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O caráter subjetivo ou a presença declarada de conteúdo opinativo por parte do blogueiro não apareceu como característica marcante dos blogs analisados. Tal fato, em certa medida, vem contrariar até mesmo a ideia original de um blog enquanto ferramenta para construção de um diário virtual, ou seja, de um espaço no qual se postam textos ou imagens com impressões pessoais sobre um determinado fato, opiniões, expressão de crenças ou formas de enxergar um determinado assunto.

A ausência de conteúdo mais opinativo não é casual nem gratuita. Resulta antes da decisão dos próprios blogueiros que não enxergam seus blogs como espaços destinados a essa finalidade. Os dois blogueiros entrevistados foram unânimes em dizer que não se preocupam em dar sua própria opinião no blog. Para eles, isso não é considerado o mais importante. “Qual o objetivo do blog? É informar. O blog é antes de tudo informativo. Eu criei o blog para dar notícias aos meus leitores do que está acontecendo” (MARTINS, 2012).

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Melo (2012) define seu blog como uma tribuna na qual ele procura dar voz a segmentos diversos, correntes partidárias distintas, ao leitor de maneira geral.

Em função da condição que eu detenho hoje que é a de uma espécie de animador, eu evito dar opinião, assim, eu tenho uma liberdade para dar opinião, mas eu evito porque a minha opinião, ela é mais uma só, como é que eu vou me diferenciar? É se eu tiver boas informações [...] é muito fácil ter opinião, basta você achar que domina um assunto (MELO, 2012).

O que revela Martins (2012) segue caminho semelhante. Para ele, o objetivo do seu blog é dar informação, com agilidade e credibilidade, não está focado, de modo mais forte, no conteúdo opinativo. A presença do blogueiro, quanto ao conteúdo, só pôde ser percebida de modo mais claro em momentos pontuais. No caso do Blog do Magno Martins, por exemplo, é publicada diariamente uma coluna na qual o jornalista faz um trabalho realmente parecido com o de um colunista de jornal, ou seja, um trabalho semelhante ao que ele próprio exerceu no jornal Folha de Pernambuco, quando assinava uma coluna dedicada à política. “Minha opinião abre a coluna do blog, mas o primordial do blog é informar, a contextualização da opinião é outra coisa” (MARTINS, 2012).

Percebemos aqui uma tendência a separar o que seria informação do conteúdo de cunho opinativo. A postura do jornalista revela um pouco da meta jornalística ideal de busca da imparcialidade. Sabemos, no entanto, que a notícia é uma representação construída da realidade e, com certeza, não é razoável imaginar que se consiga atingir essa apreensão do fato, sem que o mesmo esteja, em maior ou menor medida, impregnado da visão de quem o narra.

O Blog de Jamildo não dispõe de espaço desse tipo, e conteúdo mais expressamente opinativo pode aparecer em qualquer dia da semana, sem estar destacado em um dia especial. Apesar de, conforme já afirmamos, isso não ser uma característica forte no blog em questão.

O conteúdo opinativo também aparece nesses espaços no conteúdo colaborativo, como a publicação de artigos de terceiros. Quanto à expressão de sua própria opinião, chama a atenção o fato de que o jornalista prefere se eximir de mostrar o que pensa sobre um determinado assunto ou porque considera sua opinião “mais uma”, como é o caso de Melo (2012) ou porque acredita que os leitores não acessam o blog para saber o que seu autor pensa, mas para ter acesso mesmo a informações mais “imparciais”.

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A delimitação de um local próprio para a opinião provoca no leitor a ideia de que tudo o mais que não esteja nesse espaço delimitado seja uma “informação” objetiva e isenta de qualquer subjetividade do autor – o que mostra também como o ideal da busca pela imparcialidade e objetividade como meta ainda dominam o pensamento dos blogueiros no fazer jornalístico cotidiano.

Há que se destacar, que os dois blogueiros reconhecem para si uma liberdade de expressão que foi propiciada pela internet e pelos blogs, no caso específico de nosso estudo. “Eu tenho uma liberdade muito ampla. Se eu faço uso? Eu faço muito menos uso do que já fiz eventualmente no passado” (MELO, 2012). Mas, curiosamente, ambos preferem não fazer uso dela de modo ostensivo, inclusive por receio de fazer retratações.

Fazer bom jornalismo, prestar boa informação que balize a opinião das pessoas requer tempo, investimento, experiência, fonte e tal,eu acho que eu me diferencio por aí. Eu acho que tem muita gente dando pitaco, aí depois tem que mudar o pitaco, porque a realidade mudou e você tem que mudar de opinião (MELO, 2012).

As repercussões dessa decisão é que os posts parecem perder em profundidade ao não trazerem análise sobre os assuntos a que se referem. Os dois jornalistas, até pela experiência profissional que acumulam – motivo pelo qual, inclusive, começaram a fazer os blogs –, não contribuem, nesse aspecto, para uma visão mais crítica e analítica dos fatos noticiados. Essa experiência profissional é mais utilizada, por outro lado, para atrair a atenção do leitor pelo nome e credibilidade do autor, pela maior possibilidade de notícias em primeira mão (furos jornalísticos), visto que os blogueiros dispõem de muitas fontes com importante atuação social e política e pelo volume de notícias postadas.

Outra conseqüência disso é que o formato de blog para esse tipo de trabalho pode estar sendo utilizado por mero acaso, modismo ou mesmo pela praticidade de uso, mas as metas dos blogueiros poderiam também ser alcançadas dentro de um formato de site comum, com abertura para postagens de comentários dos leitores.