• Nenhum resultado encontrado

FOTO 14. Um grupo de camisas-verdes de Domingos Martins

2 ANOS CONTURBADOS: AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA (AIB)

2.3 Confrontos entre integralistas e “comunistas”

Dutra afirma que tanto integralistas quanto comunistas sustentavam suas práticas em torno de quatro pilares discursivos e estratégicos: anticomunismo/revolução, trabalho, pátria e moral. Dentro de cada item, a autora identificou a existência de vários pares antitéticos.88 Como exemplo, podem-se citar os pares identificados pela autora no pilar anticomunismo/revolução: ordem/subversão, bem/mal, civilização/barbárie, saúde/doença, razão/loucura, liberdade/escravidão.

Assim, os discursos desse período, de ambos os lados, são marcados, largamente, pelas dualidades. Para construir sua própria identidade, era necessário definir ―o outro‖ e este aparece como seu oposto, o inimigo a combater.

No Espírito Santo, integralistas e comunistas estavam em franca propaganda de suas ideias. O número 387 da revista Vida Capichaba, de 1935, trazia uma nota comunicando a instalação oficial da ANL no Theatro Glória e uma foto retratando a sessão doutrinária, realizada pelos integralistas no Teatro Polytheama.89 Nessa época, a AIB também possuía outro veículo para propagar as

suas ideias, um jornal intitulado A Marcha que, provavelmente, não teve vida longa.90

No mês de julho desse mesmo ano, começaram os preparativos para a realização de um congresso estadual que seria sediado na cidade de Cachoeiro de Itapemirim. Os núcleos deveriam levantar dados estatísticos sobre a atuação da AIB nos diversos municípios para a apresentação durante o evento.91

De acordo com os integralistas, existiam comunistas nas cidades de Vitória, Santa Leopoldina e Cachoeiro de Itapemirim, mas foi a última que concentrou os maiores embates entre a AIB e a ANL.92 Conforme Cauby da Silva Rego, coordenador do Núcleo de Cachoeiro, a situação na cidade era bastante preocupante:

88 DUTRA, 1997.

89 Revista Vida Capichaba, n° 387, de 30-5-1935.

90 Revista Vida Capichaba, n° 386, de 15-5-1935. Não se encontram mais referências a esse jornal

nos documentos pesquisados.

91 Ofício coordenador-geral da Província, de 31-7-1935 (Caixa n° 37. APEES).

43

Vimos sofrendo aqui forte campanha dos componentes da Aliança Nacional Libertadora (que não é aliança, nem nacional, nem libertadora) que tem um corpo de choque composto de indivíduos reconhecidamente desordeiros. Já fomos ameaçados, em boatos só, pois eles não têm coragem bastante para nos dizer de viva voz, de um ataque à sede e aos coordenadores pessoalmente.93

Segundo o documento, os integralistas haviam feito contato com o juiz de Direito que teria dado todas as garantias de proteção e auxílio aos integralistas. Por sua vez, a ANL também preparou comícios, discursando contra as ideias da AIB e, conforme os integralistas, nesses momentos, chegavam a propor que ―[...] fossem todos rasgar as camisas verdes‖. Tudo isso regado a muitos boatos sobre possíveis ataques. Diante desse clima, enquanto durava o comício da ANL, os integralistas se preparavam para um ataque real, colocando ―companheiros armados‖ em pontos estratégicos.94

Os ―cavaleiros do sigma‖ da cidade de Cachoeiro, nessa época, ainda eram poucos. Em 14 de maio, encontrou-se referência a 76 membros, porém outros distritos daquele município, como o de Floresta, nesse mesmo período, já possuíam um número bastante superior.95

Os dados fornecidos por Darcy Pereira, no mês de agosto, são bastante significativos. Ele informa que os partidários chegaram a reunir em uma concentração 1.000 integralistas em Cachoeiro. Castelo, por sua vez, também estaria próximo de mil. Pode-se suspeitar da grandeza desses números, mas não há dúvidas de que a AIB conquistou um grande espaço no sul do Estado.

Mas, também era no sul do Estado que a ANL se mostrava mais expressiva. Um levante comunista era aguardado pelos integralistas para a noite de 12 de setembro daquele ano, notícia embalada, talvez, pela Greve Geral ocorrida em Vitória. Nessas circunstâncias, conforme os integralistas, as cidades que deveriam merecer maior atenção eram Cachoeiro e Muqui.96 O levante não

aconteceu.

Os integralistas de Cachoeiro se mostravam bastante apreensivos com a realização do Congresso da AIB naquela cidade. Para eles era necessário antes combater os comunistas:

93 Ofício do Núcleo de Cachoeiro para o Núcleo de Vitória, de 1935 (Caixa n° 37. APEES). 94 Ofício do Núcleo de Cachoeiro para o Núcleo de Vitória, de 1935 (Caixa n° 37. APEES). 95 Ofício do Núcleo de Cachoeiro para o Núcleo de Vitória, de 1935 (Caixa n° 37. APEES). 96 Ofício do Núcleo de Vitória para o Núcleo de Cachoeiro, de 10-9-1935 (Caixa n° 37. APEES).

44

Sou de opinião que essa Chefia deve providenciar junto ao Secretário do Interior, pois se o ambiente até Outubro for o mesmo que o atual, dificilmente se poderá realizar um Congresso Integralista em Cachoeiro, tal a audácia e a liberdade, verdadeiramente absurda, dos elementos comunistas de nossa cidade [...]. Pelo que temos observado Cachoeiro tornou-se o centro das atividades extremistas no Estado, pois a cidade está cheia de elementos estranhos e bastante suspeitos. Fazem reuniões quase que diariamente e pregam idéias comunistas sem a menor cerimônia. Enfim, gozam da mais absoluta liberdade, como se fossem ótimos elementos sociais e políticos.97

O congresso estava previsto para os três primeiros dias de novembro e contaria com a presença do chefe nacional, Plínio Salgado. Boatos tomaram força nesse período:

Os nossos inimigos vêm espalhar o boato de uma concentração, com título ‗proletariado‘, para os dias do nosso Congresso, e durante a qual seriam insultados os camisas verdes, numa propaganda anti- fascista (sic), impedindo-se, ao mesmo tempo, o desembarque do

CHEFE NACIONAL.98

A confirmação da presença de Plínio Salgado foi recebida pelo núcleo de Vitória em 14 de outubro e o número estimado de membros no congresso era de aproximadamente três mil.99 Novamente, o núcleo de Cachoeiro pediu um

entendimento anterior com as ―altas autoridades estaduais‖ para conter a ação dos comunistas e evitar um possível conflito.

Em 26 de outubro, informavam que o clima sombrio na cidade de Cachoeiro continuava aumentando:

O ambiente em nossa cidade vai, à proporção que se aproxima a data do nosso Congresso, se tornando cada vez mais sombrio. Os boatos espalhados pelos aliancistas são os mais sanguinários possíveis, e o objetivo deles começa a ser alcançado, pois muitas famílias já cogitam de se retirar de Cachoeiro nos dias 1, 2 e 3 de novembro [...]. Ainda agora mesmo, Sr. Ary Lima, [...] pessoa influentíssima nas rodas da política governamental acaba de declarar abertamente em Praça Pública, que vai se retirar de Cachoeiro, porque o que vai acontecer no dia da chegada do Chefe Nacional, será uma verdadeira chacina.100

97 Ofício do Núcleo de Cachoeiro para o Núcleo de Vitória, de 9-8-1935 (Caixa n° 37. APEES).

98 Letras maiúsculas e (sic) conforme original. Ofício do Núcleo de Cachoeiro para o Núcleo de

Vitória, de 14-10-1935 (Caixa n° 37. APEES).

99 Ofício do Núcleo de Vitória para o Núcleo de Cachoeiro, de 14-10-1935 (Caixa n° 37. APEES). 100 Ofício do Núcleo de Cachoeiro para o Núcleo de Vitória, de 26-10-1935 (Caixa n° 37. APEES).

45

O chefe de Cachoeiro pediu ainda que se comunicasse ao núcleo de Campos a necessidade de reforço para a proteção de Plínio Salgado, pois os comunistas anunciavam ―aos quatro cantos‖ que ele não passaria da cidade de Campos.

O conflito tão anunciado realmente aconteceu. O palco foi a estação ferroviária, onde integralistas e simpatizantes da ANL esperavam Plínio Salgado. A confusão acabou se espalhando pelas ruas da cidade. Houve tiros, feridos e mortos. O Chefe Nacional não veio. Não se sabe quem começou o confronto, mas sabe-se que um integralista e dois comunistas morreram.101

Tanto integralistas, quanto comunistas fizeram de seus mortos mártires. Os dois ―proletários‖ mortos, Quitito e Orestes, dez anos depois, ocupavam as páginas do jornal comunista Folha Capixaba. Alberto Secchin, o integralista morto, por sua vez, tornou-se nome de uma escola integralista e sua família recebeu um retrato do Chefe Nacional.102

Por certo, os enfrentamentos ficaram na memória de integralistas e comunistas, mas ―pintados‖ com diferentes cores. No ano de 1945, o jornal Folha Capixaba ―relembrou‖ os fatos ocorridos naqueles dias na cidade de Cachoeiro. A reportagem foi dividida em várias partes, e os subtítulos escolhidos foram bastante sugestivos, tais como: ―Repulsa unânime‖, ―Barradas todas as entradas‖, ―Sob tremendíssima vaia‖, ―A batalha na estação‖ e, finalmente, ―Salve-se quem puder‖.

No atropelo indescritível, sob a saraivada de bofetões, rasteiras, pontapés nos fundilhos, etc. os chefes sigmóides foram os primeiros a dar o grito de ‗salve-se quem puder!‘. Verificou-se desse modo uma cena extremamente grotesca. Uivando de medo, os ‗heróis‘ do sigma, desabalaram pela estação a fora, buscando as saídas! O porão do hotel da estação encheu-se a cunha de integralistas, uns atirados por cima dos outros. Os que ganhavam à rua eram unhados pelo povo, que os descamisava num ápice, aplicando-lhes um par de bofetadas. Outros entravam pelas casas particulares pedindo proteção, e dali só saiam sem camisa verde disfarçados de gente.

101 Conforme o jornal comunista Folha Capixaba, morreram os proletários Quitito e Orestes e três

integralistas. Na documentação do núcleo integralista de Cachoeiro, encontra-se referência à morte do camisa-verde Alberto Secchin. Fagundes fala em três mortos e dez feridos e afirma também que Gustavo Barroso estava no trem (FAGUNDES, Pedro Ernesto. Os integralistas e as eleições de 1935 no ES. In: SIMPÓSIO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23., 2005, Londrina. Anais... Londrina: Associação Nacional de História, 2005. Disponível em: <http://www.anpuh.uepg.br/Xxiii- simposio/anais/textos/PEDRO%20ERNESTO%FAGUNDES.pdf> Acesso em: 26 abr. 2007).

102 Conforme Silva (2005), a revista integralista de maior expressão nacional

– Anauê – trouxe, no seu primeiro número, a foto do Chefe Nacional para ser emoldurada, constando a recomendação de colocá-la na sala de visitas para que todos pudessem ver a imagem do líder.

46

Em resumo, nunca foi assistida em Cachoeiro do Itapemirim uma surra igual a essa.103

Após os levantes de novembro, Vargas decretou o Estado de Sítio. Viana afirma que os eventos, que culminaram na conhecida ―Intentona Comunista‖, termo usado, conforme o autor, para depreciar o movimento, devem ser interpretados mais como uma manifestação ligada às insatisfações dos militares e ao movimento tenentista do que a um levante comunista.104 O que ligava tenentes e comunistas era a figura de Luis Carlos Prestes, o antigo ―Cavaleiro da Esperança‖ que, naquele momento, já pertencia à Internacional Comunista.

O movimento integralista do Espírito Santo, que se via como ―[...] um elemento de ordem e contra qualquer manifestação comunista‖, baseando-se no Estado de Sítio, mandou as seguintes orientações para os seus núcleos no dia 25 de novembro: a) suspender imediatamente reuniões e qualquer tipo de propaganda e, se a reunião fosse necessária, não poderia juntar mais do que 19 pessoas de cada vez; b) continuar os trabalhos eleitorais, fazendo o preparo de chapas, divulgação por escrito, registro, etc.; c) preparar por meio de recomendações, sem caráter de reunião ou propaganda, o ―espírito das populações‖ e, principalmente, dos próprios integralistas para a necessidade de auxiliar o governo na repressão de qualquer tentativa de subversão da ordem; d) acatar todas as ordens do governo por mais ―absurdas‖ que fossem.105

Em 13 de dezembro, a chefia provincial solicitava que os integralistas não cometessem o menor ato de violência contra os jornais que faziam uma ―campanha difamadora‖ contra a AIB, declarando que seu objetivo primordial era a luta contra o comunismo e a vigilância das famílias e da Pátria. Os chefes provinciais, municipais e distritais estavam autorizados a desmentir qualquer notícia sobre o integralismo, ainda que favorável, devendo considerar verdadeiras somente as notícias recebidas da própria AIB. Informava também que a Chefia Nacional havia proibido qualquer cooperação com as autoridades, salvo quando estas solicitassem por escrito.106

103 JORNAL FOLHA CAPIXABA, de 15-6-1945, APEES. 104 VIANNA, 2003.

105 Ofício do Chefe Provincial para Núcleos, de 25-11-1935 (Caixa n° 37. APEES).

106 Circular da Chefia Nacional n° 1005, de 28-12-1935, remetida pelo Núcleo de Vitória para os

47

Assim, apesar da situação política bastante delicada, a AIB continuou a sua campanha para as eleições de dezembro de 1935. Os integralistas conseguiram eleger vários vereadores em diferentes municípios, tanto no centro, quanto no norte e sul do Estado, como demonstra a tabela a seguir:

Tabela 1 – Vereadores Integralistas

Município N° de vereadores Alfredo Chaves 01 Cachoeiro de Itapemirim 01 Castelo 04 Colatina 03 Domingos Martins 03 Guarapari 01 Iconha 01 Pau Gigante 02

Rio Novo do Sul 01

Santa Tereza 05

Siqueira Campos 01

Viana 01

Vitória 02

Total 26

Fonte: Relatório da AIB do ano de 1936. Caixa n° 37. APEES.

Além dos 26 vereadores, a AIB elegeu também os prefeitos dos municípios de Domingos Martins – Octaviano Santos – e de Santa Teresa – Enrico Ildebrando Aurélio Ruschi.107 Não obstante a vitória nos dois municípios, a AIB perdeu as eleições para a Prefeitura de Castelo, lugar em que havia depositado grandes esperanças, já que acreditavam contar com o apoio das três figuras de maior prestígio da localidade – Archilau Vivacqua, José Colla e João Rangel.

Porém, mesmo diante dessa derrota, o chefe de Cachoeiro informou sua satisfação com as palavras de João Rangel, o candidato da AIB vencido em Castelo:

107 Circular n°1, de 4-2-1936, e diretiva sem número, de 17-2-1936 (Caixa n° 37. APEES). Octaviano

48

[...] tive uma grande satisfação devido à atitude do companheiro João Rangel, que no dia seguinte a apuração disse-me que agora ia mostrar aos políticos, que afirmam ter ele entrado para o nosso movimento somente para ser Prefeito, e que é um Camisa Verde e como se trabalha para o Integralismo.108

A acusação dos adversários mostra que o integralismo podia mesmo ter ganhado as eleições também em Castelo. João Rangel fez seu juramento no mês de outubro e antes disso seu nome já era cogitado para disputar a Prefeitura por outro partido. Naquela ocasião, foi advertido pelos integralistas de que, depois do juramento, levaria uma nova vida e, portanto, deveria abandonar para sempre todas as suas atividades de antigo liberal-democrata.109 Assim, Rangel deixava o PSD e aderia ao movimento. Dois meses depois, transformou-se no candidato da AIB.

Durante a campanha em outro município – Calçado – num panfleto intitulado ―A Ação Integralista Brasileira à Família Calçadense‖, os integralistas afirmavam que as mais conceituadas famílias calçadenses apoiavam o movimento. Entretanto, nesse município não conseguiram eleger nem o prefeito, nem vereadores. Mais do que o resultado da eleição em Calçado, importa-nos a mensagem de tal panfleto. Este lembrava que o mal do comunismo não havia sido ―extirpado‖ totalmente do ―corpo‖ da Pátria, após novembro de 1935:

Deveis vos prevenir, porque o grande mal ainda perdura. O acontecimento nesses últimos dias exemplifica a dor que acusa uma infecção no organismo da Pátria. A carnificina do massacre e da rendição não constitui cura. Precisamos reagir, nós que somos o organismo da nação.110

Dutra afirma que a identificação do inimigo com o mal, como doença, era recorrente nos discursos anticomunistas na década de 30.111 O próprio Vargas fez uso da metáfora médica em seus discursos. Assim, o comunismo era visto como um mal externo, exótico, que tentava se infiltrar no corpo da nação. Era urgente a

108 Ofício do Núcleo de Cachoeiro para o Núcleo de Vitória, de 13-1-1935 (Caixa n° 37. APEES).

Provavelmente a data está equivocada, pois o resultado da eleição saiu no início de 1936 (Caixa n° 37. APEES).

109 Oficio do Núcleo de Cachoeiro para o Núcleo de Vitória, de 7-10-1935 (Caixa n° 37. APEES). 110 Rascunho de telegrama do Núcleo de Cachoeiro para o Núcleo de Vitória, de 16-5-1936 (Caixa n°

37. APEES).

49

―extirpação‖ desse mal, mas não bastava punir, pois o ―massacre e a rendição‖ ainda não traziam a cura; eram necessárias ―medidas preventivas‖ e ―saneadoras‖, a fim de evitar uma nova contaminação. Sobre o anticomunismo da AIB, Falcão salienta que,

O anticomunismo, que era por sua vez uma das marcas registradas do ideário integralista, produzia certas manifestações que poderiam ser tomadas como simples comicidade ou desvario, se não tivessem profundas implicações na construção de um imaginário visceralmente negativo acerca de seus adversários.112

Era necessário construir a imagem do inimigo e, para tanto, os integralistas difundiam ―informações‖ sobre os comunistas e o seu governo. As noticias que se difundiam entre os integralistas sobre a Rússia e o comunismo eram bastante impactantes. Esses ―fatos‖ colocavam em xeque a existência da instituição familiar e dos seus valores, como a hierarquia e a moral, trazendo o retorno de uma era de barbárie e escravidão.

Em carta que dirigi a um companheiro de Venda Nova, relatei um facto altamente expressivo que acaba de se dar na Rússia sovietica. O Governo no firme proposito das realisações materialistas acaba de construir um grande pateo, medindo 1 quilometro quadrado, todo cercado de fortes e gigantescos muros. Nessa prisão que é guarnecida por soldados, interna e externamente, foram presas grandes numeros de moças arrancadas de todas as classes sociaes, bem como numero correspondente de homens também escolhidos em identicas condições. Ahi vivem nus como verdadeiros animais realisam a procriação como si fosse animaes irracionaes. São obrigados a praticas de todos os actos animalisantes na presença da guarda sempre attenta e armada de metralhadoras, fusis e bayonetas. É uma verdadeira escravidão.113

Em 1936 o movimento integralista continuou se organizando e, para facilitar a comunicação entre os vários núcleos, a Província do Espírito Santo foi dividida em seis regiões (Quadro 1):

112 FALCÃO, 2000, p. 139.

113 Carta de 15-10-1935 enviada por Archilau Vivacqua ao chefe do núcleo integralista de Venda

50

Regiões Núcleos

1° região Pau-Gigante (sede), Colatina, Fundão, Serra, São Mateus e Conceição da Barra 2° região Santa Teresa (sede), Itaguaçu, Afonso Cláudio e Santa Leopoldina 3° região Vitória (sede), Cariacica, Viana, Domingos Martins, Guarapari e Anchieta 4° região Cachoeiro de Itapemirim (sede), Vila de Itapemirim, Piúma, Iconha, Rio Novo e Alfredo Chaves

5° região Castelo (sede), Muniz Freire e Rio Pardo

6° região Calçado (sede), Alegre, Siqueira Campos, Muqui, João Pessoa e Mimoso Quadro 1: Divisão da Província do Espírito Santo

Fonte: Resolução n° 20, do Núcleo de Vitória para Núcleo de Cachoeiro, de 9-7-1936. Caixa n° 37. APEES.