• Nenhum resultado encontrado

Consequências da Pena de Prisão

No documento Download/Open (páginas 81-83)

2.1 DAS PENAS

2.1.3 Consequências da Pena de Prisão

A Teoria do Garantismo Penal visa à construção de uma sociedade que encontre maneiras diferentes de punição e resolução de conflitos, e que somente em último caso adote a prisão. E, ainda, em caso de pena privativa de liberdade, que o Estado ofereça condições para que a vítima seja reparada, materialmente e/ou emocionalmente, e que o infrator possa retornar ao convívio social, da forma menos danosa para ambas as partes.

A prisão, no entanto, ao invés de ser utilizada como meio de reeducação e ressocialização do preso à sociedade, tem servido como uma espécie de exílio de criminosos, com o fim de afastá-los do âmbito social para garantir a segurança da coletividade.

Com objetividade, afirma Haroldo Caetano da Silva (2009, p.29):

Em que pese a definição da reinclusão social como meta principal da execução penal, o alcance de tal objetivo esbarra na incompatibilidade entre uma ação pedagógica ressocializadora e o castigo que necessariamente deriva da privação da liberdade, como bem constatou Augusto Thompson: ‘Punir é castigar, fazer sofrer. A intimidação a ser obtida pelo castigo demanda que este seja apto a causar terror. Ora, tais condições são reconhecidamente impeditivas de levar ao sucesso uma ação pedagógica’. Neste mesmo sentido, a lição de Julia Lemgruber: ‘Já no início do século XIX falava-se no fracasso das prisões enquanto medida capaz de transformar criminosos em cidadãos respeitadores das leis. Na verdade, jamais a privação da liberdade atingiu o objetivo de ‘ressocializar’ o infrator pela simples razão de que é absolutamente contraditório esperar que alguém aprenda, de fato, a viver em liberdade, estando privado de liberdade’. Entretanto, mesmo reconhecido o fracasso da meta ressocializadora da pena privativa da liberdade, tal argumento não tem sido suficiente para a adoção, com maior ênfase, de alternativas à prisão, estas ainda tímidas no ordenamento jurídico brasileiro, de forma que as deletérias consequências do encarceramento devem ser atenuadas a partir da individualização e da humanização na execução penal.

A pena privativa de liberdade não deve ser apenas um modo de livrar a sociedade da “periculosidade” daqueles que cometeram um crime, mas também uma maneira de recuperação desses indivíduos para que possam voltar a ter uma vida social sem grandes dificuldades. Retomando ideias de Kaufmann, Fernandes (2002,p. 3) observa que:

O preso é incapaz de viver em sociedade com outros indivíduos, por se compenetrar tão profundamente na cultura carcerária, o que ocorre com o preso de longa duração. A prisonização constitui grave problema que aprofunda as tendências criminais e anti-sociais.

A ineficácia da aplicação do sistema punitivo acelera a carreira criminosa do delinquente, consolidando seu status de criminoso. As prisões são consideradas hoje “escolas para o crime” exatamente porque não proporcionam condição alguma de recuperação aos infratores; pelo contrário, o contato contínuo com a violência dentro dos presídios dificulta ainda mais as possibilidades de um bom retorno à vida social.

Enquanto os estabelecimentos disciplinares se multiplicam, os mecanismos disciplinares se institucionalizam, decompondo-se em processos flexíveis de controle que se podem transferir e adaptar. Isto significa, em termos concretos, a multiplicação de prisões ao lado da proliferação de medidas que visam cada vez mais manter unificada a sociedade (FERNANDES, 2002, p. 48)

O fracasso da ressocialização traz consequências não só para o condenado, mas também para a sua família, para os servidores do sistema prisional e para a sociedade. O preso sofre com os maus tratos dos policiais, com as torturas e abusos sexuais de seus colegas na prisão, e com o preconceito da sociedade ao encontrar resistência para conseguir um emprego depois do cumprimento de sua pena.

Seus familiares sofrem com as constantes humilhações por terem na família um ente que infringiu a lei e está preso, e encontram dificuldades por terem que ir tão longe para visitar o detento nas penitenciárias, que muitas vezes localizam-se fora da cidade, e ainda precisarem passar por vistorias constrangedoras.

Os servidores sofrem com o desgaste físico e emocional, em virtude da realização de um trabalho degradante para o qual nem sempre há a preparação e a formação adequadas. Acumula-se a isto, ainda, o fato de receberem salários de pequena monta, o que acaba desvalorizando a carreira.

Por fim, a sociedade sofre, pois vive amedrontada e insegura; e perde muito ao não dar oportunidade aos ex-presidiários de provarem que são capazes de retornar harmoniosamente ao convívio social, contribuindo com seu trabalho.

O Professor e autor Alvino Augusto de Sá apresenta alguns dos efeitos da prisionalização:

São os inerentes à própria natureza da pena privativa de liberdade, sobretudo quando cumprida em regime fechado, e os inerentes à própria natureza do cárcere. Entre eles, citam-se: o isolamento do preso em relação à sua família, a sua segregação em relação à sociedade, a convivência forçada no meio delinqüente, o sistema de poder (controlando todos os atos do indivíduo), relações contraditórias, e ambivalentes entre o pessoal

penitenciário e os presos (pessoal oferece-lhes apoio e assistência, ao mesmo tempo em que os contém, os reprime e os pune), entre outros.[...] O primeiro grupo são os problemas decorrentes da má gestão da coisa publica, falta de interesse político, inabilidade administrativa e técnica [...] presídios sem a infraestrutura mínima necessária, material e humana, para o cumprimento de pena; falta de condições materiais e humanas para o incremento dos regimes progressivos de cumprimento de pena, conforme prevê o texto legal; superpopulação carcerária, com todas as suas inúmeras conseqüências; Poder-se-ia mencionar ainda a falta de pessoal administrativo, de segurança e disciplina e pessoal técnico formado e habilitado para a função.[ ...] o que existe é a falta de pessoal realmente vocacionado (SÁ, 2007, p. 113).

A ingerência do Estado concorre diretamente para o desequilíbrio social, no sentido de que os presos só se reintegrarão à sociedade se tiverem apoio e condições eficazes para a reeducação e o reacolhimento no seio social; nesse mesmo passo, a sociedade só dará oportunidades aos ex-detentos se neles confiarem, e para isso é preciso que sobrevenham políticas públicas de segurança e planejamento social.

No documento Download/Open (páginas 81-83)