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Em seu desenvolvimento, a internet já passou por algumas fases. A primeira, hoje conhecida web 1.0, pode ser descrita como a fase da publicação, em que as principais ferramentas são os portais, sites, homepages, e-mail, fóruns, chats e alguns sistemas de buscas etc. Na segunda fase – 2.0 – há, em síntese, uma potencialização da interação e do compartilhamento. “A segunda fase é a da cooperação, com redes de relacionamento, blogs, marketing viral, social bookmarking (folksonomia), webjornalismo participativo, escrita coletiva, velocidade e convergência” (PRADO, 2011, p.182).

O webjornalismo foi sendo implementado a partir da segunda metade dos anos 1990; porém apenas no final da década é que se estabeleceu de forma abrangente, detectando um verdadeiro boom - contratação de profissionais com altos salários, aumento de equipes etc. -, período que também marca a bolha ocorrida na virada de 1999 para 2000, quando a web foi, de forma precipitada, superestimada economicamente. Era chamada de Nova Economia, ou seja, economia gerada pela internet. O webjornalismo e seus portais eram considerados um novo negócio (PRADO, 2011).

Durante a década de 1990 foram formatadas as principais experiências no campo do jornalismo na web, muitas das quais ainda são referências para o público até hoje. Assim, temos o Jornal do Brasil, como o primeiro a ser disponibilizado na internet, em 1995, mesmo ano em que a Agência Estado marca espaço como a primeira empresa de informação brasileira a ter um site e quando também o jornal Folha de S. Paulo publica suas primeiras páginas na web. No ano seguinte, foi inaugurado o portal UOL, até hoje um dos principais portais de notícias da internet. O JC On Line foi criado em 1996, a princípio disponibilizando na web o conteúdo da versão impressa do Jornal do Commercio (numa parceria com o

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Universo On Line-UOL). No final de 1999 surge o Último Segundo, que tinha como proposta ser um veículo exclusivo da internet e, já na virada para o ano 2000, é lançado o IG.

No final de outubro de 2009 foi anunciado o final do site Geocities.com, por meio do qual muita gente inaugurou seus primeiros sites. Seu fim marca também o final da web 1.0, também conhecida como a primeira geração da web, aquela que balançou a caminho da web 2.0 depois do estouro da bolha em fins de 1999/2000 (PRADO, 2011, p.32).

Quando se trata de internet, a evolução costuma caminhar em passos largos. Tanto que no final de 2005, a internet já era a mídia mais consumida do mundo. No Brasil, o número de computadores chegou a 40 milhões e o de internautas a 32 milhões no ano de 2007.

A euforia inicial que considerava tudo que era feito na internet como um grande negócio passou e, ainda na virada do ano 2000, a “crise da bolha digital” provocou demissões, substituição de profissionais caros, outrora considerados essenciais, por outros menos onerosos e enxugamento das redações.

Foi aquela época em que o webjornalismo ganhou péssima fama, a de que copiava e colava desenfreadamente conteúdo alheio, que não apurava e publicava material sem checar. Realmente, houve descuido por parte de vários sites, sim, mas não dá para generalizar e colocar no mesmo patamar os webjornalistas sérios (PRADO, 2011, p.34).

No início, não havia muitos veículos de comunicação projetados para a web. A versão online dos jornais era na verdade o conteúdo considerado mais importante da versão impressa transposto para o ambiente de rede. Faltava também o que hoje é considerada a principal característica do webjornalismo que é a possibilidade de atualização constante de informações, conforme o desenrolar dos acontecimentos.

3.2 O jornalismo frente às potencialidades da internet

O modo do fazer jornalístico vem sendo afetado a partir da utilização do computador e da Internet. Para Fidalgo (2004, p. 1), a Internet está modificando não só as práticas cotidianas do jornalismo, mas também sua própria natureza. “É uma transformação tão radical que as fronteiras do que é e do que não é jornalismo se tornam problemáticas e incertas.”

Com a internet, o jornalismo pôde construir um suporte mais firme para alcançar a universalidade, já que praticamente não há limitação de espaço e consequentemente de

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conteúdo, que deve apenas atender ao interesse do público. “O jornalismo online apresenta possibilidades para uma maior aproximação à realidade ideal do jornalismo. [...] mais do que o jornalismo impresso, radiofônico ou televisivo, o jornalismo online tem condições para [...] ser melhor jornalismo” (FIDALGO, 2004, p. 2).

Mas, a principal influência da internet sobre o jornalismo veio com a liberação do pólo emissor, que engendrou um modelo de produção colaborativa, no qual o público pode ajudar na produção noticiosa. O público também passou por mudanças, deixando de ser apenas o leitor passivo que aceita a realidade apresentada pelos profissionais da comunicação, para também opinar, relatar fatos que presenciou e difundir isso através da rede.

De fato, com a liberação do polo emissor e as facilidades trazidas pela internet, o cidadão percebeu que poderia se inserir nesse mundo. Como consequência, temos o surgimento do jornalismo com participação de colaboradores, que ganhou várias denominações: jornalismo aberto, jornalismo colaborativo, jornalismo open source (PRADO, p.185).

Jornalismo Open Source implica, desde logo, permitir que várias pessoas (que não apenas os jornalistas) escrevam e, sem a castração da imparcialidade, deem a sua opinião, impedindo assim a proliferação de um pensamento único, como o pode ser aquele difundido pela maioria dos jornais, cuja objetividade e imparcialidade são muitas vezes máscaras de qualquer ponto de vista que serve interesses mais particulares que apenas o de informar com honestidade e isenção o público que os lê

(PRADO, 2011, p. 185).

Para Briggs (2007), o jornalismo colaborativo ou cidadão ainda padece de algumas desconfianças dos representantes da tradição do jornalismo, por um lado, e do outro, que ainda não foi perfeitamente assimilado e praticado pelas novas gerações apesar dos significativos avanços tecnológicos que liberaram o pólo emissor e incrementaram sobremaneira as possibilidades de difusão de pensamento e opiniões.

Não são poucas as discussões sobre o jornalismo que se pratica na internet. Em relação aos jornalistas profissionais, há acusações de que a necessidade de rapidez substituiu a prática da apuração rígida e criteriosa, que a busca por mais e mais notícias para preencher os espaços, onde tudo se torna obsoleto em pouco tempo, enfraqueceu a orientação ética que deveria guiar o trabalho jornalístico, que as notícias perderam profundidade e tantos outros problemas. Quanto ao jornalismo colaborativo, as maiores queixas se dão em relação à

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ausência de um filtro mais apurado para definição do que é notícia e a falta de critério na apuração das informações.

Mas, não é nossa pretensão responder aqui se o que se faz na Internet é ou não é jornalismo. Como observa Fidalgo (2004), em artigo inspirado nos elementos do jornalismo conforme Otto Groth [universalidade, atualidade, publicidade, periodicidade], o suporte não faz o jornalismo deixar de sê-lo apenas por ser online. Para nós, importa que, mesmo que o que o cidadão comum faça não seja jornalismo – e em geral não o é -, ele pode aumentar o poder de circulação do conhecimento através da Internet e contribuir para tornar públicas facetas diversas do que se pode chamar de realidade social.

Apesar das discussões em torno da legitimidade desse jornalismo feito com a colaboração dos cidadãos, essa prática é uma das vertentes dessa ampliação da participação de outros agentes no incremento da revelação de novas realidades sociais.

A interatividade, a possibilidade de participação na construção de um texto coletivo na web traria contribuições ao jornalismo pelo aumento do volume de informação produzida e disponível, facilitando a contextualização e a heterogeneidade de pontos de vista sobre os assuntos. Para Palácios, essa é uma grande contribuição da web ao jornalismo (PALÁCIOS, 2003).

Fato é que o que é divulgado por sites ou jornalistas profissionais consolidados costuma ser aceito pelo público como informação crível, simplesmente pela função social que esses profissionais desempenham. O público confia ao trabalho jornalístico o cumprimento do compromisso com a construção de enunciados verdadeiros, no sentido da busca por essa comprovação dos fatos, através do trabalho de apuração. Espera-se do trabalho jornalístico, em qualquer meio (impresso, radiofônico, televisivo ou on line) que os indivíduos que os produzem estejam comprometidos com a busca da verdade, como um valor fundamental.

a enunciação jornalística implica sempre uma pretensão de validade determinante que constitui uma das suas diferenças: a pretensão de verdade, a relação com o estado de coisas e as pessoas do mundo objectivo. Esta pretensão de validade seria uma das características que permitiria distinguir o jornalismo de outros discursos (CORREIA, 2009, p. 27).

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