• Nenhum resultado encontrado

Conservadoras porque mulheres: Sílvia, Lilian e Cláudia.

C) Histórico da 'Bolsa de Valores do Brasil' e a caracterização da participação do investidor pessoa física.

IV. A análise individualizada dos entrevistados.

3. Conservadoras porque mulheres: Sílvia, Lilian e Cláudia.

Nas citações dos entrevistados, é possível observar que as características de personalidade recomendadas ao ingresso no mercado de ações tinham uma clara vinculação de gênero. Isto é, a necessidade de se ter ‘sangue frio’ e ‘um gostinho pelo risco’ parecem remeter diretamente à representação social básica do gênero masculino como portador da ‘racionalidade’ e da ‘ousadia’ em oposição à mulher, mais identificada a toda sorte de sentimentalismos e à preferência pela estabilidade. Roberto Grün ( 2003) afirma que o protótipo do investidor, na atual era da

globalização financeira, é claramente constituído sobre traços de gênero reconhecidos a partir da figura do ‘macho arrojado’, disposto a assumir riscos face a possibilidade de ganhos altos e rápidos.

A identificação das bolsas de valores como espaços 'machistas', que impõe restrições ou

dificuldades à participação feminina, é historicamente afirmada por Alex Preda ( 2001). Ele observa que os jornais especializados em mercado financeiro do século XIX pressupunham um leitor

homem, de classe média e chefe de família. Os romances da época que retratavam o envolvimento das famílias na bolsa revelavam o investimento como um assunto eminentemente masculino, com as mulheres retirando-se de cena quando o assunto é abordado. Harrington ( 2008, p. 25-31)

também apresenta indicativos históricos do preconceito à atuação feminina, entre eles, por exemplo, a mesma alcunha de 'bruxa' conferida a duas célebres investidoras em duas crises especulativas distintas.

As restrições ou preconceitos abertos certamente arrefeceram, contudo o gênero permanece como um marcador revelante no imaginário de participantes e observadores do mercado financeiro. Acredita-se que mulheres investem de forma diferente dos homens e tais diferença são comumente 'naturalizadas'. Assim, pesquisadores de Cambridge, por exemplo, afirmaram descobrir correlações entre a concentração de testosterona e a predisposição à tomada de riscos financeiros. Tal correlação supostamente explicaria porque as mulheres tendem a ser mais 'conservadoras' e informaria os homens de que eles estão mais dispostos a realizar movimentos de mercado ousados durante a manhã, quando seus níveis de testosterona são maiores. ( IGF, 2009)

Questões hormonais à parte, alguns entrevistados relatam ter demovido suas esposas ou

companheiras do investimento acionário, quando elas demonstraram interesse pela bolsa de valores. Um deles justificou-se da seguinte maneira:

Eu não deixo minha esposa entrar [investir] em ação: provavelmente, ela não teria paciência, ia ficar me perguntando todo dia “ Subiu? Desceu?”, talvez ela não ia entender o que significa perder 10%, pra depois ganhar 20...”

Não obstante, o crescimento das investidoras no mercado de ações é notório nos últimos anos. Desde 2002, quando a Bovespa cria o ‘Mulheres em ação’113, registrou-se crescimento de 730%, passando-se de 15.030 para 124.589 de investidoras, em fevereiro de 2009. (UOL, 2009a)

Pesquisas sobre o perfil de investimento das mulheres são unânimes em afirmar que estas possuem um comportamento mais conservador que o registrado pelo público masculino, com clara preferência para a tradicional aplicação na poupança. Tais pesquisas afirmam que a mulher tende a se preocupar mais com a estabilidade e o longo prazo e a confiar mais na assistência oferecida pelos bancos que os homens. No modo de expressar seus resultados na imprensa, os profissionais que realizam estas pesquisas costumam defender a existência de algo como ‘um jeito feminino de investir’, composto pelas características citadas acima, que se justificariam, segundo estes profissionais114, em razão do papel e/ou da predisposição maternal das mulheres.

113 Modalidade dos cursos de educação financeira voltada exclusivamente ao público feminino.

114 Sandra Blanco, coordenadora do site Mulher Invest, ao comentar o maior conservadorismo feminino, argumenta que: "A mulher pensa primeiro no futuro dos filhos, por isso opta por investimentos mais seguros, como a aquisição

As três investidoras que entrevistamos também manifestaram existir diferenças entre o modo como homens e mulheres investem. Pelo menos duas entre as três associam a mulher ao

comportamento conservador nos investimentos, automaticamente oposto ao maior arrojo masculino nestas questões, todas relatam haver preconceitos ou desconfiança quanto à capacidade feminina de investir na bolsa.

Às três entrevistadas, com vistas à abordagem da questão de gênero, eu apresentei a seguinte questão com as seguintes palavras: “ Como você vê a relação entre as mulheres e a bolsa de valores?” Como veremos, a esta pergunta as entrevistadas comentavam o grande crescimento da participação feminina na bolsa de valores, os preconceitos ou desconfianças em relação à condição de mulher neste espaço, ou ainda, o fato de que as mulheres seriam mais 'conservadoras' do que os homens. Passemos, neste momento, à descrição das entrevistadas.

Sílvia é empresária no ramo de auto-peças. Depois de ter uma empresa de eventos no Rio de Janeiro,voltou a São Paulo, assumindo a empresa do pai. Ela é divorciada, mãe de um filho adolescente e tem 54 anos de idade. Formou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro e tem um MBA em Gestão Empresarial pelo COPPEAD da

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi a única entre os entrevistados a se identificar como 'classe alta'. Ela foi minha aluna, durante dois meses,em uma das escolas de idiomas em que trabalhei.

Ela afirmou ter se interessado pela bolsa de valores ainda na década de 1980, quando teve um relacionamento com um homem dono de uma corretora de valores no Rio de Janeiro. Ao descrever na entrevista suas visitas a esta corretora, a percepção do mercado como um universo machista já assoma: “Quando eu aparecia lá, era engraçado, tinha aquele monte de homem gritando, ficando bravo, falando palavrão, mas quando aparecia uma mulher eles ficavam educados. [risos]” O interesse pela bolsa havia sido despertado, contudo, ele só se efetivou, segundo seu relato, quando conheceu uma 'velhinha', vizinha de sua empresa no Rio, que lhe contou que investia há muito tempo na bolsa. Novamente, vemos as redes sociais como mecanismos de atração e adesão à bolsa: para o caso de Sílvia é interessante notar que o contato com uma mulher que investia parece ter sido mais efetivo que o relacionamento com um 'profissional' do mercado.

Já que, logo de início, a entrevistada trouxe uma associação da bolsa ao universo masculino, perguntei-a como ela via a relação entre as mulheres e a bolsa de valores. Ela respondeu que a participação das mulheres na bolsa, como em todas outras atividades, estava crescendo muito mas

de um imóvel.” ( CRA, 2009) Cláudio Silveira, sócio da empresa de consultoria Quórum Brasil afirma que as mulheres não demonstram o caráter ‘imediatista’ dos homens no momento de decidir seus investimentos, observando que: "A preocupação da mulher com o futuro e a família pode justificar esse comportamento" ( UOL, 2009b)

que, ainda assim, o mais comum era homens investirem, explicando que:

A tendência é a mulher ser mais cuidadosa, a mulher por si só é mais cautelosa, o homem não. Então por que esse mercado é pra homem? Porque lá você tem que ser muito rápido, arrojado,dinâmico, ‘brabo’ mesmo. E por que o homem não é babá? Porque é preciso ter mais cuidado. As pessoas se encaminham para as áreas em que os perfis correspondem.

Uma 'naturalização' das diferenças tão convicta quanto àquela manifesta pelas pesquisas hormonais. Ao comentar sobre o preconceito contra mulheres na administração de dinheiro, Sílvia afirma que sua atividade profissional, em um ramo e um distrito industrial em que as mulheres são minorias115, acostumou-lhe a enfrentar este tipo de situação, assim sendo, ela expõe sua estratégia:

Eu não tô nem aí pra isso [ falando da desconfiança em relação a sua condição de gênero nestes ambientes], quer dizer eu falo que eu não tô nem aí porque essa é minha forma de lidar com essa coisa, na verdade eu fico pau da vida com isso. Então, nesses lugares, você tem que se impor de um jeito mais seguro que o homem, tem que mostrar que, se precisar, você vai ser mais homem do que eles.

Quando lhe pergunto se ser homem ou mulher faz alguma diferença na hora de investir, Sílvia responde enfática: “ Sim, totalmente”. Após retornar ao exemplo de porque haveria mais mulheres babás do que investidoras, ela afirma que as mulheres são mais 'conservadoras', ela mesma

identifica-se então como 'conservadora, porque sou medrosa'.

Sílvia identifica-se como conservadora por investir apenas em fundos de ações, e não diretamente via home-broker, visando o longo-prazo. Ao contrário da maioria entre os demais conservadores, porém, ela não investe apenas em fundos de Vale e Petrobras, citando, além destes, fundos de empresas imobiliárias.

Em relação a seus processos de tomada de decisão, ela esclarece que 'deveria' se reunir mensalmente com o assessor para investimentos de sua corretora, frequência, no entanto, que é prejudicada por sua rotina agitada e falta de tempo. Além do aconselhamento e sugestões do assessor, Sílvia afirma que acompanha as opções de investimento sozinha, demonstrando aquele enquadramento cognitivo que descrevemos como padrão para nossos entrevistados 'conservadores',

115 Ela explica frequentar o Rottary Club e a Associação Comercial da região, ambientes amplamente frequentados por homens.

focado no longo-prazo e na crença na regularidade cíclica do mercado. Ao falar sobre este acompanhamento, por exemplo, ela expressa de modo claro a crença na regularidade cíclica dos movimentos de preço do mercado: “ Eu olho os gráficos, porque você tem que ver o que já aconteceu, para saber o que vai acontecer.”

Ao longo da entrevista, ela revelou que recentemente, devido aos problemas de saúde do pai, passou a ser responsável pela administração do dinheiro da família. Durante o pico da crise nos mercados financeiros no fim de 2008, afirma ter transferido uma parte deste dinheiro para fora do país sem pedir pela autorização do pai. Quando este soube da transferência, contudo, concordou afirmando que 'era isso que tinha que ser feito mesmo'.

Durante toda a entrevista, Sílvia enfatizou como a crise tinha sido 'pesada', com 'perdas muito tristes', afirmou, contudo, que estava segurando seus investimentos à espera da recuperação e que aguardava, dos próximos encontros com seu assessor, informações e ideias sobre opções em que o dinheiro poderia ser recuperado mais rapidamente.

A regularidade dos encontros com o assessor e a confiança que Sílvia parece depositar no mesmo são pontos notáveis, já que, como dito anteriormente, uma das características flagradas pelas pesquisas para a compreensão do comportamento financeiro das mulheres é a maior procura e confiança nos profissionais de assessoria do que a registrada entre homens. De fato, em nossa amostra, nenhum dos homens, com exceção do 'jovem-iniciante' Anderson relata contatos com profissionais de assessoria financeira como relevantes para suas decisões ou mesmo aprendizagem sobre mercado. Em muitos casos, estes profissionais são ironizados como investidores piores do que os próprios entrevistados ou como suspeitos de manipulação do mercado. Para o caso de Sílvia, o contato com assessor talvez possa ser igualmente visto como um padrão de investimentos de 'classe alta', habituado com a atenção mais dedicada de toda sorte de assessores.

Infelizmente, ao longo do primeiro semestre de 2010, não foi possível agendar um segundo encontro com Sílvia, restando-nos apenas o material da entrevista de 2009.

Nossa segunda entrevistada é Lilian, uma economista de 32 anos, formada pela Faculdade de Economia e Administração da USP, com MBA em Marketing pela Faculdade Getúlio Vargas. Lilian trabalha há dois anos na área de Marketing de uma empresa multinacional de seguros, depois de haver trabalhado na área de atendimento ao cliente pessoa física de um grande banco brasileiro. Cheguei a ela através do contato com uma amiga em comum, também graduada em ciências econômicas pela FEA-USP. Lilian recebeu-me em Fevereiro de 2009 e, posteriormente, no mesmo mês em 2010. Atualmente, é divorciada e sem filhos.

O interesse de Lilian pela bolsa surgiu ao longo de sua experiência de trabalho no banco. Segundo ela, este era um ambiente muito propício para aprender sobre o mercado, porque todos

colegas falavam sobre investimentos e o banco, além de promover constantemente palestras com especialistas aos funcionários, também garantia taxas de administração de fundos ou de corretagem especiais aos seus funcionários. Deste modo, ela incorreu pela primeira vez em fundos de ações da Vale e Petrobras em 2002 e, logo de saída, teve uma experiência desagradável: conforme a primeira eleição de Lula para a presidência tornava-se mais provável, o IBOVESPA registrou quase 50 % de desvalorização ( entre Março e Setembro de 2002), ela resgatou seu dinheiro investido com

exatamente 50% de prejuízo.

Lilian representou esta primeira experiência como um erro advindo de sua imaturidade como investidora, afirmando que “bolsa é gangorra, por isso você tem que olhar para o longo-prazo”. Em nosso primeiro encontro, comentando sobre a crise de 2008, afirma que dessa vez não incorreu no mesmo erro, ou seja, não resgatou o dinheiro durante a baixa, enfatizando que para investir “ é preciso ter estômago”.

Deste modo, vê-se a adesão da entrevistada ao discurso sobre o longo-prazo e as regularidades cíclicas. Ela apresentou o enquadramento cognitivo padrão entre os conservadores, assim,

novamente podemos registrar uma frase exemplar em defesa da crença na regularidade cíclica da flutuação dos preços na bolsa: “ você tem que pegar o histórico [de um fundo de ações] para ter uma projeção do futuro.”

Ainda sobre a experiência de trabalho no banco, Lilian comentou que, ao observar o portfólio de investimentos dos clientes, era visível a diferença entre os maiores riscos assumidos pelos homens e o maior conservadorismo dos portfólios das mulheres, afirmando que as mulheres eram maioria entre os clientes do programa de assessoria personalizada, aberto somente aos clientes 'especiais', ou seja, aqueles de maior patrimônio.

Aproveitando esta evocação sobre a questão de gênero, perguntei sobre o que ela pensava sobre a relação mulheres e bolsa de valores, obtendo de Lilian a ênfase no caráter mais conservador das mulheres. Assim, ela expõe as diferenças entre homens e mulheres de maneira muito

semelhante ao que vimos os 'profissionais' fazerem ao analisar as pesquisas sobre o comportamento feminino nas finanças: “ele [o homem] gosta de ganhar mais no curto prazo, vê adrenalina nesse processo de investimento e riscos, já a mulher, ela pensa mais na segurança, no patrimônio, em um projeto futuro.” Ao contrário das outras entrevistadas que reconheciam que homens e mulheres eram diferentes, sem, no entanto, acreditar que as mulheres tendessem a ter resultados melhores ou piores do que os homens, Lilian sugere que 'o jeito feminino de investir' poderia ser mais racional do que o masculino marcado pelo gosto pelo risco e, até mesmo, por uma certa competição gratuita de egos, assim, ela comenta: “O homem gosta de contar para os outros, para os amigos no bar, o que fez: ‘Olha quanto eu ganhei aqui, como eu fiz essa operação e tal..’ A mulher, não, ela é

mais reservada, ela para, olha, se informa muito bem e só depois vê o que vai fazer.” Também coloquei à Lilian uma questão sobre sua formação profissional: a condição de

economista facilita a atividade de investimento? Lilian afirmou que em certa medida ajudaria, pois seus colegas economistas sempre podem trazer informações ou opiniões interessantes. Ela revelou que conversava com eles sobre investimentos, embora nunca tomasse decisões com base apenas em informações de terceiros116. De resto, em tom de brincadeira, ela disse pensar que, quando se trata de administrar o próprio dinheiro, o economista é sempre mais conservador do que no momento em que ele aconselha ou administra o dinheiro de terceiros.

Na época da primeira entrevista, Lilian ainda era casada, afirmando, à exemplo de outros entrevistados, que seus investimentos em bolsa eram 'pessoais', não implicavam o dinheiro do marido, que também tinha economias próprias. Ela havia, inclusive, influenciado seu marido na administração deste dinheiro próprio, aconselhando-o a migrar da poupança para os títulos de CDB.

Na segunda entrevista, a estratégia de longo-prazo parecia ter recompensado Lilian, ela afirmou que teve seu dinheiro recuperado das perdas da crise, com o acréscimo de um certo lucro. Pediu o resgate dos fundos em Dezembro, pois, em suas conversas com colegas economistas, diz ter percebido que poderiam haver quedas - como de fato ocorreram em Janeiro de 2010, embora rapidamente recuperadas. No momento da entrevista, ela afirmou que estava esperando um momento interessante, ou seja, uma baixa mais acentuada para reinvestir, no melhor estilo conservador: ou seja, fundos de ações Vale e Petros, focados no longo-prazo.

Finalmente, passemos à última entrevistada. Como esclarecemos na Introdução, uma de nossas mais proveitosas experiências de pesquisa empírica deu-se na Expomoney São Paulo – uma feira de educação financeira, que se intitula como a maior da América Latina. Um de meus objetivos nesta feira era frequentar as palestras dos 'professores de bolsa' mais concorridos e, se possível, conseguir entrevistas com pequenos investidores. Foi lá que conheci Cláudia. Nós dois esperávamos Maurício Hissa, o professor que defende a versão mais radical do 'conservadorismo' em bolsa, como vimos no capítulo anterior, conceder uma entrevista sobre o evento a jornalistas. Começamos a conversar e lhe expliquei minha pesquisa, comentando que eu precisava encontrar pequenos investidores para entrevistar. Ela aceitou ser entrevistada no intervalo das palestras do evento.

Cláudia é uma médica de Curitiba, 34 anos, solteira e sem filhos que se formou na Universidade Federal do Paraná. Ela havia vindo à Expomoney para conhecer pessoalmente Maurício Hissa, pois frequentava assiduamente a sala de chat de seu site, o Bastter. Aliás, já de saída, Cláudia explica que sua atividade como investidora foi totalmente reformada pelo contato com as o site e a visão de

116 Embora Lilian relativize o impacto dessas informações e opiniões de terceiros, observamos aqui as redes sociais constituídas por uma condição profissional – Lilian afirma que se trata de colegas economistas que, em geral, estudaram com ela na FEA-USP – como transmissoras de informações e opiniões sobre investimentos.

bolsa de valores oferecida pela Bastter.

Cláudia conta que se interessou pela bolsa a partir de conversas com um colega médico, também investidor, e resolveu então participar de um curso de introdução à bolsa de valores, oferecido por uma corretora em Curitiba.

Até aí, portanto, a atração e adesão de Cláudia ao investimento acionário seguem os caminhos que já vimos, ouvir muito sobre a bolsa na mídia devido às recentes valorizações, conversa com conhecidos que investem e cursos de introdução, já que, como ela afirma, 'no começo, a bolsa era uma meio sobrenatural para mim, eu não sabia nada sobre ela.' Algo de diferente emergiu quando Cláudia começa a relatar:

Minha corretora tinha um fórum [ chat entre investidores] no site e eu participava desse fórum. Foi lá que eu fiquei sabendo do fórum do Bastter, fui atrás e me identifiquei logo de cara, até porque ele era médico também, então foi uma identificação assim... de cara.

[pesquisador]: - Mas além de ele ser médico, teve alguma outra coisa para você se identificar?

[ entrevistada]: - Pois é, no fórum da minha corretora, o foco era muito no 'trading': “ Ah, tal coisa vai bombar, compre tal coisa.”E no Bastter o que eu notei é que o foco era outro, era diferente, o foco era mais ' como escolher uma boa empresa', um foco de aprendizagem mesmo. Então foi lá que eu aprendi, que eu amadureci como investidora, vi para que é que a bolsa serve.

[ pesquisador]: - E pra que é que a bolsa serve?

[ entrevistada]: É, na verdade, a bolsa não serve para nada, né? [risos] Na minha opinião, que é inclusive a visão que eu aprendi com o Bastter, a bolsa é uma forma de você acumular capital, fazer uma poupança e, no longo-prazo, ter uma rentabilidade maior do que uma poupança comum. Então, para mim a bolsa é uma boa opção de poupança.

Em primeiro lugar, observamos a identificação 'logo de cara' com Hissa devido ao

compartilhamento da condição profissional.117 Em segundo lugar, a entrevistada demonstra que o fórum no site de Bastter - que , como qualquer fórum de Internet, reúne pessoas que não se

conhecem pessoalmente e que podem se apresentar e se chamar por meio de 'nicks' ( apelidos) sem informar seus nomes reais – desenvolvia um foco diferente, de aprendizagem em oposição às