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Pesquisa-ação: uma intervenção em mediação escolar

A pesquisa que ora se pretende desenvolver tem como tema “a mediação de conflitos e seus reflexos na inclusão escolar de crianças e adolescentes,” sendo uma pesquisa que se insere no paradigma qualitativo e exploratório, e que deve contribuir para o conhecimento dos fenômenos individuais, grupais, organizacionais e sociais entre outros, ou seja, deve permitir a existência de um viés etnográfico. Desse modo, poderá também utilizar-se de dados quantitativos (YIN, 2010).

A pesquisa participante ou pesquisa-ação é uma pesquisa voltada para uma ação entre teoria e prática comprometida com a “avaliação de manifestações sociais dotada de qualidade política” (DEMO, 1989, p. 229). Por conseguinte, a metodologia da pesquisa-ação, estimula a participação das pessoas envolvidas na pesquisa, que ao mesmo tempo são também investigadores.

Pelo exposto acima se pode compreender porque a pesquisa-ação relaciona uma ação à resolução de um problema coletivo, de forma que proporciona um engajamento sociopolítico dos participantes a serviço de uma causa social, onde o pesquisador, também participante, não impõe suas vontades de forma unilateral, mas escuta e elucida os vários aspectos de uma situação comunitária, sem contudo, perder de vista o viés científico, pois a pesquisa-ação não contraria as exigências metodológicas, mas como uma estratégia de pesquisa social que usa vários métodos ou técnicas, percorre o caminho da realidade social na sua complexidade, para a construção de métodos adequados à transformação dessa realidade (LEWIN, 1946; DEMO, 1989; KINCHELOE, 1997).

A pesquisa-ação privilegia os procedimentos argumentativos, o paradigma qualitativo, sem prescindir dos métodos e dados quantitativos, especialmente quando as transformações que se pretendem alcançar não são possíveis através do discurso, da denúncia ou da contra-argumentação, “restringindo-se muitas vezes a registros descritivos de faces parciais da realidade mensurável” (DEMO, 1989, p. 232).

Sua estratégia metodológica pode se concretizar no planejamento participativo através de três momentos essenciais, segundo Demo (1989): autodiagnóstico expresso pela confluência entre o saber popular e o conhecimento científico, que se caracteriza através do diagnóstico realizado pelo próprio interessado, o qual pode até absorver uma ideia vinda de fora, mas esta ideia deve ser formatada pela comunidade; estratégia de enfrentamento prático mediante a transformação da teoria em prática, e a necessidade de organização política da comunidade. Nesse caso a pesquisa- ação impõe que o pesquisador seja formalmente competente, politicamente qualitativo, e atuante na busca das mudanças que quer imprimir na realidade sobre a qual atua (DEMO, 1989; KINCHELOE, 1997).

Desse modo, a partir da última citação de Demo a respeito do último momento acima referido, se percebe a forte definição ideológica da pesquisa-ação e se pode concluir que ela é voltada para a organização de setores da sociedade formados, muitas vezes, por excluídos, que podem conseguir através da pesquisa-ação uma forma alternativa de vida com qualidade, a exemplo das comunidades de catadores de lixo, que organizados politicamente, podem enfrentar o problema social da pobreza, vislumbrada a possibilidade de mudança, e através da solidariedade, na busca da autonomia, e porque não dizer da felicidade.

Assim também se buscará a autonomia, a inclusão e consequentemente a felicidade de toda a comunidade escolar envolvida na pesquisa em tela.

A pesquisa apresentada se refere a uma experiência de pesquisa-ação desenvolvida na forma de um estudo de caso a partir da implementação de um dispositivo de mediação de conflitos em uma escola pública do Distrito Federal, que conta com mais de 900 alunos, inserida em um contexto de violência, consumo e tráfico de drogas, entre outras questões violentas. Esse dispositivo de mediação contou com a participação de alunos, professores e outros funcionários da escola, além de pais de alunos. Do resultado das intervenções do dispositivo de mediação se fará uma análise quantitativa entre três variáveis incivilidades, violências graves, médias e leves, e encaminhamentos aos espaços de proteção das crianças e adolescentes, e outra qualitativa feita a partir do estudo de caso apresentado.

Diante do cenário já apresentado, e levando-se em conta que a mediação deve ser compreendida como uma ação integradora das relações humanas (SCHABBEL, 2002), o projeto aqui apresentado, estará inserido em dois paradigmas: do ponto de vista quantitativo, fará o levantamento de dados das violências antes e depois da utilização da mediação de conflitos na escola já mencionada, através da análise documental comparando os resultados anteriores registrados pela escola em seu livro de ocorrências, durante o ano de 2010, com os ocorridos durante à utilização da mediação enquanto técnica de resolução de conflitos, em 2012; do ponto de vista qualitativo, quando da análise de um estudo de caso ilustrativo, apresentado como forma de mostrar o impacto do projeto de mediação sobre alguns alunos identificados em dificuldade, o que se fará por um viés qualitativo.

Vejamos então como deverá ser feito o estudo de caso:

4.1.1 O método de estudo de caso na pesquisa-ação

O método utilizado no contexto de pesquisa-ação já referido será o de estudo de caso a partir da implantação de um dispositivo de mediação em uma escola já mencionada, de onde resultou também a análise específica de um estudo de caso ilustrativo, seguindo o delineamento de estudo de caso como metodologia de investigação (VENTURA, 2007; DESLANDES et al., 2010; MOUSINHO, 2010; YIN, 2010) provenientes das ações de um dispositivo de mediação implantado na escola por meio de um projeto interventivo, de onde resultaram também estudos quantitativos que permitiram a retenção de características significativas e holísticas não só de forma exploratória, mas também explanatória. Isso porque o estudo de caso se mostra apropriado em situações onde há impossibilidade de isolamento e controle das hipóteses e das repetições dos fenômenos, como ocorreu no campo em que se realizou a pesquisa em questão (YIN, 2010).

É exatamente o caso em tela, pois cada conflito existente no contexto escolar é único e tem suas características próprias, como únicas são as características dos sujeitos envolvidos. “Não se pode perder de vista a singularidade do sujeito, seu momento, nem sua história construída na família e continuada na escola” (MOUSINHO, 2010, p. 105).

A importância de se destacar a implantação do projeto de mediação como um estudo de caso, possibilita a utilização de instrumentos quantitativo e qualitativos que evidenciem a complexidade e a amplitude do projeto. O instrumento quantitativo pode revelar em números o comportamento das variáveis pesquisadas, as incidências de violência, de incivilidade e encaminhamentos. O instrumento qualitativo por meio da apresentação do já mencionado estudo de caso promove a visibilidade de um adolescente atendido pelo projeto, que em geral, se encontraria ofuscado pelos dados numéricos, como é peculiar do paradigma quantitativo.

Neste caso se levará em conta como o sujeito participante, chegou ao projeto de mediação, seu percurso escolar até a escola em que o projeto se desenvolve, e alguns porquês nos aspectos relacionais da interação destes alunos com seus pais e de seus pais com a escola.

Segundo Yin (2010) o estudo de caso deve ser aplicado quando são propostos os “como” ou “por que,” quando o investigador tem pouco controle sobre os eventos, o que aqui é bastante pertinente, pois não há como se controlar eventuais conflitos entre alunos da escola pesquisada; e quando o problema é de relevância real na vida contemporânea, como é o caso da violência escolar nos dias de hoje. Além disso, os objetivos ou questões de pesquisa, estes devem ter uma proposição bastante criteriosa, bem como devem exigir uma revelação ampla e profunda do fenômeno social em estudo e serem de fato reveladores do que se pretende conhecer, como aqui se pretenderá fazer, observando-se na definição do método a expressão livre dos participantes.

Os aspectos quantitativos se farão analisar com a apreciação dos dados levantados sobre incivilidades, violências e encaminhamentos, enquanto a apreciação qualitativa será feita no estudo de caso, mediante dados decorrentes do caráter descritivo das situações em apreço, anotações pessoais, comportamentos observados, a partir de conversas com os participantes e, oitiva destes, além de sua livre participação.

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