmo contraditórios, como: democratização, globalização, regionalização, polarização,

marginalização e fragmentação. Esses processos relacionam-se de alguma forma com o ensino superior, então o desafio é conciliar as contradições da sociedade contemporânea e propor um processo de desenvolvimento sustentável humano para os países.

A resposta do ensino superior para o atual mundo em mudanças deve ser orientada por três processos: relevância, qualidade e internacionalização. O ensino superior precisa estar pronto para oferecer ensino e pesquisa de qualidade, estar preparado não só para formar indivíduos que serão bons profissionais, mas também criadores de emprego, empreendedores. O ensino superior sofre ainda com a falta de recursos dos fundos públicos, as instituições precisam aproximar-se do Estado e da sociedade, respeitando os princípios de liberdade acadêmica e a autonomia institucional, para oferecer serviços relevantes para o desenvolvimento social, aproveitando os recursos materiais e humanos disponíveis. Conforme o documento da UNESCO (1999, p. 14), “os institutos de ensino superior precisam melhorar sua administração e fazer uso mais eficiente dos recursos humanos e materiais disponíveis, desta forma aceitando sua responsabilidade perante a sociedade”. Destaca que o ensino superior deve continuar sendo financiado por fundos públicos, mas precisa buscar fontes alternativas de recursos.

Considerando que o ensino superior tem a função de contribuir com o processo de desenvolvimento dos países, é preciso que o Estado e a sociedade considerem os recursos do fundo público como investimento com retorno em longo prazo e não com a visão estreita de peso no orçamento público.

Em relação aos processos de ensino-aprendizagem, as IES precisam estar preparadas para a renovação dos métodos de ensino-aprendizagem, sobretudo a partir das TICs, que contribuem no processo de divulgação dos conhecimentos. O ensino superior precisa desenvolver métodos para tratar os conteúdos de maneira inter e multidisciplinar, de forma a ter condições de mostrar a relevância e a qualidade dos estudos superiores para pensar temas e problemas da sociedade contemporânea.

Quanto à pesquisa, de extrema importância para o ensino superior, estão crescendo as áreas de interesse. Ciência, tecnologia e cultura estão interligadas e as instituições de ensino superior são locais privilegiados para o desenvolvimento das referidas pesquisas. Também é importante destacar os benefícios educacionais das atividades de ensino relacionadas à pesquisa.

O ensino superior tem grande responsabilidade com os níveis de ensino, especialmente no processo de formação de professores e no desenvolvimento de pesquisas que possam contribuir com a renovação dos métodos de ensino nos diferentes níveis.

É necessário implantar um processo de avaliação da qualidade dentro das instituições de ensino superior, avaliar os docentes, os alunos, a infraestrutura, o pessoal administrativo, buscando promover ações que possam contribuir para a melhoria de deficiências apontadas pelo processo. No procedimento de democratização do ensino superior, a preocupação com os alunos vindos das escolas secundárias e com a qualidade da formação é um problema para as instituições de ensino superior. Nesse sentido, é necessário um diálogo do ensino superior com a escola secundária. A questão da qualidade das instituições de ensino superior é de extrema relevância, respeitados os princípios de liberdade acadêmica e de autonomia institucional, mas, conforme a UNESCO (1999, p. 17),

Devida atenção deve ser dada a observância dos princípios de liberdade acadêmica e autonomia institucional. Entretanto, esses princípios não devem ser invocados na militância contra mudanças necessárias ou como cobertura para atitudes estreitas, corporativistas e de abuso de privilégios, que podem, ao longo do tempo, ter um efeito negativo no funcionamento do ensino superior.

A questão da internacionalização da educação, que é uma das tendências da educação superior, deve levar em consideração a reflexão sobre o caráter universal do aprendizado e da pesquisa, os aspectos de integração econômica e política e a necessidade de entendimento intercultural. O papel das TICs também é fundamental para se pensar o processo de internacionalização da educação superior no mundo globalizado.

Quanto à cooperação internacional, o documento ressalta que deve estar baseada na parceria e busca coletiva pela qualidade e relevância do ensino superior. De acordo com o documento (UNESCO, 1999, p. 17), “é importante promover aqueles programas e trocas que possam contribuir para reduzir os desequilíbrios existentes e facilitar o acesso à transferência de conhecimento”.

Na sequência, o documento destaca o papel da UNESCO no que tange às mudanças e desenvolvimento no ensino superior. A UNESCO se compromete com o acesso com equidade ao ensino superior. Para aumentar a relevância e a qualidade, é preciso promover a diversidade do ensino superior. Promover a cooperação internacional e, sobretudo, fortalecer o ensino superior e a capacidade de pesquisa nos países em desenvolvimento. Os objetivos finais da UNESCO (1999, p. 21, grifos do original) são “uma nova visão do ensino superior e da pesquisa, expressados pelo conceito de uma universidade pré-ativa firmemente ancorada nas circunstâncias locais, mas plenamente comprometida com a busca universal da verdade e do avanço do conhecimento”.

Segundo a visão da UNESCO (1999), de uma universidade pré-ativa, esta seria um local de: treinamento de alta qualidade; com acesso através do mérito; com uma comunidade engajada no processo de criação e disseminação de conhecimento científico e tecnológico; de aprendizagem, onde os alunos se colocam a serviço do desenvolvimento social; de acolhimento das atualizações nos diversos campos de saber; enfim, uma comunidade disposta à cooperação com a indústria e com o setor de serviço para o progresso econômico da nação. Seria, ainda, um local para identificar e debater questões e soluções importantes em nível local, regional, nacional e internacional; um local onde governos e outras instituições públicas possam obter informações científicas e seguras para subsidiar processos de tomada de decisão; onde seus membros, comprometidos com a liberdade acadêmica, estejam engajados “na busca da verdade, na defesa e promoção de direitos humanos, democracia, justiça social e tolerância, em suas comunidades e através do mundo” (UNESCO, 1999, p. 97); e, finalmente, ser uma instituição preparada para os desafios globais e locais. Nesse processo de reforma na educação superior em busca de uma universidade pré-ativa, a UNESCO (1999, p. 97) destaca:

A responsabilidade pela forma atual e medidas de implementação do sistema de ensino superior renovado pertencem a cada país e à sua comunidade acadêmica – no entanto, num mundo em contínua mutação, nenhum país pode se considerar isolado das influências de eventos e desafios internacionais.