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Evolução da prevalência de Ingestão de álcool em Adolescentes Portugueses

CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA

2.2. COMPORTAMENTOS DE SAÚDE EM ADOLESCENTES

2.2.2. Hábitos de Ingestão de álcool

2.2.2.3. Evolução da prevalência de Ingestão de álcool em Adolescentes Portugueses

O HBSC (Health Behaviour in school-aged Children), estudo colaborativo da Organização Mundial de Saúde, investigou sobre comportamentos de saúde relacionados com a ingestão de

álcool nos adolescentes, em 1998, 2002 e 2006, o que permitiu definir melhor o perfil dos jovens que experimentaram ou consomem habitualmente álcool. Estes três estudos investigaram o consumo de bebidas alcoólicas, pelo menos uma vez por semana, por grupo etário e por género, e os resultados referentes ao nosso país são apresentados no Gráfico 18.

Gráfico 18

Evolução da prevalência de jovens portugueses que consomem álcool pelo menos uma vez por semana, em função do sexo e grupo etário ( HBSC 1998/2002/2006 )

0% 10% 20% 30% Rapazes 11 anos 4% 2,6% 3% Raparigas 11 anos 1% 0,3% 1% Rapazes 13 anos 9% 13,1% 6% Raparigas 13 anos 3% 4,2% 3% Rapazes 15 anos 29% 20,5% 19% Raparigas 15 anos 9% 11% 8% 1998 2002 2006

Fonte de Dados: Currie et al. (2000, 2004, 2008).

Ao longo dos 8 anos a que se reportam os estudos, não se observam diferenças significativas estatisticamente nos adolescentes do sexo feminino e nos rapazes do grupo etário dos 11 anos. Nos jovens masculinos de 13 anos, verificou-se entre 1998 e 2002 um incremento de 4,1%, e entre 2002 e 2006 declinou 7,1%, acabando por se traduzir numa diminuição de 3% entre 1998 e 2006. Nos rapazes da faixa dos 15 anos, registou-se entre 1998 e 2006 uma diminuição de dez pontos percentuais na prevalência deste comportamento de saúde (Hibell et al., 2009).

O Estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco e Droga, em alunos do ensino público, em Portugal Continental, no ano de 2003 (ECATD-2003) foi iniciado no Instituto da Droga e da

Toxicodependência (IDT) insere-se no Programa de Estudos em Meio Escolar e representa o alargamento do Projecto ESPAD – European School Survey Project on Alcohol and other Drugs.

Depois do ECATD 2003, foi realizada uma recolha de dados em 2007, mas o estudo ainda está em curso, não havendo resultados disponíveis. A investigação que teve lugar no ano de 2003, permite-nos analisar, em Portugal continental, as prevalências ao longo da vida de ingestão de álcool, por grupo etário e género. Os resultados deste indicador da existência de experiência de consumo de bebidas com álcool são apresentados no Gráfico 19 (Feijão & Lavado, 2003).

Gráfico 19

Prevalência de jovens portugueses que consumiram álcool ao longo da vida, em função do sexo e grupo etário ( ECATD 2003 )

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Total 47,2 63,7 77,2 85,2 90,8 Rapazes 52,8 67,9 79,9 86,2 93,4 Raparigas 42,4 60,3 75 84,5 88,7

13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos

Adaptado de Feijão & Lavado (2003)

Pelo Gráfico 19 constata-se um aumento das prevalências durante a adolescência, cerca de 47% dos alunos de 13 anos e 91% dos alunos de 17 anos já experimentaram bebidas alcoólicas, pelo menos uma vez no seu percurso de vida. Quase metade dos jovens inquiridos, mais precisamente 47,2%, já ingeriram álcool, e em todos os grupos etários são baixas as diferenças entre as percentagens de rapazes e raparigas que já o fizeram (Feijão & Lavado, 2003).

No mesmo estudo foi usado como indicador do consumo actual de bebidas alcoólicas, os últimos 30 dias que antecederam o inquérito pois, representa o valor mais próximo da ingestão habitual. No Gráfico 20 são apresentadas as frequências por grupo etário e género, deste indicador. Mais uma vez se constata um aumento das prevalências durante a adolescência, 30% dos alunos de 13 anos e 67,5% dos alunos de 17 anos consumiram álcool nos 30 dias anteriores à realização do estudo. Os rapazes ingerem mais bebidas alcoólicas que as raparigas e a diferença entre sexos é menor nos jovens de 13 anos (2,5%) e maior na faixa etária dos 17 anos (15,7%) (Feijão & Lavado, 2003).

Gráfico 20

Prevalência de jovens portugueses que consumiram álcool nos últimos 30 dias, em função do sexo e grupo etário ( ECATD 2003 )

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Total 30 43,8 54,6 61,1 67,5 Rapazes 31,4 48,2 58,8 66 76,3 Raparigas 28,9 39,4 50,6 56,4 60,6

13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos

Adaptado de Feijão & Lavado (2003)

As diferenças mais acentuadas nas prevalências de consumo de bebidas alcoólicas nos últimos 30 dias, em ambos os sexos, ocorrem na cerveja (Gráfico 21).

Pela análise do Gráfico 21, constata-se que no grupo etário dos 13 anos a diferença entre rapazes e raparigas, que tinham consumido cerveja nos últimos trinta dias que antecederam o estudo é de 4,7%, no grupo dos 17 anos essa diferença sobe para 29,3%. Também, mais uma vez, se constata um aumento das prevalências durante a adolescência e os rapazes bebem mais cerveja do que as raparigas (Feijão & Lavado, 2003).

Gráfico 21

Prevalência de jovens portugueses que consumiram cerveja nos últimos 30 dias, em função do sexo e grupo etário ( ECATD 2003 )

0 10 20 30 40 50 60 Total 12,3 21,6 29,3 35,3 39,8 Rapazes 14,9 26,6 37,4 45 55,9 Raparigas 10,2 16,9 21,6 26,2 26,6

13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos

Adaptado de Feijão & Lavado (2003)

A bebida alcoólica com menores prevalências de consumo nos últimos 30 dias, é o vinho (Gráfico 22).

Gráfico 22

Prevalência de jovens portugueses que consumiram vinho nos últimos 30 dias, em função do sexo e grupo etário ( ECATD 2003 )

0 5 10 15 20 25 30 Total 8,4 11 12,2 14,9 18,3 Rapazes 11,3 14,8 16,3 20 25,6 Raparigas 5,7 7,3 8,5 10 12,3

13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos

A análise do Gráfico 22, permite-nos afirmar que durante a adolescência aumentam as diferenças entre sexos no que diz respeito a consumos no mesmo período de tempo. A discrepância é menor nos alunos mais novos (5,6 %) e maior nos mais velhos (13,5%). Em todos os grupos etários verifica-se que os rapazes consomem, aproximadamente, o dobro de vinho que os raparigas (Feijão & Lavado, 2003).

Comparativamente com a cerveja e o vinho, as bebidas destiladas são consumidas preferencialmente pelos adolescentes pois, como se pode constatar pelo Gráfico 23, as percentagens de consumo deste tipo de bebida são mais elevadas e muito próximas em ambos os sexos, particularmente, entre os alunos mais novos. É de realçar que o grupo etário dos 13 anos é o único onde a prevalência de consumo é superior nas raparigas, facto este, que não se verifica relativamente à ingestão das outras duas bebidas em questão, em nenhuma faixa etária. No grupo dos mais novos a diferença no consumo entre rapazes e raparigas é de 1,6%, e no grupo dos mais velhos essa diferença sobe para 10,5% (Feijão & Lavado, 2003).

Gráfico 23

Prevalência de jovens portugueses que consumiram bebidas destiladas nos últimos 30 dias, em função do sexo e grupo etário ( ECATD 2003 )

Adaptado de Feijão & Lavado (2003)

Em Portugal, os estudos do Inquérito Nacional em Meio Escolar (INME) permite-nos ter uma perspectiva da evolução da prevalência de consumo de álcool entre 2001 e 2006. Pela análise dos resultados dos dois estudos realizados nas datas indicadas, constata-se que a

0 10 20 30 40 50 60 70 Total 22 33 42,9 51,5 57,3 Rapazes 21,1 35,5 43,9 53,2 63,3 Raparigas 22,7 30,3 41,7 49,8 52,8

percentagem de alunos que já consumiram alguma bebida alcoólica diminuiu no 3º Ciclo, de 67% para 60%, e no Ensino Secundário de 91% para 87%, respectivamente em 2001 e 2006. Verifica-se, também, uma certa constância nas percentagens de jovens que consumiram álcool nos últimos 12 meses que antecederam os estudos, registando-se 49% e 48% no 3º Ciclo, e 76% e 79% no Secundário, respectivamente em 2001 e 2006. No que concerne à prevalência dos consumos nos últimos 30 dias, salienta-se um aumento apreciável, de 25% para 32% no 3º Ciclo, e de 45% para 58% no Secundário. Relativamente ao tipo de bebidas ingeridas constata-se que a cerveja continua a ser a bebida com maior prevalência de consumo entre os adolescente que integraram o estudo (Feijão, 2008).

A nível Europeu o estudo do European School Survey project on Alcohol and Other Drugs (ESPAD) com periodicidade de 4 anos, foi desenvolvido em 1995, 1999, 2003 e 2007, permite- nos ter uma perspectiva da evolução da prevalência de ingestão de álcool em adolescentes Portugueses, entre 1995 e 2007. A prevalência do consumo de álcool ao longo da vida, por género, aumentou, apreciavelmente, nos últimos quatro anos a que se reporta o estudo, como se pode ver no Gráfico 24 (Hibell et al., 2009).

Gráfico 24

Evolução da prevalência de jovens portugueses que consumiram álcool ao longo da vida, em função do sexo ( ESPAD 2007 )

50% 60% 70% 80% 90% 100% Total 79% 78% 78% 84% Rapazes 80% 79% 81% 86% Raparigas 78% 77% 76% 81% 1995 1999 2003 2007

Pela análise do Gráfico 24, verifica-se que entre 1995 e 1999 ocorreu uma ligeira diminuição da prevalência de jovens portugueses que consumiram álcool ao longo da vida. Entre 1999 e 2003 manteve-se, aumentando, apreciavelmente, entre 2003 e 2007. Neste último período constata-se um aumento de cinco pontos percentuais em ambos os sexos. Se procedermos a uma apreciação por género, aferimos que as curvas da evolução da prevalência são muito idênticas nos dois sexos. Nos dois primeiros estudos a diferença entre sexos foi de 2% e nos dois últimos passou a ser de 5% (Hibell et al., 2009).

Os resultados dos vários inquéritos do ESPAD, permite-nos ter um perspectiva da prevalência do consumo de álcool por género, nos últimos 30 dias que antecederam os estudos. Pelos valores apresentados salienta-se um aumento expressivo nos últimos quatro anos ,a que se reporta o estudo, conforme o Gráfico 25 (Hibell et al., 2009).

Gráfico 25

Evolução da prevalência de jovens portugueses que consumiram álcool nos últimos 30 dias, em função do sexo ( ESPAD 2007 )

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Total 49% 49% 48% 60% Rapazes 54% 55% 55% 62% Raparigas 45% 43% 42% 58% 1995 1999 2003 2007

Fonte de Dados: Hibell et al. (2009).

Entre 1995 e 2003 a prevalência de jovens portugueses que consumiram álcool nos últimos 30 dias manteve-se, praticamente, inalterada contudo, entre 2003 e 2007 aumentou 12%. Este aumento apreciável verifica-se em ambos os sexo, mas é mais acentuado nos indivíduos do sexo feminino, 16%, enquanto que nos rapazes apenas se observou um acréscimo

de 7%. Até 2003 este comportamento era habitual em mais de 50% dos rapazes, a partir de 2003 também passou a ser frequente em mais de 50% das raparigas, atingindo valores muito próximos do sexo masculino (Hibell et al., 2009).

No que diz respeito aos episódios esporádicos de consumo excessivo de álcool, nos últimos 30 dias, verifica-se que o comportamento era tipicamente masculino até 2003, a partir deste ano constata-se que também passou a ser uma conduta habitual do sexo feminino (Gráfico 26).

Gráfico 26

Evolução da prevalência de jovens portugueses com episódios esporádicos de consumo excessivo de álcool, nos últimos 30 dias em função do sexo (ESPAD 2007)

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% Total 14% 23% 25% 56% Rapazes 18% 29% 33% 58% Raparigas 11% 18% 19% 53% 1995 1999 2003 2007

Fonte de Dados: Hibell et al. (2009).

O indicador de consumo usado foi a ingestão de cinco ou mais bebidas numa única ocasião (1 bebida = 50 cL de cerveja ou 15 cL de vinho ou 5 cL de bebida espirituosa). Ao longo dos 12 anos, a que correspondem os quatro estudos realizados, há um aumento da prevalência deste comportamento, sendo notório um aumento muito acentuado entre 2003 e 2007, registando-se, neste último inquérito, um acréscimo de 25% nos rapazes e 34% nas raparigas. Estes números são preocupantes, pois, além de nos mostrarem que os episódios esporádicos de consumo excessivo de álcool se enraizaram no sexo feminino, também comprovam que

actualmente mais de metade dos jovens portugueses ingerem esporadicamente álcool em excesso (Hibell et al., 2009).