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Atualmente, assistimos a uma certa difusão da crença de que a discussão sobre o poder se esvaziou ou, pelo menos, não pode mais se dar nos moldes tradicionais. Isso porque as ferramentas trazidas pela tecnologia da informação e comunicação parecem ter dado a

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todos os indivíduos as mesmas possibilidades na produção de sentido e construção da realidade.

A possibilidade crescente de qualquer um ter acesso a espaços autorais gratuitos através das ferramentas de Internet nos fazem ver, no entanto, que mais do que acesso a elas, o poder pressupõe a existência do outro sobre o qual o poder é exercido, ou seja, no caso dos blogs é necessária a conquista de um público leitor para que o poder social se estabeleça, de fato. “Enquanto o poder foi definido, tradicionalmente, em termos de classe e controle sobre os meios materiais da produção, hoje tal poder tem sido em grande parte substituído pelo controle das mentes das massas [...] que requer o controle sobre o discurso público em todas as suas dimensões semióticas” (DIJK, 2010, p. 24). A possibilidade que os falantes têm de influenciar até mesmo a ideologia dos receptores corresponde à capacidade de controlar indiretamente as ações futuras desses receptores.

De modo semelhante às práticas utilizadas pelos meios de comunicação de massa mais tradicionais (uso seletivo de fontes de informação, seleção de assuntos, rotinas padronizadas), os blogs de notícias também podem contribuir para o fortalecimento das classes que já estão no poder, deixando de desempenhar justamente o papel de espaços alternativos nos quais é possível enxergar realidades para além da que é veiculada pela mídia. “O campo de produção simbólica é um microcosmos da luta simbólica entre as classes: é ao servirem os seus interesses na luta interna do campo de produção (e só nesta medida) que os produtores servem os interesses dos grupos exteriores ao campo da produção” (BORDIEU, 1989, p. 12).

Nos blogs, o sucesso geralmente depende da conquista de um grande número de leitores, sobretudo leitores ativos, participantes. Os contadores de acesso utilizados em diversos blogs são uma ferramenta destinada a mostrar a popularidade de um blogueiro ou, trocando em miúdos, seu poder de influência social.

Charaudeau (2010) argumenta que não há relações sociais sem relações de influência que se processam a partir do reconhecimento das diferenças identitárias entre os sujeitos envolvidos na comunicação. Com esse reconhecimento, cada sujeito aplica estratégias para combater a ameaça que o “outro” diferente representa.

A formação do público leitor de um blog pode ser analisada à luz da existência de uma espécie de contrato de comunicação entre o leitor e o blogueiro. “Do ponto de vista

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discursivo, todo ato de linguagem se realiza numa situação de comunicação normatizada, composta pela expectativa da troca e pela presença das restrições de encenação (contrato de comunicação e instruções discursivas)” (CHARAUDEAU, 2010, p. 59). Esta situação, com suas expectativas, define também a posição de legitimidade dos sujeitos falantes: o “em nome do que se fala” (CHARAUDEAU, 2010, p. 59, grifo do autor).

Na prática, um jornalista precisa ter credibilidade e, mais ainda, precisa captar e cativar o público leitor, num mundo virtual caracterizado pela concorrência de amplas possibilidades. O jornalista aposta, então, no seu poder de influência, utilizando-se de procedimentos que lhe permitem estabelecer um contato permanente com seu público, focado no tipo de relação que se instaura entre eles, seu poder de tocar o afeto do outro, não só pelo uso da técnica de escrita, mas pela forma de promover uma identificação com o leitor e até utilizando-se de uma determinada lógica para construir argumentos com aparência de verdades incontestáveis.

A conquista do leitor é decisiva e, nesse sentido o autor precisa investir na relação com o público leitor. “Um blog de sucesso depende de um complexo processo interacional, perpassado por relações de poder. É preciso legitimar seus conteúdos, construir reputação e relações de confiança” (RODRIGUES, 2009, p.148).

É como se diante da grande massa de informação disponível as pessoas decidissem conhecer o mundo pelos olhos de alguém que considera mais bem informado, um especialista com acesso privilegiado aos meios onde a notícia ocorre, um formador de opinião – ideia que guarda similitudes com a concepção de Lazarsfeld (apud POLISTCHUK; TRINTA, 2003) do two-step flow of communication (fluxo de comunicação em duas etapas), apesar desta ter sido elaborada num momento anterior ao surgimento da Internet . “O blogueiro assume uma posição de líder, de difusor de idéias, de formador de opinião, que o jornalista havia perdido como indivíduo no processo de industrialização da informação” (RODRIGUES, 2009, p. 84).

Nesse sentido, podemos dizer que alguns profissionais da comunicação procedem a um enquadramento estratégico da realidade, procurando exercer poder e influências sobre as audiências a fim de que estas aceitem interpretações que favoreçam os seus interesses e objetivos. “Isto inclui políticos, alguns bloggers, editorialistas e líderes de opinião” (CORREIA, 2011, p. 51).

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Ao destacar o crescimento do uso da Internet por parte de jornalistas independentes, ativistas políticos e pessoas de diversas áreas, como canal de difusão de informação política, mas também de boatos e rumores, Castells (2001) salienta a necessidade da credibilidade nesse ambiente tão diverso. Mas, argumenta também que informações políticas relevantes não viriam a ser conhecidas sem essa atuação de tantas pessoas difundindo informações na rede mundial de computadores.

Essa credibilidade é um dos pilares para a construção do capital social, tão necessário para a influência de um blogueiro junto ao público. Os jornalistas podem mesmo levar uma certa vantagem nesse aspecto.

O jornalismo traz consigo uma certa função e um compromisso social. Por isso, recebe credibilidade da população (que é uma forma de capital social). Na era da hiperconexão, esse capital social é mais importante do que nunca. O cuidado para com as informações que são publicadas, o cuidado para com a averiguação dos fatos e o cuidado para com o aprofundamento dos mesmos é que faz o jornalismo relevante num mundo onde qualquer um pode dar uma notícia (RECUERO, 2011).

Os profissionais do jornalismo ganharam novos espaços para realização e divulgação de seu trabalho, independentemente de trabalharem ou não num grande veículo. Um blog com notícias atualizadas e grande número de acessos faz crescer o prestígio social do profissional da comunicação.

Em termos práticos, na Internet, o capital social pode ser construído e até mesmo medido. O capital social de um blogueiro pode ser construído pelo status que ele adquire entre os demais blogueiros de uma rede, mas também pelo número de leitores que ele conquista – em alguns blogs, essa audiência pode ser conhecida através do contador de acessos publicados no blog ou através do número de comentários.

As definições convencionais de capital social ressaltam que as normas de confiança e reciprocidade são fruto da própria interação social, pressupondo algum grau de estabilidade nas relações e o reconhecimento da proximidade entre as pessoas. A interpretação mais óbvia do conceito de capital social é que são as relações de proximidade no espaço físico (geográfico), sustentadas e perpetuadas por indivíduos que compartilham, de forma direta e diária, opiniões, valores e objetivos que possibilitam a construção de redes e a colaboração recíproca (MAIA; GOMES, MARQUES, 2011, 69).

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Em diversos estudos sobre blogs, o compartilhamento de links costuma ser apontado como um dos principais indícios da credibilidade e do poder de um determinado blog. Um dos critérios utilizados na pesquisa de Marlow (2004) para aferir a autoridade de um blog é aparecer no maior número de blogrolls (lista de blogs seguidos pelo blog que a disponibiliza) e as citações que eles recebem de outros blogs. Cabe-nos observar que esses dois elementos dão indícios do quanto um determinado blog é importante dentro de uma rede de blogs e de que aumentam suas possibilidades de serem mais acessados e lidos.

No caso específico dos blogs de jornalismo, o acesso a fontes privilegiadas de informação dá aos blogueiros combustível para aumentar sua credibilidade e seu poder de influência junto aos demais blogueiros, aos seus leitores e ao público em geral, contribuindo indiretamente para o aumento do capital social.

Admitindo-se que a relevância de um acontecimento só é dada dentro de um contexto social e cultural, o blogueiro pode desempenhar o papel de um construtor de sentido para a realidade social nas quais os acontecimentos se desenrolam.