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CAPÍTULO I CONTEXTUALIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO ESTUDO

1.2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

1.2.4. Educação para a Saúde na Escola em Portugal

A Promoção e a Educação para a Saúde surgem como área reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, na Declaração de Alma-Ata (1978) realizada sob patrocínio da ONU. Mas é a partir da 1ª Conferência internacional da OMS, em Otawa (1986) sobre “Promoção da Saúde”, que a saúde começa a ser entendida como um recurso para a vida e não como uma finalidade de vida, onde se acentua a valorização dos recursos pessoais e sociais.

Sabe-se que é durante a infância e a adolescência que se desenvolvem ou se enraízam hábitos saudáveis que permanecerão durante o percurso de vida de um indivíduo. Consequentemente a escola é o local de eleição para a EpS, porque pode integrar novos conhecimentos conducentes ao desenvolvimento de comportamentos saudáveis, através da implementação de currículos adequados (Duarte & Villani, 2001).

A EpS deve ter um carácter interdisciplinar e transversal e, o principal objectivo é melhorar a qualidade de vida dos jovens adolescentes e da comunidade escolar. Nos dias de

hoje, ser saudável, implica estar informado, ser culto, ser assertivo, autónomo e solidário (Vilar, 2006). A EpS não se deve limitar a uma abordagem meramente informativa. Os jovens adolescentes devem estar informados, contudo devem estar igualmente capacitados para tomarem “decisões e responsabilizarem-se pela sua saúde, devendo ser competentes para adoptar estilos de vida saudáveis e para transformar o seu envolvimento físico e social de modo a favorecer um estilo de vida saudável, permitindo uma acessibilidade fácil, socialmente valorizada e duradoura” (Matos et al., 2004, p.83).

EpS, em contexto escolar, consiste em dotar as crianças e os jovens de conhecimentos, atitudes e valores que os tornem capazes de tomar decisões adequadas ao bem-estar físico, social e mental (OMS, 1993).

Para promoverem a Saúde e a EpS, o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde, em Fevereiro 2006, estabeleceram um protocolo, onde reconhecem que a Promoção da EpS em meio escolar, permite aos jovens desenvolver competências que os leve a construir um projecto de vida e a capacitá-los para fazerem escolhas conscientes e responsáveis (Ministério da Educação, 2006a). Já desde 1994 que os dois ministérios formalizaram uma parceria de colaboração entre centros de saúde e as escolas, no sentido de partilharem responsabilidades na promoção da saúde das comunidades educativas. Desta parceria resultou a criação de rede Nacional de Escolas Promotoras de Saúde (EPS) integrada na rede europeia, que constituiu uma mais valia para pôr em prática projectos no âmbito da saúde escolar (Ministério da Educação, 2006 b).

Actualmente, o Ministério da Educação (2006b) considera como áreas temáticas e prioritárias de actuação, a alimentação, actividade física, o consumo de substâncias psicoactivas, a sexualidade, as infecções sexualmente transmissíveis, designadamente VIH/SIDA, e a violência em meio escolar. No Ministério da Educação é a Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC) organismo central do Ministério, que assume responsabilidades em matéria de Promoção da Saúde no meio escolar, competindo-lhe a “concepção da componente pedagógica e didáctica do sistema educativo, incluindo a definição dos conteúdos e do modelo de concretização dos apoios e complementos educativos”2.

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Se atendermos ao conceito de EpS como um processo sistemático de ensino e aprendizagem orientado para a aquisição, eleição e manutenção de práticas saudáveis, evitando comportamentos de risco (Costa & López, 1996) não pudemos ignorar a necessidade de formação do ser humano nesta área do conhecimento, ao longo do seu ciclo de vida. Neste contexto a escola surge como o espaço e o tempo privilegiados para influenciar e orientar, no sentido positivo, os comportamentos, atitudes e valores das crianças e jovens adolescentes. Eliminar comportamentos de risco para a saúde, nesta fase do desenvolvimento humano, deverá ser a principal meta a atingir, em EpS, pela comunidade educativa (Ministério da Saúde, 2006b). As instituições escolares têm um papel fundamental na aquisição de estilos de viva saudáveis e na prevenção de comportamentos nocivos/risco. É necessário investir na promoção da saúde através de programas e/ou projectos dirigidos para colmatar os problemas de saúde prioritários dos jovens adolescentes, contribuindo para a criação de um estado de bem-estar físico, psíquico e social, e não a mera ausência de doença (OMS, 1978, 1986, 1988, 1991, 1997, 2000b).

No Plano Nacional de Saúde 2004/2010 a escola é considera o espaço ideal para que as crianças e os jovens adquiram competências pessoais e sociais de forma a melhorarem a gestão da sua saúde e a agir sobre os determinantes dos comportamentos de saúde (Ministério da Saúde, 2004). A escola deve ser entendida como uma via geradora de bem-estar pessoal e social, capaz de criar condições que proporcionem uma vida mais activa, feliz e plena às novas gerações (Diogo & Vilar, 2000).

A escola contribui para a qualidade de vida dos jovens adolescentes, ao dotá-los de informação e competências que lhes permitam desenvolver e usar as suas potencialidades e controlar os determinantes da sua saúde (Matos, 2004). A qualidade de vida de cada indivíduo passa pela saúde e segurança individual e colectiva, é neste sentido que vão as orientações curriculares para o ensino das Ciências Físicas e Naturais (Ministério da Educação, 2001).

O mesmo documento define as competências a desenvolver, no 3º Ciclo do Ensino Básico, das quais salientamos o “reconhecimento da necessidade de desenvolver hábitos de vida saudáveis e de segurança, numa perspectiva biológica, psicológica e social”; o “reconhecimento de que a tomada de decisão relativa a comportamentos associados à saúde e segurança global é influenciada por aspectos sociais, culturais e económicos”; a “compreensão dos conceitos essenciais relacionados com a saúde, utilização de recursos, e protecção

ambiental que devem fundamentar a acção humana no plano individual e comunitário”; e a “valorização de atitudes de segurança e de prevenção como condição essencial em diversos aspectos relacionados com a qualidade de vida” (Ministério da Educação, 2001, pp.143-144).

Para Sampaio et al. (2007) a EpS em meio escolar poderá concretizar-se com a “revitalização dos conteúdos curriculares das diversas disciplinas e inclusão desta temática nas áreas curriculares não disciplinares, de um modo estruturado e com avaliação da aprendizagem” (Sampaio et al., 2007, p.36). Segundo os mesmos autores, a Organização Mundial de Saúde no relatório “Reduzindo riscos e promovendo uma vida saudável” salienta a importância da promoção dos comportamentos de saúde, e da identificação e prevenção de factores de risco, assim como, destaca alguns factores ligados ao comportamento individual e interpessoal (sexo não protegido, consumo de substâncias psicoactivas e obesidade) que podem ser evitáveis e que são responsáveis por um terço de mortes no mundo (Sampaio et al., 2007).

É à família, à escola e à sociedade a quem cabe prioritariamente a responsabilidade de capacitar os nossos jovens adolescentes, criando condições para que ponderem e alterem comportamentos/atitudes/valores/crenças, no sentido de promover estilos de vida mais saudáveis (Santos, 2001).

Assim sendo, as escolas não podem desenvolver os seus projectos educativos exclusivamente voltadas para o domínio dos desempenhos escolares dos seus alunos, limitando- se a instruir/transmitir conhecimentos. Não deverá ser o único objectivo das instituições escolares formarem indivíduos especializados em determinadas áreas do saber e das competências especificas. A escola tem que educar, nunca esquecendo que o ser humano é um todo holístico.

Educar para a saúde não se pode basear exclusivamente numa abordagem de carácter informativo, é importante que escola avalie os problemas reais de saúde dos seus discentes para definir metas e estratégias de intervenção que induzam comportamentos saudáveis.

Atendendo ao anteriormente exposto e sendo o investigador um docente do 3º Ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário, que pretende assumir responsabilidades a nível da Promoção e EpS na escola onde lecciona, propusemo-nos desenvolver este trabalho académico para identificar alguns comportamentos de saúde dos adolescentes da população alvo e analisar alguns determinantes dos seus comportamentos de saúde, relacionados com idade, sexo, ano de escolaridade e retenção/reprovação escolar.

A finalidade a perseguir é a aplicação de medidas preventivas e/ou correctivas necessárias, e adequadas, tendentes à escolha e adopção, pelos jovens, de estilos de vida mais consentâneos com bem estar físico e psicológico.

Este trabalho académico desenvolve-se no seio de uma das escolas do centro da cidade de Vila Nova de Gaia. A selecção desta comunidade educativa, que é alvo do nosso estudo, não foi aleatória mas, resultou do questionamento do investigador, face à realidade observável nos estilos de vida, pouco saudáveis, dos jovens alunos do meio escolar onde exerce funções de docência, na área das Ciências Físicas e Naturais. Inquieto e preocupado com os comportamentos de saúde da referida comunidade, o investigador propôs-se, na medida do possível, conhecer a realidade, para poder actuar com maior conhecimento de causa.