• Nenhum resultado encontrado

O desenvolvimento da cultura pós-massiva, que constitui a atual cibercultura, fez com que se tornassem hábitos corriqueiros a produção, circulação e acesso de cada vez mais informação. Muitas ferramentas virtuais foram criadas para incorporar o indivíduo na grande esfera de produção e disseminação de conteúdo que é a Internet. Podemos citar como principais exemplos, as redes sociais (como o Twitter e o Facebook), fóruns online, wikis, podcasts etc.

Blog é um fenômeno do século XXI. Apareceu pela primeira vez em 1994, quando o estudante norte-americano Justin Hall criou um dos primeiros sites como formato de blog que se tem notícia, e popularizou-se a partir de 1999, com o surgimento de ferramentas de publicação que não envolve gastos ou conhecimento técnico. Mas foi em 2001 que despontou como fenômeno (PRADO, 2011).

Quando nasceram, os blogs eram como diários virtuais, espaços nos quais as pessoas disponibilizavam na internet o que tinham vontade, suas impressões, pensamentos, poesia, fotos de que gostavam etc.

48 Nos primeiros blogs, então, com formato de ordem cronológica inversa, predominava o revival de contar o que aconteceu no dia (e tudo vinha com a data), colocar pensamentos, chorar mágoas, planejar o que fazer no dia seguinte, que ganhava força no meio da década de 1990. De lá para cá, essas características permanecem, mas com modificações que revelam, principalmente, o domínio do uso e da linguagem dessa ferramenta (PRADO, 2011, p. 168).

A inovação trazida pelos blogs não está apenas na questão tecnológica de permitir a postagem dos conteúdos os mais diversos conforme a necessidade ou interesse do dono do blog. Ou seja, a ferramenta e sua interface simples e intuitiva, com layouts pré-montados e criação automática do endereço, facilitou muito a vida de quem queria escrever na web. Em conjunto com outras ferramentas, o blog pode ser considerado um divisor de águas para a instituição da liberdade de expressão. "Os blogs são hoje um fenômeno mundial de emissão livre de informação sobre diversos formatos (pessoais, jornalísticos, empresariais, acadêmicos, comunitários)” (LEMOS, 2007, p.2).

A pesquisa intitulada State of Blogosphere 20114, realizada pela Technorati5 entre setembro e outubro do mencionado ano, abrangendo um universo de 4 mil blogs, envolvendo seus autores (bloggers) e leitores revela um incremento da atividade nesses espaços, não só por parte dos blogueiros que estão postando mais, compartilhando suas postagens nas redes sociais, mas também por parte do público leitor que vem desenvolvendo mais o hábito de acessar blogs e dando mais credibilidade a essa ferramenta como fonte de informação.

É patente, por isso, o potencial que a ferramenta traz de fazer circular informação vinda de pessoas comuns, não profissionais do jornalismo. “Os blogs mudaram para sempre a maneira pela qual a informação é disseminada em nossa sociedade. Eles são rápidos. Interativos. Livres. Podem ser perigosos. [...] a cada dia que passa estão ficando ainda mais fortes e influentes” (BRIGGS, 2007, p. 57).

O potencial da ferramenta é indiscutível e já há casos suficientes de destaque de blogs de grande sucesso alimentados por cidadãos comuns que enxergaram na web a possibilidade de dar vazão a suas ideias e opiniões e as informações de que dispõem, geralmente em nichos especializados ou em comunidades localizadas.

4 Disponível em http://technorati.com/blogging/article/state-of-the-blogosphere-2011-introduction/.

5 Technorati é uma empresa norte-americana de mídia online integrada, que disponibiliza uma plataforma de blogs. Desde 2004, faz estudos sobre a evolução da blogosfera no mundo.

49

"A comunicação interativa e coletiva é a principal atração do ciberespaço. Evidentemente pode-se utilizá-lo somente para relações ponto a ponto ou que reproduzam o modo mídia, isto é, emitindo informações a partir de um centro" (LÉVY, 1998, p. 44). É o que vemos no caso da apropriação de blogs por grandes conglomerados de mídia que passam a utilizar a ferramenta como mais uma destinada à massificação de posições, ideias e manutenção do status quo. Para Lemos (2007), a indústria massiva não vai ser capaz de absorver e “massificar” a cultura digital pós-massiva, mas, tão pouco, a cultura digital pós- massiva vai dar fim à cultura industrial massiva.

A riqueza de possibilidades e o poder de influência dos novos meios de comunicação através da internet têm atraído também o interesse dos grandes grupos de mídia (CASTELLS, 2006). Citamos como exemplo a apropriação de blogs criados por jornalistas profissionais de renome e com vasto público de admiradores por parte de alguns conglomerados de mídia– um negócio que visa maior atração de anunciantes.

O uso dessas novas ferramentas ajuda a incrementar o trabalho de empresas jornalísticas tradicionais fazendo circular mais facilmente sua produção informativa conseguindo, geralmente, aumentar ainda mais a visibilidade do trabalho. As novas ferramentas tecnológicas de comunicação podem mesmo incrementar a atuação profissional do jornalista, ampliando as possibilidades de um trabalho mais completo, do ponto de vista informativo e opinativo, ao tempo em que lança novos desafios e obriga o jornalista a pensar sua atuação social frente ao seu público e à sociedade em geral.

O desempenho do jornalista depende da construção de um acervo de conhecimento de excelência profissional que o habilite a perceber as contradições internas da estrutura de poder, entre esta e os interesses comerciais da empresa jornalística e ainda entre as aspirações instrumentais do veículo e a demanda por sentido e legitimidade da sociedade. (ROCHA, 2011, p.34)

Ainda assim, pode-se dizer que a popularização de ferramentas como blogs e redes sociais são indícios de que a grande mídia passou a ter que conviver com outras fontes de informação, umas mais confiáveis, algumas nem tanto, outras nem um pouco, mas ainda assim, uma contribuição valiosa para fazer circular informação mais variada e pontos de vista diversos. Poderíamos estar diante de uma forma de, pelo menos, diminuir o controle social do discurso, já que este tradicionalmente se dá através do controle de sua produção. Claro que

50

não podemos ignorar que há ainda sérias restrições de acesso à web, mas a democratização de seu uso, praticamente sem controles, do modo como hoje se pratica, pode ser uma forma importante de dar voz a camadas geralmente excluídas do processo de construção social da realidade.

De acordo com Prado (2011) os atentados terroristas ocorridos em Nova Iorque e Washington (EUA) podem ser considerados o momento-chave para a explosão dos blogs, o nascimento da blogosfera. A intensa busca por informações diante do caos que se instaurou fez com que a audiência dos blogs disparasse, chegando mesmo a competir com os sites jornalísticos tradicionais.

Para fazer face à concorrência, sem outra alternativa, veículos tradicionais como TVs, rádios, jornais e revistas sucumbiram à força da nova ferramenta e correram atrás de blogueiros de sucesso para criarem também blogs para complementar sua presença on-line. Jornais e revistas passaram a repercutir informações divulgadas em blogs, algo inimaginável nos primeiros anos, quando eram considerados inconsistentes e inconsequentes (FOSCHINI; TADDEI, 2006, apud PRADO, 2011p.171)

Sobretudo, nos momentos iniciais, os blogueiros foram muito criticados pela mídia tradicional, tomando-se como medida a credibilidade (no caso, a falta dela). Foram taxados de irresponsáveis.

(...) jornalistas amadores, frustrados, irresponsáveis por informar sem checar e portanto de escrever bobagens ou até mentiras etc. Por outro lado, [...] foram exaltados por darem uma boa chacoalhada na pasmaceira do jornalismo tradicional, por quebrarem barreiras de regras como opinar quando se quer (PRADO, 2011, p.171).

De certo modo, a popularização dos blogs pode ser considerada prova de que havia necessidade de uma maior pluralidade para oxigenar a circulação de informações e formação de opiniões, bem contrária à homogeneização na produção noticiosa dos veículos tradicionais, focados nos grupos sociais hegemônicos. “Os blogs e todos esses sistemas novos podem parecer frágeis, pouco confiáveis e pouco sérios. Mas eles são uma demonstração da criatividade e inovação que está acontecendo fora do âmbito do jornalismo tradicional” (PRADO, 2011, p. 167).

51

No entanto, a falta credibilidade e de uma postura profissional e até ética foram, realmente, em muitos casos, motivo para que os blogs fossem desconsiderados como fonte de informação crível.

É fato que muitos blogs independentes, por não terem a exigência de um veículo de comunicação por trás, determinando sua postura editorial, deixam sua escrita sem amarras e praticam não só o jornalismo sem regras (inclusive as éticas) como o jornalismo literário, o jornalismo narrativo, a crônica e até mesmo o jornalismo gonzo (PRADO, p. 172).

No final de 2001, foi lançado no Brasil o primeiro serviço de blog em português, o Blig. Em 2008, o Blig fez parceria com o Wordpress para usar essa ferramenta de publicação dos blogs do IG (PRADO, 2011). "Além de contratar blogueiros, muitos portais oferecem a ferramenta para montagem fácil e rápida de blogs pelos internautas. É com a blogosfera que nasce a força da participação de quem quer informar; portanto, emerge o jornalismo cidadão, o jornalismo colaborativo" (PRADO, 2011, p. 169-170).