• Nenhum resultado encontrado

Objeto da pesquisa e argumentos pelo experimento didático formativo

No documento Download/Open (páginas 63-65)

CAPÍTULO III – HISTORIANDO E CONTEXTUALIZANDO A

1 Objeto da pesquisa e argumentos pelo experimento didático formativo

A natureza do objeto da pesquisa apontou para o experimento didático formativo, um procedimento investigativo peculiar à teoria histórico-cultural, como modalidade de pesquisa na tentativa de encontrar respostas ao problema de pesquisa. Buscou-se oferecer uma contribuição à compreensão e ao enfrentamento no contexto da escola da não aprendizagem de Física como um fenômeno presente nos discursos de alunos e professores, com forte ressonância nas salas de aula, sobretudo no Ensino Médio. Para isso, definiu-se como objetivo geral da pesquisa analisar a ocorrência de mudanças na aprendizagem das leis de Newton por alunos do Ensino Médio ao ser utilizado no ensino o aporte teórico-metodológico de Davydov.

Foi, portanto, uma investigação de natureza educacional e especificamente no campo da didática e teve a finalidade de contribuir para mudar as relações presentes no ensino e aprendizagem de Física e não apenas descrevê-las quantitativamente ou de forma interpretativa.

O objeto da pesquisa educacional assume características que tornam impossível investigá-lo de forma quantificável, observável e mensurável, bem como analisar os dados e resultados na forma de relações causa e efeito. Neste sentido, a presente pesquisa dificilmente pode ser repetível ou replicável e fica afastada a perspectiva da neutralidade científica (ARNAL; IGEA; LATORRE, 1992).

Buscou-se enfocar o problema do ensino e aprendizagem de Física compreendido como práxis, assumindo-se na pesquisa um compromisso científico e social de caráter emancipatório. Se consideradas as caracterizações da pesquisa qualitativa em educação

apresentadas por autores do campo da educação que discutem essa abordagem de pesquisa, (BOGDAN; BIKLEN, 1994; LAVILLE; DIONE, 1999; LUDKE; ALVES; ANDRÉ, 2013), a presente pesquisa poderia ser caracterizada como tal. Entretanto, sob a lógica orientadora do paradigma histórico-cultural, em particular a teoria do ensino desenvolvimental e, ainda, considerando-se o objeto investigado, a presente pesquisa caracteriza-se como um experimento didático formativo, ou simplesmente experimento formativo, como denomina Davydov (1988a). A seguir passa-se à caracterização do experimento didático formativo realizado.

Davydov em suas pesquisas relata que estudar as “peculiaridades da organização do ensino experimental e sua influência no desenvolvimento mental dos escolares exigiu a aplicação de um método especial de pesquisa, que, na psicologia, é comumente chamado de experimento formativo” (DAVYDOV, 1988a, p. 195). Refere, ainda, que esse método se baseia na organização e reorganização de novos planos ou projetos de educação e ensino, bem como dos procedimentos necessários para serem concretizados. Para o autor um plano de ensino, no contexto de um experimento formativo, não tem por objetivo a adaptação do aluno a um nível de desenvolvimento já existente, já formado, mas a formação de um novo nível de desenvolvimento mediante as ações que o professor propõe para o estudo de certo conteúdo.

O experimento didático formativo é uma investigação pedagógica de base histórico- cultural e seu foco está na relação entre professor e alunos em atividade de ensino e aprendizagem. É uma alternativa na pesquisa sobre as relações entre ensino e aprendizagem, e pode contribuir no avanço da didática e das metodologias específicas das disciplinas, mas sua utilização requer que o pesquisador tenha conhecimento dos princípios da teoria histórico- cultural, domínio do conteúdo, dos procedimentos investigativos da ciência ensinada e dos procedimentos pedagógico-didáticos para o ensino. O termo experimento na abordagem histórico-cultural não tem o mesmo significado daqueles experimentos de cunho positivista. Também não equivalem aos realizados por professores em aula com o objetivo de demonstrações científicas aos alunos. A melhoria na qualidade do ensino perpassa pela disponibilidade de variadas referências que podem auxiliar os professores em sala de aula (FREITAS, 2010).

É “experimento” por tratar-se de por em prática uma intervenção pedagógica por meio de determinada metodologia de ensino, visando promover as ações mentais do aluno para que haja mudanças em seus níveis futuros esperados de desenvolvimento mental. É “formativo porque se trata de uma sucessão de ações e interações que vão ocorrendo na atividade dos alunos, obedecendo a um processo em que vão sendo formadas ações mentais”. Desse modo, o experimento didático formativo pode ser caracterizado como pesquisa da, para a, com a, prática de ensino, gerando elementos variados para uma análise das suas possibilidades e limites (FREITAS, 2010, p. 3).

A autora também considera que, na abordagem histórico-cultural, o experimento didático formativo é uma variante do método genético utilizado por Vygotsky em suas pesquisas visando estudar um objeto durante seu transcurso evolutivo. De forma semelhante, no experimento formativo, o pesquisador busca estudar mudanças no pensamento dos alunos no transcurso do processo ensino e aprendizagem. Referindo-se a Vygotsky a autora escreve:

[...] em suas obras, uma parte significativa foi destinada à explicação materialista dialética da formação e desenvolvimento dos processos psicológicos humanos. Nelas esse autor utilizou freqüentemente termos como experimento, estudo experimental, investigação experimental. Seu argumento básico era que, na perspectiva materialista dialética, a experimentação é um procedimento que se realiza como processo de captar, compreender e explicar o movimento que dá origem às funções psicológicas humanas. Essa é a condição genética concreta das funções psicológicas. Conjuntamente a esse método, a análise deve revelar as reais relações dinâmicas que originam um objeto (análise genética) (FREITAS, 2010, p. 4-5).

Como variante do método genético de Vygotsky, o experimento didático formativo desenvolvido por Davydov, busca analisar mudanças no pensamento dos alunos em relação com seu aprendizado a partir de determinado modo do professor ensinar. Essas mudanças são investigadas no decurso do processo de ensino e aprendizagem durante o estudo de um objeto, um conteúdo, pelos alunos. Para esse estudo, o professor propõe a tarefa e a organiza em ações que os alunos realizam (Cf. Capítulo II desta tese), ao mesmo tempo em que examinam seu método de pensamento em relação ao objeto da aprendizagem. O método de pensamento presente na tarefa visa contribuir para os alunos formarem um pensamento teórico em relação ao objeto. O pesquisador, portanto, ao organizar o ensino de certo objeto, interessa-se pelas mudanças no pensamento dos alunos em direção ao pensamento teórico do objeto, o seu conceito.

No documento Download/Open (páginas 63-65)