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3. APLICAÇÃO DO ART 139, INCISO IV, DO CPC/15 NAS OBRIGAÇÕES

3.6 PROCEDIMENTO

Em consonância com o preceituado no artigo 693, parágrafo único, do Estatuto Processual, a ação de alimentos deve seguir o rito especial apontado pela Lei de Alimentos. Inobstante isso, a mencionada execução deve ser norteada pelo o que dispõe o CPC/15 (notadamente os arts. 528 a 533 e os arts. 911 a 913).

Nesse cenário, o Código de Processo Civil apresenta as diretrizes necessárias para a aplicação das medidas atípicas tanto no cumprimento de sentença quanto na execução de obrigações. Este capítulo visa analisar as nuances apresentadas nos procedimentos de ambas as espécies.

Referindo-se à direito personalíssimo, o legitimado ativo para propor a ação é o próprio titular do direito.

Tratando-se de criança e de adolescente, deve-se observar o comando normativo do art. 142 da Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), que dispõe acerca da necessidade da criança ser representada e do adolescente ser assistido pelos responsáveis para efetivar o seu direito ao acesso à Justiça. Nesse escopo, salienta-se a figura do Ministério Público, o qual possui legitimidade para propor e acompanhar a ação de alimentos, incluindo- se, portanto, a respectiva execução (art. 201, inc. III, ECA).

Quando se trata de crianças e adolescentes, a competência absoluta para analisar a demanda será a do domicílio dos pais ou do responsável, ou, na ausência desses, a do lugar onde o vulnerável se encontre (art. 147, ECA). Frisa-se, ainda, que a competência para o julgamento dessas ações, no caso de criança e adolescente em situação de risco ou de vulnerabilidade social, é dos Juizados da Infância e da Juventude (art. 148, parágrafo único, g, ECA).

Independentemente de quem propôs a demanda, deve o referido critério ser respeitado, como, por exemplo, no caso de ação de oferta de alimentos, cujo legitimado ativo é o próprio credor (DIAS, 2016, 1.000-1.001).

Referindo-se à alimentos derivados de medida protetiva com esteio na Lei Maria da Penha, a competência para o julgamento e execução será do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, quando existente (art. 14, da Lei n. 11.340/2006). Se, porventura, ainda não esteja estruturado, ao tempo da concessão dos alimentos pelo Juízo criminal, devem ser executados pela Vara de Família (DIAS, 2016, p. 1.002).

Nos demais casos, compete à Justiça Comum realizar a execução dos alimentos devidos, os quais serão requeridos pelo credor no foro que melhor atenda às suas condições, dentre as possibilidades dispostas no art. 516 e art. 528, §9º, do CPC/15.

Já na peça inicial de execução, se faz necessário que a parte credora defina o rito que melhor atende a sua pretensão (coerção pessoal ou expropriação), manifeste eventual interesse na aplicação de medidas atípicas, assim como expresse desistência acerca de medida executiva que não interesse à sua pretensão (art. 775, CPC/15).

De forma bastante elucidativa, Dias (2016, p. 1.022-1.023) ensina que as obrigações alimentícias, independentemente da natureza do título executivo, pode ser executada pelo rito da expropriação ou da prisão civil, senão observe:

a) De título executivo extrajudicial, mediante ação judicial visando a cobrança pelo rito da prisão (CPC, 911);

b) De título executivo extrajudicial, pelo rito da expropriação (CPC, 913); c) Cumprimento de sentença ou decisão interlocutória para a cobrança de alimentos pelo rito da prisão (CPC, 528);

d) Cumprimento de sentença ou decisão interlocutória para a cobrança dos alimentos pelo rito da expropriação (CPC, 530) (DIAS, 2016, p. 1.022-1.023).

Repisa-se, nesta feita, que a escolha do procedimento executivo será sempre do exequente.

Os procedimentos de cumprimento de sentença e a execução de alimentos, conforme já pontuado, têm estreita similaridade, de modo que ora os dispositivos possuem o mesmo teor, ora a omissão em um dos procedimentos leva à conclusão de que a sua incidência seria admissível no outro. Um exemplo sobre esse ponto é a participação do Parquet para a apuração do crime de abandono material, encartada no art. 532 do CPC/15, não prevista na ação executória, mas que deve ser igualmente aplicável (NEVES, 2018, p. 1.317).

Após o ajuizamento da petição inicial da execução, caberá ao magistrado manifestar-se pelo seu acolhimento ou não. No primeiro caso, é ordenado a intimação ou a citação do devedor para adimplir a obrigação ou apresentar defesa em três dias (art. 528, caput, e art. 911, CPC/15), além disso, é arbitrado, desde logo, os honorários advocatícios. Na segunda hipótese, caberá ao magistrado abrir prazo para eventuais emendas ou indeferir, liminarmente, a inicial (ASSIS, 2016, p. 157-159). Caso permaneça inerte, deverá o Juízo decretar sua prisão, que será submetida aos limites temporais impostos pelo art. 528, §3º, do mesmo diploma.

Face ao rito da prisão civil pautado em título extrajudicial, o executado será citado pessoalmente para em três dias, contados da juntada do mandado de citação (art. 231, II, CPC/15), demonstrar o pagamento ou a impossibilidade absoluta de fazê-lo.

O valor da dívida deve constar no demonstrativo que acompanha a exordial. Desse valor é exigível o pagamento integral, não sendo possível afastar a prisão civil frente a pagamento parcial da dívida, conforme jurisprudência do STJ36.

Ademais, embora entendimento assentado pelo STJ37, voz doutrinária insurge no sentindo de que os honorários devem compor a verba ameaçadora da prisão civil (ASSIS, 2016, p. 159-161). 38

Acredita-se que a Corte Superior apresenta posicionamento acertado, conforme já sustentado no tópico 2.2.3 deste trabalho, quando tratou-se da impossibilidade de aplicação da medida coercitiva da prisão civil nas obrigações alimentícias decorrentes de atos ilícitos. Isto porque, em consonância com o que restou demonstrado, apenas as obrigações derivadas do Direito de Família estão sujeitas a este tipo de medida típica.

A defesa do executado limitar-se-á a comprovar ou o pagamento ou a impossibilidade de adimplir a obrigação alimentícia.

Ante o não acolhimento da justificação ou a inércia do devedor, caberá ao juiz intimar o credor para ratificar a vontade pela prisão civil. Frisa-se que o credor poderá optar pela via da prisão civil, pelo desconto em folha ou pela expropriação, alternativamente. Pode, ainda, o magistrado determinar a aplicação de outro meio de indução ou de sub-rogação, com base nos critérios de maior efetividade e da menor restrição (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2016, p. 1.102).

Sendo necessária a colheita de prova oral, a fim de subsidiar a defesa, é possível o aprazamento de audiência de instrução. Caso reste provado que há impossibilidade definitiva em satisfazer a obrigação, a execução deve ser extinta (ASSIS, 2016, p. 164-166).

Questões como a inexigibilidade do título ou a exoneração da obrigação, em razão do atingimento da maioridade do alimentário, devem ser discutidas em ações autônomas (ASSIS, 2016, p. 162-164).

Não descarta-se, ainda, a possibilidade de parcelamento do débito alimentício, condicionada a concordância do credor em relação ao valor e ao prazo pleiteado, caso em que proceder-se-á a suspensão da execução até o adimplemento do débito (ASSIS, 2016, p. 168).

36 (STJ - RHC: 82044 DF 2017/0056134-4, Relator: Ministro MARCO BUZZI, Data de Publicação: DJ

12/06/2017)

37 (STJ - AREsp: 1082889 GO 2017/0079548-0, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de

Publicação: DJ 01/09/2017)

38 (STJ - AREsp: 1082889 GO 2017/0079548-0, Relator: Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, Data de

Publicação: DJ 01/09/2017). (STJ - HC: 420924 SP 2017/0269620-6, Relator: Ministro LÁZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), Data de Publicação: DJ 14/02/2018). (HC 224.769/DF, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/02/2012, DJe 17/02/2012)

No caso de situação de desemprego superveniente ao estabelecimento dos alimentos, deverá o devedor entrar com ação revisional. Diante disto, a condição de desempregado, por si só, não é capaz de afastar a incidência da coerção pessoal (ROSENVALD; CHAVES, 2017, p. 814).

Persistindo a inadimplência, o Juízo decretará a prisão civil, que deve ser cumprida em regime fechado, mas separado dos presos comuns (art. 528, §4º, CPC/15).

Deve o devedor de alimentos cumprir em regime fechado, em cela separada dos presos comuns. Não havendo espaço adequado, deverá cumprir a medida em regime domiciliar. Contudo, é sabido que o Estado não provem de recursos para fiscalizar diretamente o preso ou para adotar sistema de monitoramento eletrônico, seria mais adequado a aplicação de medidas substitutivas, no afã de garantir efetividade do título executivo (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2016, p. 1.096-1.097).

Para Dias, é desarrazoada a separação do devedor de alimentos dos demais presos. Sob sua ótica, a inadimplência do alimento devido à criança e ao adolescente decorreria do delito de abandono material e no caso de mulher, constatar-se-ia violência patrimonial, porquanto tal distinção seria vista como um privilégio.(DIAS, 2016, p. 1.033)

Discorda-se deste entendimento, sob o fundamento de que o acolhimento da referida tese violaria o princípio do devido processo legal em duas frentes. A primeira pois não se poderia afastar garantia reconhecida em lei, construída para o modelo civil, sem nova disposição legal em sentido contrário. A segunda porque as razões levantadas pela doutrinadora foram embasadas em institutos do Direito Penal, que possuem regras mais rígidas e consequências de igual qualidade, justamente em virtude da sua natureza, de sorte que não poderia utiliza-lo como baliza para o presente caso. Rememora-se, nesse toar, que a função da prisão na espécie é de pressão psicológica e não punitiva.

Além disso, é de conhecimento comum que a permanência nas prisões exige uma mudança comportamental dos encarcerados, sobretudo em razão da vivência em comunhão com os demais presos. Muitas vezes, os detentos tem que se submeter a acordos odiosos para ter sua integridade física mantida. Nesta toada, a colocação de devedores de alimentos em celas com os apenados comuns não somente afrontaria o princípio do devido legal, mas também o princípio da proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana.

Em verdade, face ao famigerado abarrotamento do sistema prisional, torna difícil a efetivação dessa separação, de modo que, não sendo possível a salvaguarda dessa garantia, resta manifesta a aplicação do regime domiciliar. Não havendo suporte jurídico que obrigue o alimentante a suportar o ônus da ineficiência estatal.

Havia discussão sobre o prazo da prisão civil, tendo em vista que o art. 19, caput, da Lei nº 5.478/198 aponta como período máximo de confinamento sessenta dias, sendo que a Corte Superior já havia se posicionado pela possibilidade de implementação da coerção pessoal pelo tempo máximo de três meses. Tal imbróglio jurídico foi elidido em parte com o advento da Lei nº 13.105/2015, eis que o teor do art. 528, §8º, passou a estipular o parâmetro de três meses (ASSIS, 2016, p. 173-174).

Por seu turno, o Código Processual, em seu artigo 528, §7º dispõe que o crédito autorizador da prisão “é o que compreendido até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que vencerem no curso do processo”.

Os alimentos recentes (últimas três parcelas) podem ser, independentemente do título que os legitimam, exigidos pelo rito da expropriação ou pelo rito da coerção pessoal, sendo o credor o titular dessa escolha. Tratando-se de crédito antigo, somente é exigível sob o rito da expropriação.

Critica-se a limitação da prisão civil aos débitos recentes (três últimas parcelas), porquanto, embora a justificativa da restrição seja o eventual aumento exagerado da dívida que impossibilitaria seu adimplemento, as minúcias de cada caso devem ser analisadas individualmente. Nesse sentido, a regra da limitação da prisão civil aos alimentos pretéritos deve ser encarada como relativa (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2016, p. 1.095).

A prisão civil, em diversas vezes, mostra-se como a única ou última alternativa capaz de coagir o devedor de alimentos a adimplir sua obrigação. Ocorre que, mesmo nos casos em que a prisão civil mostra-se adequada, não necessariamente o regime a ser adotado deve ser o encartado no art. 528, §4º, do CPC/15.

Nesse diapasão, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça admite a adoção do regime domiciliar em situações excepcionalíssimas, ou melhor, nas hipóteses em que a incidência do regime fechado se mostre contrária a dignidade da pessoa humana e se transforme em pena cruel e desumana.

Em determinado julgado, a Corte Superior afastou o regime fechado em razão das condições da alimentante, eis que se tratava de pessoa idosa, com setenta e sete anos, e portadora de cardiopatia grave, de modo que o regime fechado poderia causar grave piora em seu quadro clínico ou até mesmo o seu óbito.39

39 RECURSO EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PRISÃO CIVIL.

INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO. PACIENTE COM IDADE AVANÇADA (77 ANOS) E PORTADOR DE PATOLOGIA GRAVE. HIPÓTESE EXCEPCIONAL AUTORIZADORA DA CONVERSÃO DA PRISÃO CIVIL EM RECOLHIMENTO DOMICILIAR. 1. É cabível a prisão civil do alimentante inadimplente em ação de execução contra si proposta, quando se visa ao recebimento das últimas

No caso de pagamento, a medida coercitiva será suspensa, mediante a expedição de salvo conduto, caso cumprido o tempo determinado, caberá a expedição de alvará de soltura (NEVES, 2018, p. 1.322).

Quer inerte o devedor, quer a justificativa de impossibilidade de adimplir a obrigação não seja acolhida, o Juízo prolatará decisão interlocutória fundamentada, da qual cabe ou agravo de instrumento ou habeas corpus (ASSIS, 2016, p. 169).

A impetração de habeas corpus com o fim de ser livre da decretação civil somente é possível se configurar alguma ilegalidade no instrumento. Deste modo, não é permitido ao devedor buscar a redução ou a exoneração de sua dívida por essa via, sendo imprescindível o ajuizamento de ação apta para tanto (DIAS, 2016, p. 1.033).

Para defesa contra a execução, deve-se observar o rito da expropriação.

Em arremate, frisa-se que, em razão da não adesão da possibilidade da prisão civil em casos diversos da decorrente de devedor inescusável de alimentos, alguns magistrados vem determinando a prisão civil de devedores sob o fundamento de acometimento do crime de desobediência. Ocorre que o STJ já se posicionou no sentido de que o procedimento adequado para a apuração do referido crime é mediante o intermédio do Parquet, que tem competência para realizar as medidas cabíveis, não sendo possível a decretação da prisão pelo juízo cível (NEVES, 2018, p. 1.92).

três parcelas devidas a título de pensão alimentícia, mais as que vencerem no curso do processo. Precedentes.

2. Em hipótese absolutamente excepcional, tal como na espécie, em que a paciente, avó dos alimentados, possui patologia grave e idade avançada, é possível o cumprimento da prisão civil em regime domiciliar, em prestígio à dignidade da pessoa humana. Precedentes. 3. Recurso provido. (STJ - RHC: 38824 SP

2013/0201081-3, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 17/10/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/10/2013) Grifo nosso

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