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3.1 A Mediação de conflitos em sua perspectiva histórica e social

3.2.4 Conflito, Violência e Exclusão

Nas abordagens da mediação como estratégia de resolução alternativa de conflitos intersubjetivos, esses três conceitos não podem ser esquecidos, de modo que embora já tenham sido discutidos ao longo desse projeto, ainda que de forma propedêutica, agora se faz necessário explaná-los mais detidamente.

O conflito já foi aqui mencionado como antecedente da violência e a violência como o recrudescimento das incivilidades (DEBARBIEUX, 2001).

Charlot (2002, p. 436) nos informa que a violência é mais grave que as incivilidades e que “[...] é a violência enquanto vontade de destruir, de aviltar, de atormentar, que causa problema [...].” Evoluindo nessa questão deixa claro que quando esta violência ocorre em uma instituição escolar, significa mais problema ainda, pois “[...] inscreve-se na ordem da linguagem e da troca simbólica e não na da força física [...].”

O autor ainda deixa claro que a violência não é apenas um mero conflito ou uma mera transgressão aos estatutos da escola, mas uma transgressão aos estatutos do Estado.

O conflito pode ser entendido como a gênese dessa violência (SANTOS, 2008), e ao mesmo tempo como um fator natural das relações entre as pessoas sejam elas físicas, jurídicas, ou até mesmo entre Estados, (OLIVEIRA et al., 1999). Chrispino (2007, p. 24) ainda o cita como uma fase da lide que surge após a divergência e o

antagonismo, mas que antecede à violência, mencionando ainda, segundo Redorta (2004), a classificação dos conflitos, de modo geral, como se segue na tabela abaixo, que ele traz e vale a pena ser referida, in totum:

Tabela 3. TIPOS DE CONFLITOS

Fonte: CHRISPINO, 2007, p. 19

Teixeira (2011), em sua tese de doutorado em ciências da educação, citando Martinez Zampa (2005), expõem-nos várias possibilidades de conflitos educacionais se classificam em quatro tipos diferentes, a saber: a) aqueles que se desenvolvem entre docentes;

b) aqueles que se desenvolvem entre docentes e alunos; c) aqueles que se desenvolvem entre os alunos mutuamente; d) aqueles que se desenvolvem entre pais, docentes e gestores.

Além, da classificação acima, Teixeira (2011, p. 60), discorre sobre as causas mais frequentes que permeiam os conflitos entre os atores acima, e que vão desde a simples falta de comunicação, a interesses pessoais, ou a exorbitância no exercício do poder de mando mal entendidos, agressões ou mesmo o não atendimento a requisitos administrativos típicos da gestão escolar.

A autora resume toda essa abordagem na tabela apresentada a seguir.

Tabela 4. CAUSAS MAIS FREQUENTES DE CONFLITOS

Teixeira (2011) circunscreveu os conflitos educacionais em seu estudo de casos, aos interlocutores das escolas com as quais lidou em suas práticas pedagógicas diárias, todavia, na pesquisa-ação para a qual esse projeto de pesquisa orientará seu estudo, ainda temos os servidores da carreira assistência com os quais interagimos no dia-a-dia, e é preciso levá-los em conta nessa situação específica.

Seguindo a ideia de que o conflito é antecedente à violência e que ele representa “ [...] toda opinião divergente ou maneira diferente de vou ou interpretar algum acontecimento [...]” (CHRISPINO, 2007, p. 15), passemos a examinar as questões acerca da violência, a partir de seu conceito.

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, traz-nos como significado de violência, “[...] constrangimento exercido sobre alguma pessoa para obrigá-la a fazer um ato qualquer; coação [...].” Já para Marty (2010, p. 45 - 46), “[...] violência é uma modalidade de expressão da angústia [...]; [...] é o exercício da força a despeito de alguém ou de algo [...],” tanto dando a ideia de submeter outrem à força, ou de abrir caminho ou passagem à força. O mesmo autor, todavia, vê a violência como “parte da energia pulsional” no combate pela sobrevivência. “[...] mas, na adolescência, tratar-se- á mais de uma luta contra o sentimento de sofrer a ação da puberdade, de ser tornado passivo, coisificado por ela, o que constituirá um dos aspectos da fragilidade narcísica ligada ao trabalho de puberdade.” (MARTY, 2010, p. 47)

Mas do ponto de vista social ou mesmo escolástico, a violência, às vezes pode ser tão sutil quanto imperceptível, menos para quem dela é refém, e neste caso o ambiente escolar é muito propício ao desenvolvimento de uma violência silenciosa, quanto não, institucionalizada.

Sendo assim não se pode deixar de perceber como violenta qualquer relação em que uma das partes sofra um dano moral, psicológico, ou físico, quer tenha sido atingido pela ação de uma força física ou por uma ação verbal.

[..] Estudando a temática, Camacho, (2000) aponta duas formas básicas de violência na escola: física (brigas, agressões físicas e depredações) e não física (ofensas verbais, discriminações, segregações, humilhações e desvalorização com palavras e atitudes de desmerecimento), sendo a última, muitas vezes, disfarçada,

mascarada e de difícil diagnóstico. (MARRIEL, 2006, p. 36 - 37)

Ademais, é sabido que essas formas de violência “mascaradas e de difícil diagnóstico” fazem parte rotineiramente do quotidiano escolar, inclusive provenientes da própria Instituição de Ensino, como “[...] a imposição de conteúdos destituídos de interesse e de significado para a vida dos alunos [...],” ainda segundo Marriel, (2006, 37), o que muitas vezes é a causa do desinteresse por parte dos alunos e desgaste da relação entre estes e o professor.

Sales (2007) aponta a violência como promotora da exclusão e da hostilidade do ambiente escolar, ao mesmo tempo em que Abramovay (2009, p. 21 - 25) salienta que ela emudece as pessoas e quebra o discurso, e a classifica como “violências duras” que são as “[...] normalmente consideradas crimes [...], [...] exigindo assim a intervenção estatal [...];” “microviolências ou incivilidades” quando são “[...] cotidianas e passam despercebidas aos olhos institucionais [...],” e as “violências simbólicas” como sendo formas “[...] de dominação que se apoiam em expectativas coletivas que produzem a necessidade de obedecer às normas, regras e hierarquias sociais sem contestação.” O cunho de dominação das violências simbólicas tem como critério de dominação o poder de quem as constrói sobre quem a obedece, de modo que não se submeter a ela é ficar excluído.

A exclusão por sua vez, decorre dos mecanismos de dominação, bem como da “manutenção de estereótipos e preconceitos que estigmatizam as populações mais pobres.” (SAWAIA, p. 129)

Aqui o excluído é que sofre a violência, e por não ter suas necessidades satisfeitas, num ciclo vicioso, torna-se por sua vez também violento, num contexto de “marginalidade e marginalização,” onde “[...] marginalidade é um status fora dos confins do sistema [...]” e a marginalização um “processo no qual os indivíduos e grupos são expulsos e se encontram isolados no sentido negativo dentro do sistema social ao qual pertencem e do qual continuam a depender.” (CALIMAN, 2008, p. 111 - 112)

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