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CONHECIMENTO E PENSAMENTO TEÓRICO

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CAPÍTULO II A TEORIA DO ENSINO DESENVOLVIMENTAL

1 Aspectos gerais da teoria do ensino desenvolvimental

1.9 CONHECIMENTO E PENSAMENTO TEÓRICO

A teoria de Davydov proporciona ao aluno, por meio do pensamento teórico, que ele compreenda o processo de aquisição do conhecimento de uma forma mais completa, fazendo relações com conceitos presentes nas disciplinas escolares, reduzindo a desarticulação entre os conteúdos ministrados em sala de aula (DAVYDOV, 1988a).

Segundo Davydov (1988a, p. 73)

[...] o conteúdo específico do pensamento teórico é a existência mediatizada, refletida, essencial. O pensamento teórico é o processo de idealização de um dos aspectos da atividade objetal-prática, a reprodução, nela, das formas universais das coisas. Tal reprodução tem lugar na atividade laboral das pessoas como experimentação objetal sensorial peculiar. Depois, este experimento adquire cada vez mais um caráter cognoscitivo, permitindo às pessoas passar, com o tempo, aos experimentos realizados mentalmente. As particularidades do experimento mental assinaladas acima conformam a base do pensamento teórico, que já não opera com representações, mas, propriamente, com conceitos.

O caráter interno não pode ser observado diretamente e só se descobre nas mediatizações dentro do todo. Presente, passado e futuro devem ser correlacionados mentalmente, assim como reunir dessemelhanças e fragmentos na construção do todo (DAVYDOV, 1988a).

As fontes do pensamento teórico encontram-se no processo mesmo do trabalho produtivo. Este pensamento sempre está internamente ligado com a realidade dada em forma sensorial. Exatamente o pensamento teórico (e de nenhuma maneira o empírico), realiza em plena intensidade as possibilidades cognoscitivas que a prática sensorial objetiva, recriadora das ligações universais da realidade em sua essência experimental, abre perante o homem. O pensamento teórico idealiza os aspectos experimentais da produção dando-lhes, inicialmente, a forma de experimento cognitivo objetal-prático e, depois, de experimento mental, realizado em forma de conceito e por meio deste. Obviamente, no processo de desenvolvimento histórico da produção material e espiritual, foi necessário um tempo considerável para que o pensamento teórico adquirisse soberania e sua forma atual (DAVYDOV, 1988a, p. 133-134).

O pensamento teórico favorece o surgimento de um perfil de aluno autônomo que consegue aprender outros conceitos dentro e fora do ambiente escolar, promovendo e

ampliando o desenvolvimento de sua mente (DAVYDOV, 1988a).

Para se alcançar o pensamento teórico o aluno deve seguir o método do abstrato ao concreto. O concreto real aparece, no início, sensorialmente por meio da contemplação e da representação e por meio da abstração inicial se reproduz o concreto real novamente, só que desta vez conectado à historicidade, às contradições e à essência do objeto (DAVYDOV, 1988a).

O abstrato e o concreto são momentos do desmembramento do próprio objeto, da realidade mesma, refletida na consciência e por isso são derivados do processo da atividade mental. [...] Só no processo de seu desenvolvimento a “célula” revela sua natureza universal, atuando como base de todas as manifestações do concreto; por meio das conexões com essas manifestações realiza a função de unificá-las, de concretizá-las. Aqui o universal corresponde às possibilidades potenciais da base genética de determinado todo. [...] A essência é a conexão interna que, como fonte única, como base genética, determina todas as outras especificidades particulares do todo. [...] A abstração geneticamente inicial, substantiva, expressa a essência do objeto concreto. A abstração substantiva, pela qual quaisquer objetos se reduzem a sua forma universal fixa a essência daqueles objetos. [...] A recriação do concreto está ligada, no fundamental, ao processo de síntese, ainda que dentro deste se produza permanentemente a análise a fim de se obter as abstrações indispensáveis (DAVYDOV, 1988a, p. 144-148).

Quando a célula é isolada criam-se condições para a dedução genética por meio das conexões e das relações que refletem a formação do concreto, que está ligada ao processo de síntese e da atividade de síntese obtém as abstrações necessárias. A ascensão, que revela as contradições a partir da abstração inicial, juntamente com a redução formam uma unidade, mas este é governante, expressando a natureza do pensamento teórico, em que a redução funciona como meio para o concreto determinar as atividades do pensamento (DAVYDOV, 1988a).

No processo de ascensão do abstrato ao concreto não pode haver fenômenos particulares no geral. No processo de dedução do concreto é necessário encontrar elos mediadores para explicar manifestações particulares. No concreto mental deve-se incluir apenas as conexões e relações que são dedutíveis de sua essência e criar a tempo as abstrações necessárias. Por meio da atividade da imaginação faz a reprodução teórica da realidade de modo que o todo seja visto antes de suas partes (DAVYDOV, 1988a).

O mecanismo da ascensão é a revelação das contradições dentro da relação determinada na abstração inicial. [...] Assim o pensamento teórico se realiza em duas formas fundamentais: 1) pela análise dos dados reais e sua generalização separa-se a abstração substantiva, que estabelece a essência do objeto concreto estudado e que se expressa no conceito de sua “célula”; 2) depois, pelo caminho da revelação das contradições nesta “célula” e da determinação do procedimento para sua solução prática, segue a ascensão a partir da essência abstrata e da relação universal não desmembrada, até a unidade dos aspectos diversos do todo em desenvolvimento, ao concreto. [...] No pensamento teórico, o próprio concreto aparece duas vezes: como ponto de partida da contemplação e representação, reelaboradas no conceito, e como resultado mental da reunião das abstrações (DAVYDOV, 1988a, p. 149-151).

O concreto é resultado mental da reunião das abstrações e está sempre em formação, ou seja, em movimento, podendo descobrir as conexões internas do sistema e as relações do particular e do geral. O acompanhamento das passagens do particular ao universal, e vice versa, assim como a formação dos objetos, ocorre na mente, transformando o objeto idealizado e descobrindo novas relações internas. Na mente pode realizar transformações dos objetos que não podem ser feitas com ações práticas objetais e ao descobrir novas propriedades se referem aos resultados do pensamento teórico, refletindo a natureza interna da realidade (DAVYDOV, 1988a).

As ações mentais abstração e generalização são a base da formação do pensamento teórico dos objetos de aprendizagem, ou seja, dos conteúdos das disciplinas escolares. E isso resulta no desenvolvimento de novas capacidades mentais e práticas em relação ao objeto aprendido.

A abstração e a generalização substantivas aparecem como dois aspectos de um processo único de ascensão do pensamento ao concreto. [...] A generalização substantiva consiste, predominantemente, na redução dos diversos fenômenos à sua base única. [...] Por seu conteúdo, o conceito teórico aparece com reflexo dos processos de desenvolvimento, da relação entre o universal e o singular, da essência e os fenômenos; por sua forma aparece como procedimento da dedução do singular a partir do universal, como procedimento de ascensão do abstrato ao concreto. [...] No processo de ascensão do concreto mental e, dentro dele, em forma de conceito teórico, ocorre a reelaboração de todo o conjunto de dados reais sobre os sistemas integrais. [...] O conceito constitui o procedimento e o meio da reprodução mental de qualquer objeto como sistema integral (DAVYDOV, 1988a, p. 151-153).

A generalização é a etapa em que o aluno é capaz de atuar com aquele determinado conceito em situações particulares. Dessa forma, os alunos vão adquirindo autonomia para aprender outros conceitos a partir de alguns conceitos chaves elaborados em sua mente. A generalização substantiva ocorre quando se descobre a lei de formação dos fenômenos particulares e singulares, e "se realiza pelo caminho da análise de determinado todo com a finalidade de descobrir sua relação geneticamente inicial, essencial, universal, como base da unidade interna deste todo" (DAVYDOV, 1988a, p. 152).

O conceito é o reflexo e a reprodução mental do objeto dentro do todo, derivado da ação objetal-cognitiva, e "a forma de atividade mental por meio da qual se reproduz o objeto idealizado e o sistema de suas relações, que em sua unidade refletem a universalidade ou a essência do movimento do objeto material" (DAVYDOV, 1988a, p. 128). Cada conceito interiorizado na mente do aluno o habilita a fazer novas relações e aprender outros. Portanto, quanto maior for a rede conceitual do aluno, maior será a possibilidade dele aprender outros novos.

Um conceito importante a ser caracterizado é o de essência. A dialética busca o essencial das coisas, pode ser revelada no exame do processo de seu desenvolvimento, existe só passando por uns e outros fenômenos, se constata as particularidades do universal do objeto por meio de conexões objetivas, assegurando em sua dissociação e manifestação a unidade do todo, dando concretude ao objeto (DAVYDOV, 1988a).

Os conceitos historicamente formados na sociedade existem objetivamente nas formas da atividade humana e em seus resultados, ou seja, nos objetos criados de maneira racional. As pessoas individualmente (sobretudo as crianças) os captam e os assimilam antes de aprenderem a atuar com suas manifestações empíricas particulares. O indivíduo deve atuar e produzir as coisas segundo os conceitos que, como normas, já existem anteriormente na sociedade, ele não os cria, e sim os capta, apropria-se deles. Só então se comporta humanamente com as coisas. Como norma da atividade, na educação o conceito atua, para os indivíduos, como primário em relação a suas diversas manifestações particulares. Como algo universal, este conceito é o modelo original (protótipo) e a escala para avaliar as coisas com as quais o indivíduo se encontra empiricamente (DAVYDOV, 1988a, p. 130).

Simultaneamente à generalização ocorre a interiorização do conceito, que é quando o conceito passa a fazer sentido para o aluno. A interiorização se refere quando determinado conteúdo faz sentido para o aluno. Segundo Davydov (1988a, p. 6), a interiorização ocorre quando uma determinada atividade se transforma em individual e “os meios de sua organização, em internos”. Em outro momento Davydov salienta que no processo de interiorização há a "passagem das formas externas, realizadas, coletivas, da atividade, às formas internas, implícitas e individuais da realização da atividade, ou seja, [...] de transformação do interpsíquico em intrapsíquico" (DAVYDOV, 1988a, p. 31).

O professor propõe a atividade de estudo para o aluno, fundamentada na análise do conteúdo, e ao ser feita pelo aluno, este realiza a transformação do conhecimento interpsíquico para o intrapsíquico.

Os fenômenos particulares que ocorrem no mundo real e alheio ao sujeito são interiorizados por ele e se apresentam com certa concretude, passando a obter a célula desta concretude que possui as qualidades da forma abstrata universal, determinando o surgimento e o desenvolvimento de fenômenos peculiares e singulares dentro de determinado todo, revelando-se o universal quando a célula se desenvolve, e a conexão com as manifestações do concreto tem a função de torná-las concretas (DAVYDOV, 1988a).

Assim o pensamento teórico se realiza em duas formas fundamentais: 1) pela análise dos dados reais e sua generalização separa-se a abstração substantiva, que estabelece a essência do objeto concreto estudado e que se expressa no conceito de sua “célula”; 2) depois, pelo caminho da revelação das contradições nesta “célula” e da determinação do procedimento para sua solução prática, segue a ascensão a partir da essência abstrata e da relação universal não desmembrada, até a unidade dos aspectos diversos do todo em desenvolvimento, ao concreto (DAVYDOV, 1988a, p. 150).

O pensamento teórico favorece uma melhor formação do aluno por ele não apenas receber as informações prontas, como um sujeito passivo no processo de ensino e aprendizagem, e sim seja um sujeito ativo na construção do seu aprendizado, possibilitando que seja um sujeito crítico e que tenha um conhecimento mais abrangente acerca de determinado conteúdo, chegando-se ao conceito, que é formado pela relação de vários outros.

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