• Nenhum resultado encontrado

O ordenamento jurídico passou de um modelo estritamente típico para abarcar um modelo misto, o qual medidas típicas e atípicas convivem. A ruptura foi sentida a partir da elaboração das Leis nº 8.952/1994, 10.444/2002 e 13.105/2015.

A ampla tipificação dos meios executivos gera maior previsibilidade e maior segurança jurídica. Por outro lado, a abertura para a aplicação de medidas atípicas, quando os limites estão bem definidos, favorece o exercício de diversos princípios constitucionais, dentre os quais o da efetividade.

No âmbito das obrigações alimentícias, pertencentes as obrigações de pagar quantia certa, o uso das medidas atípicas teve amparo no art. 139, inc. IV, do CPC/15, embora parte da doutrina ainda defenda a impossibilidade de técnicas atípicas nesse tipo de obrigações.

Quando se trata do uso da prisão civil, nota-se que somente podem ser aplicadas com feição coercitiva. Além disso, conforme disposição do STJ, somente é possível caso se observe indícios de ocultação do patrimônio, de sorte que o meio executório somente terá feição coercitiva caso o devedor possa adimplir a obrigação, caso contrário, será vista como sancionatória.

A interpretação dada ao termo “dívida” encartado no art. 5º, inc. LXVII, da CRFB/88 deve ser ampliativa, abrangendo toda e qualquer obrigação, de sorte que as únicas hipóteses constitucionais passíveis de sofrer prisão civil são o depositário infiel e o devedor de alimentos. Com o Pacto de São José da Costa Rica, a possibilidade de prisão civil foi restrita ao devedor de alimentos.

A partir deste raciocínio, aduz-se que as medidas atípicas de coerção pessoal somente serão admitidas quando substituírem a prisão civil, ou seja, apenas incidirão nas obrigações alimentícias em que o exequente optou pela via do encarceramento.

Outras limitações que também devem ser observadas dizem respeito a natureza do alimento, eis que apenas quando se tratar de alimentos legítimos será possível o uso da prisão civil.

Quanto à ordem de aplicação, nota-se que, independentemente do rito escolhido pelo credor, as obrigações alimentícias possuem natureza subsidiária, com base nos arts. 921, III, 924, V, 528, caput e 931, caput, todos do CPC/15.

Quanto à limitação pela natureza patrimonial, observa-se que somente as obrigações alimentícias adotadas pelo rito da expropriação são afetadas por esta restrição, de modo que apenas medidas atípicas de natureza patrimonial são admissíveis.

Quanto ao mesmo critério, impende trazer uma breve conclusão das hipóteses de aplicação de medidas atípicas em obrigações alimentícias de coerção pessoal:

a) Cabe a aplicação de medida atípica de coerção pessoal em substituição a prisão civil, antes do encarceramento;

b) Cabe a aplicação de medida atípica de coerção pessoal em substituição a prisão civil, quando o devedor preso tenha adimplido parte do dever alimentar;

c) Não cabe a aplicação de medida atípica de coerção pessoal após o cumprimento da prisão civil referente à dívida que ensejou o encarceramento;

d) Todas as medidas atípicas de natureza patrimonial são potencialmente admissíveis;

e) Cabe a aplicação de medida atípica de coerção pessoal, quando acordada em negócio jurídico.

Desta feita, as medidas atípicas escolhidas devem visar o ataque do patrimônio do devedor e não a sua pessoa. No caso das obrigações alimentícias adotadas pelo rito da prisão civil, tal pensamento não se repete, em razão do potencial encarceramento.

Para além disso, cumpre dizer que, em razão do caráter subsidiário da medida, não pode o juiz aplicar medida atípica ex officio, em substituição da típica. Nada obstante, com base na proporcionalidade (art. 8º, do CPC/15), é possível aplicar medida atípica diversa de outra atípica requerida. Sempre respeitando o contraditório substancial.

No âmbito da execução de alimentos, sendo a prisão civil uma possibilidade, não é aceitável que o magistrado atue sem antes dar espaço para que as partes possam manifestar suas posições, sobretudo no que se refere ao exequente, tendo em vista que cabe a ele decidir se o feito caminhará pelo rito da expropriação ou da coerção pessoal.

Embora parte da doutrina ainda resista na aplicação das medidas atípicas nas obrigações de pagar quantia, defende-se o entendimento de que o advento do art. 139, inc. IV, do CPC/15 afastou qualquer dúvida sobre o assunto.

Outro ponto que deve ser salientado é quanto a impossibilidade do magistrado imputar a técnica da prisão civil quando esta já tiver sido afastada mediante negócio processual, em respeito a cláusula geral de negociação (art. 190, CPC/15). Todavia, carecendo de legalidade material, deverá o juiz invalidar o que restou avençado.

No que diz respeito a limitação a direitos fundamentais, conclui-se pela possibilidade de sua ocorrência apenas quando for possível a aplicação de medida atípica de coerção pessoal.

Em razão de limitação constitucional (art. 5º, inc. LXVII, CRFB/88), advoga-se que a prisão civil somente poderá incidir como medida típica, mediante requerimento do credor.

Diante desses parâmetros de controle, portanto, acredita-se ser possível a adoção de medidas atípicas sem desrespeitar o sistema jurídico.

A busca pela efetivação de uma pretensão sem o respeito da integridade do Direito torna- se mais perigosa do que a inefetividade de uma norma. A norma pode ser revista e reelaborada, a perda da credibilidade do Direito, em virtude de uma flexibilização demasiada, pautada em brechas interpretativas, abre espaço para que o todo seja esvaziado e banalizado.

Dentre os ensinamentos alcançados, talvez, o mais significativo foi o de que o principal limite para a atuação do magistrado na aplicação das técnicas executivas deve ser a compreensão de que o sistema jurídico é íntegro e coerente, de modo que deve ser amoldado ao que as normas (infra)constitucionais dispõem.

REFERÊNCIAS

ABELHA, Marcelo. Manual de execução civil. 5ª ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2015. Não paginada.

ARAGÃO, Nilsiton Rodrigues de Andrade. A utilização da prisão civil como meio

executório atípico. In: TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji. (Orgs.). Medidas

Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

ASSIS, Araken de. Cabimento e adequação dos meios executórios “atípicos”. In: TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji. (Orgs.). Medidas Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

_______. Da execução de alimentos e prisão do devedor. 9. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.

AZEVEDO, Júlio Camargo de; GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Um novo capítulo na

história das medidas executivas atípicas. Disponível em: <https://www.jota.info/opiniao-e- analise/colunas/novo-cpc/um-novo-capitulo-na-historia-das-medidas-executivas-atipicas-

11062018>. Acesso em: 01 de junho de 2019.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros. 2011. BRASIL. Lei n. 5.478 de 25 de julho de 1968. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5478.htm>. Acesso em: 01 de dezembro de 2017.

_______. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969). Disponível em:

<http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm>.

Acesso em: 28 de maio de 2019.

_______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 30 de novembro de 2017.

_______. Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm>. Acesso em: 28 de maio de 2019.

_______. Estatuto das Famílias de 2013. Disponível em:

http://ibdfam.org.br/assets/img/upload/files/Estatuto%20das%20Familias_2014_para%20divu lgacao.pdf. Acesso em: 31 de maio de 2019.

_______. Código de Processo Civil de 2015. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 30 de novembro de 2017.

_______. Parecer 956, de 2014. Disponível em: <

www.senado.leg.br/atividade/rotinas/materia/getPDF.asp?t=159354&tp=1>. Acesso em: 25 de junho de 2019.

_______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus Nº 128.229 – SP (2009/0024166-1). Diário Oficial. São Paulo, 06 maio 2009.

_______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus Nº 97.876 - SP (2018/0104023-6). Diário Oficial. São Paulo, 09 ago. 2018a.

_______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Habeas Corpus Nº 99.606 - SP (2018/0150671-9). Diário Oficial. São Paulo, 20 nov. 2018b.

_______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1782418 RJ (2018/0313595-7).

Diário Oficial. Rio de Janeiro, 26 abr. 2019a.

_______. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 478.963 - RS (2018/0302499-2).

Diário Oficial. Rio de Janeiro, 24 abr. 2019b.

CAETANO, Marcelo Miranda. A atipicidade dos meios executivos – coadjuvante -, p art.

139, IV, CPC e o resguardo ao escopo social do processo. In: TALAMINI, Eduardo;

MINAMI, Marcos Youji. (Orgs.). Medidas Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018. CÂMARA, Alexandre Freitas. O princípio da patrimonialidade da execução e os meios

executivos atípicos: lendo o art. 139, IV, do CPC. In: TALAMINI, Eduardo; MINAMI,

Marcos Youji. (Orgs.). Medidas Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

CARREIRA, Guilherme Sarri; ABREU, Vinicíus Caldas da Gama. Dos poderes do juiz na

execução por quantia certa: da utilização das medidas inominadas. In: TALAMINI,

Eduardo; MINAMI, Marcos Youji. (Orgs.). Medidas Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.

DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Diretrizes para a concretização das cláusulas gerais executivas dos

arts. 139, IV, 297e 526, §1º, CPC. In: TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji.

(Orgs.). Medidas Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume 6: direito de família. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

INSTITUTO DE DIREITO CONTEMPORÂNEO. Enunciados aprovados em Salvador. Disponível em: <https://cpcnovo.com.br/blog/carta-do-forum-permanente-de-processualistas-

em-curitiba/>. Acesso em: 20 de abril de 2019.

MADALENO, Rolf. Direito de família. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso

MINAMI, Marcos Youji. Uma justificativa às medidas executivas atípicas – da vedação

ao non factibile. In: TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji. (Orgs.). Medidas

Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

NADER, Paulo. Curso de direito civil, v. 5: direito de família. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 713.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 10 ed. Salvador: JusPodivm, 2018.

PEREIRA, Rafael Caselil. Execução de alimentos legítimos, indenizatórios e decorrentes

de verba honorária sucumbencial e contratual, sob a perpectiva da atipicidade dos meios executivos (art. 139, inciso IV – CPC/2015) – uma proposta de sistematização. In:

TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji. (Orgs.). Medidas Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

RODRIGUES, Marcelo Abelha. O que fazer quando o executado é um cafajeste?

Apreensão de passaporte? Da carteira de motorista? In: TALAMINI, Eduardo; MINAMI,

Marcos Youji. (Orgs.). Medidas Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

ROSENVALD, Nelson; CHAVES, Cristiano. Curso de Direito Civil. Salvador: JusPodivm, 2017.

TALAMINI, Eduardo. Poder geral de adoção de medidas executivas e sua incidência nas

diferentes modalidades de execução. In: TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji.

(Orgs.). Medidas Executivas Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 6. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2016.

VIEIRA, Luciano Henrik Silveira. Atipicidade dos meios executivos: da

discricionariedade à violação de preceitos garantidores do Estado Democrático de Direito. In: TALAMINI, Eduardo; MINAMI, Marcos Youji. (Orgs.). Medidas Executivas

Atípicas. Salvador: JusPodvm, 2018.

WAMBIER, Luiz Rodrigues; RAMOS, Newton. Ainda a polêmica sobre as medidas

executivas atípicas previstas no CPC. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-

mai-30/opiniao-ainda-polemica-medidas-executivas-atipicas>. Acesso em: 10 de junho de

Documentos relacionados