• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA

2.2. COMPORTAMENTOS DE SAÚDE EM ADOLESCENTES

2.2.3. Hábitos Tabágicos

2.2.3.1. Consequências do consumo de tabaco pelas crianças e jovens

As doenças provocadas pelo fumo do tabaco são inúmeras, pois o fumo do cigarro é um aerossol (dispersão coloidal de sólidos num gás) que contém mais de 4700 substâncias químicas, muitas delas nocivas para a saúde (Tobacco Free Initiative, WHO, 2006). Muitas dessas substâncias encontrados no fumo dos cigarros, tais como o monóxido de carbono e a nicotina estão associados a efeitos adversos para a saúde e mais de 60 desses produtos químicos são cancerígenos (International Agency for Research on Cancer, WHO, 2004).

A nicotina é “a principal substância responsável pela dependência provocada pelo consumo de tabaco” (Nunes, 2007, p.23). Ela chega ao cérebro em menos de 10 segundos após a primeira “passa” e tem um efeito estimulante, pois origina excitação, nervosismo, irritabilidade, tremuras, vómitos e dependência, por esse motivo é considerada uma droga. No sistema cardiovascular provoca taquicardia e hipertensão e no sistema digestivo estimula a hipersalivação e a hipercloridria, e a nível dos brônquios a hipersecreção (Ezquerra, 2003).

Para além da nicotina, que é uma droga com propriedades psicoactivas, o fumo do tabaco contém substâncias com efeitos tóxicos ou irritantes, como o monóxido de carbono, a acetona, o metano, o formaldeído, o tolueno ou a amónia; substâncias com efeitos cancerígenos, como por exemplo as nitrosaminas, os aldeídos, os hidrocarbonetos aromáticos (inibem a citocromoxidase que é necessária para o transporte de oxigénio até às células) os metais pesados como o cádmio, o níquel e o chumbo; e substâncias radioactivas como o polónio–210 (Nunes, 2007).

O tabagismo é uma das principais causas de morte evitável no mundo. A Organização Mundial de Saúde (2008) atribui ao tabaco 100 milhões de mortes no século XX e actualmente morrem 5,4 milhões de pessoas por ano, devido ao cancro do pulmão, doenças cardiovasculares e outras patologias. A menos que sejam tomadas medidas urgentes, em 2030, haverá mais de 8 milhões de mortes por ano, mais de 80% dessas ocorrerão em países em desenvolvimento e estima-se um bilhão de mortes no século XXI devido ao tabaco (OMS, 2008).

Metade das pessoas que fumam actualmente, ou seja, cerca de 650 milhões de fumadores vão provavelmente morrer com problemas de saúde relacionados com o hábitos

tabágicos. E aproximadamente 325 milhões desses fumadores terão idades compreendidas entre os 35 e os 69 anos (Tobacco Free Initiative, WHO, 2006).

As primeiras evidências que fumar causa cancro do pulmão, além de muitas outras patologias surgiram com o trabalho de Richard Doll e de Bradford Hill, que realizaram um estudo prospectivo durante 40 anos (1951 a 1991) no qual utilizaram uma amostra de 34439 médicos britânicos. Os resultados mostraram que nos indivíduos entre os 35 e os 69 anos de idade, a taxa de mortalidade nos não fumadores foi de 20%, enquanto que no grupo dos fumadores foi de 41%, também se constatou que nos indivíduos que fumavam 25 ou mais cigarros/dia a taxa de mortalidade atingiu os 50% (Pestana et al., 2006).

Segundo Pestana et al. (2006) as doenças associadas directamente ou indirectamente ao consumo de tabaco, são as ilustradas no Quadro 2.

A maior consequência do consumo de tabaco pelas crianças e jovens é a dependência, quem fuma pode vir a ficar dependente para a vida inteira, já que a nicotina é uma droga com elevado poder aditivo. Normalmente o vício em tabaco começa antes dos 18 anos e depois deste habito estar enraizado será muito difícil deixar de fumar (Tobacco Free Center, 2008).

Nos jovens fumadores, o fumo do tabaco provoca a curto prazo uma ligeira obstrução das vias respiratórias, um funcionamento pulmonar reduzido e um crescimento lento do sistema pulmonar. Também há estudos que revelam sinais prematuros de problemas cardíacos em jovens fumadores (Tobacco Free Center, 2008).

Segundo Ezquerra (2003) os malefícios causados pelo tabaco não são só problemas médicos ou pessoais, que afectam o próprio consumidor, mas também sociais e ambientais. A intolerância nas relações entre fumadores e não fumadores; as repercussões laborais e económicas do tabaco originadas pelas baixas médicas, os acidentes de trabalho, o consumo de recursos e as hospitalizações; a dependência e, o tabagismo passivo, são aspectos elencados pelo autor como problemas sociais. A nível “ecológico” o autor salienta a contaminação da atmosfera e meio-ambiente não só pelo fumo mas, também, pelos filtros dos cigarros que não são biodegradáveis e destaca os incêndios que resultam do descuido de alguns fumadores menos responsáveis.

Quadro 2

Doenças associadas ao consumo de tabaco

DOENÇAS ASSOCIADAS AO CONSUMO DE TABACO

Efeitos no Aparelho Respiratório

Efeitos Agudos no Aparelho Respiratório

Infecções respiratórias nas crianças. Exacerbação de asma. Resfriado comum. Irritação sensorial. Pneumonia bacteriana. Pneumotórax espontâneo. Efeitos Crónicos no Aparelho Respiratório

Sintomas respiratórios crónicos nas crianças.

Alterações do desenvolvimento pulmonar nas crianças.

Doença do interstício pulmonar associada a bronquite respiratória Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica.

Doença do interstício pulmonar associada a artrite reumatóide. Granuloma eosinófilo.

Asbestose.

Efeitos Carcinogéneos

Cancro do pulmão, laringe, cavidade oral, esófago, estômago, pâncreas, aparelho urinário. Lesões pré-malignas da cavidade oral (Leucoplasias, Eritiplasias).

Leucemias.

Efeitos no Sistema

Nervoso Central Acidente Vascular Cerebral. Efeitos no Aparelho

Cardiovascular

Doença coronária. Hipertensão arterial. Morte súbita cardíaca. Aterosclerose.

Efeitos no Sistema Vascular

Doença de Burger.

Aneurisma da Aorta abdominal. Flebite periférica

Efeitos no Aparelho Digestivo

Doença de refluxo gastroesofágico. Úlcera péptica.

Efeitos no Aparelho Reprodutor

Anomalias da fertilidade e fecundabilidade feminina.

Outros efeitos no Aparelho Reprodutor feminino, tais como, ruptura prematura de membranas e descolamento da placenta.

Manifestações peri-natais

Anomalias do desenvolvimento fetal. Aborto espontâneo e mortalidade peri-natal. Malformações congénitas.

Manifestações pós-natais

Síndroma de morte súbita infantil.

Anomalias da função e do desenvolvimento respiratório da criança.

Anomalias cognitivas e comportamentais da criança cuja mãe fuma durante a gravidez. Desenvolvimento físico pós-natal

Fonte: Pestana et al., 2006, p.79.