• Nenhum resultado encontrado

Ao identificar os 26 bolsistas PQ-1A/CNPq, bem como alguns aspectos formativos e representativos dessa elite do campo da Educação no Brasil a presente comunicação buscou evidenciar como são estabelecidas as relações entre a produção e a comunicação científica. Com a análise dos 956 itens publicados, entre os três anos antecessores à concessão da bolsa e a última atualização efetuada no Lattes, verificou-se que o veículo preferido para a disseminação da produção científica foi o capítulo de livro. Muitas podem ser as justificativas para tal comportamento informacional, dentre elas, a constituição histórica do próprio campo da Educação, como pertencente à grande área de Ciências Sociais e Humanidades, que apresenta predileção pela publicação no formato de livro e/ou capítulo de livro.

É importante salientar, que a despeito disso, a diferença entre capítulos de livro e artigos foi bastante pequena (3,87%) esse percentual pode indicar que a importância conferida, a esse tipo de publicação, pelas agências de fomento esteja contribuindo para uma maior equiparidade entre as modalidades. Mesmo apresentado os conhecidos entraves editoriais, o periódico científico tende a ocupar local de destaque nas mais diferentes áreas do conhecimento como foi possível mensurar na presente pesquisa.

Ao desvendar quem são esses agentes, compostos por 57,69% de mulheres, foi possível inferir que – mesmo em se tratando da elite do campo educacional constituído historicamente pelo gênero feminino – essa maioria é significativa. Ela representa uma

pequena ruptura no processo natural de distinção que privilegia o ingresso de homens nos mais altos níveis de consagração em detrimento das mulheres. Uma possibilidade interessante seria o estudo das coautorias estabelecidas nessas 956 produções, buscando-se evidenciar de que modo os gêneros estão se relacionando no contexto de pesquisa.

Em relação à formação acadêmica não foi surpresa constatar que a maior parte dos títulos de doutoramento foi em Educação (84,62%), mas os 11,54% de sociólogos que alcançaram o mais alto nível hierárquico, no que se refere à concessão de bolsas, reforçam os aspectos interdisciplinares que compõem o campo educacional.

Outro dado importante é o tempo médio entre a titulação máxima de doutor(a) e a obtenção da bolsa PQ-1A/CNPq. Mesmo sem outro estudo semelhante ao aqui realizado para efeito comparativo, consideraram-se os 29,16 anos um período bastante longo, já que o tempo de permanência nos quadros das universidades federais brasileiras não ultrapassa os 70 anos (aposentadoria compulsória). É sabido que há a possibilidade de manter a bolsa desde que seja estabelecido um novo vínculo, seja como pesquisador sênior, seja como professor visitante, ou ainda, como professor efetivo em universidades particulares, mas essa não é a regra ora observada, pois somente 15,38% do corpus se enquadra nessa realidade.

Ao analisar as afiliações institucionais dos 26 bolsistas um percentual chama a atenção, pois mesmo com PPG’s bem avaliados as regiões Centro-Oeste e Nordeste não apresentaram nenhum membro dentre os PQ-1A. O predomínio avassalador da região Sudeste com 73,08% dos bolsistas só fortalece a teoria relacional aqui exposta pela qual a distinção é atribuída aos agentes do campo com maior capital acumulado. Além disso, esse capital pode ser científico (temporal e/ou puro) e social, mas a conversão e a reconversão são, não só possíveis, mas também se constituem prática comum e imprescindível para a manutenção dos postos de poder dentro do campo.

Definitivamente, romper com a hegemonia hierárquica não é uma tarefa fácil, na verdade segundo a teoria sociológica de Pierre Bourdieu, aqui utilizada como catalizadora de uma análise mais aprofundada de aspectos descritivos e quantitativos que compõem o universo dos pesquisadores PQ-1A/CNPq, não seria nem a intenção de qualquer campo que queria manter-se articulado com outros polos de poder. A hierarquia apresentada, as instâncias consagradas e as elites empossadas, acabam por ser a estrutura do próprio campo e uma modificação profunda poderia ocasionar a desconstrução. Estudos como o aqui apresentado servem para elucidar relações entre elementos de uma rígida estrutura rígida imposta na Ciência, assim como a tomada de consciência a respeito de como o campo se edifica, podendo conferir maior autonomia ao agente, em especial, aquele que não possui

capital simbólico suficiente para pertencer à elite responsável pela reprodução, distinção e manutenção das instâncias de consagração do campo.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. A codificação. In: BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2011c. p. 96-107.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011b.

BOURDIEU, Pierre. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 2011a.

BOURDIEU, Pierre. Homo academicus. 2. ed. Florianópolis: EDUFSC, 2013.

BOURDIEU, Pierre. O campo intelectual: um mundo à parte. In: BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 2011c. P. 169-180.

BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência. São Paulo: UNESP, 2004.

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Petrópolis: Vozes, 1975.

BUFREM, Leilah S. Revistas científicas: características, funções e critérios de qualidade. In: POBLACIÓN, Dinah A.; WITTER, Geraldina P.; SILVA, José Fernando M. (Org.).

Comunicação e produção científica: contexto, indicadores e avaliação. São Paulo: Angellara, 2006. p. 191-214.

CAPES. COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR. Documento de área da Educação 2013. 2013. Disponível em:

<http://qualis.capes.gov.br/webqualis/publico/documentosDeArea.seam?conversationPropaga tion=begin>. Acesso em: 16 jul. 2014.

CNPQ. CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E

TECNOLÓGICO. Critérios de Julgamento – CA-ED (2012-2014). [201-?]. Disponível em: <http://cnpq.br/web/guest/view/-/journal_content/56_INSTANCE_0oED/10157/50453>. Acesso em 19 jul. 2014.

GARFIELD, Eugene. What is the primordial reference for the phrase 'publish or perish'? The Scientist, Nova York, v.10, n.12, p.11, June 1996.

LETA, Jacqueline. As mulheres na ciência brasileira: crescimento, contrastes e um perfil de sucesso. Estudos Avançados, [S.l.], v.17, n.49, 2003. P.271-284.

MEADOWS, Arthur Jack. A comunicação científica. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros, 1999.

MERTON, R. K. The Mathew effect in science. Science, Nova York, v. 159, n. 3810, p. 58, jan. 1968.

ODDONE, Nanci E. et al. Aspectos reputacionais dos sistemas de avaliação da produção científica no campo da Ciência da Informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE

PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 13., 2012, Rio de Janeiro. Anais...Rio de Janeiro: ENANCIB, 2012. p.1-19.

TARGINO, Maria das Graças. Artigos Científicos: a saga da autoria e coautoria. In:

FERREIRA, Sueli Mara Soares Pinto; TARGINO, Maria das Graças (org.). Preparação de Revistas Científicas: teoria e prática. São Paulo: Reichmann & Autores, 2005. P. 35-54. WEBER, Max. Ensaio de sociologia e outros escritos. São Paulo: Abril Cultural, 1974.