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4 O UNIVERSO QUANTITATIVO CONSTRUÍDO PELOS BOLSISTAS PQ- PQ-1A/CNPQ: ALGUMAS ANÁLISES

No que se refere à concessão das bolsas de produtividade no Brasil, ao pesquisador agraciado com o mais alto nível (PQ-1A) compete apresentar:

[...] excelência continuada na produção científica e na formação de pesquisadores, e que liderem grupos de pesquisa consolidados [...] extrapolar os aspectos unicamente de produtividade para incluir outros aspectos que demonstrem uma significativa liderança em sua área de pesquisa, no Brasil, e capacidade de explorar novas fronteiras científicas em projetos coletivos e inovadores. (CNPq, [201-?]36, grifo nosso).

Os preceitos acima mencionados não apresentam quantificações objetivas, pois “extrapolar” o produtivismo seria representado por quais condutas e produções científicas exatamente? Na área de CI esses critérios são além de descritos, quantificados de modo a esclarecer possíveis questionamentos. (ODDONE et al., 2003). Nos relatórios dos comitês de assessoramento de ambas as áreas, fica patente o peso conferido à produção científica, mas somente a CI apresenta percentuais de avaliação. (CNPq, [201-?]). A distribuição dos bolsistas nos estratos se dá da seguinte no campo da Educação (ver Gráfico 1).

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Documento eletrônico não paginado. Disponível em: <http://cnpq.br/web/guest/view/-/journal_content/56_INSTANCE_0oED/10157/50453>. Acesso em: 24 jul. 2014.

GRÁFICO 1 – Distribuição das Bolsas de Produtividade no Campo da Educação no Brasil 55,78% 20,05% 9,00% 6,68% 6,43% 2,06% PQ-2 PQ-1D PQ-1C PQ-1A PQ-1B PQ-SR

Fonte: dados da pesquisa

A área de Educação estabelece como máximo de bolsistas PQ-1A 10% do universo de pesquisadores agraciados com bolsa. No Gráfico 1 observa-se que somente 6,68% dos pesquisadores estão classificados nesse nível. “Essa estratificação, comum a todo grupo regido de maneira hierárquica, é incentivada e perseguida pelos agentes do campo, acabando por designar a uns poucos o controle das decisões de todo o campo.” (ODDONE et al., 2012, p.13).

Nesse trabalho intitulado: Aspectos reputacionais dos sistemas de avaliação da produção científica no campo da Ciência da Informação, Oddone et al.(2012) apresentam a realidade observada na CI e afirmam que a análise do campo acadêmico pode ser melhor entendida e, por que não, explicada mediante a ideia de que o acúmulo e a articulação do capital científico (temporal e puro) permite a “[...] concessão de reputação simbólica aos agentes científicos [...].” (ODDONE et al., 2012, p. 15). Ainda de acordo com os autores, isso se dá mediante os dispositivos implementados pelas agências de fomento (CAPES e CNPq, por exemplo). Nesse sentido, ao identificar os 26 bolsistas PQ-1A/CNPq em Educação no país verificou-se que a maioria (65,38%) é professor titular em suas universidades, ou seja, empossados no mais alto cargo acadêmico/institucional. Também é importante ressaltar que outros três pesquisadores são titulares, mas já aposentados (11,54%). Somando-se esses percentuais o total de pesquisadores PQ-1A no campo da Educação que atingiram o ápice da carreira docente perfaz um total de 76,92%. Os outros 23,08% do corpus distribui-se da seguinte forma: 19,23% são adjuntos ainda na ativa e somente um pesquisador (3,85%) enquadra-se como adjunto aposentado.

Ao pensar as instâncias de consagração como postos ocupados por agentes com elevado capital científico (temporal e puro) e capital social admite-se que todos passam por

avaliações e julgamentos de suas condutas, de sua produção e de sua participação na administração e manutenção do campo. Esses critérios de distinção promovem a hierarquização do campo reproduzindo o que conhecemos por efeito Mateus. Nesse sentido, Meadows (1999) corrobora o exposto ao constatar inclusive, sob o ponto de vista da comunicação informal, que o sistema estabelecido é o hierárquico, no qual as posições de destaque são ocupadas por agentes com elevado poder e experiência dentro do campo.

Assim, não foi surpresa verificar, que as produções analisadas entre os três anos anteriores a concessão/renovação das bolsas de cada pesquisador e sua última publicação disponibilizada no Lattes, ultrapassaram – na maior parte dos casos – os 20% de sua produção total. À guisa de exemplificação, um dos pesquisadores, com 41 anos de carreira, publicou 235 artigos durante esse período, mas apresentou um aumento considerável no seu nível de produção após a concessão da bolsa. A saber, 67 artigos (28,5%) foram publicados nos últimos seis anos. Esse pesquisador, em particular, apresentou um padrão de produção que reforça o aspecto reprodutivista da academia. Não se pode imaginar que alguém, que precisa distribuir seu tempo entre pesquisa, ensino e extensão, consiga escrever e publicar (importante lembrar os entraves inerentes ao processo de publicação no Brasil) 67 artigos, 13 livros e 5 capítulos de livros em 72 meses sem abrir mão de atividades gerenciais, administrativas e, por que não também, domésticas.

Dos 956 itens avaliados (artigos, capítulos de livro e livros) observou-se a predileção, já esperada, pela publicação de capítulos de livro, em detrimento de artigo científico (ver Tabela 1).

TABELA 1 – Veículo Preferido para Disseminação Científica da Área de Educação no Brasil

Veículo Freq. Abs. Freq. Rel. (%)

Capítulo de Livro 400 41,84%

Artigo 363 37,97%

Livro 193 20,19%

TOTAL 956 100,00%

Fonte: dados da pesquisa

Segundo Meadows (1999) áreas como as Ciências Humanas e Sociais tendem a preferir publicar seus resultados de pesquisa no formato de livro ou de capítulo (coletâneas). Essa escolha se deve, principalmente, ao fato de que nessas áreas o processo de construção científica demoraria mais, em relação aos padrões de publicação das Ciências Exatas e da Terra, por exemplo.

No que concerne ao gênero dos pesquisadores, identificou-se que a maioria é do gênero feminino (57,69%). É importante salientar que aqui se está analisando o perfil da elite em Educação e, por mais que o campo tenha sido construído historicamente por mulheres – pelos mais variados motivos entre eles o fato de que a hierarquia dos objetos de pesquisa também se estabelece de acordo com as predisposições incorporadas no campo –, a presença do gênero masculino com elevado capital científico pode ser reflexo das facilidades que o homem apresenta para ocupar espaços de poder e prestígio na Ciência. “A incorporação de mulheres no sistema de ciência e tecnologia também pode ser verificada a partir da distribuição de bolsas concedidas por agências de governo que financiam o setor, como é o caso do CNPq.” (LETA, 2003, p.276).

Ainda de acordo com a autora, o aumento no número de alunas matriculadas em universidades pode ser um fator importante, a médio e longo prazo, na maior presença de mulheres na carreira universitária. “Observa-se que a produção de bolsistas mulheres cresce nas diferentes modalidades, mas diminui na medida em que cresce o nível hierárquico da bolsa.” (LETA, 2003, p.276). Nesse tocante, as bolsas de produtividade são consideradas a de maior valor hierárquico e na qual se pode ainda constar a maior presença de pesquisadores do gênero masculino em áreas como Biologia, Física, Medicina, mas não no caso da Educação. Uma explicação desse comportamento pode estar, como mencionado anteriormente, na própria constituição do campo fundado predominantemente por mulheres, como também é o caso da Ciência da Informação.

A escolha pela área do conhecimento para obtenção do título de doutorado foi para a ampla maioria a própria Educação (84,62%), seguida pelas Ciências Sociais (Sociologia) com 11,54% dos pesquisadores PQ-1A/CNPq. A média de tempo, dentre os bolsistas, desde a obtenção desse título foi de 29, 16 anos com desvio padrão de 14,96 anos. Os bolsistas com maior tempo de titulação (45 anos) não foram os mais profícuos .

Ao analisar as afiliações institucionais dos 26 bolsistas constatou-se que 65,39% possuem vínculo com universidades públicas ou federais (34,62%) ou estaduais (30,77%). (ver TABELA 2).

TABELA 2 – Distribuição dos PQ-1A/CNPq por Afiliação Institucional (cont.)

Instituição Freq. Abs. Freq. Rel. (%)

USP 5 19,23%

UFMG 3 11,54%

UFRGS 3 11,54%

PUC Rio 2 7,69%

UNISINOS 2 7,69% UCP 2 7,69% UNESP 1 3,85% PUC RS 1 3,85% UFRJ 1 3,85% MACKENZIE 1 3,85% PUC Minas 1 3,85% UFF 1 3,85% UFPR 1 3,85% TOTAL 26 100,00%

Fonte: dados da pesquisa

Uma informação inquietante foi identificada: somente docentes vinculados a universidades das regiões sul (26,92%) e sudeste (73,08%) são bolsistas PQ-1A/CNPq na área de Educação. São 225 Programas de Pós-Graduação (PPG) em Educação recomendados pela CAPES no país, ressalta-se alguns com conceito cinco que estão localizados em estados do Centro-Oeste (UFG) e do Nordeste (UFPE), mas que não apresentam nenhum representante entre os PQ-1A.