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2 INTERNACIONALIZAÇÃO, VISIBILIDADE DOS PERIÓDICOS E INDICADORES

Os Estudos Métricos da Comunicação Científica – estão contidos nos temas do grupo de trabalho do GT7 da ANCIB5- tem sido, ao longo dos anos, objeto de estudo e pesquisa em diferentes áreas do conhecimento, tendo como principal foco de interesse questões teórico-conceituais e metodológicas relacionadas ao mapeamento e à avaliação da produção em ciência, tecnologia e inovação. Desse modo, o escopo e a abrangência dessa área em suas diferentes abordagens proporcionam o diálogo com outras temáticas da Ciência da Informação e com outros campos do conhecimento.

Segundo Glänzel (2003), os estudos sobre Estudos Métricos da Comunicação Científica apresentaram um aumento acentuado em âmbito mundial, desde o início dos anos

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O GT7 da ANCIB é o Grupo de Trabalho denominado “Produção e Comunicação da Informação em CT&I” da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação.

de 1980, quando evoluíram para uma disciplina científica distinta, com um perfil específico de investigação, vários subcampos e as correspondentes estruturas de comunicação científica, em função principalmente da disponibilidade de grandes bases de dados bibliográficas e o rápido desenvolvimento da ciência da computação e tecnologia, que alavancou ainda mais esses estudos. A partir dos anos de 1990, os procedimentos e as questões relativas às necessidades de mensuração e à avaliação da ciência, em âmbito mundial, exigiram aperfeiçoamento e critérios mais rigorosos.

Nas duas últimas décadas, as publicações científicas internacionais neste tema têm crescido significativamente. Segundo Meneghini e Packer (2010), no período de 1990 a 2006, o crescimento foi de 7,3, enquanto as áreas do conhecimento, de modo geral, cresceram 1,6. Em anos recentes, os estudos nessa temática passaram a contar com mais de duas dezenas de periódicos, disseminando o conhecimento novo gerado (MENEGHINI; PACKER, 2010). O aumento notável da produção científica internacional refletiu-se também na comunidade científica do país.

A ciência brasileira tem crescido de forma expressiva, particularmente nos últimos 25 anos (ZANOTTO, 2002; LETA; CHAIMOVICH, 2002; LETA; GLÄNZEL, THIJS, 2006; LEITE; MUGNAINI; LETA, 2011), em que aconteceu um aumento de sua participação nas publicações científicas indexadas nas bases internacionais citadas anteriormente (LEITE; MUGNAINI; LETA, 2011). A taxa de crescimento da produção científica do Brasil superou a média internacional, com um aumento de seis vezes nas duas últimas décadas do século XX. Como apontado por Zanotto (2002), ocupava em 2011 a 17ª posição no ranking da produção científica, porém, de acordo com o SCImagoJr ( 2012), passa a ocupar a 13a posição, à frente da Holanda, Israel e Suíça.

Uma rápida retrospectiva mostra o crescimento em publicações técnicas e científicas indexadas pelo Institute for Scientific Information (ISI/Thomson), destacando-se que a participação brasileira, no total de publicações mundiais, aumentou 0,31% em 1974 (MOREL; MOREI, 1977), 0,46% em 1993 (SIKKA, 1997), 1,11% em 2000 (PINHEIRO-MACHADO; OLIVEIRA, 2001) e 1,75% em 2005 (BRITOCRUZ, 2007), estando em crescente ascensão.

Nos anos recentes, as publicações no âmbito internacional superaram 2,5% (REGALADO, 2010) em participação brasileira. Neste período, o desenvolvimento científico levou o Brasil à posição de liderança no contexto da comunidade científica latino-americana, com intensa colaboração científica internacional, tanto regional como com a América do Norte e Europa (GLÄNZEL; LETA; THIJS, 2006).

Outros estudos quase simultâneos sobre a participação brasileira na temática e na ciência mainstream podem ser citados: Mattos e Job (2008) analisaram a produção científica brasileira publicada na revista Scientometrics, no período de 1978 a 2006, apontando uma discreta participação de pesquisadores brasileiros e a necessidade de incrementar a produção internacional de pesquisadores da Ciência da Informação na área de estudos bibliométricos.

Segundo o dicionário Michaelis,6 “internacionalizar (internacional+izar) significa tornar(-se) internacional, tornar(-se) comum a várias nações, espalhar(-se) por várias nações, universalizar(-se)”. Neste contexto, compreende-se por internacionalização da pesquisa brasileira o fato de a ciência construída e gerada no Brasil tornar-se universalmente acessível e visível por meio de publicações. Assim, a análise bibliométrica das publicações mainstream adicionadas às produções locais e suas colaborações possibilita a visualização do conjunto da ciência produzida no país, o seu impacto (citações) e a visibilidade de seus periódicos e consequenteinserção em âmbito local e internacional.

Packer e Meneghini (2006) definem visibilidade como a capacidade de exposição de uma fonte ou fluxo de informação de, por um lado, influenciar seu público alvo e, por outro, ser acessada em resposta a uma demanda de informação. Ainda segundo os mesmos autores, a visibilidade dos periódicos ocorre em duas dimensões: “qualidade e credibilidade”, ou seja, ser referência em uma disciplina ou área, como também ser indexados em bases internacionais, de modo a consolidar a visibilidade. Complementando o pensamento de Packer e Meneghini (2006), entende-se que qualidade, credibilidade e indexação em bases internacionais são aspectos intimamente relacionados e inseparáveis. Assim considerado, o conceito de visibilidade é multidimensional, necessitando de diferentes indicadores que se completam com a finalidade de oferecer elementos objetivos e confiáveis.

A visibilidadeda produção científica tem sido uma temática de interesse crescente na literatura especializada. Compreendida como uma característica desejável da comunicação científica, de um lado ela representa a capacidade que uma fonte de informação possui, de “ser visível”. Por outro lado, ela representa a disponibilidade de ser acessada, em resposta a uma demanda de informação (PACKER; MENEGHINI, 2006). Essas características da visibilidade promovem o impacto, mensurável por meio de indicadores.

Segundo Miguel, Chinchilla-Rodríguez e Moya-Anegón (2011), visibilidade é sinônimo de impacto, determinado pela rapidez com que uma pesquisa é absorvida pela

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Consulta realizada em 12/01/ 2013, no endereço: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/ index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=internacionalizar

comunidade científica. Dessa forma, a visibilidade é uma forma indireta de avaliar a qualidade das publicações, temática focal da Bibliometria e suas subáreas, a saber Cientometria, Webometria, Informetria e Patentometria, com questões intrinsecamente ligadas aos Estudos Métricos da Comunicação Científica.

Em síntese, a visibilidade relaciona-se com a revista ou outro meio em que a produção científica é disseminada pelo pesquisador. Tornam-se mais visíveis os pesquisadores ou instituições que publicam em canais de comunicação de maior destaque e são indexados em bases de dados referenciais internacionais. Segundo Lascularin-Sanchez, Garcia-Zorita e Sanz-Casado (2011), a visibilidade é medida pela posição das publicações nos diferentes Quartis, consignando maior visibilidade àquelas pertencentes ao 1° quartil (Q1).

Essas questões resultaram na ampliação do interesse dos periódicos advindos de diferentes áreas, que se voltam então para publicações nas temáticas relativas aos Estudos Métricos da Comunicação Científica. Estes estudos desenvolveram-se a partir da Bibliometria, Cientometria, Webometria, tendo na Informetria sua maior amplitude. Mais modernamente, surge também a Patentometria. Apesar de cada uma dessas temáticas de estudo apresentar objetos e especificidades próprios, de modo geral, elas são usualmente chamadas de pesquisas bibliométricas, pela comunidade científica. Os Estados Unidos, Bélgica, Holanda e Espanha, entre outros, são os países precursores destes estudos.

Quanto ao conceito de Bibliometria, Glänzel (2003) considera que a pesquisa bibliométrica atual é destinada a três grupos-alvo principais, que determinam tópicos e subáreas da Bibliometria contemporânea, a saber:

- Bibliometria para profissionais da Bibliometria (G1): esse é o domínio da pesquisa bibliométrica “de base”, que busca desenvolver e debater a Bibliometria como metodologia, isto é, está preocupada com o seu próprio desenvolvimento conceitual-teórico-metodológico.

- Bibliometria aplicada às disciplinas científicas (G2): esse é o domínio de pesquisa bibliométrica “aplicada” e forma o maior e mais diversificado grupo de interesse na Bibliometria. Em virtude da sua principal orientação científica, os seus interesses estão fortemente relacionados com a sua especialidade.

- Bibliometria para a política científica e gestão (G3): esse é o domínio da avaliação da pesquisa com fins de orientar políticas científicas. Em relação a esses aspectos, a estrutura institucional, regional e nacional da ciência e sua apresentação comparativa estão em primeiro plano. Esse grupo-alvo é considerado por Glänzel o tópico mais importante da Bibliometria contemporânea.

Os indicadores básicos de produção são constituídos pela contagem do número de publicações do pesquisador, grupo de pesquisadores, instituição, periódico ou país e objetivam refletir seu impacto junto à comunidade científica à qual pertencem, dando visibilidade àqueles periódicos mais produtivos, bem como às temáticas mais destacadas de uma área do conhecimento (OKUBO, 1997).

Outro indicador ─ o quartil ─ refere-se, na estatística descritiva, a qualquer um dos três valores (Q1, Q2 e Q3) que dividem o conjunto ordenado de dados (nesse caso, periódicos) em quatro partes iguais, e assim cada parte representa 1/4 da amostra ou população. Pertencer ao primeiro quartil (Q1) significa estar no grupo dos 25% superiores, segundo algum indicador7. O 2° quartil (Q2) coincide com a mediana e constitui o grupo dos 25% do segundo grupo. O 3º quartil (Q3) e o 4º quartil (Q4) separam os grupos dos periódicos menos relevantes, segundo o indicador em apreço (BARBETTA, 1994).

O Fator de Impacto (FI) é uma medida que reflete o número médio de citações de artigos científicos publicados em determinado periódico. É empregado frequentemente para avaliar a importância de um dado periódico em sua área, sendo que aqueles com um maior FI são considerados mais importantes do que aqueles com um menor FI. Eugene Garfield, em 1955, publicou um artigo na revista Science sobre FI, destacando que o FI pode ser mais representativo do impacto e visibilidade do que a contagem absoluta do número de publicações ou citações de um cientista, periódico ou país. Segundo Garfield (1999), o fator de impacto de uma revista é definido por dois elementos: o numerador, que é o número de citações do corrente ano para os itens publicados no periódico nos dois anos anteriores; e o denominador, que é o número de artigos publicados nos mesmos dois anos.

O Índice h é o número de artigos da revista (h), que tenha recebido pelo menos h citações em todo o período. O Índice h foi criado por Hirsch, em 2005 (GRUPO SCImago, 2006). Hirsch (2005, p.1) conceitua o Índice h da seguinte forma: “um cientista possui índice h se h dos seus artigos tiver pelo menos h citações cada e os outros artigos não tiverem mais que h citações cada”.

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Utilizou-se o indicador SJR-Scimago Journal Indicator Rank, medida de impacto do periódico, que representa o número médio de citações ponderadas, recebida pelos documentos publicados nos três anos anteriores. Ver detalhes sobre SJR em: http://www.scimagojr.com/SCImagoJournalRank.pdf. Acesso em: 18 jun. 2014.